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Capitulo 2 Descrição e Análise da Intervenção Pedagógica

3. Projeto de intervenção em contexto de creche

3.3. Desenvolvimento e análise da intervenção pedagógica

Desde cedo, os bebés e as crianças desenvolvem aprendizagem através das suas ações para com tudo o que os rodeia. É através de uma exploração sensorial direta que a criança constrói

22 conhecimento do mundo; desde que nascem, sentem-se atraídas por novas sensações (o toque, o provar, o ouvir, o ver e o cheirar). É, deste modo, que as crianças desenvolvem a compreensão do mundo. Hohmann & Post (2011, pp. 22-26).

Tendo como base os registos das observações, as experiências-chave High/scope e os objetivos estabelecidos pela educadora a intencionalidade da planificação direcionou-se em criar atividades integradoras e transversais à exploração e ao brincar, onde o grupo de crianças desenvolvesse uma aprendizagem com significado brincando. No momento da planificação, outro aspeto importante a referir foi a minha atenção na quantidade dos materiais, a exploração dos materiais novos de forma livre e em grande grupo. Como referem Hohmann & Post (2011, p. 25). “A premente necessidade que as crianças muito jovens têm de agir e aprender assume a forma de um contacto direto que utiliza as ferramentas que estão ao seu alcance imediato – olhos, nariz, ouvidos, boca, mãos e pés”. Segundo o pensamento das autoras, procurei criar ambientes e oportunidades de exploração onde as crianças ao seu ritmo e através das suas intenções pudessem construir aprendizagens significativas para si próprias. Nesta linha de pensamento irei descrever e refletir sobre algumas das atividades desenvolvidas em contexto de creche que foram ao encontro dos objetivos acima referidos.

3.3.1. Exploração e descoberta de arroz colorido e massa colorida

Na primeira semana, muitas foram as dúvidas por onde deveria começar, contudo, as crianças foram maravilhosas e ajudaram-me a escolher o ponto de partida. Ao longo das observações, reparei que as crianças se interessavam por histórias e, tendo este foco de interesse, optei por iniciar o projeto com a história “Usando as mãos, contando de cinco em cinco” de Michael Dahi9. Ao longo da história as

crianças iam participando e iam dizendo o que podiam fazer com as mãos, “um cangueijo” (caranguejo), “boboeta” (borboleta), entre outros. No término da história, questionei o que eles gostavam de fazer com as mãos, as respostas foram surpreendentes e as crianças “direcionaram a atividade”, respondendo: “pintamos”, “fazemos festinhas”, “batemos palmas”, “comemos”, “mexemos” e “brincamos”. Aproveitando este momento, disse às crianças: - “Hoje eu trouxe uma surpresa para mexermos”. Mostrei- lhes o arroz de várias cores e a massa cozida também colorida e questionei se sabiam o que era aquilo. Nenhuma criança respondeu, como tal, decidi mudar de estratégia, não ‘bombardear’ as crianças com perguntas e deixa-las explorar. Optei por trazer arroz e massa coloridas, visto que a cor torna-se um fator motivante para as crianças e também para estas poderem distinguir qual a cor que queriam explorar, incentivando ainda uma outra aprendizagem, que a cor não influenciava a textura.

9 História disponível em: http://pt.slideshare.net/cristianebertolla/histria-para-deleite-usando-as-

23 No início da atividade tinha pensado em deixar as crianças explorar em pequenos grupos e sem restrições, contudo, a educadora aconselhou-me a fazer primeiro a exploração individualmente e perceber as reações e, só depois destas estarem familiarizadas com o material, iniciar a exploração em pequeno grupo. Sendo assim, a atividade teve dois grandes momentos: um primeiro em que a exploração foi individual e, posteriormente, exploração em pequenos grupos. No primeiro momento, expus o arroz colorido e perguntei a um menino se queria vir buscar o arroz. Não obtive qualquer resposta e compreendi que as crianças em contexto de creche aprendem

num contexto de confiança e porque querem; naquele momento as crianças ainda me viam como uma “estranha”. Foi necessário a educadora intervir e dizer: “I. escolhe o que queres para mexer.” O menino levantou-se, pegou no arroz vermelho e levou para onde estava sentado inicialmente. Após isto demonstrou insegurança em mexer em algo que ele não conhecia. Durante a exploração (deste menino), uma outra criança, que estava ao lado, demonstrou bastante interesse

por mexer no arroz e disse: “paece o arroz da mamã e cheira bem”, todos começaram a cheirar o arroz, iniciando um outro tipo de exploração. (Este menino expressou iniciativa e curiosidade na exploração, demonstrando que para ele aquela atividade teve significado).

