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as conquistas e lutas dos trabalhadores por direitos sociais, pois vem mostrar que a qualificação da força de trabalho promovida pelas ações governamentais – e sustentada por essas categorias – tem caráter reprodutor da competitividade entre os pobres, que digladiam entre si pelo acesso ao programa de inclusão produtiva e também pela inserção precária no mercado de trabalho.

4.6 DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADES, PROTAGONISMO E CRESCIMENTO ECONÔMICO

De acordo com a Cepal, no documento “Panorama Social da América Latina”, as concepções de desenvolvimento de capacidade e aprendizagem são compreendidas como fatores de desenvolvimento econômico regional. Sendo assim, as medidas voltadas

para a inserção no mercado de trabalho que vêm contornar a falta de acesso à educação, vem favorecer o ciclo reprodutivo do capital, pois a consolidação do desenvolvimento econômico é tão somente potencializada pelo desenvolvimento social.

O desenvolvimento de capacidades dos indivíduos – entendidas nos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff como habilidades – pode ser ampliado pelo processo de aprendizagem educativa, sendo este o principal eixo para articulação com um mercado de trabalho orientado para a inclusão e à igualdade. A comissão econômica aborda sucintamente que a diferença de capacidade entre os indivíduos não é somente consequência dos resultados educativos, mas também pela própria segmentação que o mercado autoregulador faz dos “níveis de produtividade, do acesso a bem-estar e do desfrute de direitos sociais” (COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E CARIBE, 2010, p. 28).

Desse modo, a qualificação profissional tem a proposta de desenvolvimento de um sistema econômico que incorpore processos produtivos numa perspectiva de equidade e inclusão social, garantindo à população a oportunidade de potencializar suas capacidades e alcançar a autonomia para, então, o melhoramento de suas condições de vida.

Assim, entende-se que as categorias de equidade e inclusão social, citadas pelos documentos governamentais, incorporam significados relativos ao sistema produtor em que indivíduos potencializados para a inserção no mercado de trabalho atendam a demanda das indústrias transnacionais, a uma força de trabalho precariamente remunerada.

A tentativa do Estado em ampliar as ações de qualificação profissional e seu maior envolvimento com as politicas de trabalho, educação e assistência social vem sendo demasiadamente a focalização nas ações de capacitação para o trabalho, oportunizando à fração da classe trabalhadora o ingresso no mundo do trabalho e, assim, sua contribuição no desenvolvimento produtivo do país.

Ugá (2004, p. 58) compreende que o envolvimento do Estado a partir das orientações do Banco Mundial tem se afirmado a partir da concessão de políticas que:

estimule a criação de novas oportunidades econômicas para que os pobres possam obter rendimento. Assim, com mais renda, o indivíduo poderia ultrapassar a ‘fronteira’ da pobreza e, dessa forma, ser considerado não pobre. [Assim], embora o Banco Mundial ressalte a importância do crescimento econômico na redução da pobreza – enquanto criador de oportunidades para os pobres -, quando se refere ao papel do Estado na política social, ele propõe políticas

focalizadas de aumento do capital humano.

Já que na sociedade capitalista há a divisão da população em hábeis e inábeis, aptos e não aptos, capaz e incapaz aos olhos do capital, o Estado tem a necessidade de levar a essa fração de classe a oportunidade de adquirir e/ou desenvolver suas habilidades produtivas para serem exploradas pelas grandes empresas. Ugá (Ibidem) salienta que a pobreza – ou a incapacidade de obtenção do crescimento econômico dos países como consequência daquela – é produto do mundo do trabalho, ou seja, em que os indivíduos não conseguem atuar no mercado, “que seria o mecanismo de funcionamento ‘mais eficiente’ da sociedade”. Para tanto, suas habilidades adormecidas são expressas na incapacidade de integração da força de trabalho aos mercados, assim, os pobres devem ter o cuidado do Estado e de suas políticas sociais residuais e focalizadas.

Isto é, segundo a vertente estatal, a existência de políticas de enfretamento à pobreza se dá pela presença de frações da população incapacitadas de atingir um padrão mínimo de vida (UGÁ, 2004). De acordo com a autora, o investimento no capital humano é um dos meios mais eficientes de combate à pobreza, sendo que aqueles que “não são munidos desse tipo de capital são incapazes de atuar no mercado” (UGÁ, 2004, p. 59). Por isso, as estratégias dos governos Lula e Dilma, e implicitamente o FHC, têm se proposto à criação de planos e projetos de desenvolvimento de capacidade para a inserção laborativa na produtividade do país, via orientação do Banco Mundial.

Ressalta a autora nas análises dos documentos do Banco Mundial, que o ”principal bem dos pobres é o tempo para trabalhar (...) [isto é] ao educar-se mais, os indivíduos tornam-se mais aptos a competir com os outros por um emprego melhor no mercado e, consequentemente, obter uma renda maior” (Ibidem). Isto pode explicar a necessária articulação das políticas de educação, trabalho e assistência social dos governos para enfrentamento à pobreza, presentes nesta análise documental.

