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Consumo de álcool por alunos do ensino secundário do concelho de Vila Real no ano letivo 2012/2013

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Consumo de álcool por alunos do Ensino Secundário do

concelho de Vila Real no ano letivo 2012/2013

Dissertação de Mestrado em Enfermagem Comunitária

Vânia Andrade Minhava

Orientador

Professor Doutor Amâncio António de Sousa Carvalho

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Consumo de álcool por alunos do Ensino Secundário do

concelho de Vila Real no ano letivo 2012/2013

Dissertação de Mestrado em Enfermagem Comunitária

Vânia Andrade Minhava

Orientador

Professor Doutor Amâncio António de Sousa Carvalho

Composição do Júri:

Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro

Professora Doutora Margarida da Silva Neves Abreu

Professora Doutora Maria Helena Ribeiro dos Santos Silva

Professor Doutor Amâncio António de Sousa Carvalho

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Este trabalho foi expressamente elaborado como Dissertação original para obtenção do grau de Mestre em Enfermagem Comunitária, sendo apresentada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

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“Aqueles que se sentem satisfeitos sentam-se e nada fazem. Os insatisfeitos são os únicos benfeitores do mundo.”

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vii

A

GRADECIMENTOS

Um trabalho como este não se faz sozinho e diversas pessoas contribuíram, direta ou indiretamente, para a sua realização. Ainda que a redação da presente dissertação seja da minha responsabilidade, há pessoas que colaboraram com a sua elaboração e, de tal forma, preciso creditar um pouco do resultado a elas. De alguma forma, tenho de organizar as menções, por isso uns virão à frente de outros mas agradeço com o mesmo sentimento a todos.

Ao meu orientador, Professor Doutor Amâncio Carvalho, pela forma como orientou o meu trabalho, pela sua disponibilidade e cordialidade com que sempre me recebeu e pela liberdade de ação que me concedeu.

Aos Presidentes do Conselho Executivo das Escolas participantes, bem como diretores de turma pela disponibilidade e por serem tão recetivos e prestáveis ao meu trabalho de investigação.

Aos alunos do ensino secundário das escolas, pois sem eles este trabalho não seria possível.

Aos autores das escalas utilizadas no questionário pela sua autorização.

E por último, e não menos importante, à minha família, namorado e amigos que me apoiaram e incentivaram em todos os momentos.

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(11)

xi

R

ESUMO

Introdução: De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2009), o uso de bebidas alcoólicas ocupava o terceiro lugar como fator de risco de morbilidade a nível mundial e o segundo lugar na Europa. O consumo de álcool é encarado como um enorme desafio para a sociedade em que vivemos, uma vez que se trata de uma substância psicotrópica lícita de grande aceitação social, com repercussões negativas, sobretudo, na adolescência. É uma etapa de conquista de independência, marcada por conflitos, influências, pressões para o uso deste tipo de substâncias. Neste contexto, definiu-se como objetivo geral do estudo compreender quais os fatores associados à experimentação e ao consumo de bebidas alcoólicas pelos alunos da amostra, com vista a adequar futuras intervenções.

Métodos: Trata-se de um estudo descritivo e correlacional, transversal, de abordagem quantitativa. O método utilizado para colheita de dados foi o questionário, que inclui a escala de Envolvimento dos adolescentes com o uso de álcool (AAIS) e a escala The Alcohol Use Disorder Identification Test (AUDIT), que foram aplicadas aos alunos do ensino secundário, em regime diurno, das escolas públicas, do concelho de Vila Real. Para tratamento de dados foi utilizado a programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0.

Resultados: A amostra do presente estudo inclui 501 alunos, a maioria do sexo feminino (53,4%) e pertencia à classe etária dos 17-18 anos (50,5%). A prevalência da experimentação de bebidas alcoólicas foi de 87,4%. No que se refere ao envolvimento dos alunos com o álcool, enquadram-se na clasenquadram-se de bebedor habitual com problemas 13,3% dos sujeitos e 0,9% na clasenquadram-se “alcoholic like”. Relativamente à escala AUDIT enquadram-se na classe de consumo excessivo 20,5% dos alunos. O tipo de bebida mais consumida pelos participantes no estudo são os Cocktails de bebidas alcoólicas, que na sua maioria costuma consumir estas bebidas com amigos da mesma idade ou companhias mais adultas. O maior grupo da amostra (24,9%) referiu beber 1 copo ou menos, seguindo-se um grupo de 22,6% de alunos que indicou beber até ficar alegre ou bêbedo. Quanto aos motivos que levaram ao consumo de bebidas alcoólicas por parte dos alunos desta amostra, salienta-se a curiosidade (51,8%).

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xii

A proporção de alunos da classe etária dos 17-18 anos, que experimentou consumir bebidas alcoólicas é superior à da classe etária dos 15-16 anos (2: p= 0,000). Os alunos do 11º ano apresentaram maior envolvimento com o álcool (Kruskal-Wallis: p= 0,000), assim como o sexo masculino (t de Student: p= 0,008). A proporção de rapazes que se enquadravam na classe de consumidores excessivos é superior à das raparigas (Mann-Whitney: p= 0,012). Existe correlação positiva entre a pontuação da escala AAIS e a pontuação da escala AUDIT (Pearson: p= 0,000).

Conclusões: A prevalência de experimentação de bebidas alcoólicas é bastante elevada, assim como a proporção de bebedores habituais com problemas e com consumo excessivo, comparando com estudos realizados com populações semelhantes. Face a estes resultados é pertinente desenvolver intervenções de enfermagem comunitária dirigidas a este fenómeno com vista à sua prevenção.

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xiii

A

BSTRACT

Presentation: According to the WHO (World Health Organisation) (2009), the use of alcoholic drinks was the third item of risk death worldwide and the second one in Europe. Alcohol consumption is regarded as a huge challenge for the society in which we live in, once it is a licid phsycotropic substance of great social acceptance, with negative consequences mainly during adolescence. It is an etage of independence conquest, marked by conflicts, influences and pressures for the use of this kind of substances. Within this context, the main objective of this study is to understand which are the factors linked to experimentation and to the consumption of alcoholic beverages by the students of this sample in order to adapt future interventions.

Methods: It is a descriptive, correlational, transversal study with a quantitative approach. The method used to the data collection was the questionnaire, which includes the scale of Identifying Adolescents with Alcohol Problems (AAIS) and the scale The Alcohol Use Disorder Identification Test (AUDIT), which were used by secondary, day schedule students of public schools in the district of Vila Real. For the data treatment it was used the program Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), version 20.0.

Results: The sample of the present study includes 501 students, the majority females (53,4%) aged between 17-18 years old (50,5%). The prevalence of the experimentation of alcoholic drinks was 87,4%. Concerning the involvement of the students with alcohol, 13,3% of them belong to the type of usual drinker with problems and 0,9% to the type of “alcoholic like”. Concerning the scale AUDIT, 20,5% of the students fit in the type of excessive consumption. The most consumed beverages by the participants in this study are the Cocktails of alcoholic drinks, which are drunk in groups of the same age friends or with older people. The biggest sample group (24,9%) referred they had drunk one glass or less, followed by a group of 22,6% which referred to have drunk until they became “happy” or drunk. As far as the motives which led to the consumption of alcoholic beverages by the students of this sample, the most important one was curiosity. The proportion of students within 17-18 year old class which tried alcoholic beverages is superior to the 15-16 year old one (x2: p=0,00). The 11th grade students showed a greater involvement with alcohol (Kruskal-Wallis: p=0,000), as well as males (t of Student: p=0,008). The proportion of male students which fit in the class of excessive consumers is superior to the

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xiv

one of female students (Mann-Whitney: p=0,012). There is a positive correlation between the points of the scale AAIS and the points of the scale AUDIT (Pearson: p= 0,000).

