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Desenho e Design, Comunicação3

Na actualidade existe um consumo alargado da imagem, utilizada para os mais diversos fins. Assumem-se afinidades com campos de lingua- gem visual mais comerciais, que têm normalmente necessidades de fornecer respostas que respeitem determinados princípios funcionais, de que é exem- plo o design. O disegno italiano parece, em parte, dar lugar a esta área visual, apoiada na assistência do computador. Este sector da actividade humana serve também uma forte componente comunicativa. Os trabalhos desta área procuram uma articulação entre padrões estéticos e a solução de um proble- ma, no intuito de facilitar a vida quotidiana. No campo do desenho elencam-se uma multiplicidade de acepções e aplicações oriundas da proliferação tecnológica e mercantil. A influência entre os dois campos, desenho artístico e design tem vindo a ser mútua, contribuindo para um enriquecimento, ou noutros casos empobrecimento, destas disciplinas visuais. O produto do design contemporâneo trans- porta também um significado, apenas atribuído pela subjectividade de cada um. Para além da fami- liaridade na origem do nome (designar) os artistas servem-se de linguagens do design, gráfico e in- dustrial, que transportam para a esfera da Arte. Os objectos do dia-a-dia fazem isso mesmo, objectivam o mundo, agem como intermediários entre o Homem e o Mundo por meio da sua eficácia e utilidade.

Andy Warhol,

Shoe and leg, 1956,

tinta da china, 49,5 x 34 cm

Jasper Johns, Two Flags, 1969, grafite s/duas folhas dobradas e montadas s/papel, 56,2 x 78,4 cm

Ocorre uma apropriação de elementos e soluções do design que nos rodeiam na publicidade, na moda, no que é hábito e banal. Desse modo dá-se a experiência estética no quotidiano levando a um distanciamento da ideia do sagrado.

Isto vem acontecendo desde a Pop Art sustentada pelo apoio teórico no elogio do banal de Arthur Danto. Em The Transfiguration of the Common-

place: A Philosophy of Art (1981) orienta as suas

preocupações para a teoria da arte. O autor de- bruça-se sobre trabalhos como os de Roy Lichtens- tein. O artista, contextualizado na Pop Art ameri- cana, utilizou o desenho como ponto de partida para o seu trabalho. Baseou a sua obra no cartoon, apropriando-se do tipo de linguagem banal da ban- da desenhada. A temática é proveniente dos meios de comunicação de massas sendo, na sua vertente conceptual, uma crítica ao consumismo, à publici- dade, como factores de alienação dos indivíduos. Danto vem conferir uma legitimação filosófica a esta adequação de valor estético ao quotidiano urbano por parte deste grupo de artistas. Simulta- neamente, nota-se, uma reacção ao modelo narra- tivo modernista defendido por Clement Greenberg. A Pop Art, era, para Greenberg, uma ofensa aos critérios de gosto de purismo e auto-referenciali- dade que defendia. Danto vai incorporar nas suas análises críticas o contexto histórico e cultural no qual as obras se desenvolvem, fazendo desses, parte

integrante da realidade dos trabalhos. Para além disso vai valorizar a arte como campo, privilegiado para o entendimento da natureza humana.

Claes Oldenburg, Hanging Q, 1974, lápis de cor e aguada, 49,2 x 45 cm

Roy Lichtenstein, Takka takka, Magna s/tela, 173 x 143 cm

Segundo Danto, no séc. XX teria-se chegado ao fim narrativo da história da arte, dando-se um mo- mento de auto-revelação da identidade conceptual da arte - momento de identificação entre represen- tação e real. Terá sido o final do novo. Ao entrar no contexto conceptual surgiram uma série de plura-

lismos e relativismos na Arte que dependem, para a acomodação da obra duma compreensão visual e, consequentemente, semântica.

Como Juan Gómez de Molina afirma:

« El desarrollo industrial, los medios de reproducti- bilidad y los sistemas de comunicación e consumo de masas, estaban formalizando todo un entramado de imagénes, que no sólo modificaban los mitos co- lectivos, sino también la estructura de los discursos y sus procesos de generación.»1

Estas modificações provocavam uma reestruturação dos valores estéticos.

