• Nenhum resultado encontrado

4 BASES TEÓRICAS DE SUSTENTAÇÃO DO PROCESSO

4.3 Desenho metodológico

A pesquisa avaliativa que tentamos desenvolver é crítica, compreensiva com aproximação para em profundidade que, conforme ensina Rodrigues (2011b), deve ser detalhada, ampla e multidimensional, exigindo uma abordagem multi e interdisciplinar, não podendo focar apenas na averiguação do cumprimento de metas propostas, mas realçar a pesquisa qualitativa; e a apreensão de resultados deve contemplar a realização de entrevistas aprofundadas e abertas, que não conduzam o entrevistado à resposta, que não lhe cerceie o campo da reflexão – essa entrevista deve propiciar novas informações e reflexões sequer imaginadas pelo pesquisador.

Neste sentido, para avaliar o objeto da presente pesquisa passamos agora a formular o desenho metodológico, conforme adiante exposto:

Para realizar a pesquisa devemos utilizar métodos, instrumentos ou técnicas que contribuam para o seu sucesso. Para isso, pretendemos desenvolver um método que melhor se ajuste à pesquisa avaliativa escolhida, levando-se em consideração a problematização e os

55

efeitos do programa de incentivo às organizações sociais, instituído pelo Governo do Estado do Ceará.

Acreditamos que o método de estudar uma experiência é o melhor para recolher os dados necessários que justifiquem a existência do programa mencionado, pois segundo Holanda (2006, p. 287) “[...] permite uma investigação abrangente e em profundidade, ao invés de limitar-se à análise de apenas alguns aspectos muito restritos ou selecionados, como ocorre em avaliações quantitativas [...]” e, ainda, conforme Rodrigues (2011b, p. 57) que “[...] propõe que a avaliação seja ampla, detalhada e densa.” Os aspectos mencionados pelos autores expressam a pesquisa qualitativa que será desenvolvida na investigação do estudo de caso, objeto dessa pesquisa avaliativa.

Nesta perspectiva, pretendemos investigar a OSS, já mencionada no momento da definição da política pública em estudo, que se apresenta como um fenômeno contemporâneo, inserido dentro de um contexto real, cujo controle sobre ele é bastante precário e, por isso, questões tipo “como” é determinante para explorar dados desconhecidos (YIN, 2005). No estudo da experiência proposta, a pergunta é “como” o modelo de gestão de saúde implementado pela OSS vem contribuindo para a melhoria da qualidade e agilidade dos serviços de saúde do hospital.

O estudo de caso se ajusta ao campo de pesquisa em foco porque possui duas fontes de evidências que normalmente em outros métodos não é utilizado: observação direta dos acontecimentos que estão sendo estudados e entrevistas das pessoas neles envolvidas. Este método tem uma capacidade de lidar com uma ampla variedade de evidências (documentos, artefatos, entrevistas e observações), ou seja, vai muito além do estudo histórico convencional, pois na pesquisa histórica o pesquisador não tem nenhum acesso ou controle. Por exemplo, quando não há nenhuma pessoa relevante viva que possa expor o que aconteceu (YIN, 2005).

O método escolhido para realizar a pesquisa se configura num desafio; e para lidar com este desafio tentamos compreender o fenômeno contemporâneo, qual seja, a OSS, procurando saber como definir a experiência a ser estudada, buscando os significados da política para aqueles que a formulam, executam e vivenciam e como determinar os dados relevantes que devem ser coletados e o que devemos fazer com os dados após a coleta.

Neste sentido, propomos ter por objetivo geral saber se a gestão realizada efetivamente atingiu os resultados almejados pelo modelo de gestão. Para tanto, formulamos os objetivos específicos:

56

a) verificar se a desconcentração das responsabilidades permitiu atingir uma maior agilidade e qualidade no atendimento ao usuário, cuja desconcentração é o objetivo geral da política pública em desenvolvimento;

b) verificar os pontos fortes e fracos da política de gestão implantada.

Para atingir os objetivos será utilizado o princípio das múltiplas fontes de evidência que permitirá o desenvolvimento da investigação em várias frentes – será feita investigação de vários aspectos em relação ao mesmo fenômeno. As conclusões e descobertas são assim mais convincentes e apuradas, já que advém de um conjunto de confirmações. Além disso, os potenciais problemas de validade do estudo são atendidos, pois as conclusões nestas condições são validadas através de várias fontes de evidências (YIN, 2005).

