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Descrição do modelo e das variáveis

No documento Trabalho docente e desempenho estudantil (páginas 123-129)

CAPÍTULO 5 MODELOS E ANÁLISES DOS RESULTADOS

5.1 Descrição do modelo e das variáveis

A análise aqui apresentada se deu com ênfase nos dados provenientes dos questionários aplicados aos docentes da pesquisa TDEBB e nos resultados de proficiência dos alunos, que foram agrupados, por meio do Ideb, por escolas. Como os professores estão agregados por escolas, o modelo escolhido foi o de regressão hierárquica13, que considera, na estimação dos parâmetros, a dependência existente entre as respostas dos professores pertencentes a uma mesma escola.

A referência para a construção do modelo de análise aqui apresentado parte do estudo de Soares e Collares (2006), com utilização de um modelo linear hierárquico. Segundo os autores, fatores externos à organização escolar apresentam-se na literatura dominante sobre o tema como determinantes dos resultados dos alunos. Porém, defendem uma qualificação do efeito da posição social dos estudantes sobre seu desempenho escolar, uma vez que uma perspectiva estrita dessa tese conduz ao pessimismo da impotência sobre a alteração nas diferenças de rendimentos cognitivos entre os alunos, enquanto o problema da desigualdade econômica entre suas famílias não fosse “resolvido”. Na decomposição do efeito socioeconômico, os autores consideram “a condição familiar um conceito multidimensional” (SOARES e COLLARES, 2006). Assim, operacionalizam as informações disponíveis no Saeb 2001 a fim de obterem indicadores de recursos econômicos da família, recursos culturais

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da família, envolvimento dos pais com a educação dos filhos, e a composição da família, captada pela presença ou a ausência de um ou ambos os pais.

De importância particular é a constatação de que a influência do fator econômico sobre o desempenho de estudantes se dá sobretudo de forma indireta. Ou seja, os recursos econômicos viabilizam a aquisição de recursos culturais e a participação dos pais na vida escolar dos filhos. Além disso, os dados são compatíveis com a hipótese de que o envolvimento dos pais desempenha papel crucial de ativador dos recursos culturais familiares, tornando-os úteis para o desempenho cognitivo dos filhos (SOARES e COLLARES, 2006. p. 617).

Como se pode perceber, a pesquisa realizada por estes autores, que se basearam nos dados do Saeb de 2001, teve suas análises centradas em variáveis relacionadas ao nível socioeconômico dos alunos.

A proposta aqui apresentada passa pela utilização de modelo de análise semelhante, mas considerando variáveis sobre os professores. A intenção do estudo é, inicialmente, identificar a dimensão do efeito desses construtos sobre a explicação da variância entre os resultados de proficiência. Para tanto, serão utilizados dados da pesquisa TDEBB. Conforme já explicitado no capítulo anterior, serão interpretados dados relativos ao estado de Minas Gerais, tanto em relação ao estado em geral, como em relação aos municípios pertencentes à amostra da pesquisa.

O modelo aqui apresentado foi desenvolvido com o uso de três níveis de análise. Assim como feito no capítulo anterior, as análises para as escolas que atendem anos iniciais e anos finais do Ensino Fundamental foram feitas separadamente. Como variável dependente, foram considerados os resultados do Ideb da escola.

A opção de se fazer as análises isoladamente para os anos iniciais e anos finais se deu devido aos resultados diferentes apresentados em cada etapa de atendimento, conforme demonstrado no capítulo anterior. Ao se analisar os resultados da variável dependente, se torna evidente tal diferença. Os resultados das principais medidas estatísticas para o Ideb dos anos iniciais são demonstrados na tabela a seguir. Cabe ressaltar que o número de casos relaciona-se ao número de docentes pesquisados e não de escolas.

