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Descrição da versão original da Escala de Investimento na Escolha Vocacional Commitment to Career Choice Scale de

NO DESENVOLVIMENTO VOCACIONAL: REVISÃO DA INVESTIGAÇÃO

C APÍTULO Q UINTO

3.4. Avaliação do desenvolvimento vocacional de adolescentes e jovens portugueses

3.4.1. Descrição da versão original da Escala de Investimento na Escolha Vocacional Commitment to Career Choice Scale de

Blustein, Ellis e Devenis (1989)

Os autores da CCCS partem da conceptualização do constructo commitment que, neste estudo, se traduziu por investimento1. Assim, Blustein e colaboradores (1989) afirmam que “o investimento se refere a um sentimento de vinculação forte a um conjunto de crenças, ideias e orientações futuras” (p. 343).

Entre os vários autores que estudaram este constructo (Blau, 1988; Joordan & Heyde, 1979; Super, 1957) existe a ideia de que o investimento comporta uma percepção das preferências profissionais e, simultaneamente, uma forte ligação a um objectivo vocacional particular. Esta vinculação forte não é um acontecimento que ocorra num momento único do desenvolvimento do sujeito e de uma vez por todas, mas é algo que se vai construindo e reconstruindo ao longo do processo de desenvolvimento, num contínuo entre uma fase onde existe um baixo nível de investimento, predominando as actividades de exploração, para níveis elevados de investimentos.

Uma primeira dimensão do processo do desenvolvimento vocacional proposta por Blustein e colaboradores (1989) no CCCS foi operacionalizada através da sub-escala Vocational Exploration and Commitment (VEC) –Exploração e investimento vocacional –, que

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Conferir o capítulo segundo desta dissertação para se compreender a razão desta opção.

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pretende avaliar a posição dos indivíduos num continuum que vai desde uma atitude inicial claramente exploratória, marcada por questionamentos, procura, experienciação e indecisão, até uma atitude de investimento vocacional.

Para avaliar e identificar as diferenças individuais que influenciam a forma como os sujeitos constroem os seus investimentos, Blustein e colaboradores, propõem uma segunda dimensão para a compreensão do desenvolvimento vocacional, denominada por Tendency to Foreclose (TTF) – Tendência para excluir opções –, cujos resultados, quando elevados, se referem a sujeitos que fazem investimentos sem exploração.

A pertinência desta dimensão justifica-se pelo facto de se constatar que algumas pessoas são capazes de tolerar a ambiguidade, o conflito cognitivo e ansiedade desencadeada na fase inicial da exploração vocacional, enquanto que existem outras que, ao experimentarem esses níveis elevados de ansiedade e ao não serem competentes em lidar com experiências de variabilidade, bloqueiam o processo de exploração realizando investimentos sem exploração ou não iniciando, sequer, o processo de exploração (Blustein & Strohmer, 1987; Jordan, 1975). Assim, sujeitos com forte tendência a excluir opções são incapazes da produção de alternativas vocacionais, ou seja, estar abertos à exploração e à diferenciação, fazendo investimentos, limitando as suas possibilidades de escolha, marcados por alguma simplificação e rigidificação.

Assim, o CCCS tenta operacionalizar empiricamente, a partir das teorias desenvolvimentais mais relevantes neste domínio, as duas dimensões do desenvolvimento vocacional, através das 2 sub-escalas: vocational exploration and commitment scale (VECS) – escala de exploração e investimento vocacional (ECV) –, constituída por 19 itens e a

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tendency to foreclose scale (TTF) – escala de exclusão de opções –, constituída por 9 itens.

O conjunto dos itens da escala VECS pretende avaliar como os indivíduos percebem o nível do seu auto-conhecimento, o conhecimento do mundo das formações e das profissões, o grau de segurança com que investem numa escolha profissional específica, a necessidade ou não de se envolverem em actividades de exploração vocacional, a incerteza frente às escolhas vocacionais e a forma como estão disponíveis para contornar potenciais obstáculos para atingirem determinados objectivos profissionais (Blustein, Ellis & Devenis, 1989).

Os itens da escala TTF pretendem avaliar a disponibilidade dos sujeitos para considerarem, simultaneamente, nas suas escolhas, mais do que uma opção profissional, verificar se admitem a possibilidade de existir mais do que uma profissão específica para cada pessoa, e avaliar a sua tolerância à ambiguidade, à diversidade e ao conflito cognitivo no processo do investimento da escolha vocacional (Jordan, 1974).

A escala CCCS é constituída por 28 itens, tipo Lickert, de 7 pontos (nunca é verdadeiro para mim, quase nunca verdadeiro para mim, normalmente não verdadeiro para mim, não tenho opinião/certeza, normalmente verdadeiro parar mim, quase sempre verdadeiro para mim, sempre verdadeiro para mim), onde se avalia a intensidade da concordância com as afirmações propostas. Um resultado elevado na sub-escala VECS traduz momentos de elevada exploração vocacional, experienciados sob formas de indecisão e dúvidas e, simultaneamente, de baixos níveis de investimento vocacional; resultados elevados na sub-escala de TTF

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traduzem uma maior tendência para foreclosure, ou seja, o sujeito faz investimentos sem ter realizado comportamentos de exploração vocacional.

Quanto às características psicométricas, a escala CCCS é muito aceitável; os valores de consistência interna é para a sub-escala TTF, .80 alfa de Cronbach e, em relação à sub-escala VECS, é de .90. A análise factorial confirma o bom ajustamento dos itens ao modelo bi-factorial.

No que se refere à validade de constructo, a escala VECS está positivamente correlacionada com o momento próximo da escolha onde predominam as actividades de exploração vocacional e se manifestam comportamentos de procura, questionamento e situações emocionais de stress relativamente à tomada de decisão. Contrariamente, a sub-escala TTF não está correlacionada com actividades de exploração nem com o stress decisional (Blustein et al., 1989). Quanto à relação com os estatutos de identidade, os resultados são os esperados. Existe uma forte correlação da sub-escala VECS com o estatuto de moratória e com o de identidade realizada e uma correlação significativa entre a sub-escala TTF com o estatuto de identidade outorgada (foreclosure). Finalmente, tal como se esperava, também existe uma correlação significativa entre a sub-escala TTF e as medidas de intolerância e ambiguidade, com o desenvolvimento de estruturas cognitivas e a autonomia (Blustein, et al., 1989). Isto é, sujeitos que têm tendência a fazer escolhas sem exploração, mediante a exclusão de opções, tendem a manifestar um pensamento dualista, na análise que fazem da realidade vocacional, e a serem pouco autónomos nas suas escolhas estando dependentes de autoridades exteriores a eles para lhes legitimarem a sua escolha (Knefelkamp & Slepitza, 1976).

Concluindo, estes resultados são consistentes com as teorias desenvolvimentais subjacentes à construção da escala CCCS, confirmando

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a sua validade de constructo e inspirando confiança aos investigadores na sua utilização para avaliar as variáveis em causa em futuras investigações.