Conclusions: The prevalence of the experimentation of alcoholic drinks is rather high, as well as the proportion of usual drinkers with problems and with excessive consumption, when compared to previous studies with similar populations. According to these results, it is important to develop nursing communitary interventions directed to this fact in order to prevent it.

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xv

Í

NDICE

G

ERAL

P

ENSAMENTO

A

GRADECIMENTOS

R

ESUMO

A

BSTRACT

L

ISTA DE

A

BREVIATURAS

,

S

IGLAS

,

SÍMBOLOS E ACRÓNIMOS

1.INTRODUÇÃO ... 1

2.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 7

2.1. A etapa da Adolescência ... 7

2.1.1 Desenvolvimento físico ... 9

2.1.2. Desenvolvimento Cognitivo e Psicossocial ... 11

2.1.3. Comportamentos de risco ... 17

2.2. Consumo de bebidas alcoólicas ... 19

2.2.1. Epidemiologia ... 20

2.2.2. Tipos de consumo ... 24

2.2.3. Consequências/repercussões ... 26

2.2.4. Intervenções de enfermagem comunitária no âmbito da prevenção ... 29

3.METODOLOGIA ... 31 3.1. Tipo de estudo ... 31 3.2. População/Amostra ... 32 3.3. Variáveis em estudo ... 33 3.3.1. Variáveis atributo ... 34 3.3.2. Variáveis de investigação ... 35

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xvi

3.4. Formulação de questões e hipóteses de investigação ... 35

3.5. Instrumento de colheita de dados ... 37

3.6. Procedimento de recolha de dados ... 40

3.7. Tratamento de dados ... 41

4.APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 43

4.1. Caraterização sociodemográfica da amostra ... 43

4.2. Envolvimento dos adolescentes com o álcool ... 46

4.3. Identificação de consumidores excessivos de bebidas alcoólicas ... 63

5.CONCLUSÃO ... 71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 73

Apêndice A – Questionário

(17)

xv

Í

NDICE DE FIGURAS

Figura 1. Consumo de álcool por tipo de bebidas em adultos em Portugal (2005) ... 22

Figura 2. Prevalência do Consumo de Substâncias Psicoativas Lícitas no Último Ano, por sexo ... 23

Figura 3. Fatores determinantes na incidência e prevalência dos Problemas Ligados ao Álcool ... 27

(18)
(19)

xix

Í

NDICE DE

T

ABELAS

Tabela 1. Sequência de mudanças físicas nos diferentes sexos ... 11

Tabela 2.Estádios do desenvolvimento cognitivo de Piaget ... 12

Tabela 3. Atitudes, relacionamentos e emoções típicas dos principais status de identidade15 Tabela 4. Operacionalização e categorização das variáveis atributo ... 34

Tabela 5. Operacionalização e categorização das variáveis de investigação ... 35

Tabela 6. Caraterização sociodemográfica da amostra ... 44

Tabela 7. Experimentação de bebidas alcoólicas sem função do sexo e classe etária ... 46

Tabela 8. Resultados do teste 2 entre variável experimentação de bebidas alcoólicas e as variáveis atributo ... 48

Tabela 9. Tipo de bebidas consumidas em função do sexo e classe etária ... 49

Tabela 10. Resultados do teste X2 entre variável tipo de bebidas alcoólicas e as variáveis sexo, classe etária estabelecimento de ensino e ano de escolaridade ... 50

Tabela11. Quantidade de bebidas consumidas em função do sexo e classe etária ... 51

Tabela 12. Resultados dos testes MW e KW entre a variável quantidade de bebidas alcoólicas consumidas e variáveis sexo, classe etária, estabelecimento de ensino e ano de escolaridade 52 Tabela 13. Motivos que levaram ao consumo de bebidas alcoólicas em função do sexo e classe etária ... 53

Tabela 14. Resultados do teste X2 entre variável motivos que levaram ao consumo de bebidas alcoólicas pela primeira vez e as variáveis de atributo selecionadas ... 54

Tabela 15. “Com quem costumas beber bebidas alcoólicas” em função do sexo e classe etária55 Tabela 16. Consequências vividas devido ao consumo bebidas alcoólicas em função do sexo e classe etária ... 56

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xx

Tabela 18. Resultados dos testes MW e KW entre a variável Classes da AAIS e variáveis de caracterização sociodemográfica ... 59

Tabela 19. Resultados dos testes Anova e t de Student entre a variável pontuação da escala AAIS e as variáveis atributo ... 61

Tabela 20. Classes do AUDIT em função do sexo e classe etária ... 63 Tabela 21. Resultados dos testes MW e KW entre a variável Classes da AUDIT e variáveis65 Tabela 22. Resultados dos testes entre a variável Pontuação do AUDIT e as variáveis de caraterização ... 67

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xxi

L

ISTA DE

A

BREVIATURAS

,

SIGLAS

,

SÍMBOLOS E ACRÓNIMOS

- - Menos % - Por cento + - Mais < - Menor = - Igual > - Maior ± - mais ou menos ≥ - maior ou igual

AAIS – Escala de Envolvimento com o Álcool para Adolescentes

ANOVA – Teste de Análise da Variância

AUDIT – Alcohol Use Disorders Identification Test

CID – Classificação Internacional de Doenças

Df – Graus de liberdade

H – Hipóteses

III – Três

INE – Instituto Nacional de Estatística

KW – Kruskal-Wallis

L – Litro

MW – Mann-Whitney

N – número de indivíduos

OMS – Organização Mundial de Saúde

p – Probabilidade

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xxii

PINGA – Prevalência da ingestão de álcool no Adolescente

PLA – Problemas ligados ao álcool

Q – Questões

r – Coeficiente de Correlação de Pearson r2 – Coeficiente de Determinação

RA – Resíduo Ajustado

SPSS – Statistical Package for the Social Sciences

UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

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Introdução

1

1. I

NTRODUÇÃO

O consumo de bebidas alcoólicas acompanhou a evolução e o desenvolvimento da história da humanidade. Este comportamento é frequente em eventos sociais em diversos locais a nível mundial. No entanto, tem um efeito negativo profundo tanto ao nível do desenvolvimento do indivíduo, como ao nível do desenvolvimento social, devido às propriedades tóxicas destas bebidas e às dependências que podem produzir.

O uso destas bebidas para consumo representa assim, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2009), o terceiro lugar como fator de risco de morbilidade a nível mundial e o segundo lugar na Europa.

Provoca 2,5 milhões de mortes a cada ano em todo o mundo. Mais especificamente, na classe etária dos 15 aos 29 anos, ocorreram cerca de 320000 mortes a nível mundial devido a doenças provocadas pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas, representando cerca de 9% das causas de disfunções neste grupo etário (OMS, 2004).

As características individuais e o contexto social influenciam o consumo de álcool e por isso varia de acordo com a região e país. Em relação aos aspetos individuais, a idade, o sexo e outras características biológicas do consumidor, também têm uma forte influência na determinação do grau de risco. Sendo que Portugal é um país onde existe uma das maiores produções vinícolas e consequentemente maior consumo, apesar de se terem verificado nos últimos anos aumentos de consumo em alguns países da Europa, continuamos a ocupar uma posição de destaque, entre os maiores produtores e consumidores de álcool.

De acordo com o World Drink Trends (2001, como citado em Mello, Barrias & Breda, 2001), em Portugal, em semelhança ao que tem vindo a acontecer em outros países, os hábitos tradicionais de consumo de bebidas alcoólicas, parecem ter sofrido alterações, como por exemplo o crescente consumo de cerveja; o aumento de consumo de bebidas alcoólicas pela mulher; o crescente consumo de bebidas alcoólicas pelos jovens; o crescente consumo de bebidas destiladas, mais fortemente alcoolizadas (aperitivos, whisky, licores, cocktails); e consumo de novas bebidas (sumos com álcool - shots, Redbull com vodka, entre outros).

