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Desenvolvimento das aulas de Português no 2º ciclo

4. I NTERVENÇÃO EM CONTEXTO EDUCATIVO

4.2.2. Desenvolvimento das aulas de Português no 2º ciclo

A segunda aula de regência da disciplina de Português aconteceu no dia 4 de dezembro das 10:10 às 11:40 e foi a aula escolhida para ser supervisionada.

Para a realização desta aula, foram sugeridas várias temáticas entre as quais a mestranda escolheu o texto poético. Esta escolha prendeu-se com o gosto cultivado pelos professores da área do Português que a acompanharam ao longo do seu percurso académico. Este gosto começou no secundário com uma professora de Português que a fez ver esta área com outros olhos, ensinando-a a ver a beleza escondida nos textos dos vários géneros literários. A mestranda lembra-se de estudar vários textos poéticos e ficar fascinada com a mensagem neles escondida à vista de todos. Chegando à faculdade teve grandes professores de Literatura, que fizeram crescer esta sua paixão pela poesia, pela forma dinâmica e diferente de darem a aula. Como afirma Carlos Reis (1992), toda a didática da literatura “solicita ao professor uma atitude e uma vivência exemplares (…), uma intervenção fortemente pessoal, dando testemunho intenso de uma experiência que vale a pena viver (…) uma experiência feita de paixão que com tal há-de ser transmitida, mesmo pela via de um certo toque carismático que o professor também deve saber cultivar” (p. 44). Por estes motivos decidiu trabalhar o texto poético na sua aula supervisionada, na esperança de conseguir incutir esta paixão nos seus alunos.

A primeira planificação da aula que foi elaborada revelou-se demasiado

“infantil”, pois o poema escolhido e a aula criada estava mais adequada a um

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4º ano. Com este pequeno contratempo a mestranda ficou um pouco perdida e desmoralizada, mas graças ao apoio da professora conseguiu encontrar um novo caminho. Conjugou-se sugestões da professora, ideias da mestranda e algumas formas de trabalhar conteúdos aprendidos nas aulas de didática e criou-se a aula que é possível consultar em anexo (Cf. anexo B3).

Escolheu-se trabalhar o poema “O limpa-palavras” de Álvaro Magalhães, pois foi um poema que foi abordado na licenciatura da professora estagiária e que esta considera de uma enorme riqueza. Este poema encontra-se no livro

“O limpa-palavras e outros poemas” que contém diversos poemas com temáticas diversas. Segundo Sara Reis da Silva “Todos os poemas desta coletânea parecem nascer da consciência de que as palavras são mágicas, plenas de uma força encantatória.” (2012, p.10) É o que podemos observar imediatamente no primeiro texto que dá título à coletânea, “um poema extenso construído com base na temática do valor e da funcionalidade das palavras, bem como dos cuidados que com elas devemos ter. Observa-se no

“Limpa- palavras”, uma espécie de circularidade estrutural, na medida em que este texto abre e fecha com duas estrofes semelhantes.”3. Por estes motivos, é um poema rico que permite o trabalho de diferentes conteúdos e saberes como: o gosto pela poesia, a importância das palavras, o seu significado e uso correto, para assim desenvolver competências linguísticas, lexicais, sintáticas e semânticas.

Aquando da planificação da aula teve-se o cuidado de respeitar os seus três grandes momentos. A atividade que foi planeada como motivação foi a apresentação do site o “Cata-livros” que pertence à Casa da Leitura.

Atualmente esta organização cumpre quase o papel das antigas bibliotecas itinerantes da Gulbenkian, mas adaptadas a um contexto tecnológico, pois este recurso permite um acesso mais rápido, económico e prático aos livros. Desta forma, optou-se por levá-lo com o objetivo de criar na turma motivação para ler, utilizando um meio que lhes é muito familiar e do qual habitualmente gostam.

