• Nenhum resultado encontrado

4 AVALIAÇÃO DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO URBANA

4.3 Desenvolvimento do Instrumento de Levantamento dos Dados

Finalizando o sistema de indicadores proposto, o trabalho construiu o que a literatura denomina de “base line monitoring form” (Walton 2003) o formulário de monitoramento das informações de base que alimentarão os KPIs e consequentemente o Isc. No caso desta pesquisa, a proposta é de dois formulários: 1) Formulário 1: a lista de objetos e processos, destacando seus atributos físico-materiais e não materiais com os respectivos pesos (hierarquia de importância) e o 2) Formulário 2: o questionário modelo a ser aplicado com os stakeholders.

O formulário 1 (ver apêndice 2, exemplo do Sítio Histórico da cidade de Olinda) é uma construção a ser feita com base na significância cultural do sítio urbano patrimonial. Deve ser obtido com a participação, se possível em uma pesquisa ampla, de especialistas e gestores da conservação urbana patrimonial do sítio em estudo. Caso isso não ocorra, pelo menos a lista obtida deverá ser validada por especialistas locais a serem consultados, que foi o caso desta pesquisa, para a qual se utilizou os instrumentos apresentados nos apêndices 1a e 1b.

Neste procedimento, o objetivo final é uma lista que expresse os valores do sítio urbano patrimonial, por meio de objetos e processos; e que os hierarquize, por intermédio da definição de pesos. A pontuação atribuída deverá seguir a variação de 0 (zero) a 10 (dez), em função da capacidade de discriminação qualitativa hierárquica de valores como 5 (cinco, pouco importante) 7 (sete, importante) ou 9 (nove, muito importante) necessária ao preenchimento deste formulário. Esta lista de objetos e

processos resultante será comum aos formulários a serem aplicados junto aos diversos tipos de stakeholders (ver apêndice 2).

O formulário 2 (ver apêndice 3a e 3b), exemplo do Sítio Histórico da cidade de Olinda é o levantamento das opiniões dos stakeholders quanto à manutenção da significância, da integridade e da autenticidade no período monitorado. Trata-se de um instrumento de levantamento de dados, específico para cada tipo de stakeholder. Estrutura-se a partir de um conjunto de questões, com afirmações como opção de resposta, as quais são relacionadas a uma escala de valores. As questões referem-se à permanência dos valores, ao estado de integridade e ao julgamento da autenticidade de cada um dos objetos e processos listados do sítio patrimonial em análise.

O resultado final da aplicação do formulário 2 é a avaliação dos stakeholders por tipo de sujeitos envolvidos. A cada resposta deverá ser atribuído um valor de 0 (zero) a 1 (um) segundo a variação: 1,0 (um) – manteve; 0,5 (meio) – mudou; 0,0 (zero) – perdeu/não é mais reconhecido.

A aplicação dos formulários deve ser acompanhada e apoiada pelo fornecimento de informações sobre o estado de conservação do patrimônio no momento em que o processo de monitoramento foi iniciado, ou quando do último monitoramento realizado. A declaração de significância do sítio deve estar disponível para todas as pessoas que forem responder aos formulários. Além disso, vale frisar que outras ações, principalmente de educação patrimonial, deverão fazer parte da gestão do sítio urbano patrimonial, para que a ação de avaliação junto aos stakeholders seja a mais efetiva e eficaz possível.

Quanto ao processo de seleção dos indivíduos, que vão preencher tanto o formulário 1, quanto o formulário 2, este deve ser organizado pela gestão do sítio urbano patrimonial ou, conforme a literatura recomenda sobre os processos de avaliação, deve ser feita por terceiros em uma avaliação externa. Especificamente, em relação aos procedimentos de seleção dos stakeholders, orienta-se que:

a) A quantidade referente aos especialistas locais (Lesp) deverá ser definida tendo como base indivíduos com trabalhos e publicações relevantes sobre o sítio urbano patrimonial em questão.

b) Os especialistas externos (Xesp) deverão ser definidos pela UNESCO e World Heritage Centre, ou escolhidos dentre aqueles que compõem as suas bases de dados.

c) A definição da quantidade de residentes e visitantes deve ser uma amostra aleatória, e varia com o número de famílias que se encontram dentro das fronteira, reconhecidas oficialmente como limites do sítio urbano, ou dentro de outros limites de acordo com definição do gestor local. Tempo e tamanho da equipe envolvida com a pesquisa também devem ser levados em consideração na definição do quantitativo deste grupo.

d) A quantidade de participantes de cada grupo de referência cultural não tem quantitativo específico. Pode ser um representante por grupo, conforme disponibilidade e conhecimento do sítio em questão.