(24)

Introdução

2

Ainda, e mais recentemente segundo Relatório “Álcool na União Europeia” da Organização Mundial de Saúde, com o apoio da Comissão Europeia, em 2012, os dados revelaram que o continente europeu continua a liderar o consumo mundial de álcool, com uma média anual de 12,4 litros por habitante. Em Portugal, mais especificamente, a média é de 13,4 litros. Numa lista de 34 países da Europa, Portugal surge no nono lugar no que se refere à média anual de consumo de álcool puro per capita.

O início dos hábitos de consumo, em Portugal é precoce sendo que mais de 60% dos jovens com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos, e mais de 70% acima dos 16 anos, consomem regularmente bebidas alcoólicas (Mello, Barrias & Breda, 2001).

De acordo com os dados epidemiológicos referidos e em concordância com o Plano Nacional Para a Redução Dos Problemas Ligados ao Álcool (2009-2012), facilmente se verifica que o consumo de álcool na população portuguesa é um importante problema de saúde pública.

Compete, por isso, a cada país a responsabilidade de formular, aplicar e avaliar politicas nacionais com o objetivo de diminuir o consumo nocivo de álcool. Essas políticas podem e devem ter em conta as seguintes propostas :

 Regular a comercialização de bebidas alcoólicas (em particular, a venda a menores);

 Regular e restringir a disponibilidade de bebidas alcoólicas;

 Promulgar normas apropriadas sobre a condução de veículos em estado de embriaguez;

 Proporcionar tratamento acessível e exequível às pessoas que sofrem de transtornos provocados pelo abuso de bebidas alcoólicas;

 Por em prática programas de rastreio e intervenções para diminuir o consumo perigoso e nocivo de bebidas alcoólicas (OMS,2009).

Assim no Plano Nacional de Saúde (2012-2016) foi, neste contexto, traçada uma meta relativa à mortalidade por doenças atribuíveis ao álcool antes dos 65 anos (/100000 habitantes) na qual se espera a redução de 11,9 (2011) para 10,7 (até 2016). É ainda de referir que este Plano faz

(25)

Introdução

3

referência a indicadores a serem desenvolvidos dos quais consta o indicador “População

Consumidora de Álcool”, com o objetivo de obter o número de habitantes que consumiu alguma

bebida alcoólica nos 12 meses anteriores à entrevista com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos, demonstrando a importância de obtermos dados relativos ao consumo de álcool nesta faixa etária de jovens que inclui a fase da adolescência.

A adolecência é um periodo de transição e de mudanças significativas em todos os apectos funionais, durante o qual o jovem estabelece uma identidade mais coesa. É uma fase com grande quantidade de experiências físicas, sociais e intlectuais novas, criando de certa forma um desiquilíbrio. Sendo assim os novos padrões sociais e de comportamento que surgem durante esta fase vão influenciar o futuro destes jovens (Bee, 2003).

Posto isto, em contexto da enfermagem comunitária, um programa eficaz de saúde escolar pode ser um dos investimentos mais rentáveis que um país pode fazer para melhorar, simultaneamente, a educação e a saúde dos nossos jovens, sendo que a OMS (2009) recomenda a aplicação destes programas como modelo, estratégico para prevenir os riscos de saúde entre os mais jovens, a aplicação dos mesmos.

É no âmbito desta problemática que surge este nosso estudo: Quais os fatores associados à experimentação e ao consumo de bebidas alcoólicas pelos alunos do ensino secundário público do concelho de Vila Real, no ano letivo 2012/2013, com vista a adequar futuras intervenções.

Para tal definiu-se como objetivo geral do estudo compreender quais os fatores associados à experimentação e ao consumo de bebidas alcoólicas pelos alunos da amostra.

Propomos ainda os seguintes objetivos específicos:

 Caracterizar a amostra de alunos em estudo;

 Identificar a prevalência de alunos que experimentaram consumo de bebidas alcoólicas;  Tipificar o grau de envolvimento do aluno com as bebidas alcoólicas e o tipo de

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Introdução

4

 Descrever o consumo e bebidas alcoólicas quanto ao tipo de bebida, quantidade consumida, motivos que levaram os alunos a consumir pela primeira vez, com quem consomem e as consequências resultantes;

 Verificar se existem diferenças significativas entre o grau de envolvimento dos alunos com o álcool e o consumo excessivo (AUDIT) quanto ao sexo, classe etária, ano de escolaridade, estabelecimento de ensino, beneficiário de subsídio de ação social, local de residência, coabitação e tipo de ensino frequentado;

 Constatar se existe relação entre a variável idade e a pontuação da escala AAIS e a escala AUDIT e entre as pontuações destas duas escalas.

A realização deste estudo pretende ser um ponto de partida, em termos de diagnóstico de situação, quanto ao nível de experimentação e de consumo de álcool, com vista a fornecer estes elementos, às escolas envolvidas e unidades funcionais de saúde, dos centros de saúde da região, com vista a facilitar as intervenções de prevenção primária. Escolhemos a população de alunos das três escolas públicas do concelho de Vila Real por serem as instituições situadas na nossa área de residência e por observarmos que esta é uma problemática que afeta os jovens que as frequentam, despertando a curiosidade de conhecer qual a sua verdadeira dimensão. No que concerne à estrutura, do presente documento, divide-se em quatro partes distintas:

 A primeira diz respeito à fundamentação teórica na qual se aprofundam os conhecimentos relativos à problemática em estudo, da qual fazem parte a temática da Adolescência, onde são abordadas as características desenvolvimentais e os comportamentos de risco; o Consumo de bebidas alcoólicas onde se desenvolve a Epidemiologia, os Tipos de consumo e as consequências/repercussões; e, por fim, as intervenções de enfermagem (prevenção) em contexto comunitário;

 A segunda parte é relativa à metodologia na qual se encontra definido como a problemática em estudo foi integrada num plano de trabalho, descrevendo o tipo de estudo, a população e amostra, a operacionalização e categorização das variáveis, as questões e hipóteses de investigação, o instrumento e procedimento de recolha de dados e como foi realizado o tratamento de dados;

(27)

Introdução

5

 Na terceira parte consta a apresentação dos resultados e a respetiva discussão, na qual procedemos à caracterização da amostra, à descrição dos resultados relativos à experimentação de bebidas alcoólicas, envolvência dos adolescentes com o álcool e identificação de consumidores excessivos de bebidas alcoólicas;

 Por fim, na quarta e, última parte, apresentamos as principais conclusões que se podem extrair do presente estudo.

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(29)
(30)
(31)

Fundamentação teórica

7

2. F

UNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O consumo de bebidas alcoólicas por parte dos mais jovens é um grave problema de saúde pública. É, por isso, pertinente fazer uma abordagem à etapa do ciclo de vida do ser humano, designada de adolescência. Conhecer as caraterísticas desenvolvimentais do adolescente é de grande utilidade para compreender o fenómeno do consumo de bebidas alcoólicas pelos adolescentes, enquanto comportamento de risco.

Consideramos oportuno subdividir o enquadramento teórico em dois grandes subcapítulos. O primeiro abordará a etapa da adolescência, fazendo referência às características desenvolvimentais desta etapa, seguindo-se algumas considerações sobre os comportamentos de risco que podem ocorrer. O segundo subcapítulo é referente ao consumo de bebidas alcoólicas, iniciando-se com alguns conceitos importantes neste âmbito, segue-se a apresentação de alguns dados epidemiológicos sobre o seu consumo, o que nos permite ter uma visão da dimensão do fenómeno “consumo de bebidas alcoólicas”, posteriormente, são abordados os tipos de consumos, bem como as suas consequências/repercussões que advêm deste comportamento e, por fim, são apresentadas as intervenções de enfermagem no âmbito da prevenção, que podem ser implementadas com vista à diminuição deste comportamento, nomeadamente, em adolescentes.

