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POLÍTICA PARA QUEM PRECISA DE POLÍTICA: A ASSISTÊNCIA SOCIAL PARA OS “EXCLUÍDOS” DO MERCADO DE TRABALHO

Discutir assistência social requer não somente reconhecer seu traço histórico- econômico no movimento do capital, como também exige o esforço teórico de buscar mediações para que a sua apreensão se aproxime, ainda mais, do seu real sentido no conjunto da sociedade.

Sendo assim, primeiramente, é necessário compreender que as políticas sociais nascem como produto da relação capital/trabalho, ou seja, no momento de reivindicação da classe trabalhadora pelo seu reconhecimento diante da burguesia e do Estado. Portanto, sua gênese está ligada à luta de classes. É por isso que, como produto da questão social, elas assumem, na contemporaneidade, um perfil que as torna favorecedoras da esfera financeira e do grande capital produtivo (IAMAMOTO, 2008).

É importante destacar que o recorte histórico aqui realizado para a apreensão do objeto de pesquisa partirá da crise do capital na década de 1970. Sendo assim, é imprescindível entender que os avanços das políticas sociais no cenário mundial mostraram-se, ainda que precariamente, como um esforço de garantir direitos sociais, principalmente no pós-Segunda Guerra Mundial (BEHRING; BOSCHETTI, 2009). Este marco histórico, caracterizado pelos “anos gloriosos”, caracterizou-se por desenvolver a política do “pleno emprego” que atingiu seu auge até meados da década de 1960, entrando em decadência com o advento da crise capitalista27.

27 A desaceleração da produção e do consumo de bens estagnou-se a partir de 1960, sinalizando uma crise

capitalista que gerou fortes impactos para “as condições de vida e trabalho das maiorias [a classe trabalhadora], rompendo com o pacto dos anos de crescimento, com o pleno emprego keynesiano- fordista e com o desenho social-democrata das políticas sociais” (BEHRING; BOSCHETTI, 2009, p. 112). O auge da assistência social, através do “progresso” das políticas sociais estava posto em um cenário de intenso desenvolvimento do capitalismo, até que esses “anos gloriosos” deram sinal de esgotamento. O declínio do Estado de Bem-Estar Social, marcado pela década de 70, provocou sérias transformações no mundo do trabalho e a estagnação da assistência social, que até então vinha se desenvolvendo desde 1930. Nesse cenário, a força de trabalho passou a ser desvalorizada com a intensificação da exploração do trabalho e provocando o aumento do desemprego, a precarização, a fragmentação e a terceirização do trabalho, estabelecendo uma sociedade “composta, de um lado, por pessoas muito bem empregadas e, de outro lado, por contingente mais amplo de pessoas desempregadas ou precária e instavelmente empregadas [...]”. (SILVA; YAZBEK; GIOVANNI, 2008, p. 16).

As políticas sociais das últimas três décadas do século XX estiveram em meio à barbárie social provocada pela reestruturação produtiva e pelo modelo de Estado neoliberal que tornou a história da humanidade uma “fantasia do consumo, como se o mercado estivesse acessível para todos e fosse a única possibilidade de plena realização da felicidade” (BEHRING, 2008, p. 45).

As palavras de Behring (2008) mostram como as políticas governamentais de cunho neoliberal têm-se voltado à ascensão do consumo28, e sabe-se, diante disso, que quem exerce este consumo, substancialmente (mas não exclusivamente), são indivíduos inseridos na atividade laborativa. É importante também citar sua vinculação ao significado ideológico de cidadania que tem sido muito divulgado pelos intelectuais burgueses, evidenciando o quanto este conceito vem sendo esgarçado pela sociedade do capital.

Segundo Behring (2008, p. 46), a política real vem redimensionando o fundo público como condição concreta de produção e reprodução do capital, diminuindo a distribuição e os impactos sobre a demanda de trabalho, pois “este é um mundo onde não há emprego para todos” e este fenômeno acentua a perda de direitos sociais e tonifica a criminalização da pobreza, isto é, “a recuperação da rentabilidade do capital é, portanto, razão direta da diminuição dos custos do trabalho, tendo em vista assegurar altos níveis de extração da mais-valia”.