3 http://www.casadaleitura.org/ acedido 14-11-2014

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Com estes objetivos em mente, começou-se a aula mostrando o site à turma utilizando o Internet Explorer. Após várias tentativas de acesso, este site não abriu as diferentes partes do seu conteúdo de forma correta, sendo necessária a ajuda do par pedagógico, que conseguiu aceder utilizando o Google Chrome.

Na sequência da aula pediu-se à turma que copiasse o link do site para o caderno e perguntou-se se alguém o conhecia. Face às respostas negativas, questionou-se a turma acerca do seu conteúdo, ao qual eles responderam que, pelo nome, deveria conter livros e talvez jogos. A professora estagiária mostrou-lhes sucintamente as diferentes partes do site e o que nele podiam ver e fazer, salientando ser um meio para ler em casa de forma prática e diferente.

A turma mostrou bastante entusiasmo ao conhecer o “cata-livros” e a mestranda espera ter conseguido despertar-lhes a curiosidade para o consultarem em casa. De seguida, mostrou-se à turma a capa do livro com o título tapado e foi-lhes dito que seriam eles a ter que descobri-lo, mas ao projetar a mesma, o título apareceu. Foi um pequeno contratempo que obrigou a reformular o pedido: além de analisar os elementos da capa, teriam que relacioná-los com o título, o que o grupo fez muito bem.

Num momento seguinte, informou-se a turma que o livro se encontrava no site mas que teriam que ser eles a perceber como procurá-lo. Rapidamente um aluno disse que se deveria ir aos “livros por temas”, onde facilmente encontraram a categoria onde se encontrava “O limpa-palavras”.

Foram exploradas as diferentes atividades possíveis de realizar com o livro no site e de seguida foi projetado o poema para que pudessem acompanhar a sua declamação. Esta é uma fase fundamental da aula pois a declamação de um texto poético “permanecerá no ouvido e povoará o imaginário da criança”

(Cabral, 2002, p. 14). A turma acompanhou atentamente a leitura pela projeção e no fim foi-lhes dado o poema para colarem no caderno e lerem em silêncio. Num segundo momento fez-se uma leitura em voz alta, atribuindo dois ou três versos a cada aluno. No entanto, analisando a aula, esta leitura não foi muito bem organizada por parte da mestranda, pois perdeu-se muito tempo a atribuir os versos e teria sido mais eficiente ter colocado os números ao lado dos versos, atribuindo um número a cada um.

Após a leitura em voz alta, foi feita uma análise do poema com a turma, pois a abordagem do texto poético ao longo da escolaridade deve ser um processo

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de crescimento, em que é necessário haver uma reflexão após a leitura de forma a facilitar a sua compreensão por parte do aluno (Cabral, 2002).

Começou-se por lhes entregar um quadro para preencherem (Cf. anexo B4), mas todos começaram a colar no caderno e a cortar e por isso a professora faltavam apenas 10minutos para o fim da aula.

Ao tomar conhecimento do tempo que faltava para terminar, iniciou-se a atividade de escrita tentando cumprir todas as etapas do processo, referidas por Emília Amor (2006): a fase de pré-escrita, de escrita e de pós escrita.

Realizou-se a fase da pré-escrita, entregando-lhes um quadro (organizador de ideias) e projetando um quadro igual, assim como um poema elaborado pela mestranda. Este poema teve como objetivo fazer ver à turma como poderiam colocar todos os elementos pedidos no quadro, num poema. Segundo esta autora, “o conhecimento das respetivas regras (…) por parte do aluno facilitar-lhe-á as tarefas de produção” (2006, p.130), e por isso a apresentação de um exemplo em conjunto com o quadro funcionou como um facilitador da escrita.

No entanto, a melhor forma de realização desta tarefa teria sido criar com eles, em grande grupo, um poema no quadro, mas devido à escassez de tempo tal não foi possível.