2.1. A etapa da adolescência

Antes do final do século XIX, julgava-se que o indivíduo transitava diretamente da infância à idade adulta, sem passar por um nível intermédio, com características tidas como diferenciadoras e significativas no plano desenvolvimental.

As primeiras teorias inerentes ao estudo científico da adolescência datam de 1904, com o trabalho pioneiro de Granville Stanley Hall, sendo este considerado o pai da psicologia da adolescência, por ser o primeiro psicólogo e educador a destacar o período evolutivo da adolescência.

A definição do conceito de adolescência era pouco consensual e complexo, pois os limites pertencentes são difíceis de precisar, tornando assim um conceito relativo, o qual diz respeito a uma fase decisiva no processo de desenvolvimento humano (Nelas & Ferreira, 2006).

(32)

Fundamentação teórica

8

Todavia, e porque este período etário tem mudado ao longo do tempo, tanto na sua duração como nos seus conceitos, nas diversas culturas, com o evoluir e a intercomunicação das várias sociedades, a diferença de conceitos sobre a adolescência tem vindo a atenuar-se entre as diferentes raças e etnias (Fonseca, 2002).

Assim, de um modo geral, a palavra “adolescência” (do latim adolescere) significa crescer e desenvolver-se. A adolescência é, em si mesma, um período de passagem, uma etapa de crescimento dentro do próprio desenvolvimento humano, que tem a “mudança” como principal característica (Dicionário da Língua Portuguesa, 2008). A OMS (2013) enquadra a adolescência em termos cronológicos entre os 10 e os 19 anos.

A adolescência é a etapa onde se começa a estabelecer e a definir a identidade e a personalidade. Neste processo, observa-se uma crise na qual se reformulam os valores adquiridos na infância, o que faz com que seja considerada uma fase de vida controversa (Sprinthall & Collins, 2008). Assim, a adolescência é uma fase importante no processo de consolidação da identidade pessoal, psicossocial e da identidade sexual.

De uma forma muito geral e de acordo com Brooks e Gun em 1988 (como citado Bee, 2003) a adolescência pode ser dividida em dois periodos, a adolescencia incial e final. A primeira é considerada um periodo de transição e mudanças significativas em todos os aspetos do funcionamento da criança, a segunda é um periodo de consolidação na qual o adolescente cria uma identidade mais coesa, assume objetivos e compromissos mais claros.

Neste processo inicial de mudanças, em que os jovens tentam assimilar todas as novas experiências a nível fisico, intelectual e social, é natural que estes se encontrem num estado de desiquilibrio, na busca da harmonia entre os antigos padrões e os novos. É nessa fase que o grupo de amigos é essencial. Já mais tarde, por volta dos 16 ou 17 anos é que os jovens começam a conseguir o novo equilibrio, estabelecendo assim novos padrões de comportamento social, nova identidade, novos objetivos e papéis ( (Bee, 2003)

Bee (2003), considera que podemos equiparar os primeiros anos da adolescência com os primeiros anos de infância, no sentido de em ambas as fases são caracterizadas por um negativismo, em contraste com a luta pela aprendizagem de novas habilidades e autonomia, embora na adolescencia estas sejam marcadas de uma foma mais abstrata. Do mesmo modo que a

(33)

Fundamentação teórica

9

criança precisa de se separar do relacionamento simbiótico com a mãe, o adolescente também precisa de se separar da familia e da sua identidade enquanto criança para começar a estalelecer uma nova identidade como adulto.

Já a fase final da adolescência, pode comparar-se com a idade pré-escolar, pois tanto na adolescencia como na idade pré-escolar há um novo equilibrio, decorrente das mudanças que foram previamente acontecendo. As alterações fisicas da puberdade estão, nesta fase, quase completas, o adolescente conseguiu mais liberdade e independência, tendo sido criados alicerces para uma nova identidade.

2.1.1. Desenvolvimento Físico

Na adolescência, pode afirmar-se que tudo começa por uma profunda agitação biológica, ou seja, tudo começa com a puberdade. Esta precede alguns meses um conjunto de transformações fisiológicas e físicas.

A puberdade é um período rápido de crescimento físico e maturação sexual, que se finaliza no final da infância e dá início à adolescência, gerando uma pessoa de tamanho, forma e potencial sexual de um adulto(Berger, 2000).

Devido ao aumento da atividade hormonal, ocorrem rápidas transformações físicas que delimitam o início da adolescência. Há um processo de “Surto de Crescimento”, que consiste num sinal da pubescência, que engloba transformações físicas conducentes à maturidade reprodutiva. A puberdade determina o fim da pubescência, onde o ser humano alcança a sua capacidade reprodutiva que, de acordo com Sprinthall e Collins (2008), consiste na transformação biológica elementar da adolescência.

Segundo os mesmos autores, e de uma maneira geral, verifica-se que a puberdade é marcada pelo início de algumas modificações na imagem corporal, destacando-se:

 O aparecimento dos pelos;  O crescimento acelerado;

(34)

Fundamentação teórica

10  A alteração do tom de voz (torna-se mais grave);  O crescimento dos mamilos;

 A alteração da oleosidade da pele;

No entanto, as mudanças que ocorrem nesta fase são evidentemente diferentes entre o sexo masculino e feminino.

Nas meninas, as mudanças físicas revelam-se com o início do crescimento dos seios, com o aparecimento dos primeiros pelos púbicos, com a ocorrência de um surto de crescimento, o alagamento dos quadris, o primeiro período menstrual, o término do crescimento dos pelos púbicos e o desenvolvimento final dos seios.

Já nos rapazes, as grandes mudanças que ocorrem nesta fase incluem o aparecimento dos primeiros pelos púbicos, o crescimento dos testículos e do pénis, a primeira ejaculação, um surto de crescimento, o espessamento da voz, o desenvolvimento da barba e o término do crescimento dos pelos púbicos.

A tabela 1 representa, em resumo, as diferenças das mudanças físicas que ocorrem na puberdade entre os dois sexos, fazendo referência à idade média em que surgem. No entanto, é de salientar que muitos adolescentes considerados saudáveis podem ter até três anos de atraso ou adiantamento em relação às idades médias que são apresentadas nesta tabela(Berger, 2000).

De uma forma muito superficial, podemos dizer que tudo começa com um sinal hormonal proveniente do hipotálamo, que por sua vez estimula a hipófise a produzir hormonas, levando às mudanças físicas. No entanto, será que podemos afirmar que estas mudanças são também responsáveis pelas mudanças emocionais? Segundo Golub (1992), Richards (1996) e Susmam (1997) pode dizer-se que sim, na medida em que o aumento rápido dos níveis de hormonas, sobretudo da testosterona, levam ao despertar mais rápido das emoções que observamos nos adolescentes, afetando as rápidas emoções extremas do sentir-se bem para o péssimo. Estas mudanças hormonais permanecem ao longo da vida, mas não são tão irregulares e intensas e menos controláveis como na puberdade (como citado em Berger, 2000).

(35)

Fundamentação teórica

11 Tabela 1.

Sequência de mudanças físicas nos diferentes sexos

Sexo Feminino

IDA

D

E Sexo Masculino

Aumento da produção de estrogénios e de progesterona

9

O útero e a vagina começam a ficar maiores 9,5

Início do desenvolvimento dos seios 10 Aumento da produção de testosterona

Aparecimento dos primeiros pelos púbicos 11 Os testículos e o escroto ficam maiores

Ocorrência de um grande aumento de peso 11,5

Surto na altura 12 Os pelos púbicos começam a aparecer

Surto no crescimento dos músculos e dos órgãos

12,5 Início do crescimento do pénis

Menarca 13 Primeira ejaculação

13,5 Inicio do grande aumento de peso

14 Salto na altura

14,5 Surto no crescimento dos músculos e dos órgãos

Primeira ovulação 15 A voz fica mais grave

Final do surgimento dos pelos púbicos 16 Os pelos faciais tornam-se visíveis

Crescimento total seios 18 Final do surgimento dos pelos púbicos

Fonte: Adaptado de Berger, 2000

2.1.2. Desenvolvimento Cognitivo e Psicossocial

De acordo com Sprinthall e Collins (2008), as transformações físicas não afetam diretamente os estádios psicológicos dos adolescentes. Contudo, os efeitos psicológicos surgem como respostas às alterações físicas. Simultaneamente às transformações físicas ocorrem as transformações na capacidade de pensar, raciocinar e de resolução de problemas.