TABELA 3

Estatísticas descritivas da variável Ideb dos Anos iniciais do Ensino Fundamental – Minas Gerais - 2009

N Mínimo Máximo Média Desvio

padrão

IDEB 931 4,5 7,4 5,814 0,7738

Casos Válidos 931

Fonte: GESTRADO, UFMG, Banco de Dados TDEBB, 2010; e INEP/MEC, 2009. Elaboração do autor.

O gráfico a seguir demonstra a distribuição das frequências em forma de histograma. É possível observar que a distribuição se assemelha a uma curva normal.

GRÁFICO 33 – Distribuição das escolas conforme Ideb, anos iniciais do Ensino Fundamental (%) – MG – 2009

Fonte: GESTRADO, UFMG, Banco de Dados TDEBB, 2010; e INEP/MEC, 2009. Elaboração do autor.

A diferença entre os seguimentos fica clara ao se observar os resultados das principais medidas estatísticas do Ideb dos anos finais, conforme demonstrado na tabela a seguir. Mais uma vez, o número de casos válidos corresponde ao número de docentes pesquisados nas

escolas com atendimento aos anos finais. A média é bem inferior à média do Ideb das escolas dos anos iniciais, bem como os valores mínimos e máximos.

TABELA 4

Estatísticas descritivas da variável Ideb dos anos finais do Ensino Fundamental – Minas Gerais - 2009

N Mínimo Máximo Média Desvio

padrão

IDEB 743 1,7 5,6 3,993 0,7425

Casos Válidos 743

Fonte: GESTRADO, UFMG, Banco de Dados TDEBB, 2010; e INEP/MEC, 2009. Elaboração do autor.

O gráfico a seguir demonstra a distribuição das frequências em forma de histograma. É possível observar que a distribuição se assemelha a uma curva normal, mas levemente deslocada à esquerda.

GRÁFICO 34 – Distribuição das escolas conforme IDEB, anos finais do Ensino Fundamental (%) – MG – 2009

Fonte: GESTRADO, UFMG, Banco de Dados TDEBB, 2010; e INEP/MEC, 2009. Elaboração do autor.

O modelo de regressão escolhido possui três níveis. No primeiro nível entraram as variáveis relacionadas às características e condições de trabalho dos docentes. No segundo nível, a ênfase foi dada à percepção dos docentes acerca das condições da estrutura física presente na escola, à autonomia e controle no desenvolvimento de suas atividades, e aos aspectos relacionados à gestão da escola e participação dos pais. No terceiro nível entraram as variáveis relacionadas à percepção dos docentes em relação à intensificação do seu trabalho, bem como a percepção das influências das políticas de avaliação no desempenho de suas atividades.

A escolha das variáveis se deu com base nos resultados da análise de frequência desenvolvida no capítulo anterior, sendo selecionadas aquelas que apresentaram valores com diferenças mais acentuadas entre o quartil 1 (escolas com pior desempenho no Ideb) e quartil 4 (escolas com melhor desempenho no Ideb). A descrição das variáveis utilizadas em cada nível é demonstrada a seguir.

Variáveis de primeiro nível

· Escolaridade (ESC) - Variável contínua, em que foi atribuído o valor = 0 para o menor nível de escolaridade, sendo acrescido de 1 para cada nível que se aumentava.

· Formação continuada (FORMAÇÃO) - Participou de cursos de formação continuada no último ano = 1. Não participou =0.

· Se prestou concurso público para o cargo que ocupa na escola (CONCURSO) - Sim =1 e Não = 0;

· Tipo de vínculo ou contrato de trabalho (VÍNCULO) - Estatutário = 1. Demais vínculos = 0;

· Tempo de trabalho em educação (TEMPTRAB) - Mais de 15 anos = 1. Menos de 15 anos = 0;

· Se está contemplado em um plano de cargos e salários (PLANOCARGOS) - Sim =1 e Não = 0;

· Salário (SALÁRIO) - Variável contínua, em que a faixa de salário mais baixa recebeu valor igual a zero, sendo as demais acrescidas de um para cada faixa acima.

