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2. F UNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. A etapa da Adolescência

2.1.2. Desenvolvimento Cognitivo e Psicossocial

De acordo com Sprinthall e Collins (2008), as transformações físicas não afetam diretamente os estádios psicológicos dos adolescentes. Contudo, os efeitos psicológicos surgem como respostas às alterações físicas. Simultaneamente às transformações físicas ocorrem as transformações na capacidade de pensar, raciocinar e de resolução de problemas.

Os autores, anteriormente referidos, afirmam que são múltiplos os autores que se dedicaram ao estudo da adolescência. Piaget foi um deles, cujo principal objetivo consistiu em traçar o percurso

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do desenvolvimento cognitivo. Segundo este autor, o desenvolvimento cognitivo segue um padrão concordante, em termos de estádios de desenvolvimento intelectual, tendo descrito quatro períodos principais (tabela 2).

Tabela 2.

Estádios do desenvolvimento cognitivo de Piaget

IDADE ESTÁDIO Nascimento – 2 anos 2 – 7 anos 7 – 12 anos 12 anos – Adulto Sensório-motor Intuitivo ou pré-operacional Operações concretas Operações formais Fonte: Sprinthall e Collins (2008, p.98)

Como podemos verificar na tabela acima, os distintos estádios constituem descrições das capacidades de pensar e raciocinar, resultantes de estruturas psicológicas qualitativamente diferentes. Para Piaget, como citado em Sprinthall e Collins (2008), o ser humano passa por quatro estádios de desenvolvimento cognitivo, necessitando de experiência e de tempo, em cada um deles, para que os possa interiorizar.

Todo o processo de pensamento, isto é, o raciocínio, aprendizagem, memória e atenção progridem na adolescência, sendo que Piaget defende que é nesta fase que se desenvolve o pensamento operacional formal, sendo este o quarto e último estágio do desenvolvimento cognitivo.

Neste processo de desenvolvimento, o cérebro evolui e o ser humano começa a fazer uso das funções inteletuais que, até então, estavam fora do seu alcance, adquirindo a aptidão de:

 pensar no abstrato, refletindo sobre os fatores que excedem a realidade imediata e palpável;

 assumir o seu próprio pensamento como questão de reflexão;  considerar prováveis combinações de elementos;

 analisar diferentes opções para a solução de um problema;  diferenciar o falso do verdadeiro;

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 comparar hipóteses com a realidade, a fim de aperfeiçoar a eficiência na obtenção e utilização de novos conhecimentos, os quais são vertidos em aprendizagens.

Na mesma linha de pensamento, Hockenberry & Wilson (2011), referem que o pensamento cognitivo surge com a capacidade de desenvolver o pensamento abstrato, correspondendo ao último estádio de Piaget. Nesta fase, os adolescentes deixam de estar limitados à realidade e ao atual, passando a preocupar-se com a possibilidade. Pensam para além do presente, sem terem de centralizar os seus sentidos na situação imediata, sendo capazes de idealizar uma sequência de eventos que poderiam acontecer.

Assim, os pensamentos do adolescente podem passar a ser influenciados por princípios lógicos, para além das suas próprias perceções e experiências. Os adolescentes são capazes de empregar o raciocínio científico e lógico formal, de forma progressiva, bem como são capazes de manusear mentalmente mais de duas categorias de variáveis, em paralelo.

O pensamento abstrato resulta na capacidade de meditação, podendo, no entanto, pôr em jogo todos os recursos mentais e emocionais, desprendendo o processo de autodeterminação do adolescente, que cria critérios para as suas tomadas de decisão face a um sistema de valores e código ético (Sprinthall & Collins, 2008).

Em suma, à proporção que a capacidade do adolescente de pensar de forma hipotética e abstrata começa a surgir, este passa a deixar de lado o raciocínio simplista e concreto e passa a uma visão do mundo mais complexa. Em consequência disto o jovem torna-se mais interessado na opinião e crítica dos outros, bem como se torna mais preparado para questionar as ideias, por vezes, com algum egocentrismo.

Como já foi referido, ao mesmo tempo que ocorrem mudanças ao nível cognitivo, observam-se mudanças ao nível do psicossocial, que de uma forma muito redutora podemos dizer que se centra na busca da identidade, estabelecendo mudanças nas relações:

 Com os pais- uma relação com nova independência,  Com os amigos - com nova intimidade

 Com a sociedade - com um novo compromisso  E consigo mesmo.

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Resolver positivamente cada crise é decisivo para a constituição de uma personalidade bem adaptada e capaz de enfrentar equilibradamente os desafios. Erikson (1976) dividiu o desenvolvimento humano em oito estádios psicossociais a que chamou “idades da vida” (como citado em Sprinthall & Collins, 2008).

No entanto, aqui apenas nos interessa a quinta idade, que corresponde ao período da adolescência, sendo esta a população de interesse neste estudo. De acordo com o autor, neste estádio, o adolescente questiona-se sobre o “Quem sou eu? O que irei ser?”. Nesta fase, o adolescente chega à compreensão da sua singularidade como pessoa, como ser único, com identidade própria, mas inserido num meio social onde tem vários papéis a desempenhar. É neste contexto que a personalidade se desenvolve, embatendo várias vezes com aspetos complexos da personalidade, surgindo a “confusão de papéis”. Esta confusão caracteriza-se por uma luta para conciliar “ um sentimento consciente de exclusividade individual” com o “esforço inconsciente por uma continuidade de experiências … e solidariedade com os ideais de um grupo” (Erikson,1968, como citado em (Berger, 2000, p. 279)

A busca da identidade prolonga-se durante toda a adolescência, durante a qual o adolescente pode assumir mais do que uma condição de identidade. A realização da identidade, isto é, o status definitivo da identidade, é adquirida tendo em conta as metas e os valores estabelecidos pelos pais e cultura, aceitando alguns e rejeitando outros (Berger,2000).