As fontes de evidências que pretendemos buscar consistem em estudo bibliográfico, observação direta e anotações no diário de campo, sites eletrônicos, estudo documental, e entrevistas com os agentes públicos envolvidos na dinâmica do modelo de gestão da OSS.

O estudo bibliográfico a ser realizado tem por finalidade o contato com o que já se produziu e registrou a respeito do tema de pesquisa, bem como saber se alguém já publicou as respostas às questões propostas, e decidir se é interessante repetir a investigação com os mesmos objetivos, caso haja coincidência com os ora propostos e, ainda, saber quais os métodos utilizados em investigações similares e averiguar o melhor para ser aplicado.

Para o estudo documental, é importante analisar o conteúdo da legislação referente ao tema: leis, decretos, relatórios de gestão da OSS, relatório da Comissão de Avaliação do Contrato de Gestão celebrado entre o Estado do Ceará, por meio da SESA, a SEPLAG e a OSS. Foram escolhidos contratos referentes ao ano de 2008, 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013.

Esclarecemos que essa documentação foi obtida junto a CEACG, integrante da COTEF, que compõem a estrutura organizacional da SEPLAG, órgão parte integrante do Contrato de Gestão e é onde, como servidora pública, a pesquisadora está lotada. As entrevistas realizadas foram feitas junto a integrantes da OSS e da Comissão de Avaliação.

O primeiro contato com o campo empírico ocorreu quando fizemos a observação direta no campo empírico e a entrevista com um integrante da OSS. Foi observada a rotina institucional do hospital e foram feitas anotações no diário de campo, em um dia comum de atividades desenvolvidas pelos integrantes que compõem aquele órgão, bem como pelos usuários que buscam os serviços de saúde do SUS.

57

Na certeza do vasto campo de possibilidades e de sujeitos que dialogam com a questão da gestão do hospital foi feita inicialmente uma entrevista com um integrante da OSS cujos tópicos principais da entrevista estão em apêndice II. Quanto às outras entrevistas os tópicos principais são os mesmos.

Na primeira entrevista, o princípio da universalidade foi o que surgiu, na maioria das vezes. Universalidade significa que o SUS deve atender a todos, sem distinção ou restrições, oferecendo toda a atenção necessária, sem qualquer custo. O princípio de universalidade caracteriza a saúde como um direito de cidadania, ao ser definido pela Constituição Federal como um direito de todos e um dever do Estado. Neste sentido, abrange a cobertura, o acesso e o atendimento nos serviços do SUS e exprime a ideia de que o Estado tem o dever de prestar esse atendimento a toda população brasileira (PONTES et al., 2009).

Quanto à integralidade, princípio que será analisado na pesquisa, inexiste uma definição de fato sobre o que seria, conforme trecho transcrito:

A inexistência de uma noção de fato sobre o que seria a tal “integralidade” é ao mesmo tempo uma fragilidade e uma potencialidade. Podemos dizer que a integralidade não é apenas uma diretriz do Sistema Único de Saúde - SUS, definida constitucionalmente...entendemos integralidade no cuidado das pessoas, grupos e coletividade, percebendo o usuário como sujeito histórico, social e político articulado ao seu contexto familiar, ao meio ambiente e à sociedade na qual se insere. Neste cenário, se evidencia a importância de articular as ações de educação em saúde, como um elemento produtor de um saber coletivo que traduz no indivíduo sua autonomia e emancipação para o cuidar de si, da família e de seu entorno. Com base nesta compreensão o estudo busca refletir acerca do princípio da integralidade como eixo norteador das ações de educação em saúde. (MACHADO et al., 2007, p. 336).

Na maioria dos tipos de estudo de experiência, busca-se esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões: “[...] o motivo pelo qual foram tomadas, como foram implementadas e com quais resultados.” (SCHRAMM, 1971 apud YIN 2005, p. 31). Nesse sentido, vamos analisar a OSS para compreender a dinâmica das decisões que foram tomadas, para que essa organização tenha sido escolhida como uma solução para gestão de saúde pública, na intenção da melhoria da qualidade e agilidade do atendimento ao usuário.

Nesse passo, é nossa intenção construir, ao longo do estudo, uma base de dados que serão armazenados (interpretações e descrições dos eventos observados e registrados) e, após, relatados. Será feita uma cadeia de evidências para configurar o estudo de caso, de sorte que consiga levar o leitor a perceber a apresentação das situações que legitimam o estudo, desde as questões de pesquisa até as considerações finais (YIN, 2005).

58

Documentos relacionados