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Capítulo III: Socioconstrutivismo: Uma abordagem para o estudo das

5. A mediação escolar e a aprendizagem

5.1. O papel do mediador sócioconstrutivista

As directrizes de um mediador sócioconstrutivista têm como objectivo fornecer uma orientação aos investigadores interessados no desenvolvimento de sistemas de aprendizagem colaborativa fundamentados pela abordagem sócioconstrutivista. Como pontos positivos pode-se identificar a reflexão sobre o papel do professor na aprendizagem colaborativa, e, por conseguinte, a necessidade de repensar o significado do tutor.

O enfoque central dado na elaboração destas directrizes é a interactividade. O aspecto interactivo é visto sob três ângulos: a interacção aprendiz-aprendiz (es), a interacção mediador -aluno (s) e a interacção aluno (s) -ambiente. Souza et, al. (s.d.)

Segundo Souza et, al. (s.d.) o mediador é diferente de um tutor tradicional em dois aspectos principais: (1) não classifica o conhecimento do aluno através de estereótipos pré-definidos, (2) o seu comportamento é baseado nas informações sobre as acções dos aprendizes que são construídas de forma dinâmica durante o decurso da interacção. O mediador é definido como um agente40 que se baseia em objectivos e que possui um comportamento dirigido por planos e cujo papel é estimular e verificar a ocorrência de uma situação de aprendizagem. (ibidem)

O mediador executa as seguintes tarefas:

i. Identifica o que está a acontecer - detectar um estado observável.

39 Citado por Fino (s/d), in revista Portuguesa de Educação, Vol 14, nº2,pp273-291

40 Segundo Russell & Norvig (2003, p. 33) citados por Souza, et , al.(s.d.) um agente “é tudo o que pode ser considerado capaz de perceber seu ambiente por meio de sensores e de agir sobre esse ambiente por intermédio de actuadores”.

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ii. Executa uma estratégia de mediação - depois de entender em que estado a situação se encontra, o mediador deve decidir se faz ou não algo sobre isso. iii. Avalia o feedback - verificar se o plano executado teve êxito, ou seja, se atingiu

o seu objectivo.

O modelo de mediador sócioconstrutivista não está vinculado a nenhum domínio em particular, mas sim, aos pressupostos da linha sócioconstrutivista. O papel do mediador é então analisar o curso de interacção entre os alunos e o que pode ser inferido dele (por exemplo, o histórico dos diálogos, os modelos do estudante e do grupo) para induzir os alunos a pensar sobre o processo de solução e principalmente pensar sobre suas acções neste processo. Para isto, o mediador intervém na interacção dos alunos conforme suas estratégias de mediação (Souza, et , al.,s.d.).

Ao transpormos para a sala de aula uma situação de aprendizagem, o professor enquanto mediador, expõe os objectivos e é da sua responsabilidade fazer uma apresentação do problema, das finalidades das actividades a serem desenvolvidas e dos objectivos a serem alcançados. Ele é responsável por monitorizar a participação individual e colectiva do grupo e assim activar as estratégias de mediação correspondentes. Estas ocorrem basicamente de duas formas (1) quando o mediador age por conta própria e (2) quando um participante solicita a ajuda do mediador (ibidem).

Neste ponto, os socioconstrutivistas vão buscar a sua inspiração a Piaget, que falava, sobre a importância dos alunos trabalharem e discutirem juntos, obrigando cada participante a explicitar as suas ideias e opções e, dessa forma, ajudar cada um a entender os pontos de vista dos outros e a reflectir mais conscientemente sobre as actividades.

5.2 - Modelo para mediação sócioconstrutivista de aprendizagem colaborativa

Rubtsov (2009)41 refere que para Vygotski nem todas as formas de organizar actividades de aprendizagem partilhada irão permitir às crianças dominar novos meios e estratégias de resolução das tarefas de aprendizagem. Foi Leonteev (aluno de Vygotski),

41 Rubtsov Vytaly (2009) A Perspectiva de Educação de Vygotsky in. NOESIS N.º 77 Abril/Junho de

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quem primeiro se debruçou sobre esta questão: planear actividades partilhadas que influenciam o desenvolvimento da criança.