De acordo com o mesmo autor, os adolescentes podem adquirir diferentes status de identidade de acordo com o tipo de busca que fazem pela mesma.

Um jovem que simplifique a busca pela identidade pode adquirir um status de resolução precipitada, o que se traduz no fecho do processo antes de ele estar concluído. Neste caso, o adolescente opta por adoptar os valores dos pais e sociedade, sem analisar alternativas e elaborar uma identidade própria.

Por outro lado, temos a identidade negativa, que é caracterizada por os adolescentes terem uma identidade oposta ao esperado, pois os papéis que são ambicionados pelos pais e sociedade são vistos como inalcansáveis ou desinteressantes por parte do adolescente.

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Existem também adolescentes que tem dificuldade em assumir compromissos com objectivos e valores, tornando-se mais passivos quando tentam assumir qualquer papel, podendo dizer-se que apresentam um status de identidade difusa.

O status de identidade considerado moratória carateristico da experimentação de diferentes identidades alternativas, sem a tentativa de estabelecer qualquer uma delas.

Finalmente temos o status de identidade realizada, em que o individuo passou por uma fase de crise no entanto establece agora um comprometimento comm novos objectivos ideologicos.

De acordo com alguns estudos realizados no âmbito de comparar a identidade com o desenvolvimento cognitivo e psicológico, podemos afirmar que exitem relações entre o status e as caracteristicas (tabela 3).

Tabela 3.

Atitudes, relacionamentos e emoções típicas dos principais status de identidade

Característica Status da Identidade

Precipitada Difusa Moratória Realizada

Grau de ansiedade Tende a reprimir a ansiedade

Moderado Alto Moderado

Atitude em relação aos pais

Afetuosa e respeitosa

Afastada Tenta-se manter à distância Afetuosa e cuidadosa Grau de auto-estima Baixo (facilmente afetado por outros)

Baixo (“vazio”) Alto Alto

Grau de preconceito

Alto Neutro Médio Baixo

Dependência de outros

Muito dependente Dependente Autodirigido Autodirigido

Processos cognitivos Simplifica os aspetos complexos; baseia-se nos outros e em normas sociais para opiniões de decisões Complica os aspetos simples; baseia-se nos outros para fazer escolhas pessoais e ideológicas Ponderado; adia, principlamente as decisões; evita basear-se nas opiniões dos

outros e em normas sociais Ponderado; toma decisões procurando novas informações e levando em conta a opinião de terceiros Relações com outras pessoas Estereotipadas Estereotipadas ou isoladas Íntimas Íntimas

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Durante esta construção da identidade, a influência dos pais, colegas e sociedade tornam-se mais fortes quer para o bem quer para o mal, pois são eles que nesta fase oferecem orientação e alento para a estabilidade.

No que diz respeito à relação com os pais, enquanto o jovem coabita com os mesmos, ocorrem geralmente conflitos derivados da luta pela independência, que se contrapõe ao controlo dos pais, variando estes conflitos de acordo com diversos fatores como a idade, o sexo, e contexto cultural. O conflito entre pais e adolescentes surge normalmente no início da adolescência, principalmente no sexo feminino, pois estas atingem a maturidade mais cedo. Os conflitos são mais comuns entre a figura materna e a filha, sendo que se compreende pois o motivo dos conflitos são geralmente relacionados com hábitos de vida diários como o cabelo, a roupa e a aparência, sendo que a mãe dá mais importância a esses aspetos que o pai. Por outro lado a figura paterna restringe mais a liberdade às filhas do que os filhos o que gera frequentemente o conflito entre os mesmos (Berger, 2000).

Segundo o mesmo autor, os conflitos são apenas uma das dimensões do relacionamento entre pais e filhos, sendo que, também devemos considerar a comunicação, o apoio, a interligação e o controlo, sendo que, estes variam de família para família.

O grau de controlo que uma família rígida exerce, restringindo a autonomia do adolescente é um aspeto que se demonstra complicado no funcionamento da família. No entanto Berger (2000) defende que são necessários alguns passos para limitar a liberdade, sendo que o controlo parental, que permite a vigilância dos pais em relação ao filho é uma forte barreira para comportamentos de risco, como por exemplo o consumo de drogas e álcool. O ideal é encontrar um equilíbrio no controlo, pois se por um lado os adolescentes necessitam de vigilância, por outro também necessitam da sua liberdade para se sentirem bem com eles mesmos.

Já no que respeita aos colegas também as relações se tornam diferentes nesta fase de transição, no sentido em que se tornam imprescindíveis para o desenvolvimento psicossocial, tendo segundo Brown (1990) como citado em Berg (2000), algumas funções, que merecem destaque, como a autoajuda puberal, o apoio social, a formação da identidade e o esclarecimento de valores.

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A autoajuda puberal entende-se como sendo o apoio, informações e companhia que os colegas proporcionam face às mudanças físicas que ocorrem, tornando-se uma forma de expor as dúvidas e de lidarem com todas as transformações.

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