No que diz respeito ao momento de escrita em si, é necessário ter em atenção que devemos permitir ao aluno “incorporar as suas vivências e o seu imaginário, as suas representações mentais e os seus padrões estéticos, bem como os seus instrumentos linguísticos- textuais e metatextuais” (Amor E. , 2006, p. 131), cabendo ao professor criar momentos de reflexão onde apele aos conhecimentos dos alunos acerca dos “processos de produção e reconstrução, recursos linguísticos, características de textos,” (p.131) entre outros.

No entanto, a mestranda considera que a atividade de escrita correu razoavelmente, apesar de alguns alunos terem que terminar o poema para trabalho de casa. Na aula seguinte, mais de metade da turma tinha feito o poema para trabalho de casa o que, tendo em conta as características da turma e a frequência com que normalmente fazem o trabalho de casa, é uma pequena

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vitória. Aos que não tinham terminado, foi dado algum tempo para terminar na aula e após terminarem, foi pedido a todos que lessem o seu poema para a turma e que, um a um, escolhesse o seu preferido, havendo uma votação bastante renhida, pois foram criados poemas bastante interessantes.

Refletindo agora sobre a aula, a mestranda compreende que existem aspetos a melhorar, nomeadamente na gestão do tempo. Apesar de considerar que o tempo destinado a cada atividade foi correto, existiram momentos em que a mestranda se entusiasmou, perdendo um pouco a noção do tempo e alongando a atividade que estava a ser desenvolvida. Os contratempos também aconteceram, tendo retirado algum tempo útil à aula, nomeadamente à atividade final (escrita). No que diz respeito a esta atividade, teria sido mais proveitoso conseguir desenvolver mais o momento de pré-escrita, pois sendo a escrita algo em que grande parte dos alunos demonstra bastantes dificuldades, seria importante ter elaborado mais textos em grande grupo, permitindo-lhes ter mais tempo para compreender o que era pedido.

Relativamente ao cumprir da planificação, todas as tarefas programadas foram desenvolvidas, apesar de, em ritmo mais apressado na fase final da aula, como já foi referido.

Apesar de todos os pontos referidos, a estagiária considera que a aula correu bem pois conseguiu cativar os alunos e mantê-los concentrados, interessados e participativos toda a aula. Ficou também muito satisfeita com o bom comportamento demonstrado pela turma e pelo esforço e interesse que revelaram para que a aula corresse bem, tendo em conta que se tratava de uma turma normalmente faladora e desinteressada.

Principais dificuldades e conquistas

Dentro do ciclo de investigação ação, a mestranda acha crucial o momento de reflexão sobre a reflexão na ação, pelo que se procura agora apresentar as dificuldades e conquistas na disciplina de Português.

A disciplina de Português é das disciplinas que a mestranda mais gosta de lecionar, mas esse gosto não torna esta tarefa menos trabalhosa, apenas mais divertida. Existiram muitos altos e baixos ao longo do ano, por um lado devido à mudança de professor/orientador supervisor da disciplina, por outro lado

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devido à dificuldade da mestranda em aceitar críticas. A mudança de professores foi inicialmente mal recebida pela turma em geral, devido à diferença de personalidades e formas de trabalhar dos professores envolvidos.

Inicialmente foi-nos pedido que lecionássemos três aulas sobre conteúdos a decidir com o professor cooperante, que não tinham que estar relacionados e posteriormente foi-nos pedido que criássemos uma unidade didática.

Inicialmente a estagiária via utilidade nesta forma de criar as aulas, mas rapidamente a dificuldade se tornou grande o que a tornou reticente à mudança. Esta dificuldade prendeu-se fundamentalmente com compreender como fazer uma unidade didática, visto não haver nenhuma “fórmula mágica”

para esta tarefa, nenhuma estrutura fixa. Esta ausência de estrutura, aliada à dificuldade de procurar textos com relações entre si e relacioná-los de forma lógica e coerente, fez a mestranda bloquear. Foram necessárias muitas horas na biblioteca, várias reuniões e discussões, lágrimas e muito apoio e paciência da professora supervisora para ter algum sucesso nesta tarefa, mas tudo isso valeu a pena.