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CAPÍTULO II: Relações Interpessoais

4. Desenvolvimento de Competências Sociais

A Psicologia nos seus diferentes ramos tem-se preocupado com o campo das relações interpessoais e dos comportamentos disruptivos23 que daí podem advir. No

com figuras significativas, o indivíduo desenvolve modelos representativos de si próprio e dos outros; - A qualidade dos laços emocionais influencia o processo de adaptação psicossocial presente e futuro. Abreu (2005)

21 Por reciprocidade entende-se a resposta, dádiva, positiva ou negativa dada por um indivíduo a uma acção também ela positiva ou negativa. Ao dar-se uma resposta ao outro está a seguir-se a norma da reciprocidade. Esta norma, pressupõe que paguemos favores aos que nos ajudaram. Neto (2000:398) 22 “A resiliência pode ser pensada como a capacidade de adaptação ou faculdade de recuperação. Uma atitude resiliente significa ter uma conduta positiva apesar das adversidades, ou seja, soma-se à resiliência a capacidade de construção positiva, superação, re-significação dos problemas, flexibilidade cognitiva. Este constructo apesar de actual, nas ciências humanas não é apenas um fenómeno individual, pode ser grupal, institucional e comunitário. As pesquisas cada vez mais aprofundadas em resiliência mudaram a forma como se percebe o ser humano, saindo de um modelo de risco, baseado nas necessidades e na doença, para um modelo de prevenção e promoção, baseado nas potencialidades e recursos que o ser humano tem em si mesmo e ao seu redor, considerando o indivíduo agente de sua própria ecologia e

adaptação social.” Ingrid Pecorelli (2010) in

http://autoconhecimentoequalidadedevida.blogspot.com/p/resiliencia-no-campo-da-relacoes.html

23 Para uma definição de comportamento disruptivo, socorremo-nos de Veiga (1996:45) que o define “ como aquele que vai contra as regras escolares, prejudicando as condições de aprendizagem, o ambiente

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sentido de compreender as relações interpessoais surgem dois movimentos: o

desenvolvimento assertivo e o desenvolvimento das competências sociais. O surgimento

das teorias ligadas às inteligências múltiplas e à inteligência emocional vieram dar um enfoque maior à validade destes movimentos.

O campo do desenvolvimento de Competências Sociais representa, na actualidade, um importante enfoque da Psicologia sobre as relações interpessoais, produzindo conhecimentos relevantes sobre as relações interpessoais que caracterizam diferentes contextos sociais, Assim, esta teoria articula alguns modelos teóricos da Psicologia e estabelece importantes conexões com outras ciências, como a Sociologia, a Antropologia, a Etologia, a Biologia Evolutiva, entre outras (Del Prette & Del Prette, 2001b) podendo vir a contribuir para a formulação de teorias mais abrangentes sobre as relações interpessoais.

O termo competências sociais é entendido como o conjunto dos desempenhos disponíveis no repertório do indivíduo, enquanto o de competência social refere-se à capacidade do indivíduo apresentar desempenhos, que articulando pensamento, sentimento e acção, garantam a realização dos objectivos de uma situação interpessoal, a manutenção e a melhoria da auto-estima e da relação com o interlocutor, o exercício e defesa dos direitos humanos socialmente estabelecidos e o equilíbrio nas relações de poder (Del Prette & Del Prette, 2001b).

A análise das competências sociais e da competência social nos desempenhos interpessoais deve ter em consideração, conforme Del Prette & Del Prette (1999), três importantes dimensões: a pessoal, a situacional e a cultural.

A dimensão pessoal refere-se aos componentes comportamentais

(fazer/responder perguntas, pedir/dar feedback, fazer pedidos, elogiar, recusar etc), cognitivo-afectivos (conhecimentos prévios, auto conceito, objectivos e valores pessoais, empatia, resolução de problemas, auto-instrução, auto-observação etc) e fisiológicos (ritmo cardíaco, respiração) do desempenho social.

A dimensão situacional das competências sociais tem a ver com as

características dos interlocutores e do contexto onde ocorre o desempenho interpessoal

de ensino ou o relacionamento de pessoas na escola”. In. Transgressão e Autoconceito dos Jovens na Escola. Fim de Século.

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(com o reconhecimento de que diferentes situações criam controvérsias sociais diferenciadas)

A dimensão cultural destaca o papel fundamental das normas, valores e regras

das diferentes culturas e o seu impacto sobre o desempenho social. As dimensões do desempenho social, preconizadas pela área do desenvolvimento de Competências Sociais, podem ser aplicadas às relações professor-aluno na análise da multiplicidade de variáveis que caracterizam a complexidade desta relação.

Assim, a dimensão pessoal implicaria considerar as variáveis individuais de professores e alunos, como crenças, competências, valores, sentimentos e motivações desses interlocutores. A dimensão situacional levaria à análise das condições físicas e humanas da escola, do projecto pedagógico, da dinâmica organizacional e autonomia do professor, entre outros aspectos. A dimensão cultural implicaria examinar todos esses aspectos à luz da filosofia da educação, da política educacional e do papel que a educação e a escola assumem no contexto sócio-histórico.

A visão integrada destas três dimensões representa um notável avanço em direcção a uma perspectiva sistémica de compreensão do processo de ensino- aprendizagem, no que se refere à sua base nas relações professor-aluno. A abordagem sistémica funda-se na ideia de que um sistema é formado por vários subsistemas que funcionam numa relação de reciprocidade entre si e o seu todo. As relações interpessoais são assim analisadas tendo em atenção que o indivíduo funciona e interage em subsistemas diferenciados do micro para o macro: família, escola, bairro, sociedade... e nessa interacção a realidade pode ser objectiva, mas a forma de a percepcionar é subjectiva e variável de indivíduo para indivíduo (Del Prette & Del Prette, 1999),

Deste modo, os programas de THS24 passaram a procurar que cada um compreendesse o seu comportamento num contexto multifactorial e não dicotómico. O funcionamento social é concebido numa relação de reciprocidade em que as alterações num subsistema vão permitir feedback ao próprio e gerar alterações no outro subsistema procurando sempre o equilíbrio de ambos.

24 Termo utilizado por Del Prette & Del Prette para designar Treinamento de Habilidades Sociais, que substituímos por Desenvolvimento de Competências Sociais.

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