Sendo assim, o que podemos perceber é que as políticas sociais neoliberais distanciaram-se daquelas propostas pelo Estado keynesiano, ao colocar em segurança a reprodutividade do capital, que para tal optou por criar formas de trabalho – conforme discutido no item 1 - que escamoteie a extração de sobretrabalho.

De acordo com Behring e Boschetti (2009), a introdução do modelo neoliberal provocou a redução dos gastos sociais. Com efeito:

as desigualdades sociais resultantes do aumento do desemprego foram agudizadas também por mudanças na composição do financiamento e dos gastos públicos, visto que a maioria dos países passou a ampliar a arrecadação pela via de impostos indiretos, o que acaba onerando toda a sociedade e penalizando os trabalhadores com rendimentos mais baixos (Idem, p. 129-130 e 132). [Esta situação vem] produzindo uma sobrecarga de aumento de impostos regressivos

28 É claro o entendimento de que no modelo de Estado keynesiano, no qual prevaleceu a produção em

massa de mercadorias, já existira uma política social voltada para o consumo intenso dos trabalhadores principalmente, como podemos perceber, com a política do “pleno emprego”. Sendo assim, é preciso esclarecer que assim como a política social foi um elemento importante para a economia-política do pós- Segunda Guerra, sua condição não é a mesma a partir da crise capitalista dos anos de 1970 (BEHRING, 2008).

para a classe trabalhadora e a redução de gastos com políticas sociais, sem ter conseguido retomar o crescimento econômico. Tais medidas agravam as desigualdades sociais e a concentração de riqueza socialmente produzida: os 20% mais ricos do mundo ficam com mais de 80% do PIB mundial, enquanto o número de pobres cresce ao ritmo do crescimento da população – 2% ao ano; atualmente 1 bilhão e meio de seres humanos vivem com rendimentos suficientes apenas para a sobrevivência (MONGIN, 1996, p. 158 apud BEHRING; BOSCHETTI, 2009, p. 132).

O trecho acima ilustra o retrocesso no campo dos direitos sociais, os quais foram agudizados pela introdução desse modelo de Estado que passou a arrecadar impostos além do valor salarial pago aos trabalhadores e até mesmo àqueles desempregados, agravando ainda mais as desigualdades sociais, visto que a concentração de riqueza permaneceu nas mãos da burguesia enquanto que aos pobres coube a miséria e a pobreza. Diante disso, Viana (1998 apud BEHRING, 2008) diz que as políticas sociais neoliberais concentram-se num viés seletista e focalizador, que combinados com a privatização de serviços, voltados para indivíduos que podem pagar, tornam-se duais, ou seja, parte delas é destinada aos pobres e outra aos trabalhadores que conseguem pagar, a exemplo cita-se os fundos de pensão.

As palavras de Behring e Boschetti (2009, p. 134) parecem ilustrativas quanto ao rumo das políticas sociais neoliberais:

O século XXI se inicia com transformações profundas nas políticas sociais nos países capitalistas centrais. Se não se pode falar em desmantelamento, é inegável que as reestruturações em curso seguem na direção de sua restrição, seletividade e focalização; em outras palavras, rompem com os compromissos e consensos do

pós-guerra, que permitiram a expansão doWelfare State.

Não há dúvidas de que o desmoronamento dos direitos sociais está intrinsecamente ligado à tentativa do grande capital de reverter sua crise, buscando explorar a força de trabalho para dela extrair sua base de sustentação, a mais-valia.

Assim, assinala Marx (1980), que não há acumulação capitalista sem o espraiamento da miséria de quem a produz, ou seja, para que a rotatividade do capital se reafirme é necessária a “miséria em meio à prosperidade” (BRAVERMAN, 1987), em que homens nunca subtraiam o trabalho. Portanto, nessas condições é preciso treinar sua condição de miseráveis; e que a acumulação nunca interrompa sua cadeia produtiva sem que, ao menos, seja necessário para sua hegemonia.

década de 1960 representou uma reação burguesa que ocasionou em algumas pressões para a reconfiguração do Estado capitalista (BEHRING; BOSCHETTI, 2009). Segundo as autoras, o agravamento da crise durante os anos de 1974-1975 representou níveis acentuados de desemprego por conta da introdução de tecnologias poupadoras da mão- de-obra que passavam, aos poucos, a substituir o trabalho vivo. Ainda assim, refletem politicamente que a avalanche do desemprego estrutural, além de derrubar a formalidade do trabalho, engendrou um processo de desorganização política dos trabalhadores que, segundo o neoliberalismo, usufruíam poder e privilégios, tendo em vista os direitos sociais conquistados durante o período doWelfare State.

