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Nos documentos e informações dos órgãos governamentais há a imprescindível presença da educação como política pública norteadora da inclusão social, cidadania, desenvolvimento de capacidades, protagonismo e crescimento econômico. Por isso, é notória a articulação da educação desde a era FHC até o governo Dilma Rousseff com

outras políticas públicas e sociais, tais como: trabalho e a posterior perspectiva da qualificação/educação profissional no campo dos direitos sociais no âmbito da assistência social, conforme o artigo 2.º da LOAS.

Percebe-se que a qualificação profissional e, assim, a consolidação da inclusão produtiva da população em situação de pobreza, na era FHC, era entendida como educação profissional voltada para atender às demandas do mercado, porém ultrapassando a perspectiva de educação como formadora de conhecimento crítico.

Ao contrário das propostas de educação popular,

a valorização da educação básica geral [passa a ser] para formar trabalhadores com capacidade de abstração, polivalentes, flexíveis e criativos ficam subordinadas à lógica do mercado, do capital e, portanto, da diferenciação, segmentação e exclusão (FRIGOTTO, 1999, p. 145).

E é o que salientam Sousa e Pereira (2008), ao analisarem que a educação profissional no período de FHC vem responder no Brasil aos danos causados pela globalização da economia, reestruturação produtiva, a reforma do Estado neoliberal sobre o mercado de trabalho. Assim, a educação profissional veio incorporar os princípios da polivalência e da multifuncionalidade, em conformidade com as atuais exigências do processo produtivo e tecnológico.

O programa de educação profissional elaborado na década de 1990 propôs a qualificação e requalificação dos trabalhadores que por tais motivos não desenvolveram a capacidade e competência devido ao baixo nível de escolaridade (idem); apontando que a noção de capacidade e competência, ou ainda, aptidão para o trabalho compreendia-se no grau de escolaridade dos indivíduos.

Por isso, entende-se que durante o governo de FHC, o ponto chave foi o investimento em politicas públicas de educação articuladas com as de trabalho, emprego e renda. Diante disso, é interessante ressaltar que no período psbdista o desvio da política de assistência social, conquistada na Constituição de 1988, do campo da educação profissional dificultou a identificação e perfil dos usuários, tendo em vista o papel que a assistência social assume no que tange a responsabilidade direta pelo atendimento, mobilização e monitoramento da população em situação de pobreza.

internacionais como: Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a CEPAL e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), possui um papel decisivo para o crescimento econômico e para a redução da pobreza.

Corroborando com os princípios de educação mercadológica, o Ministério do Trabalho e Emprego (2000 apud PEIXOTO, 2008) salienta que sem ela é pouco provável a consolidação do desenvolvimento sustentado com equidade social, pois a educação é capaz de provocar o ajustamento às rápidas e constantes transformações do trabalho e emprego a partir das ofertas de determinados cursos de qualificação profissional.

Assim, observa-se que no mandato de FHC, a proposta de educação profissional visava atomizar demasiadamente os indivíduos para o mundo da produção, sem nenhuma perspectiva de direitos sociais. A inferência partiu da ausência do discurso de cidadania e direitos sociais nas análises sobre o PLANFOR, no qual mencionou-se, sucintamente, a categoria de equidade social. Isso mostra explicitamente o viés mercadológico incorporado pela educação profissional, principalmente na sua perspectiva de crescimento econômico e seu objetivo de estimular a competitividade entre os usuários atendidos por ela.

Em tese, a essência das ações de qualificação profissional/educação profissional94 não modificaram-se durante a presença do PT na Presidência da República, embora tenham surgido vários planos e programas para a promoção da inclusão produtiva pela via da oferta de cursos e por outras determinações, apontadas posteriormente.

De acordo com os dados coletados nos documentos do mandato de Lula da Silva, a categoria de qualificação ou educação profissional é compreendida como a ponte que liga o Brasil ao crescimento econômico e a também ideológica superação da pobreza e desigualdades. Sendo assim, a qualificação profissional é a construção social concedida às famílias em situação de pobreza a partir da oportunização de inserção e atuação cidadã no mundo do trabalho com expressivos impactos sobre a vida e o trabalho de parte da população (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2013).

De acordo com o MTE (2013), a qualificação expressa a formação integral (intelectual, técnica, cultural e cidadã) dos trabalhadores brasileiros; a Elevação da

94 A era Lula transformou a denominação de educação em qualificação profissional, aproximando estas ao

escolaridade dos trabalhadores; inclusão social; redução da pobreza; elevação da produtividade; melhoria dos serviços prestados; o aumento da competitividade e das possibilidades de elevação do salário ou renda.

Esse Ministério salientou ainda, que ela é um fator de inclusão social, de desenvolvimento econômico com geração de trabalho e distribuição de renda, devendo ser norteado por uma concepção de qualificação entendida como construção social, de maneira a fazer um contraponto àquelas que se fundamentam na aquisição de conhecimentos como processos estritamente individuais e como uma derivação das exigências dos postos de trabalho. Neste caso, os documentos governamentais aqui analisados têm apontado que a qualificação profissional tem atendido as exigências do mercado de trabalho, pois, como já citado, a oferta de cursos é estritamente dependente das particularidades de cada município, o que demonstra uma contradição entre a proposta do MDS de qualificação como construção social e ao atendimento às exigências do mercado de trabalho observado nos documentos governamentais.

