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As diferentes áreas ou fontes de conhecimento da actualidade reformulam-se constantemente. Ao longo da história humana o tempo encarregou-se de subverter teorias que eram tidas como certas. A ambição de descobrir uma verdade última e única revelou-se inatingível e desmesurada. A investiga- ção científica, de qualquer disciplina, viu, consecu- tivamente, a alteração de regras e normas ocorrer. Os especialistas tiveram de exercer humildemente uma modificação de princípios e valores. Na actual- idade os próprios conceitos de Tempo e Espaço não são mais os mesmos. Vivemos numa era de rápida circulação e divulgação de informação, onde a co- municação atinge uma velocidade nunca imaginada outrora. O Homem criou o ciberespaço provocando uma ainda maior alteração vivencial. A verdade, hoje existe, enquanto tal, por determinados instan- tes. Não podemos estar certos de alguma coisa a não ser contingentemente. O conhecimento possui estas características, nunca sendo rigoroso o sufici- ente enquanto resposta. Não se desenvolve segundo uma evolução histórica linear, como se acredi- tava antes da segunda Guerra Mundial (Clement Greenberg), mas antes, segundo uma construção e desconstrução constantes (Lyotard, Jean-François, Condição Pós-Moderna, 1979). O modelo em que nos movemos aproxima-se mais fielmente das “versões de mundos” de Nelson Goodman. Segundo o filósofo não existe uma verdade una, mas antes uma plu- ralidade de verdades relativas.

A arte indícia o que se passa na sociedade. Num período de instabilidade política, social, económica e tecnológica realiza essas alusões. A actuali- dade tem noção da transformação e mutabilidade da vida, dos factos, dos conhecimentos. Existe a tendência para um refazer constante, para um questionamento sobre tudo. Não existem valores, critérios sólidos, tudo se encontra em mudança, tudo é fugaz. Vivemos perante um mundo multi- cultural e pluralista. A arte representa a relação

entre o Homem e o mundo, o lugar que este ocupa no mundo. Este modo de expressão ensina-nos a tirar partido das transformações, pois são elas que demonstram a vitalidade. Os questionamentos que suscitam provocam a diluição de preconceitos e a abertura da percepção. O Modernismo lançou o caminho da abstracção, assimilando concepções da representação, mas exigindo uma alteração nos objectos da arte. Cada um dos ismos funciona como uma teoria da arte. A pretensão modernista era a de investigar a natureza essencial da arte. Para isso os artistas focaram-se numa exploração da sua componente formal. O culminar desta jornada conflui para alguns no Expressionismo Abstracto, para outros no Minimalismo. O primeiro consistia numa abstracção dos referenciais externos através do usufruto dos elementos visuais e dum forte en- volvimento individual por parte do autor. O Mini- malismo era a redução extremada desses elementos próprios da criação.

Donald Judd

Estudos para esculturas mu- rais, 1963

lápis s/papel 27,8 x 35,7 cm

No séc. XX passa a ocorrer uma proliferação de estilos, filosofias e ideias. Muitos estilos coexistem contrariando a perspectiva linear idealizada. Neste momento as questões formais passam para segundo

Andy Warhol,

Big Torn Campbell’s Soup Can (Vegetable Beef),

óleo s/tela, 274 x 152 cm

Roy Lichtenstein, Yellow and Green Brushstrokes, óleo e magna s/tela 214 x 458 cm

“Mas então o tipo de crítica que seria legítimo praticar teria de ser muito diferente do tipo autori- zado por alguma visão da história exepto a minha visão da história, por exemplo, que identificam certas formas de arte como históricamente impera- tivas.”1 “Reivindicar que a arte chegou a um fim si-

gnifica dizer que as críticas desse tipo não são mais

plano. Os artistas passam a analisar a natureza da arte, da obra e do próprio autor. A interrogação é uma constante no intuito de uma aproximação a novas ponderações. As ideias que antes eram certas, mesmo as mais resistentes são agora desfalcadas originando uma renovação dos paradigmas artísticos. Ao invés de se dar continuidade à sacralização do objecto artístico e à temática do mesmo, passa a ocorrer uma aproximação entre a arte e a vida (Pop Art).

legítimas. Nenhuma arte é historicamente mais ver- dadeira do que outra, nem em especial mais falsa.”2 Arthur Danto teria anunciado o fim da arte, que significava o fim da narrativa histórica da arte segundo uma linha contínua de desenvolvimento. O autor procura explicar a introdução do banal na arte. Para Danto, colocando lado a lado uma verda- deira Brillo Box e a cópia de Warhol desta, apenas seria possível identificar a obra de arte partindo da interpretação. Para esta ser possível o observador precisa de possuir conhecimentos no campo artísti- co, na teoria e história da arte e no mundo da arte. Deste modo para um objecto ser entendido como obra de arte precisa de ser sujeito a um “exame”

pelo mercado, pelos críticos, pelos profissionais. A legitimação da obra só ocorre através da acção deste grupo.

Os autores conceptuais vão partir da ideia minima- lista de redução dos elementos para a sua defesa da primazia da ideia sobre o visível. Deste modo pro- vocavam a desmaterialização do objecto artístico impossibilitando, aparentemente, a sua comercia- lização. A arte posterior a esta conjuntura, para ser autenticada enquanto tal, não pode ignorar estes desenvolvimentos na sua constituição.

Dadas as condições em que nos encontramos o estímulo para a produção actual não é o estabeleci- mento de princípios rígidos, mas antes a criação de ideias interessantes. Segundo a nossa perspectiva, para isto suceder revela-se fundamental ter em conta as referências anteriores, pois vai ser, entre outros factores, em relação a essas, que os julga- mentos vão ser emitidos.

Estaremos então na era da referencialidade?

1 DANTO, Arthur, Após O Fim da Arte A Arte Contemporânea e os Limites da História, EDUSP, 2006, p.29. 2 Ibdem, p. 31.

Nancy Holt, Holes of Light, 1973, fotografias e lápis s/papel

Gordon Matta Clark, Genoa (“Infraform” Cut Drawing), 1973, lápis s/pilha de cartão recortado

A Arte é sempre uma criação humana, seja esta realizada de modo mais instintivo ou mais tradicional. O desenho surge sempre para sa-

tisfazer uma necessidade. É um prazer no momento da actividade, uma marca que afirma a permanên- cia do Homem.

Para a tentativa de decifração da arte contem- porânea é necessária a capacidade de nos revermos e ao mundo nas imagens.

A reemergência do desenho para a prática artística deveu-se às suas características reflexivas e à sua versatilidade. O desenho testemunha a crença na criação artística, reflecte a ingenuidade original da experiência humana. Depois de um período de destruição pela saturação de medias, o desenho é a ferramenta essencial e primordial para a recons- trução e reformulação do contacto entre o Homem e o mundo. Tal como diz Jordan Kantor3, através da mediação concebida pelo desenho, o Homem sublima inquietações aprendendo com o passado, espelhando o presente e inventando planos para o futuro.

Perspectiva Crítica sobre o De-