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Nº UNIDADE OBSERVAÇÕES

3 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

3.1 A TEORIA DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL: ORIGEM CONCEITOS, E FUNÇÕES

3.1.1 Desdobramentos Teóricos da Teoria das Representações Sociais

Sá (1998) afirma que o conceito inicial de RS criado por Moscovici para um fenômeno específico da relação indivíduo-objeto, foi sofrendo intervenções ao longo do tempo e tornou-se mais amplo, passando a ser aplicado como sinônimo de uma representação coletiva. Este fato é endossado pelo próprio Moscovici, quando ele criou as tipologias de suas representações sociais.

Neste contexto, a abordagem teórica para a RS não está restrita a Moscovici, ao contrário, Jodelet (1989) constatou a existência de seis diferentes tipos de abordagens, a saber:

a) quando o sujeito constrói a representação cognitivamente (por contexto ou pertencimento);

b) quando o sujeito produz sentido de sua experiência no grupo; c) quando o sujeito socialmente consciente produz um discurso; d) quando a prática social do sujeito produz ideologias;

e) quando as interações sociais produz representações que os membros tem do próprio grupo, e por fim;

f) quando as determinações sociais de um objeto reproduz esquemas de um pensamento social estabelecido.

São perspectivas que vão do individual ao coletivo, em que há uma delimitação de limites do campo de estudo e flexibiliza ao pesquisador adequar sua posição frente às demais ou combinar entre elas (SÁ, 1998).

Assim, a teoria mãe das Representações Sociais teve Moscovici com o pensamento original, contudo, a partir de sua construção deu-se, posteriormente, origem a três vertentes no campo das representações sociais: a primeira liderada por Denise Jodelet, em Paris, mais próxima da original; a segunda conduzida por Willem Doise, que procura articulá-la com uma perspectiva mais sociológica; e a terceira de Jean-Claude Abric, de Provence, que enfatiza mais a dimensão cognitiva e desenvolveu uma perspectiva complementar, denominada de Abordagem Estrutural da Representação Social (SÁ, 2001).

Estas três vertentes possuem como maior contribuição a ampliação e aplicabilidade do conceito original. No trabalho de Moscovici, todo o referencial desenvolvido por ele estava direcionado à sua pesquisa na psicanálise, sendo necessárias então, explicações mais complexas, como veio a concordar posteriormente o próprio Moscovici.

Contudo, como um campo aberto à teorização, há divergências, como por exemplo, entre a aceitação do núcleo central de Abric e as tipologias, como originárias da TRS desenvolvida por Moscovici. Mas, segundo Sá (1998), estes desacordos não são insuperáveis ao ponto de se inaugurar uma nova Teoria, pois sempre é reconhecida nos diversos trabalhos a convergência teórica entre as correntes da “Família Moscoviciana”, conforme afirma Jodelet (1984).

O que fica explícito nestas discussões é que todo os contexto das RS suporta trabalhos de pesquisa que envolvam a compreensão dos discursos ou comunicação cotidiana com a finalidade de orientar comportamentos em situações sociais concretas, em que se busca aproximar fatos desconhecidos ou novos para um contexto social, tornar o “não familiar em familiar” (SÁ, 1998). Como, no caso em estudo, a EAD do universo docente que a deveria apropriar.

Denise Jodelet mantém-se na continuidade da proposta original da TRS, priorizando a abordagem histórica e cultural na compreensão do simbólico. Em seu estudo sobre representações sociais da loucura em uma comunidade rural, em um processo de reintegração de egressos de hospitais psiquiátricos, Jodelet destaca que ignorar os saberes locais é um erro a ser evitado pelos especialistas. Os resultados evidenciaram a necessidade de compreender as identidades para reduzir a criação de barreiras na reintegração, como medos simbólicos de contágio ou riscos de contato.

A questão de saber quem era e quem não era louco se tornou a força urgente de orientar os saberes cotidianos da comunidade, cuja experiência da loucura evoucou medos de fusão e contágio. Além da lógica de demarcação da identidade, Jodelet também encontrou os símbolos ancestrais que na cultura ocidental liga o louco ao estranho, a grupos errantes, a todos que vivem às margens. Daí os rituais de separação instituídos pela comunidade: separação de corpos, territórios, utensílios de cozinha e do que comer, até mesmo a separação das águas, desde os fluídos corporais até a lavagem de louças, todas respondendo a necessidade de manter distância (GUARESCHI e JOVCHELOVITCH, 2008, p.266).