Os autores, anteriormente referidos, afirmam que são múltiplos os autores que se dedicaram ao estudo da adolescência. Piaget foi um deles, cujo principal objetivo consistiu em traçar o percurso

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do desenvolvimento cognitivo. Segundo este autor, o desenvolvimento cognitivo segue um padrão concordante, em termos de estádios de desenvolvimento intelectual, tendo descrito quatro períodos principais (tabela 2).

Tabela 2.

Estádios do desenvolvimento cognitivo de Piaget

IDADE ESTÁDIO Nascimento – 2 anos 2 – 7 anos 7 – 12 anos 12 anos – Adulto Sensório-motor Intuitivo ou pré-operacional Operações concretas Operações formais Fonte: Sprinthall e Collins (2008, p.98)

Como podemos verificar na tabela acima, os distintos estádios constituem descrições das capacidades de pensar e raciocinar, resultantes de estruturas psicológicas qualitativamente diferentes. Para Piaget, como citado em Sprinthall e Collins (2008), o ser humano passa por quatro estádios de desenvolvimento cognitivo, necessitando de experiência e de tempo, em cada um deles, para que os possa interiorizar.

Todo o processo de pensamento, isto é, o raciocínio, aprendizagem, memória e atenção progridem na adolescência, sendo que Piaget defende que é nesta fase que se desenvolve o pensamento operacional formal, sendo este o quarto e último estágio do desenvolvimento cognitivo.

Neste processo de desenvolvimento, o cérebro evolui e o ser humano começa a fazer uso das funções inteletuais que, até então, estavam fora do seu alcance, adquirindo a aptidão de:

 pensar no abstrato, refletindo sobre os fatores que excedem a realidade imediata e palpável;

 assumir o seu próprio pensamento como questão de reflexão;  considerar prováveis combinações de elementos;

 analisar diferentes opções para a solução de um problema;  diferenciar o falso do verdadeiro;

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 comparar hipóteses com a realidade, a fim de aperfeiçoar a eficiência na obtenção e utilização de novos conhecimentos, os quais são vertidos em aprendizagens.

Na mesma linha de pensamento, Hockenberry & Wilson (2011), referem que o pensamento cognitivo surge com a capacidade de desenvolver o pensamento abstrato, correspondendo ao último estádio de Piaget. Nesta fase, os adolescentes deixam de estar limitados à realidade e ao atual, passando a preocupar-se com a possibilidade. Pensam para além do presente, sem terem de centralizar os seus sentidos na situação imediata, sendo capazes de idealizar uma sequência de eventos que poderiam acontecer.

Assim, os pensamentos do adolescente podem passar a ser influenciados por princípios lógicos, para além das suas próprias perceções e experiências. Os adolescentes são capazes de empregar o raciocínio científico e lógico formal, de forma progressiva, bem como são capazes de manusear mentalmente mais de duas categorias de variáveis, em paralelo.

O pensamento abstrato resulta na capacidade de meditação, podendo, no entanto, pôr em jogo todos os recursos mentais e emocionais, desprendendo o processo de autodeterminação do adolescente, que cria critérios para as suas tomadas de decisão face a um sistema de valores e código ético (Sprinthall & Collins, 2008).

Em suma, à proporção que a capacidade do adolescente de pensar de forma hipotética e abstrata começa a surgir, este passa a deixar de lado o raciocínio simplista e concreto e passa a uma visão do mundo mais complexa. Em consequência disto o jovem torna-se mais interessado na opinião e crítica dos outros, bem como se torna mais preparado para questionar as ideias, por vezes, com algum egocentrismo.

Como já foi referido, ao mesmo tempo que ocorrem mudanças ao nível cognitivo, observam-se mudanças ao nível do psicossocial, que de uma forma muito redutora podemos dizer que se centra na busca da identidade, estabelecendo mudanças nas relações:

 Com os pais- uma relação com nova independência,  Com os amigos - com nova intimidade

 Com a sociedade - com um novo compromisso  E consigo mesmo.

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Resolver positivamente cada crise é decisivo para a constituição de uma personalidade bem adaptada e capaz de enfrentar equilibradamente os desafios. Erikson (1976) dividiu o desenvolvimento humano em oito estádios psicossociais a que chamou “idades da vida” (como citado em Sprinthall & Collins, 2008).

No entanto, aqui apenas nos interessa a quinta idade, que corresponde ao período da adolescência, sendo esta a população de interesse neste estudo. De acordo com o autor, neste estádio, o adolescente questiona-se sobre o “Quem sou eu? O que irei ser?”. Nesta fase, o adolescente chega à compreensão da sua singularidade como pessoa, como ser único, com identidade própria, mas inserido num meio social onde tem vários papéis a desempenhar. É neste contexto que a personalidade se desenvolve, embatendo várias vezes com aspetos complexos da personalidade, surgindo a “confusão de papéis”. Esta confusão caracteriza-se por uma luta para conciliar “ um sentimento consciente de exclusividade individual” com o “esforço inconsciente por uma continuidade de experiências … e solidariedade com os ideais de um grupo” (Erikson,1968, como citado em (Berger, 2000, p. 279)

A busca da identidade prolonga-se durante toda a adolescência, durante a qual o adolescente pode assumir mais do que uma condição de identidade. A realização da identidade, isto é, o status definitivo da identidade, é adquirida tendo em conta as metas e os valores estabelecidos pelos pais e cultura, aceitando alguns e rejeitando outros (Berger,2000).

De acordo com o mesmo autor, os adolescentes podem adquirir diferentes status de identidade de acordo com o tipo de busca que fazem pela mesma.

Um jovem que simplifique a busca pela identidade pode adquirir um status de resolução precipitada, o que se traduz no fecho do processo antes de ele estar concluído. Neste caso, o adolescente opta por adoptar os valores dos pais e sociedade, sem analisar alternativas e elaborar uma identidade própria.

Por outro lado, temos a identidade negativa, que é caracterizada por os adolescentes terem uma identidade oposta ao esperado, pois os papéis que são ambicionados pelos pais e sociedade são vistos como inalcansáveis ou desinteressantes por parte do adolescente.

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Existem também adolescentes que tem dificuldade em assumir compromissos com objectivos e valores, tornando-se mais passivos quando tentam assumir qualquer papel, podendo dizer-se que apresentam um status de identidade difusa.

O status de identidade considerado moratória carateristico da experimentação de diferentes identidades alternativas, sem a tentativa de estabelecer qualquer uma delas.

Finalmente temos o status de identidade realizada, em que o individuo passou por uma fase de crise no entanto establece agora um comprometimento comm novos objectivos ideologicos.

De acordo com alguns estudos realizados no âmbito de comparar a identidade com o desenvolvimento cognitivo e psicológico, podemos afirmar que exitem relações entre o status e as caracteristicas (tabela 3).

Tabela 3.