«En esta situación, el “Pop” representó la transfor- mación más importante en el sistema de arte de nuestra cultura, en la medida que alteraba defini- tivamente el orden de prioridades en la generación de la imagen y admitía definitivamente la situación de que eran esos medios los que configuraban el repertorio de lo representable. Desde entonces son las reproducciones fotográficas y los objetos defini- dos por la industria del consumo, convertida en in- dustria de la cultura, las que establecen los únicos patrones, los primeiros modelos de modelos,...»2 Nem todos vêm nesta proximidade arte/design algo de positivo. Será o design uma ameaça à sobrevivên- cia do desenho artístico? Vítor da Silva no texto

Disegno e Desenho: Dantes e Agora (2001)3 aponta a elevada valorização do reconhecimento, na produção contemporânea em desfavor da prática pedagógica de ver. Segundo o autor assiste-se a uma modifica- ção de paradigma, onde o que conta é a imagem de marca, a moda, a eficácia e a informação.

«Ver é reconhecer.» « As imagens, produzidas pelas diversas tecnologias, continuam a preencher, para o bem e para o mal, o vazio deixado pela satura- ção doutrinária na crença ideológica e positivista do progresso e pela utopia modernista, bem como pelos reflexos mais recentes, cínicos ou optimistas, do pós-moderno.

As imagens continuam a ser uma promessa de bonheur

1 GÓMEZ Molina, Juan José, Las Lecciones del Dibujo, 4ª ed., Madrid, Ediciones Cátedra, 2006, p. 137. 2 Ibidem, p.137.

3 SILVA, Vitor, “Disegno e Desenho: Dantes e Agora”, Psiax Estudos e Reflexões sobre Desenho e Imagem, Universidade do Minho e Faculdade de Arquitec-

que tarda em chegar. A promessa que aguarda o instante da sua rememoração. »4

A mobilidade da vida urbana exige uma redução física dos objectos. Verifica-se uma tentativa de estabelecer uma união entre emoção e cognição, entre usabilidade e beleza. O objecto artístico vê- -se envolvido na mecânica da posse e do consumo, tornando-se mercadoria. A sociedade, inserida num modelo capitalista, é condicionada pela economia e pela tecnologia. Criam-se circuitos comerciais. A Estética Contemporânea procura repensar os ideais da modernidade e da pós-modernidade tendo em conta uma cultura planetária e globalizante. Urge a necessidade de reflectir as relações da arte com o universo da comunicação interactiva – o mundo virtual, digital. O mundo é um conjunto de meios de comunicação. Este processo iniciou-se com o telégrafo. A televisão permitiu a difusão do marke- ting e da publicidade. A world wide web genera- lizou-se constituindo-se através de características dos anteriores meios nomeados. Através deste sistema criou-se um mundo virtual e artificial que se apresenta como forma de circulação de sentidos. As realidades apresentam-se fragmentadas para aumentar a velocidade do fluir da informação.

«As imagens são, cada vez mais, efeitos de produção e de variedade, são objectos e efeitos de movimen- tos, espaços de eterna repetição, de inércia e de reconhecimento, de amnésia e de entretenimento; um círculo de variação e de catarse, de tautologia e de crença, que importa questionar. »5

Determinado número de autores mostram afinidade com expressões ditas, mais corriqueiras, populares, afastan- do-se da idealização do Belo e da Arte de outros tempos. (Ideia de Belo acima do mundo terrestre, transcendente, Platão).

O Desenho contemporâneo, na sua corrente emanci- pação, apresenta uma grande variedade técnica, de dimensão e imaginário. O desenho surge na obra de vários artistas ligado à ilustração, à moda, à banda desenhada, ao design, aos planos de arquitectura, à explicação científica, ao ornamento consolidando

o estatuto artístico até aí não reconhecido. Partilha com vários artistas um interesse por expressões gráficas denotativamente conotadas relativamente à Arte, como a ilustração, a moda, a banda desenha- da, o design, os planos de arquitectura, a explicação científica, o ornamento. No design os objectos ou as imagens respondem à ergonomia mas também ao que se pretende comunicar. Cada um constrói o seu sistema de marketing.

O que legitima estas obras é a articulação dessas áreas com questões pertinentes, muitas vezes apre- sentadas em referências à História de Arte, a recom- pilação de motivos, de revivalismos, de atitudes.

4Ibidem, pp. 21-27. 5 Ibidem, pp. 21 – 27.

Desenho como Processo