· Número de escolas em que trabalha (NUMESCOL) - Somente uma = 1. Mais de uma = 0;

· Se conta com apoio na realização das suas atividades (APOIO) - Sim =1 e Não = 0.

Variáveis de segundo nível

· Estrutura (ESTRUT) - Variável composta a partir da avaliação dos professores sobre a estrutura física da escola. Avaliação positiva = 1. Avaliação negativa = 0;

· Controle sobre a avaliação dos alunos (AVALIAÇÃO) - Muito ou Razoável = 1. Pouco ou Nenhum = 0;

· Controle sobre a organização do tempo (ORGTEMP) - Muito ou Razoável = 1. Pouco ou Nenhum = 0;

· Controle sobre o Projeto Pedagógico (PROJETO) - Muito ou Razoável = 1. Pouco ou Nenhum = 0;

· Se considera a gestão da escola democrática (GESTDEM) - Sim =1 e Não = 0;

· Se considera o projeto político-pedagógico resultado de um trabalho coletivo (PROJECOL) - Sim =1 e Não = 0;

· Se considera que a direção exerce forte liderança (DIRELIDER) - Sim =1 e Não = 0; · Se considera o conselho escolar bastante atuante (CONSATUA) - Sim =1 e Não = 0; · Se considera que a direção passa a maior parte do tempo resolvendo problemas

administrativos (DIRADMIN) - Sim = 0 e Não = 1;

· Se considera satisfatória a participação dos pais no acompanhamento das atividades de aprendizagem dos filhos em casa (ACOMPATIV) - Muito Satisfatório ou Satisfatório = 1. Insatisfatório ou Inexistente = 0;

· Se considera satisfatória a participação dos pais por meio de contribuição voluntária, na unidade educacional, no reforço dos alunos com dificuldade de aprendizagem (CONTVOL) - Muito Satisfatório ou Satisfatório = 1. Insatisfatório ou Inexistente = 0; · Se considera satisfatória a participação dos pais nos encontros previstos para avaliar o encaminhamento escolar dos filhos (PARTENC) - Muito Satisfatório ou Satisfatório = 1. Insatisfatório ou Inexistente = 0;

· Se considera satisfatória a participação dos pais no conselho/colegiado da escola (PARTCONS) - Muito Satisfatório ou Satisfatório = 1. Insatisfatório ou Inexistente = 0.

Variáveis de terceiro nível

· Se leva atividades do trabalho para realizar em casa (TRABCASA) - Sempre ou Frequentemente = 0. Raramente ou Nunca = 1;

· Se percebe ampliação da sua jornada de trabalho (AMPLIA) - Sim = 0 e Não = 1; · Se percebe aumento do número de alunos em suas turmas (AUMENTALUN) - Sim =

0 e Não = 1;

· Se percebe maior supervisão/controle de suas atividades (SUPCONT) - Sim = 0 e Não = 1;

· Se percebe aumento das exigências sobre seu trabalho em relação ao desempenho dos alunos (AUMENTDES) - Sim = 0 e Não = 1;

· Se percebe incorporação de novas funções e responsabilidades (INCFUNC) - Sim = 0 e Não = 1;

· Se está se sentindo forçado a dominar novas práticas, saberes, competências, funções e responsabilidades (FORDOM) - Sim = 0 e Não = 1;

· Se observa transformações e repercussões das políticas educacionais sobre seu trabalho (OBTRANS) - Sim = 0 e Não = 1;

· Se considera a si próprio responsável pela classificação da escola nas avaliações realizadas pelos governos (RESPCLASS) - Sim = 0 e Não = 1;

· Se tem se sentido constrangido a mudar sua forma de trabalho em razão dos exames de avaliação (CONSTMUD) - Sim = 0 e Não = 1;

No documento Trabalho docente e desempenho estudantil (páginas 123-129)