Atitudes, relacionamentos e emoções típicas dos principais status de identidade

Característica Status da Identidade

Precipitada Difusa Moratória Realizada

Grau de ansiedade Tende a reprimir a ansiedade

Moderado Alto Moderado

Atitude em relação aos pais

Afetuosa e respeitosa

Afastada Tenta-se manter à distância Afetuosa e cuidadosa Grau de auto-estima Baixo (facilmente afetado por outros)

Baixo (“vazio”) Alto Alto

Grau de preconceito

Alto Neutro Médio Baixo

Dependência de outros

Muito dependente Dependente Autodirigido Autodirigido

Processos cognitivos Simplifica os aspetos complexos; baseia-se nos outros e em normas sociais para opiniões de decisões Complica os aspetos simples; baseia-se nos outros para fazer escolhas pessoais e ideológicas Ponderado; adia, principlamente as decisões; evita basear-se nas opiniões dos

outros e em normas sociais Ponderado; toma decisões procurando novas informações e levando em conta a opinião de terceiros Relações com outras pessoas Estereotipadas Estereotipadas ou isoladas Íntimas Íntimas

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Durante esta construção da identidade, a influência dos pais, colegas e sociedade tornam-se mais fortes quer para o bem quer para o mal, pois são eles que nesta fase oferecem orientação e alento para a estabilidade.

No que diz respeito à relação com os pais, enquanto o jovem coabita com os mesmos, ocorrem geralmente conflitos derivados da luta pela independência, que se contrapõe ao controlo dos pais, variando estes conflitos de acordo com diversos fatores como a idade, o sexo, e contexto cultural. O conflito entre pais e adolescentes surge normalmente no início da adolescência, principalmente no sexo feminino, pois estas atingem a maturidade mais cedo. Os conflitos são mais comuns entre a figura materna e a filha, sendo que se compreende pois o motivo dos conflitos são geralmente relacionados com hábitos de vida diários como o cabelo, a roupa e a aparência, sendo que a mãe dá mais importância a esses aspetos que o pai. Por outro lado a figura paterna restringe mais a liberdade às filhas do que os filhos o que gera frequentemente o conflito entre os mesmos (Berger, 2000).

Segundo o mesmo autor, os conflitos são apenas uma das dimensões do relacionamento entre pais e filhos, sendo que, também devemos considerar a comunicação, o apoio, a interligação e o controlo, sendo que, estes variam de família para família.

O grau de controlo que uma família rígida exerce, restringindo a autonomia do adolescente é um aspeto que se demonstra complicado no funcionamento da família. No entanto Berger (2000) defende que são necessários alguns passos para limitar a liberdade, sendo que o controlo parental, que permite a vigilância dos pais em relação ao filho é uma forte barreira para comportamentos de risco, como por exemplo o consumo de drogas e álcool. O ideal é encontrar um equilíbrio no controlo, pois se por um lado os adolescentes necessitam de vigilância, por outro também necessitam da sua liberdade para se sentirem bem com eles mesmos.

Já no que respeita aos colegas também as relações se tornam diferentes nesta fase de transição, no sentido em que se tornam imprescindíveis para o desenvolvimento psicossocial, tendo segundo Brown (1990) como citado em Berg (2000), algumas funções, que merecem destaque, como a autoajuda puberal, o apoio social, a formação da identidade e o esclarecimento de valores.

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A autoajuda puberal entende-se como sendo o apoio, informações e companhia que os colegas proporcionam face às mudanças físicas que ocorrem, tornando-se uma forma de expor as dúvidas e de lidarem com todas as transformações.

2.1.3. Comportamentos de risco

É durante a procura da identidade que os colegas proporcionam ajuda na busca do autoconhecimento, no sentido que quando um jovem se identifica com determinado grupo, ele rejeita outros e as autodefinições inerentes aos mesmos, como o estilo de música e roupa.

A função esclarecimento de valores realiza-se através da exploração e definição de valores e ambições. A escuta e discussão de diferentes e iguais pontos de vista levam a que o jovem possa descobrir quais são os valores mais válidos e verdadeiros para si.

No entanto é de referir que para que estas quatro funções funcionem, tem de existir confiança, intimidade e lealdade entre os jovens, eles precisam de sentir que podem contar com os colegas para a resolução de qualquer problema, sem que sejam alvo de gozo e preconceitos.

Os pares tornam-se assim importantes para os adolescentes no âmbito do relacionamento social, sendo o grupo de pares um aspeto chave no desenvolvimento da independência na adolescência. No entanto e contrariamente a estas funções, apresentadas como construtivas, temos a pressão de grupo, que nos remete para a ideia de que os colegas levam os adolescentes a fazer determinadas coisas, que se não fosse por esta pressão não o fariam. Esta pressão que o grupo exerce sobre o adolescente é mais forte no início da adolescência, acontecendo em média até aos 14 anos, começando a partir dessa idade a diminuir.

Analisando esta interação em grupo, não podemos, segundo Berg (2000) dizer que a pressão do grupo tem inteiramente uma influencia negativa, pois ela também pode trazer alguns benefícios no desenvolvimento do adolescente. O conformismo com o grupo no qual se insere tem influência na transição do jovem para a fase adulta, pois apesar de ele estar a lutar pela independência dos pais, ainda não se encontra totalmente preparado para a independência total. Por outro lado, o grupo onde se insere o jovem podem estimular comportamentos considerados

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benéficos como a prática de algum desporto, estudar e evitar comportamentos de risco como o consumo de álcool.

No entanto face a estas considerações, não podemos distanciar-nos da realidade que da mesma forma que o grupo pode trazer benefícios, também pode trazer prejuízos no que concerne a comportamentos. Quando não há adultos por perto, surge o desejo coletivo de desafiar tudo aquilo que é arriscado e “proibido”, ainda que nenhum dos jovens individualmente o fizesse. Assim procuram em conjunto novas sensações, em descoberta do mundo que os rodeia, distanciando-se do mundo que tiveram na infância. O adolescente procura identificar-se com o seu grupo de pares, fazendo parecer que a sua identidade se dissolve uma vez que se veste, que fala e se comporta como os outros elementos do grupo. É neste contexto de grupo que o adolescente participa em condutas que envolvem o risco, pois é com ele que se identifica, uma vez que os elementos constituintes pensam de modos semelhantes (Fonseca, 2002 como citado em Mendes, 2007).

Na adolescência solidificam-se hábitos adquiridos na infância e integram-se novos hábitos influenciados pelo ambiente. No entanto a adolescência é de uma forma geral uma época saudável no que diz respeito a alguns aspetos, embora estejam sujeitos a muitos riscos de saúde, principalmente quando conquistam cada vez mais independência e tomam decisões sozinhos (Berger, 2000).

O estilo de vida pode ser materializado em inúmeras variáveis, como o consumo, álcool, tabaco e drogas, a gravidez indesejada ou as infeções sexualmente transmissíveis, entre outros (Matos, 2008).

Nesta fase, os pais já não podem fornecer ao adolescente os modelos, as satisfações, os prazeres que até indicavam ao seu filho. Nesta fase, o adolescente tende a afastar-se dos imagos parentais, procurando ele próprio o seu caminho, novas fontes de satisfação, novos ideais e novos prazeres (Braconnier e Marcelli, 2000 como citado em Mendes, 2007).

Assim os jovens estão expostos nesta fase a fatores de risco que podem ser definidos como qualquer “influência que aumenta a probabilidade de determinado comportamento” (Kim, Zane & Hong, 2002 como citado em Matos, 2008, p.28).

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No que diz respeito, mais precisamente, ao consumo de bebidas alcoólicas, este é um comportamento comum entre os jovens, no entanto ele é especialmente destrutivo nesta etapa.

A globalização dos média e dos mercados faz com que os jovens tenham cada vez mais capacidade de escolha e certos comportamentos de risco. Nos dias de hoje os jovens têm mais oportunidades e rendimentos disponíveis, tornando-os mais vulneráveis às técnicas de vendas e marketing. Assim na adolescência surge cada vez mais uma tendência para a experimentação de bebidas alcoólicas e o aumento dos padrões de beber de alto risco.