Sendo assim, compreende-se que as políticas sociais articuladas ao aumento das demandas por trabalho, que centralizaram a vertente keynesiano-fordista, foram destruídas pela tentativa do capital de saída da crise da década de 1970. As políticas sociais rendidas ou não à ordem neoliberal inauguraram “um período regressivo para os trabalhadores, com uma correlação de forças desfavorável, do ponto de vista político e da luta de classes” (BEHRING; BOSCHETTI, 2009, p. 124).

Segundo Navarro (1998 apud BEHRING; BOSCHETTI, 2009), os neoliberais entendem que as políticas redistributivas do Estado social são prejudiciais ao desenvolvimento econômico, pois incentivam o consumo e a diminuição da poupança da população.

De acordo com o autor, para os liberais burgueses, o Estado não deveria regular os mercados financeiros, visto que é através do livre movimento de capital que a redistribuição de recursos se torna mais eficiente, e não como pensava os social- democratas. Na realidade, os neoliberais se contradizem quanto à participação estatal na dinâmica de acumulação capitalista, pois é clarividente que em tempos de crise econômica, o Estado injeta montante de recursos em bancos internacionais e nacionais para reanimar os investimentos capitalistas, retirando assim, recursos das políticas públicas e dos trabalhadores, principalmente, quando menciona-se o fundo público para as aposentadorias e pensões.

Segundo Behring e Boschetti (2009, p. 127), a crise capitalista não pôde ser resolvida pela hegemonia neoliberal da década de 1980 nos países de capitalismo central, visto que os índices de recessão e diminuição do crescimento econômico não se alteraram. Assim, os efeitos das medidas implementadas foram tão nocivos para a vida da

classe trabalhadora que, obrigatoriamente, passou a conviver com “o aumento do desemprego, destruição de postos de trabalho não-qualificados, redução dos salários devido ao aumento da oferta de mão-de-obra e redução de gastos com as políticas sociais”.

É notório que Marx (1980, p. 733) já explicara que a “população trabalhadora excedente é produto necessário da acumulação ou do desenvolvimento da riqueza no sistema capitalista, ela se torna por sua vez a alavanca da acumulação capitalista, e mesmo condição de existência do modo de produção capitalista”. Sendo assim, entendemos que no processo de acumulação capitalista é fundamental a existência proporcional do exército industrial reserva29, pois a concorrência no mercado de trabalho conduz, não somente, ao rebaixamento da força de trabalho – campo este também instigado pelo individualismo toyotista onde o capital encontra terreno fértil.

Como se observa, a adoção das ações neoliberais provocou uma onda regressiva para a estrutura econômico-social de frações da classe trabalhadora, a qual teve os direitos sociais suprimidos pelo egoísmo burguês. Os gastos públicos com o sistema de proteção social foram diminuídos, quando não, omitidos do orçamento estatal se comparados ao índice de investimento com os gastos sociais do Pós-Segunda Guerra30.

Assim, esclarecem Behring e Boschetti (2009, p. 133) quanto às configurações da sociedade no período de crise e adoção do modelo de Estado neoliberal:

A reestruturação produtiva, as mudanças na organização do trabalho e a hegemonia neoliberal, [...], têm provocado importantes reconfigurações nas políticas sociais. O desemprego de longa duração, a precarização das relações de trabalho, a ampliação da oferta de trabalho intermitentes, em tempo parcial, temporários, instáveis e não associados a direitos, limitam o acesso aos direitos derivados de empregos estáveis. Além [de outra tendência] que vem ganhando destaque desde a década de 1970, em quase todos os países da Europa, é a expansão de programas de transferência de renda.

Essas são tendências que tomam conta do cenário mundial e que se apresentam como consequências da política econômico-social dos ideólogos neoliberais que, segundo

29 Segundo Marx, “a existência de uma reserva de força de trabalho desempregada e parcialmente

empregada é uma característica inerente à sociedade capitalista, criada e reproduzida diretamente pela própria acumulação de capital, a que Marx chamou de exército industrial de reserva” (BOTTOMORE, 2001, p. 144).