A perspectiva de construção social como parte integrante da qualificação ou educação profissional remete-se ao trabalho e ao envolvimento coletivo de busca pela integração no mercado de trabalho e a titularização cidadã. Essa compreensão de coletividade, destacada pela política lulista e presente também na era FHC (com o inevitável estímulo a competitividade pela polivalência e multifuncionalidade dos trabalhadores) resulta em tensionamento no interior da classe trabalhadora que se digladia entre si pelo aumento das possibilidades e diferenciações no campo laborativo, isto é, aquele indivíduo que desenvolve várias funções no processo de trabalho, que tem mais capacidades aquisitivas.

É bem lembrado que o estímulo à aquisição de várias habilidades a partir das ações de qualificação no intuito de incentivar a competitividade, é mensurável por Marx (1980) ao apontar a classificação da classe trabalhadora em hábeis e inábeis na sociedade capitalista – tomando a atualidade de seu pensamento ao analisar o movimento da força de trabalho nas manufaturas.

Para a população em situação de pobreza, isto é, os inábeis que por motivos pessoais não se tornaram capazes de desenvolver sua capacidade para inserção no mercado de trabalho, tem o Estado o papel de atomizá-los, tornando-os hábeis ao capital. O que por esse motivo desconstrói o entendimento dos governos ao ressaltar que a oferta

de cursos de qualificação ultrapassa as aquisições de conhecimento e às exigências dos postos de trabalho.

Assim, constata-se que a construção social, pela via governista, baseada na edificação coletiva, nada mais é do que o encontro das políticas públicas no sentido de tornar os indivíduos hábeis para sua contribuição no mercado, seja pela sua inserção formal ou informal, ou não inserção nos postos de trabalho95. Desse modo, a inclusão social é a construção social a partir da reunião de politicas de educação, trabalho e assistência social e de suas ações de qualificação profissional com caráter cidadão.

A qualificação profissional vem contemplar setores específicos da economia e, por este motivo, deve ser estruturada com base na concertação social que envolve agentes governamentais e a sociedade civil (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2013). Essa proposição recai na adequação da população pobre ao movimento do capital, cabendo ao poder público e às empresas privadas a solidariedade de proporcionar a profissionalização e a elevação da escolaridade a partir da articulação entre as políticas públicas.

Contudo, a compreensão de educação profissional é a formação de mão DE obra qualificada para as vagas criadas pelo crescimento econômico e a implementação de ações complementares que ampliem as oportunidades de inclusão ocupacional dos trabalhadores beneficiários do Bolsa Família (Idem). Ademais, a categoria representa nas propostas dos governos FHC, Lula da Silva e Dilma Rousseff, a tentativa de promoção da inclusão social, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais; o incentivo à ação nacional de qualificação e inserção profissional direcionada ao setor da construção civil, sendo esta ação articulada às obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC); a adequação dos cursos de qualificação profissional às demandas de mão de obra regionais, tomando como base a evolução da oferta de postos de trabalho; o

95 Para os usuários dos planos e programas de educação profissional que mesmo assim não conseguiram

se inserir no trabalho, seja ele formal ou informal, cabe também sua contribuição no mercado pela via do financiamento indireto e escamoteado do fundo público pelos programas de transferência de renda. A construção de Marx (1890, p. 747) contribui para a apreensão desse fenômeno na contemporaneidade, “o pauperismo faz parte das despesas extras da produção capitalista, mas o capital arranja sempre um meio de transferi-las para a classe trabalhadora e para a classe média inferior”. Assim como, “sua produção [os não aptos para o trabalho] e sua necessidade se compreendem na produção e na necessidade da superpopulação relativa, e ambos se constituem condição de existência da produção capitalista e do desenvolvimento da riqueza” (Ibidem), o que a faz, a superpopulação relativa, sustentar em tempos recentes o discurso ideológico de inclusão social, cidadania, empreendedorismo, desenvolvimento econômico, entre outros.

estímulo à articulação entre setores de trabalho e assistência social, nos âmbitos federais, estaduais e municipais; possibilitar a inserção produtiva de mulheres beneficiárias do Bolsa Família; e a promoção da qualificação social, ocupacional e profissional do trabalhador.

Assim, infere-se que a educação/qualificação profissional, em sua totalidade, se dispõe a qualificar não somente a força de trabalho, mas domesticar a população usuária para a conformação da condição de pobreza e a incorporação subjetiva de cidadania. Desta maneira, materializa-se os ideais do ser capacitativo, atomizado, com potencialidades para a inserção no mundo do trabalho. Inicia-se aqui o processo de propagação do conceito de cidadania, muito empregada política-ideologicamente pelo poder público.

Observa-se que anoção de cidadania transcorre pela via do ato de consumir (bens duráveis) e pelo protagonismo no desenvolvimento econômico. Partindo assim para um reconhecimento seletivo do Estado perante o título de cidadania, pois as ações de qualificação profissional não abarcam toda a população pauperizada. Deste modo, percebe-se que o entendimento sobre inclusão social, não esclarecido explicitamente nos documentos, está intrinsecamente associado à noção de cidadania.

Portanto, compreendeu-se analiticamente que a essência das categorias de inclusão social; qualificação social, ocupacional e profissional; desenvolvimento