2.2. Consumo de bebidas alcoólicas

O consumo de bebidas alcoólicas pelo homem é documentado desde os mais remotos tempos. As primeiras referências da sua utilização levam-nos até dezenas de milhares de anos antes da era Cristã, onde já na era paleolítica o Homem conhecia a cerveja e o seu fabrico. No entanto foi na Europa no século XI que o fabrico de bebidas alcoólicas se parece ter generalizado através da destilação do vinho (Mello, Barrias & Breda, 2001).

A palavra álcool tem origem árabe de “al kohol” ou “Kubl” que originalmente significava pó fino, sendo que os árabes acreditavam que a embriaguez se devia a um pó que se desprendia das bebidas alcoólicas e que era inalado ao beber. Mais tarde “al kohol” passou a significar a “essência” de uma coisa (Palha, 2007).

Em tempos remotos as bebidas alcoólicas foram utilizadas como anestésicos, analgésicos e euforizantes para combater doenças como a peste negra no século XIV. No entanto com a revolução industrial, tornou-se possível a comercialização e divulgação destas bebidas o que levou à sua disseminação geográfica, incluindo para a Europa.

As bebidas alcoólicas são bebidas que contêm álcool. O álcool etílico ou etanol é o principal tipo de álcool destas bebidas, que o contêm em diferentes concentrações. O etanol é um líquido sem cor, volátil, com um cheiro característico, de sabor queimoso e com uma densidade de 0,8. É miscível com a água, ferve a 78,5º e pode ser separado da água, por destilação. A graduação alcoólica de uma bebida é definida pela percentagem volumétrica de álcool puro nela contido significando que por exemplo: um vinho de 10º significa que 1L contém 10% de álcool.

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Segundo Mello, Barrias, & Breda (2001), de acordo com a sua origem as bebidas alcoólicas podem ser classificadas em dois grupos diferentes:

Bebidas fermentadas: devido à ação das leveduras ocorre a fermentação alcoólica dos sumos açucarados. Deste grupo fazem parte por exemplo o vinho e a cerveja.

Bebidas destiladas: que resultam da destilação do álcool produzido no decurso da fermentação. É obtida através do processo de evaporação das bebidas fermentadas, podendo obter-se assim bebidas mais graduadas. Incluem-se neste grupo bebidas com o whisky, a vodka, o gin e diversos licores.

Hoje em dia o uso de bebidas alcoólicas está difundido e é consumido em grande parte das culturas, nas mais variadas ocasiões, como por exemplo às refeições, comemorações familiares e sociais, sendo utilizado frequentemente pra comunicar ou partilhar o significado de diferentes tipos de acontecimentos (Palha, 2007).

2.2.1. Epidemiologia

A Promoção da Saúde só pode ser delineada e eficazmente implementada com a ajuda dos avanços da epidemiologia e das ciências estatísticas. Só assim podemos ter uma visão da dimensão deste fenómeno enquanto problema de saúde pública (Matos, 2008). Os grandes avanços nos estudos epidemiologicos nesta área surgiram a partir de 1952 com Jellinnekd, sendo que se tornaram mais intensos a partir da década de 70 (Palha, 2007).

O consumo de álcool e de bebidas alcoólicas é medido, ao nível populacional, em termos de consumo per capita. O cálculo é baseado na totalidade de bebidas alcoólicas consumidas em Portugal, que é estimado com base nas estatísticas de produção e nas vendas das distintas bebidas alcoólicas, tendo em conta as exportações e importações. Este cálculo não inclui a produção doméstica de bebidas alcoólicas que, como se sabemos, é muito alta no nosso país, nem tem em conta os produtores de vinho existentes e não declarados e a produção ilegal de outras bebidas que não o vinho. O consumo per capita fornece-nos então, apenas uma estimativa do consumo e

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não o consumo exato atual. Em Portugal, o consumo per capita é dos mais elevados do mundo, tendo-se situado, em 2000, em 10,8 L de álcool puro, sendo assim o terceiro consumidor mundial.

Em Portugal o elevado consumo relaciona-se claramente com a grande produção, que em 1999 foi de 7,8 milhões de litros de vinho, ocupando deste modo o 9.º lugar como produtor mundial; a produção de cerveja, em cerca de 6,8 milhões de litros. Cada português gasta, em média, 150 euros por ano em bebidas alcoólicas, mais do que na maior parte dos produtos alimentares considerados isoladamente; de frisar que este montante sobe para 1500 euros no caso dos doentes alcoólicos (Mello, Barrias & Breda, 2001).

Desde 1970 registou-se um aumento de 10% no consumo de etanol. O consumo de cerveja tem vindo a aumentar vertiginosamente, com incremento superior a 390% entre 1970 e 2000, sendo que cada português consumiu 65,3 L de cerveja. O consumo de bebidas destiladas situou-se acima de 1 L de etanol, tendo aumentado cerca de 180%. Salienta-se que a capitação de vinho e bebidas destiladas se encontra subestimada em virtude de existir grande produção não declarada destas bebidas e, portanto, sem integração nas estatísticas oficiais. Finalmente, embora o consumo de vinho tenha diminuído nas últimas décadas, de forma apreciável, vem-se registando, um aumento marcado do consumo de cerveja e de bebidas destiladas (Matos, 2008).

Estes dados vão de encontro aos dados publicados pela OMS (2006), que demonstram que o consumo de cerveja e de bebidas espirituosas aumentou desde 1990 até 2005, contrariamente ao vinho que viu o seu consumo ser bastante reduzido, apesar de continuar a ser a bebida mais consumida em Portugal (figura 1).

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Figura 1. Consumo de álcool por tipo de bebidas em adultos em Portugal (2005)

Fonte: OMS, in Socioecomic context, 2006

No entanto, em conformidade com o que tem acontecido em outros países, também em Portugal os hábitos de consumo de bebidas alcoólicas sofreram, nos últimos anos, alterações, destacando-se as destacando-seguintes tendências:

 distinto aumento de consumo de cerveja;

 progressivo consumo de bebidas alcoólicas pela mulher;  crescente consumo de bebidas alcoólicas pelos jovens,

 crescente consumo de bebidas destiladas, mais fortemente alcoolizadas  internacionalização e uniformização dos hábitos de beber;

 consumo de novas bebidas (Matos, 2008).

Segundo Mello, Barrias, & Breda (2001), em Portugal mais de 80% dos homens e 50% das mulheres consomem bebidas alcoólicas, sendo que esse consumo é realizado diariamente, ao longo do dia. Os mesmos autores referem ainda que 80% das mulheres mantêm os seus hábitos de ingestão durante a gravidez e a amamentação e que o início dos hábitos de consumo é precoce, sendo que mais de 60% dos jovens com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos, e mais de 70% acima dos 16 anos, consomem regularmente bebidas alcoólicas.

Cerveja 31% Vinho 55% Bebidas espirituosas 10% Outras 4%

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Ainda de acordo com o Inquérito Nacional de Saúde (1999), foi revelado que cerca de 60% da população residente em Portugal Continental, bebeu pelo menos uma bebida alcoólica em 1998 e o número de consumidores masculinos (82,2%) é muito superior ao número de consumidores femininos (45,8%). Nos indivíduos investigados dos 15 aos 17 anos, 35% afirmou ter bebido nesse ano e foi esse o único grupo etário que aumentou os consumos comparativamente aos dados recolhidos no inquérito anterior (como citado em Cunha, 2002). Estes dados vão de encontro a dados mais atuais, como o relatório preliminar do III Inquérito Nacional ao consumo de substancia psicoativas lícitas na população portuguesa realizado em 2012 (figura 2).