30 Boschetti (2008) salienta que o pensamento keynesiano incentivava o repasse de recursos públicos para

os gastos sociais, pois acreditava que só assim aumentaria as demandas por bens de serviços e consumo e, dessa forma, estimulava o pleno emprego.

análises, revela a real intencionalidade das políticas redistributivas e do conceito de desenvolvimento econômico na sociedade capitalista. Sendo assim, o receituário neoliberal prescreve, principalmente, aos países de Terceiro Mundo, a condução de políticas sociais de cunho assistencial que caminha na contramão da garantia de direitos sociais, a exemplo citam-se os programas de transferência de renda aos pobres31.

O apelo do neoliberalismo em favorecer o livre mercado custou caro à seguridade social, uma vez que mitigou a “regulação das relações de trabalho pelo Estado com a garantia de direitos derivados de contratos estáveis de trabalho”, acabando com o sonho do trabalhador do direito ao emprego (BOSCHETTI, 2008, p. 175). Segundo Mandel (1982, p. 271), “a mecanização, a padronização, a super-especialização e a fragmentação do trabalho, que no passado determinaram apenas o reino da produção de mercadorias na indústria propriamente dita, penetram agora todos os setores da vida social”.

Mandel (1982) pontua algumas das irregularidades no mundo do trabalho, provocadas pela introdução do modelo toyotista que foram acompanhadas pelas mudanças neoliberais para refuncionamento do mercado mundial, o que de fato Boschetti (2008) ressalta quanto ao afastamento do Estado e a ocupação pertinente das empresas capitalistas na organização do processo de trabalho, cujas repercussões terminaram em perdas cumulativas para a “classe-que-vive-do-seu-trabalho”.

É importante esclarecer que as políticas sociais mesmo tendo sido afetadas pela “onda longa de estagnação”, significaram (e não se pode perder de vista), uma reação da classe trabalhadora pelas duras condições miseráveis de sobrevivência. Faleiros (1980, p. 41) é bem enfático quanto à gênese dessa especificidade de políticas ao esclarecer que elas são o “resultado da luta de classes e ao mesmo tempo contribuem para a reprodução das classes sociais”.

É sempre bom lembrar que no campo político-econômico, daí a brilhante reflexão do autor, as políticas sociais rompem com a ideia conservadora de práticas assistencialistas ao ser esclarecido seu sentido ontológico. Elas expressam a correlação de forças entre as classes que nada mais é do que a relação entre capital/trabalho, ou

31 De acordo com Behring e Boschetti (2009), esses programas estatais que transferem recursos e que

escolhem parte da população miserável para atender, apresentam as seguintes características: em primeiro lugar é necessário selecionar a população de baixa renda; depois estabelece critérios de faixa etária (ser maior de 18 anos); comprovação da nacionalidade; e em alguns países o beneficiário precisa mostrar que tem disponibilidade para se inserir economicamente e/ou social em atividades que dizem respeito à qualificação profissional ou atividade de trabalho.

seja, é a árdua luta histórica dos trabalhadores pelo reconhecimento de classe. Sendo assim, as políticas sociais “são mediações para reproduzirem a força de trabalho, segundo o projeto da fração hegemônica da burguesia” (Ibidem).

Diante disso, Faleiros (idem) ainda esclarece a leviandade com que essas políticas são tomadas pela burguesia como meio deletério de controlar o mercado de trabalho através de mecanismo de colocação e de formação da mão de obra. Isto também é refletido por Boschetti (2008, p. 176), quando analisa o campo da Seguridade Social, mencionando que esta “assume a função de garantir direitos derivados do trabalho para os trabalhadores que perderam, momentaneamente ou permanentemente, sua capacidade laborativa”.

A reflexão dos autores parece pertinente quando levadas ao campo teórico-político marxiano de concepção dos direitos sociais como espaço de tensão da luta de classes. Embora a política social seja uma estrutura de controle da força de trabalho utilizada pela burguesia para a exploração desumana do homem, ainda assim, constitui-se como conquista dos trabalhadores, mesmo que exerça função de legitimidade do Estado e reprodução do capital.

Essa legitimidade do Estado via políticas sociais dá-se pela austeridade do modo de produção capitalista em autoreproduzir-se sem também deixar de gerir a pauperização, via exploração da força de trabalho, o que leva o Estado, sob comando da burguesia e o tensionamento dos trabalhadores, a distribuir os mínimos sociais para manutenção hegemônica do capital.