A análise das informações obtidas, após aplicação junto aos stakeholders, deverá ser feita segundo os procedimentos matemáticos expressos na tabela 11, para obtenção dos valores dos KPIs (Isig, Iint, Iaut) e, consequentemente, do Isc.

Tabela 11

Estrutura analítica dos formulários 1 e 2

Objetos ou

Processos Peso*

Significância Integridade Autenticidade

Questão Pontuação** Questão Pontuação** Questão Pontuação**

O/P 1 w1 QS1 SS1 QI1 SI1 QA1 SA1 O/P 2 w2 QS2 SS2 QI2 SI2 QA2 SA2 … … … … … … … … O/P n – 1 wn-1 QSn-1 SS n-1 QI n-1 SI n-1 QA n-1 SA n-1 O/P n wn QSn SSn QIn SIn QAn SAn

* O peso dos objetos e processos expressos no formulário 1. Varia de 1(um) a 10 (dez). ** A pontuação das respostas do formulário 2. Varia em: 0 (zero), 0,5 (meio) e 1,0 (um). Fonte: a autora, 2011.

Os valores dos KPIs (Isigj,Iintjand Iautj) com base nas respostas dos stakeholders, são

obtidos por meio da média ponderada da pontuação dos indivíduos em cada grupo de envolvidos. Estas informações estão representadas matematicamente como se segue: Isigj=𝑚𝑚1 � [𝑖𝑖=1𝑚𝑚 (∑𝑛𝑛𝑖𝑖=1w𝑖𝑖. SS𝑖𝑖)/(� w𝑖𝑖)𝑛𝑛𝑖𝑖=1 ] I (19) intj= 𝑚𝑚1 � [𝑚𝑚𝑖𝑖=1 (∑𝑛𝑛𝑖𝑖=1w𝑖𝑖. SI𝑖𝑖)/(� w𝑖𝑖)𝑛𝑛𝑖𝑖=1 ] I (20) autj=𝑚𝑚1 � [𝑚𝑚𝑖𝑖=1 (∑𝑛𝑛𝑖𝑖=1w𝑖𝑖. SA𝑖𝑖)/(� w𝑖𝑖)𝑛𝑛𝑖𝑖=1 ] (21) Em que:

𝑗𝑗 = (Lesp, Xesp, Lres,

m = número de indivíduos consultados por grupo de stakeholder Nres, Rgru,Vis); n = número de objetos e processos da cidade patrimonial.

Em termos operacionais, o passo a passo exposto matematicamente acima é:

1) Encontra-se a média das respostas dos stakeholders entrevistados e obtêm-se as pontuações de cada objeto e processo por KPI;

2) Em seguida, multiplicam-se as pontuações de cada objeto e processo listado por seu respectivo peso;

3) No próximo passo, pondera-se a somatória do resultado do passo 2 pela somatória dos pesos dos objetos e processos listados, por KPI.

4) Após a ponderação do passo 3, efetua-se as equações (10), (11) e (12) obtendo-se os valores dos KPIs;

5) Por fim, executa-se a equação (9) obtendo-se o valor do Isc.

É necessário advertir que a expressão matemática e os pesos das variáveis do Isc são fixos, mas as expressões matemáticas e pesos (somatória das opiniões por tipos de sujeitos envolvidos) dos KPIs podem ser reorganizados conforme cada contexto urbano patrimonial

Caso a avaliação da cidade patrimonial demonstre resultados de ter sofrido ou ainda sofrer mudanças importantes sob o ponto de vista dos entrevistados, especialmente no que diz respeito ao seu significado, o processo de conservação patrimonial deverá ser reiniciado a partir da construção de nova declaração de significância cultural. Vale ressaltar a necessidade de obtenção de séries de avaliações, como forma de comparar e analisar os resultados impetrados.

Além disso, o estabelecimento temporal de uma série de avaliações, em um conjunto de sítios urbanos patrimoniais, possibilitará: 1) avaliação de como a conservação dos sítios urbano evolui ao longo do tempo – análise do desempenho interno – e a 2) comparação dos desempenhos de conservação entre sítios urbanos – análise comparativa de desempenho.