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Desenho do teste oral de produção semi-

3 METODOLOGIA

3.3 Teste oral de produção semi-espontânea

3.3.1 Desenho do teste oral de produção semi-

Com o objetivo de fazer com que os informantes utilizassem as morfologias de aspecto imperfectivo contínuo, elaboramos um teste oral, composto por quinze perguntas, baseadas em situações hipotéticas, nas quais os informantes precisariam se enxergar vivendo aquelas determinadas situações como se elas estivessem acontecendo no presente momento, no momento da fala. Além de tentar remeter os informantes a situações contínuas, era necessário, também, elaborar perguntas que ensejassem o uso de diferentes subclasses de verbos de estado. Para tanto, elaboramos perguntas que acreditávamos que pudessem levar os

informantes a utilizar verbos de estado das diferentes subclasses propostas por Duarte & Brito (2003), como ilustra o quadro (10) a seguir:

Quadro 10: Verbos de estados tentativamente ensejados nas perguntas do teste oral. SUBCLASSES

DE VERBOS

VERBOS DE ESTADO TENTATIVAMENTE ENSEJADOS

PB INGLÊS

Verbos existenciais haver e ter there to be (2x)

Verbos locativos morar e ficar to live e to stay

Verbos epistêmicos saber; entender e lembrar-se to know; to understand e to remember Verbos perceptivos ver; ouvir e sentir to see; to hear e to feel

Verbos psicológicos gostar; odiar e querer to like; to hate e to want

Verbos copulativos ser e ficar to be e to become

É importante frisar que, embora tenhamos elaborado esse esquema de verbos possivelmente ensejados, não era possível garantir que os informantes utilizariam esses verbos. Por se tratar de um teste para coleta de dados de fala semi-espontânea, o uso dos verbos por parte dos informantes era uma variável sobre a qual não tínhamos controle, já que os informantes utilizariam os verbos que lhes conviessem. O esquema elaborado na tabela era apenas uma tentativa de controle do que, possivelmente, poderia vir a ser usado por nossos informantes. Podemos observar, nos exemplos (19) e (20) abaixo do português e do inglês, respectivamente, duas dentre as quinze perguntas que incluímos em nosso teste oral, juntamente com uma resposta possível para a pergunta.

19. (a) Pergunta: Vamos imaginar que seu amigo comprou um jogo de tabuleiro para vocês. Ele tenta te explicar as regras do jogo e vocês começam a jogar. O problema é que você ainda está confuso sobre como o jogo funciona. Ele percebe isso. Eu sou o seu amigo. Fale comigo sobre a sua dificuldade agora.

O que era esperado: Eu não estou entendendo esse jogo/ não estou sabendo jogar.

(b) Pergunta: Vamos imaginar que sua mãe está na janela com um binóculo nos olhos. Essa situação te deixou bastante curioso. Eu sou a sua mãe. Mate a sua curiosidade e fale comigo sobre isso.

O que era esperado: O que você está vendo50 aí?

20. (a) Pergunta: Let’s imagine your friend bought a board game for you. S/he tries to explain the rules and then you start to play. The problem is that you’re still confused about how the game works. S/he notices that. Imagine I am this friend. Tell me about your difficulty.

50 Faz-se necessário comentar que é possível que predicados verbais como, por exemplo, “ver algo” e “lembrar- se de alguém” podem ser interpretados como estados em algumas situações e, em outras, como culminações (“eu vi o quadro e lembrei-me imediatamente de minha mãe”). Neste trabalho, entendemos “ver” como um verbo de percepção, portanto, como um verbo de estado, assim como afirma Comrie (1976). Ao mesmo passo, um verbo como “lembrar-se”, por figurar como um processo cognitivo de recuperação na memória de uma pessoa, um fato ou um evento, é entendido como um verbo de estado.

O que era esperado: I am not understanding this game/ I don’t understand this game.

(b) Pergunta: Let’s imagine your mother is by the window using binoculars. You became really curious about it. Imagine I am your mother and talk to me about this situation.

O que era esperado: What are you seeing?/ What do you see?

Antes do início da proposição das quinze perguntas que remetiam o informante a situações contínuas, também fazíamos no teste oral de produção semi-espontânea um pequeno questionário, composto por três perguntas/comandos, que funcionavam como um “quebra- gelo”, um momento em que o informante poderia falar de si mesmo e dar algumas informações pessoais para o aplicador. Esses comandos eram os seguintes (21) e (22), em português e inglês, respectivamente:

21. (a) “Me fala51 um pouco sobre você, sua família e seus amigos.” (b) “Me fala um pouco sobre seu trabalho e seus estudos.” (c) “Me fala um pouco sobre a sua cidade e seu bairro.”

22. (a) “Tell me a little about you, your family and friends.”

(b) “Tell me a little about your academic and professional life.” (c) “Tell me a little about your city and your neighborhood.”

Incluir esses comandos antes das perguntas sobre as situações hipotéticas mostrava-se relevante uma vez que o aplicador poderia utilizar informações pessoais dadas nesse momento inicial do teste oral durante a condução do próprio teste oral. Por exemplo, se o informante mencionasse que não tem mãe, em uma pergunta como a ilustrada em (19b) e (20b), o aplicador do teste poderia trocar “mãe” por outro membro da família. Nesse sentido, esses comandos ajudavam o aplicador a fazer possíveis ajustes nas perguntas, de acordo com aquilo que era informado pelos informantes.

O teste oral completo, com todas as perguntas, em suas duas versões, encontra-se disponível no apêndice C desta dissertação. A seguir, trataremos do procedimento de aplicação do teste oral de produção semi-espontânea.

51 Optamos por utilizar “me fala” ao invés de “fale-me” para criar uma atmosfera mais informal para os informantes, permitindo que eles assumissem uma postura mais descontraída e, possivelmente, menos atenta ao uso da norma padrão da língua.