Faleiros (1980) argumenta que as políticas neo-keynesianas resultam numa dupla característica benéfica ao mercado: estimula a demanda, passando a ser mais diversificada; e subsidia as empresas que podem traçar o perfil de trabalhador e determinar os salários. Sendo assim, o foco maior da questão está no questionamento que ele faz quanto à essência dessas políticas, pois, diz ele, as relações de produção não são tocadas por elas, ou seja, a relação de exploração permanece. Boschetti (2008) também partilha desta ideia ao analisar que os direitos derivados do trabalho (embora cite a previdência social) significam uma solução apropriada pelo capitalismo, porém ele não tenciona a propriedade dos meios de produção mesmo garantindo a reprodução da força de trabalho.

estrutura de funcionamento do modo de produção capitalista, quando apresentam suas limitações. Assim, percebe-se que elas também - quando postas em voga para legitimar frações da burguesia – limitam a luta dos trabalhadores, ainda que incorporem, minimamente, a reivindicação da classe. Faleiros (1980, p. 58) resume o significado atribuído às políticas sociais quando ressalta que elas “ao mesmo tempo que estigmatiza e controla, esconde da população os problemas sentidos com o contexto global da sociedade”.

As políticas sociais, do ponto de vista dialético, também contribuem para esconder dos indivíduos a superexploração e seu caráter de população sobrante no mercado de trabalho, próprio do desenvolvimento das forças produtivas. Desse modo, explica Faleiros (1980, p. 66), que o exército industrial de reserva torna-se fundamental sob duas condições: “com um benefício inferior ao dos trabalhadores incluídos no mercado de trabalho; e em condições mínimas que os capacitem para uma substituição”, isto é, a população excedente, aos olhos dos capitalistas, torna-se interessante ser conservada apenas se o custo para mantê-la for mínimo, haja vista que é alvo dos gastos públicos.

Diz ainda o autor que a reprodução da população excedente é mantida pela assistência social, a qual acomoda em seu leito o conjunto dos desempregados. Ainda assim, tanto a assistência como o seguro social “monetarizam os trabalhadores excluídos do mercado não por uma questão de subconsumo [...], mas para resolver uma crise de superprodução” (FALEIROS, 1980, p. 66).

Perante isso, podemos ressaltar que as políticas sociais como combinação do Estado com empresas privadas, são expressões das estratégias de organismos internacionais para manter a taxa de lucro crescente, ou seja, a hegemonia capitalista através da própria manutenção do produto social de sua desumanização: o homem trabalhador. No mais, “essa monetarização da força de trabalho pela assistência, vinculada a um discurso de valorização do homem, não representa senão um pseudo- validação social da existência da reserva” (ibidem).

O que se quer ressaltar, contudo, é a eficácia ideológica com que essa pseudo- validação é incorporada pela assistência social, que mesmo primando pela garantia de direitos, recai nos princípios liberais do livre mercado e da movimentação brusca do capital na sociedade. Logo, gerando, se levar em conta as determinações gerais, a apropriação das políticas sociais pelo capital. Assim, destaca-se a organização das

políticas sociais e sua arbitrária difusão ideológica entre os pobres quanto à concepção de cidadania - entendida pela via do consumo de mercadorias.

É o que esclarece Faleiros (1980), ao analisar a dinâmica das políticas sociais, entre elas a assistência social, haja vista que seu caráter de transferência de dinheiro, ou seja, de redistribuição, permite o melhoramento da própria capacidade ociosa do capital.

Assim, entende-se que a própria processualidade contraditória da dinâmica capitalista mostra que mesmo para os “excluídos” do mercado de trabalho, é atribuído um papel essencial que pode, ou não, ser incorporado no processo de acumulação. Isso se dá pela potencialização e incentivo do Estado para o desenvolvimento de “capacidades” dos homens, cuja incorporação no mercado de trabalho é precária. Entretanto, aqueles não atendidos pelas políticas de desenvolvimento de capacidades, cumprem um papel – num campo analítico aparente – de estimular a redistribuição e ativação do consumo básico de mercadoria, e/ou legitimando sua condição de classe, isto é, limitando o acesso aos direitos sociais.