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A investigação focalizou as concepções e vivências de mães cujos filhos, de dois a cinco anos de idade, tinham um quadro de excesso de peso e/ ou obesidade e nascido com muito baixo peso.

81 O grupo de mães que participou do estudo, com idade igual ou superior a 18 anos, foi composto mediante informações fornecidas pelos bancos de dados de serviços públicos no seguimento do bebê prematuro do Hospital Geral de Fortaleza e do Serviço Interdisciplinar de Terapia Ocupacional do Núcleo de Atenção Médica Integrada da Universidade de Fortaleza – NAMI/UNIFOR.

O atendimento pediátrico pelo Serviço de Terapia Ocupacional do NAMI é realizado nos setores de estimulação precoce e de atendimento infantil. O primeiro é realizado em grupo com equipe interdisciplinar para crianças com sinais de alarme para o desenvolvimento neuropsicomotor, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor ou necessidades especiais, com faixa etária de 0 a 3 anos; enquanto o segundo é feito individualmente ou em grupo, com crianças com necessidades especiais, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor ou dificuldades de aprendizagem e/ou comportamento, com faixa etária de 3 a 12 anos. Neste ambulatório, especialmente, procuramos pela criança com comprometimentos decorrentes do nascimento prematuro, na qual foi encaminhada pelos diversos serviços que compõem a rede de atenção do SUS.

O prontuário do ambulatório de seguimento do prematuro ou follow-up do Hospital Geral de Fortaleza, indicava o momento no qual a criança estava acima do peso, pela sinalização com marcador de texto de cor amarela, sobressaltando o percentil para essa condição nutricional. Ou seja, nas consultas mensais, entre os dados clínicos relevantes, a idade, a altura, o peso e o diagnóstico nutricional eram aferidos e registrados no prontuário.

Buscamos esses sujeitos por via de análise do prontuário institucional, no qual, efetivamos nossa procura, inicialmente, na detecção do peso ao nascer. Eram elegíveis crianças que estavam sendo acompanhadas com peso de nascimento abaixo de 1.500g, consideradas na literatura como muito baixo peso; e aquelas abaixo de 1.000g, extremo baixo peso. Simultaneamente, observamos a idade atual da criança em acompanhamento, que deveria estar na faixa de dois a cinco anos e perfilamos ao diagnóstico nutricional registrado no prontuário. O percentil maior ou igual a 85, segundo as curvas de avaliação do estado nutricional de crianças até a idade pré-escolar da OMS (2006), indica a condição de sobrepeso, e maior ou igual a 97, obesidade infantil.

82 Foram selecionadas para contato as mães, maiores de 18 anos, de crianças que reuniam todos os requisitos necessários para compor o perfil inclusivo da amostra qualitativa:

• Ter nascido abaixo de 1.500g; • Estar na faixa de dois a cinco anos;

• Ter diagnóstico nutricional igual ou acima de 85; • Mãe com idade acima de 18 anos;

• Em adição, por meio de parecer clínico fornecido pelos profissionais de saúde envolvidos no cuidado direto da criança, asseguramos que o peso em excesso não era decorrente de uma condição de saúde primária e específica.

Os contatos foram realizados via ligação telefônica, ou com a abordagem direta no momento inicial ou final do atendimento ambulatorial desses serviços supracitados. Foi proposto que pudéssemos acompanhar a rotina de cuidados da criança no domicílio e a consecução da entrevista. Outras visitas foram realizadas com a pretensão de reiterar a observação realizada e a possível complementação de informações.

Pela tradição qualitativa, a amostragem não se baseia em critérios numéricos para garantir a sua representatividade. O critério é o aprofundamento da compreensão simbólica do grupo estudado (MINAYO, 2010).

O que delimita o conjunto de agentes sociais é a “exaustão”, pela reiteração das categorias empíricas do discurso produzido. Desta forma, uma boa amostragem, é aquela que se mostra suficiente para “objetivar o objeto empiricamente, em todas as suas dimensões”. Assim, “uma amostra qualitativa ideal é a que reflete a totalidade das múltiplas dimensões do objeto de estudo.” (MINAYO, 2010, p. 197).

As técnicas utilizadas foram: entrevista aberta (roteiro norteador – Apêndice 1) que aborda o objeto de estudo; observação direta com registro em diário de campo.

A observação direta, técnica de origem etnográfica, é um recurso necessário, à medida que nos podemos inserir em contextos assistenciais, familiares ou na comunidade em que o registro de informações seja necessário

83 (ANGROSINO, 2009). O registro de fenômenos não verbais, como emoções vividas, gestos e comportamentos, nos parecem de muita relevância para os propósitos desta análise, incluindo outros elementos não contidos na verbalização das informantes, mas vividos no plano situacional da pesquisa. Nossas impressões, produto da co-afetação da situação de pesquisa, também serão registradas num diário de campo e utilizadas na análise, destacando, contudo, elementos da interação.

A entrevista não diretiva, eleita aqui como o instrumento que subsidiou nossa investigação, foi importada do campo da Psicologia - entrevista não diretiva- para a pesquisa social. Os fundamentos teóricos dessa técnica foram originalmente trabalhalhados pelo psiquiatra e psicoterapeuta Carl Rogers. Ele defendeu o argumento de que, pela da “empatia” (atitude calorosa de abertura à escuta e afirmação da experiência do cliente), “aceitação incondicional” e uma total permissividade quanto aos conteúdos e sentimentos expressos, sem a formulação de juízos de valores, favoreceria ao cliente o ambiente seguro para a expressão de seus conteúdos mais latentes. Outrossim, importante é destacar o fato de que a não diretividade, todavia, é relativa. A intencionalidade do pesquisador, o recorte do objeto de estudo e a pergunta disparadora são elementos que atravessam o contexto dialógico entre pesquisador- entrevistado, que, em si, já tenciona, “aquece” a situação de entrevista. Compreendemos, porém, que essa modalidade de entrevista se faz um recurso essencial à pesquisa social na apreensão de sistemas de valores, representações simbólicas e concepções.

Gravamos todas as sessões de entrevistas com gravador digital, obedecendo aos aspectos éticos descritos no tópico 3.5.

O trabalho de campo teve a duração de aproximadamente 12 meses – junho a dezembro de 2013 e de fevereiro a junho de 2014.