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Descrições legais dos atos de improbidade administrativa

2 EFICÁCIA E APLICABILIDADEDA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

2.3 Descrições legais dos atos de improbidade administrativa

Como já mencionado antecedentemente, tanto no primeiro como no segundo capítulo, o art. 37, § 4º da Constituição Federal determina que aquele que tiver comprovado processualmente contra si a prática de atos de improbidade administrativa sofrerá a responsabilização de seus atos que poderá ser: "suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível".

Cumpre ressaltar que a Lei de Improbidade Administrativa regulamenta o referido artigo prevendo sanções no caso de ocorrência de atos ímprobos que ferem princípios constitucionais.

A Lei nº 8.429/92 apresenta espécies de atos de improbidade que são gerados por condutas que caracterizam lesão ao patrimônio público, enriquecimento ilícito e violação dos princípios da administração pública.

Desta forma, a Lei nº 8.429/92 contempla que:

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente: [...]

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: [...]

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: [...] (BRASIL, 1992).

Importante referir que esse rol é apenas exemplificativo, pois outros comportamentos ou até omissões podem caracterizar improbidade administrativa.

Cabe assinalar que, nas lições de Alexandrino e Paulo (2015, p. 994-995) a LIA apresenta uma descrição conceitual dos atos de improbidade administrativa. Sendo assim, os referidos autores afirmam:

A técnica utilizada pelo legislador foi a de, no caput de cada um desses artigos (9º, 10 e 11), apresentar uma descrição conceitual dos atos de improbidade administrativa que compõem a categoria a que o artigo se refere e , exemplificativamente, enumerar, em incisos, condutas (ou omissões) nele enquadradas. Como a quantidade total de incisos é muito grande, optamos, aqui, por reproduzir somente as definições legais sintéticas dos três grupos de atos de improbidade administrativa, conforme se encontram nos caput dos arts. 9º, 10 e

Convém analisar separadamente cada uma das espécies de ato de improbidade administrativa para melhor compreender a gravidade das condutas praticadas e que devem ser punidas por esse diploma legal.

A primeira espécie de ato de improbidade está determinada no caput do art. 9º da LIA, como os atos de improbidade administrativa que importam enriquecimento ilícito. Segundo leciona Alexandre Mazza (2011, p. 478) “A primeira categoria de ato de improbidade, prevista no art. 9° da LIA, descreve as condutas mais graves puníveis com base nesse diploma normativo, ou seja, hipóteses em que o agente público aufere uma vantagem patrimonial indevida”.

O rol exemplificativo de tais condutas refere-se ao exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade pública, assim prevista no art. 9º:

I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;

II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;

III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado;

IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;

V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem; [...]

É possível observar ainda que, outros incisos demostram hipóteses de condutas que também podem gerar sanções condicionadas a verbas públicas, ou receber qualquer vantagem econômica em razão do cargo, mandato ou função

pública, que resultem em acréscimo do patrimônio privado sem compatibilidade com a renda do agente público e politico.

A segunda espécie de ato de improbidade está indicada no art. 10 da LIA e envolve condutas de gravidade intermediária, ou seja, atos de improbidade administrativa que causem prejuízo ao erário, por ação ou omissão, com dolo ou culpa, que dê causa para desvio, perda ou dilapidação dos bens patrimoniais das entidades públicas descritas no art. 1º da Lei n° 8.429/92.

Deve-se mencionar que as hipóteses dessas condutas estão descritas no art. 10 da Lei em debate, porém há de se destacar algumas hipóteses de forma exemplificativa:

I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;

IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;

V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço superior ao de mercado; [...]

A conduta do administrador público, seja no exercício de mandato, cargo ou função pública, no sentido de desviar dinheiro público causando prejuízo ao erário, implica no enquadramento legal previsto nos incisos acima, bem como as demais hipóteses elencadas no art. 10.

A última espécie de ato de improbidade se encontra descrita no art. 11 da LIA, e faz referência as condutas de menor gravidade, ou seja, que atentem contra os

princípios da administração pública, violando o dever de honestidade, de boa-fé e de legalidade, sendo relevante citar os seguintes incisos:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência;

II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo;

IV - negar publicidade aos atos oficiais; V - frustrar a licitude de concurso público;

VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;

VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço. VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas. (Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilidade previstos na legislação. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

Note-se que, os atos de improbidade definidos na Lei nº 8.429/92 e arrolados nos arts. 9, 10 e 11 são decorrentes da normativa constitucional que estabelece que os atos de improbidade devam ser puníveis quando o agente público ou politico pratica conduta, ação ou omissão tipificadas nos incisos já referidos.

Por outro lado, não se pode deixar de esclarecer a importância que assume a definição de quem sofre as consequências do ato de improbidade, ou seja, quem representa o sujeito ativo e passivo referido no art. 1º da LIA.

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