Em Moscovo, numa escola experimental, foram introduzidos programas para ensinar a língua russa. Nesses programas a actividade partilhada pelos professores e crianças é caracterizada por: o adulto e grupo de crianças trabalham em conjunto; as crianças trabalham em grupo; o professor organiza as actividades partilhadas quer intra- grupo quer entre grupos; o uso de modelos pictóricos e gráficos para a representação tanto das actividades como dos resultados. (ibidem)

Neste estudo demonstrou-se que as crianças: conseguem dominar novos métodos de resolução de problemas no grupo; usam a experiencia para completar novas tarefas; conseguem estabelecer uma comunicação de cooperações mútuas e desenvolvem a capacidade de coordenar acções de cada um com a dos outros, ultrapassando assim, o egocentrismo das suas próprias acções e desenvolvendo as competências necessárias para uma cooperação bem sucedida. (ibidem)

Num outro estudo realizado por Souza, et , al.(s.d.), é apresentada a arquitectura do modelo para a mediação socioconstrutivista, sendo esta constituída por cinco componentes principais: modelo de interacção, modelo do mediador, modelo de domínio, modelo de grupo e modelo individual.

O Modelo de Interacção, constitui a componente central de todo o sistema e é composto pelo histórico do diálogo42 e pelo processador de diálogo43. A partir dele existem fluxos de informação que entram e saem para os demais componentes (modelo de grupo, modelo individual e modelo do mediador).

O Modelo do Mediador é composto pela função de monitorização, agente mediador e pelos seus planos.

O Modelo do Domínio refere-se à descrição das soluções para o problema apresentado. Engloba a melhor solução possível e também as soluções aceitáveis. É a base de conhecimento do domínio. Considerando cada nó como um estado possível observável (estados intermediários) e os elos entre os nós representando as acções

42 O histórico de diálogos é uma base de dados que contém informações sobre a conversação desenvolvida através da ferramenta de chat, desta forma, ela provém informações para a análise dinâmica dos diálogos ocorridos.

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necessárias para a mudança de estado. O nó-raiz pode levar a diversos nós-finais ou estados finais, os quais por sua vez, representam as diferentes soluções do problema.

O Modelo de Grupo contém o caminho percorrido pelo grupo na busca da solução. Este caminho também é representado em forma de árvore construída dinamicamente, servindo como referência sobre o percurso percorrido pelo grupo. O modelo de grupo é utilizado para analisar o comportamento do grupo, como por exemplo, os erros cometidos. Isto é alcançado por meio do registo das intervenções feitas pelo mediador e dirigidas ao grupo, através, por exemplo, de sua estratégia de verificação de acções erradas44.

O Modelo Individual é constituído a partir das contribuições do estudante para a solução do problema, ou seja, do seu percurso de interacção. Ele deve ser capaz de prover um diagnóstico para cada acção do estudante, sendo que este diagnóstico é a entrada para o Modelo do Mediador. Desta forma, o sistema terá um Modelo Individual para cada estudante.

6. Conclusão

Com base na perspectiva construtivista, podemos dizer que a função da escola é fazer com que os conceitos espontâneos, informais, que as crianças adquirem na convivência social, evoluam para o nível dos conceitos científicos, sistemáticos e formais, adquiridos pelo ensino.

O professor surge como o mediador da aprendizagem do aluno, facilitando-lhe o domínio e a apropriação dos diferentes instrumentos culturais. No entanto, a acção docente somente fará sentido, se for realizada no plano da Zona de Desenvolvimento Próximo. Isto é, o professor será a pessoa mais competente para ajudar o aluno na resolução de problemas que estão fora do seu alcance, desenvolvendo estratégias para que pouco a pouco o aluno as possa resolver de modo independente.

44 Nesta perspectiva, o erro deve ser visto como uma acção criativa. “ A compreensão do caminho que o aluno fez, através da sua explicitação é tão importante como a descoberta do erro (…) o erro transforma- se num processo de aprendizagem” Pinto & Santos, (2006:87-88)

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