Em suma, a significação de qualificação profissional quer dizer nada mais do que incrementar a força de trabalho à aquisição de capacidades e competências para a incorporação do mercado, pois essas não foram desenvolvidas devido o baixo grau de escolaridade da população (SOUSA; PEREIRA, 2008). Sendo assim, a ineficiência de desenvolvimento da capacidade dos indivíduos deve ser entendida com o não acesso a educação escolar e profissional – observou-se isso nas demandas por qualificação

profissional dos governos.

Essas análises escorregam dialeticamente na contradição do discurso governamental de qualificação profissional, como acesso à inclusão social, à cidadania, na medida em que, na sua essência, essas categorias justificam a culpabilização do Estado pela não inserção da população empobrecida no mundo do trabalho.

Essa retórica parece evidente quando a Comissão das Nações Unidas prescreve que o governo brasileiro precisa definir o papel das famílias no desenvolvimento do país e incentivar os governos locais a elaborar medidas que promovam o crescimento econômico. Cabendo ao poder público, a iniciativa de ações a serem desenvolvidas para a movimentação financeira do país, a mencionar a transferência de renda de cunho redistributivista que, segundo os dados, aumenta a quantidade de dinheiro em circulação nos municípios por meio do aumento do consumo e negócios na área do comércio e indústria.

Parece que a inserção no mundo do trabalho passa a ser uma escolha individual, que cabe ao Estado o incentivo e investimento na aquisição de habilidades e competências. Isso pode ser identificado na participação da população empobrecida a partir do momento em que eles são convocados e convencidos pelas políticas de que seu protagonismo é essencial no enfrentamento das desigualdades, pobreza e alcance do desenvolvimento econômico. Essa mobilização patriotista produtiva, gerenciada politicamente é garantida pela intervenção da assistência social por meio dos CRAS, que objetivam a mobilização e monitoramento das ações de qualificação da força de trabalho – explicitadas anteriormente.

Assim, a categoria de protagonismo ligada ao desenvolvimento econômico passou a destacar-se como campo ideológico favorável ao poder público que visa camuflar fenômenos como o desemprego, desigualdades e pobreza. O envolvimento da população é garantido pelo discurso da igualdade e cidadania, colocando na ordem o heroico papel dos trabalhadores em transformar sua força de trabalho latente em habilidades e competências para a absorção no setor produtivo (BRASIL, 200-).

O protagonismo, para o MDS, representa a mobilização dos brasileiros “em prol da superação das desigualdades econômicas, sociais, de gênero e raça, para que juntos possamos construir um país mais justo e igualitário para todos nós”.

grande avanço para a reafirmação política dos governos no poder, pois, passa a aparente ideia do investimento econômico e presença favorável do Estado nas políticas públicas e sociais. Além de que, transfere as expressões da contradição entre capital/trabalho para a classe trabalhadora que se vê alicerçada pela falsa ideia de desenvolvimento econômico e social. Assim, nada poderia sustentar o discurso do desenvolvimento econômico se não pela via da cidadania, inclusão social, do protagonismo cuja qualificação/educação profissional vem assegurar essa promiscuidade governista.

Então, afirma-se aqui que a qualificação da força de trabalho, materializada pelo desenvolvimento de capacidades e competências, gera na sociedade do desemprego a falsa concepção de inclusão no mundo do trabalho que deteriora a tão sonhada conquista do emprego formal entre os trabalhadores pelas suas opcionais ofertas de cursos de qualificação que são levadas para o campo da informalidade, isto é, a não garantia de direitos trabalhistas. A ideologia de empregabilidade e empreendedorismo arregaçada pelas ações estatais de enfretamento à pobreza acaba sendo sustentada pelos ditames da educação mercadológica como via de acesso ao trabalho.

O conjunto dos princípios orientados pelos organismos internacionais recai no altruísmo do Estado perante a qualificação para fortalecimento do capital. Isso não se explica por si só, pois, os governos FHC, Lula da Silva e Dilma Rousseff deixam claro em seus documentos, a concessão de oportunidades aos usuários para a aquisição de competências e habilidades – a partir dos planos e projetos de trabalho, emprego e renda – como passagem para a cidadania, inclusão social e a despobretização daqueles atendidos pelas políticas sociais.

É importante também salientar que o envolvimento dos trabalhadores com as ações estatais de inclusão no mundo do trabalho, intermediado pela assistência social, é sustentado pelos ideais da autonomia, autoestima e resiliência que foi sendo propagadas pelos princípios da reestruturação produtiva de empregabilidade e empreendedorismo para o desenvolvimento da economia.

Portanto, as muitas determinações que compõem a real criação da qualificação profissional para a inclusão produtiva da população em situação de pobreza propostas pelos governos FHC, Lula da Silva e Dilma Rousseff são intencionalmente afirmadas pela ânsia da expansão capitalista de desenvolvimento econômico (reguladas pelo Banco Mundial), que condiz com a busca da conformidade dessa fração de classe para

estagnação das lutas sociais por direito ao trabalho.

E essas determinações são copiladas pelos princípios ideológicos da educação profissional, cidadania, inclusão social, capacidade de aprendizagem, oportunidade de trabalho, competência e habilidade, democracia, emprego decente, autonomia, vulnerabilidade e risco social, expansão da produtividade e do consumo – categorias essas determinantes nos governos FHC, Lula da Silva e Dilma Rousseff.

O item seguinte objetiva apresentar a síntese da pesquisa no que se refere à concepção de inclusão produtiva.