Neste contexto, a abordagem de Jodelet considera as RS como uma ferramenta teórica capaz de compreender a relação do universo do homem com os objetos. Segundo Jodelet (1989), “[...] nesta abordagem as representações são tidas como o estudo do processo e dos produtos, por meio dos quais os indivíduos e os grupos constroem e interpretam seu mundo, permitindo a integração das dimensões sociais e culturais com a história.” (JODELET, 1989, p. 10).

Sá (1998) destaca, ainda, que o trabalho de Jodelet também enfatiza a abordagem dos suportes pelos quais as representações são veiculadas na vida cotidiana. Estes suportes são essencialmente os discursos das pessoas e grupos que mantêm tais representações, mas também as suas condutas e práticas sociais nas quais esses se revelam. Nesta abordagem fica evidenciada a necessidade de: aprender os discursos dos indivíduos, seus comportamentos através dos quais as representações se manifestam; examinar documentos e registros onde os comportamentos são institucionalizados; e examinar as interpretações nos meios de comunicação de massa, os quais contribuem para manutenção e transformação das representações sociais.

Em relação ao trabalho realizado por Willen Doise (2002) em Genebra, há a articulação das representações sociais com a sociologia, enfatizando a inserção social do indivíduo como fonte de diferenciação das representações. Sá (1998) destaca que o trabalho de Doise associa as explicações individuais com as explicações sociais, evidenciando que os processos que os indivíduos dispõem para interagir na sociedade são orientados por dinâmicas sociais. Esta abordagem prioriza quatro níveis de análise:

a) os processos intra-individuais e o modos como as pessoas organizam suas experiências no meio social;

b) os processos interindividuais ao buscar nos sistemas de interação os princípios explicativos típicos das dinâmicas sociais;

c) as diferentes posições que os indivíduos ocupam nas relações sociais e como estas posições orientam os processos nos dois níveis anteriores; d) os sistemas de crenças, representações, avaliações e normas sociais,

considerando que a cultura e a ideologia dão significados aos comportamentos.

Indo mais além, Sá (1998) reforça que esta abordagem deve ser priorizada em trabalhos que buscam compreender a inserção e a posição social dos indivíduos e dos grupos, com destaque para as pesquisas orientadas nos aspectos coletivos e ideológicos das representações.

Em relação aos trabalhos liderados por Jean Claude Abric, estes privilegiam a dimensão cognitiva nas representações. “[...] a representação é um conjunto organizado de opiniões, atitudes, crenças e informações referentes a um objeto ou situação.” É determinada pelo próprio sujeito, pelo sistema social e ideológico e pela natureza dos vínculos que ele constrói com seu meio (ABRIC, 2000,p.156).

Orientado por Serge Moscovici, em 1976 Abric propôs em seu trabalho a Teoria do Núcleo Central, que se tornou um diferencial, sendo mais tarde, caracterizada como a terceira abordagem nos estudos da RS. Esta teoria se apresenta como uma hipótese explicativa da organização interna das Representações Sociais, através deste conceito, seu estudo focaliza os conteúdos cognitivos da representação, os quais são estruturados por um núcleo central, mais resistente, e por estruturas periféricas, mais flexíveis, priorizando assim, a investigação dos diferentes elementos que compõem a RS (ABRIC, 2000).

Em síntese, Abric (2000) investiga a influência das representações sociais sobre o comportamento e enfatiza a importância de se estudar o conteúdo das RS associado à organização. Indo além, este autor destaca que são exclusivamente as práticas sociais que determinam as representações e, em seu trabalho, ele demonstra que certas atividades ligadas a pequenos grupos, ou às relações intergrupais, ou ainda as reações às condições de trabalho são determinadas pelas representações sociais dos grupos envolvidos com essas situações. Devido ao contexto de pesquisa deste trabalho de tese aqui proposto, foi esta abordagem cognitiva escolhida como referência, assim, a Teoria no Núcleo Central será explorada com mais detalhes a seguir.