Figura 2. Prevalência do Consumo de Substâncias Psicoativas Lícitas no Último Ano, por sexo

Fonte: Balsa, Vital & Urbano, 2012

Face a estes resultados facilmente se compreende que estes têm repercussões na saúde dos indivíduos. É constante referir-se que cerca de 10% da população do país apresenta graves inaptidões ligadas ao álcool, no entanto, sabe-se que apenas 15 a 25% de indivíduos se privam ou consomem esporadicamente bebidas alcoólicas. A parte restante, cerca de 60% da população adulta, corresponde ao grupo dos bebedores regulares de álcool. É precisamente neste grupo maior da população que se encontram os bebedores excessivos, muitas vezes não identificados

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como tal. Por efeito do álcool, neste grupo há uma elevada morbilidade (Mello, Barrias & Breda, 2001).

Segundo os mesmos autores o álcool é a principal causa de morte em acidentes de viação, sendo a causa direta e principal, em 40 a 50% dos acidentes mortais, e uma das causas associada, em 25 a 30% dos outros acidentes, com feridos. A incidência do alcoolismo, na morbilidade que leva a população aos cuidados hospitalares, ronda os 90% nas hepatopatias e cirrose e os 60% nas pancreopatias. É também elevada na doença cardiovascular, nos acidentes vasculares cerebrais e na doença oncológica, entre outras, em que o álcool desempenha papel causal, co-causal ou de

agravamento da doença. Nos últimos anos, tem-se vindo a pôr em relevo a relação dose-resposta

entre consumo de álcool e risco de morbilidade, em especial na cirrose hepática e no cancro da boca, faringe, laringe e esófago, fígado e mama.

Em análise a estes dados apresentados, com facilidade se depreende que o consumo de álcool a nível nacional, e principalmente nos jovens tem proporções enormes, o que se transforma num grave problema de saúde pública, merecendo de todo intervenções com vista à diminuição deste problema.

2.2.2. Tipos de consumo

Para melhor compreensão deste fenómeno, torna-se necessário compreendermos alguns conceitos relativos aos padrões de consumo de bebidas alcoólicas. As definições a baixo referidas foram baseadas no glossário elaborado pela OMS em 1994.

Abstinência – Caracteriza-se pela privação de consumo de álcool. As pessoas que praticam a abstinência de álcool são vulgarmente designadas com abstémicas. É ainda de referir que a pessoa que não consumiu álcool nos últimos 12 meses anteriores é designada como abstémica atual.

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Consumo experimental - É considerado quando ocorrem as primeiras vezes em que consome determinada substância psicoativa. Este consumo é extremamente infrequente e inconsistente.

Consumo abusivo – Padrão de consumo que excede o standard de consumo moderado. Define-se normalmente com o consumo superior ao volume diário determinado (por exemplo: 3 bebidas por dia), ou uma quantidade concreta por ocasião (por exemplo: cinco bebidas numa ocasião, pelo menos uma vez por semana).

Consumo de risco/Excessivo – Padrão de consumo de substâncias que eleva o risco de sofrer consequências nocivas para o consumidor e/ou para a sociedade.

Episódios de consumo intensivo de álcool (Binge drinking) – Padrão de consumo de grandes quantidades de álcool concentrado num período de tempo que se reserva expressamente para esta finalidade. As pessoas que bebem deste modo, mas com períodos de abstinência intermédios são denominadas “binge drinker”.

Consumo problemático/alcoolismo – Padrão de consumo que provoca problemas individuais, coletivos, de saúde ou sociais.

Intoxicação – Estado posterior à administração de uma substância psicoativa, que causa alterações ao nível da consciência, cognitivo e perceção, no comportamento e/ou noutras funções e respostas psicofisiológicas. As alterações estão relacionadas com os efeitos farmacológicos agudos da substância e com as respostas a essa substancia, que acabam por desaparecer com o tempo. Esta manifesta-se pelo rubor facial, arrastamento da fala, marcha instável, euforia, alteração da conduta, reações mais lentas, descoordenação motora e/ ou perda de memória. Esta intoxicação pode ser considerada aguda (Alcoolismo Agudo- Embriaguez), ou Crónica (Alcoolismo Crónico)

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Dependência – Consumo repetido de uma ou várias substâncias psicoativas, até ao ponto do consumidor (denominado adito) se intoxicar periodicamente ou de forma contínua. Neste estado de dependência o consumidor mostra um desejo compulsivo de consumir a substância, tendo grande dificuldade de interromper voluntariamente ou modificar o consumo, bem como está disposto a utilizar qualquer meio para a obter.

2.2.3. Consequências/repercussões

Apesar dos efeitos do álcool serem conhecidos desde a Antiguidade existindo obras literárias nas quais são feitas numerosas referências à necessidade de os evitar, os fenómenos do alcoolismo

crónico eram, mais ou menos ignorados. Só a embriaguez era referida entre as perturbações

ligadas ao uso de bebidas alcoólicas (Mello, Barrias & Breda, 2001).

O conceito de Alcoolismo como doença, e não apenas vício, desenvolve-se só na segunda metade do século XIX. A França foi dos países que mais cedo começou a valorizar o crescente consumo médio anual de álcool, encarando com certa preocupação a capitação anual superior a três litros de álcool e a elevada proporção do número de tabernas por habitante. A consciencialização do perigo que tais factos representam para a Saúde Pública, os progressos no conhecimento da fisiologia da célula nervosa e dos efeitos do álcool sobre o sistema nervoso estiveram certamente na base de uma abordagem científica dos problemas ligados ao consumo de álcool.

A OMS definiu, em 1982, o conceito de Problemas Ligados ao Álcool (PLA) como sendo

uma expressão imprecisa mas cada vez mais usada estes últimos anos para designar as consequências nocivas do consumo de álcool. Estas consequências atingem não só o bebedor, mas também a família e a coletividade em geral. As perturbações causadas podem ser físicas, mentais ou sociais e resultam de episódios agudos, de um consumo excessivo ou inoportuno, ou de um consumo prolongado. (Como citado em Mello, Barrias, & Breda, 2001, p. 16)

Existem diversas correntes psicológicas que tentam explicar a criação da dependência de álcool. No entanto salienta-se aqui a contribuição de Cartwrigt e Shaw (1978) como citado em Mello, Barrias, & Breda,(2001) na qual destacam a importância de diversos fatores que intervêm em permanente interação neste processo, tais como os sociais, os económicos, os psicológicos e os fisiológicos (Figura 3).

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Figura 3. Fatores determinantes na incidência e prevalência dos Problemas Ligados ao Álcool

Fonte: Adaptado de Mello, Barrias & Breda (2001)

Como podemos ver pelo esquema anterior o consumo de bebidas alcoólicas tem repercussões no individuo, na família, no trabalho e na comunidade.

Os PLA relacionados com o indivíduo prendem-se normalmente com os efeitos episódicos agudos de um forte consumo de álcool, com as consequências de um consumo excessivo e prolongado de álcool e com os efeitos de um consumo de álcool em determinadas circunstâncias (ex.: gravidez, aleitamento e menoridade). As consequências ao nível do individuo são geralmente de ordem médica como ao nível do aparelho digestivo, cardiovascular e neurológicos.

*Vitivinícolas *Antropológicos

*Económicos *Jurídicos

*Políticos

Fatores Individuais Fatores Socioeconómicos

e Culturais *Fisiológicos * Bioquímicos * Genéticos * Psicológicos * Espirituais Características individuais de maior ou menor vulnerabilidade versus proteção específica do individuo e grupo. *Hábitos *Usos *Comportamentos * ”Modelos de beber”

Incidências/Prevalência dos problemas ligados ao álcool

Imagem

Figura 1. Consumo de álcool por tipo de bebidas em adultos em Portugal (2005)
Figura 2. Prevalência do Consumo de Substâncias Psicoativas Lícitas no Último Ano, por sexo
Figura 3. Fatores determinantes na incidência e prevalência dos Problemas Ligados ao Álcool

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