O arroz foi passando pelas crianças e mantive uma atitude de observação, numa tentativa de conhecer melhor as crianças. Num outro momento, um menino explorou com as mãos, agarrou no arroz, viu o arroz a cair e repetiu; depois, com o dedo começou a fazer ‘caminhos’ no arroz. Ao longo desta exploração, o menino ria-se e dizia “oa, caiu”, ”brrrrr”, tentando imitar e brincando ao “faz-de-conta” que era um carro com o seu dedo enquanto fazia os ‘caminhos’. (Este menino não se limitou a explorar; inicialmente, explorou o arroz e apercebeu-se rapidamente das potencialidades do material para brincar). No término da exploração do arroz, um menino agarrou com as duas mãos no arroz, riu-se para a educadora, depois pôs um grão à boca e disse: - “É aoz (arroz) ”.

Repetiu as mesmas ações e pegou no arroz com as mãos e voltou a afirmar: - “É aoz de comer”. As outras crianças começaram-se

a rir e a dizer “arroz vemelho?, oh J., é arroz?” Ao que a educadora respondeu afirmativamente. Este momento fez-me refletir em vários aspetos, o facto de a criança ter explorado o material com as mãos e

Ilustração 4 – Insegurança em explorar

Ilustração 3 – Iniciativa em explorar

24 com a boca, levou-o a confirmar a sua ideia, o que

significa que a criança constrói a perceção das coisas pela interação de diversos sentidos.

Posteriormente, disponibilizei às crianças massa colorida (esparguete cozido) para explorarem. Optei por dois materiais visto que um dos objetivos da educadora para o grupo era a distinção entre igual/ diferente e deixei- os explorar, desta vez em pares. Constatei que a exploração em pares tornou-se mais rica para as crianças, pois ao longo da exploração faziam coisas por si próprios e coisas por imitação, o que enriqueceu mais o momento. A ilustração “exploração entre pares” foi um reflexo de um momento rico para as duas crianças, enquanto uma menina explorou a massa e o arroz com a palma das mãos, a outra pegou na massa com dois dedos (pinça), depois com três dedos e, apercebendo-se que quantos mais dedos, mais massa ela agarrava, agarrou na massa com a mão toda. A outra menina observou a colega e, posteriormente, imitou-a, demonstrando que sentiu curiosidade pelo que a colega fez.

No segundo momento da atividade, optei pela exploração livre em pequenos grupos, sendo que este momento foi para mim o mais rico em termos de aprendizagens, pois as crianças não sentiram a pressão de o adulto estar a observar e a minha ação foi mais apoiante, tendo espaço para criar interações positivas com as crianças.

Perguntei às crianças se queriam continuar a mexer no arroz e na massa. Todos responderam bastante participativos que sim. Quando coloquei os materiais em cima da mesa, as crianças inclinaram-se sobre a mesma, demonstrando curiosidade sobre o que ia acontecer; posteriormente, dei às crianças os recipientes com o material e deixei-os explorar.

Inicialmente, as crianças exploraram, mexiam com as mãos, retiravam a massa dos recipientes, puxavam fio por fio e

depois com toda a mão, torciam e esmagavam. Durante a exploração, observei uma interação entre

Ilustração 6 - Curiosidade Ilustração 5 – Exploração da massa colorida

Ilustração 8 – Demonstrou iniciativa a explorar o saquinho do arroz colorido Ilustração 7 – Exploração entre pares

25 pares que me fez compreender que as crianças comunicam sobre o que realmente lhes interessa: And:”oa, Z. escoega”; Z.“Dá”, as falas demonstraram-me que

aquele menino tinha associado uma sensação a um movimento “escorregar” e, após constatar isto, disse ao seu par a sua descoberta, incentivando também o outro a partilhá- la consigo. Após estas falas, as duas crianças puxavam a massa e riam-se quando se apercebiam “escoega” (escorrega).

Durante a exploração compreendi que as questões em

creche são por vezes “desnecessários”, as crianças demonstram quando estão entusiasmadas e motivadas numa atividade.

Na exploração do arroz em pares, senti que o meu objetivo para aquela atividade tinha sido bem- sucedido. O principal objetivo era criar interações positivas e promover a iniciativa, visto que algumas crianças não demonstravam iniciativa por qualquer atividade (problemática que a educadora já me tinha avisado).

O menino que referi acima, no início da atividade, que demonstrou insegurança para explorar, neste momento, puxou um saquinho de arroz verde, demonstrando a escolha autónoma e sem pressões do material que queria explorar e começou por mexer no arroz; foi retirando gradualmente grãos de arroz para fora do saco e explorou-os em cima da mesa, repetindo sempre o mesmo ciclo. Este momento fez- me refletir e, como refere Montessori (s.d., p. 12) “[a] criança aprende graças à sua atividade individual; ela deve ser deixada intelectualmente livre de escolher aquilo que tem necessidade, sem que a sua escolha seja discutida. O nosso ensinamento deve somente responder às suas necessidades intelectuais, sem nenhuma imposição.”

Um outro objetivo foi demonstrado por esta menina. Enquanto ela explorava o arroz, apercebeu que este se colava às mãos quando o agarrava, depois sacudiu as mãos para o arroz sair. Repetiu esta ação e depois disse: “fina, oa (olha)”, a outra menina pôs as mãos dentro da bacia com o arroz e repetiu o que a J. estava a fazer, contudo limpou as mãos e continuou a explorar o arroz que ela tinha escolhido, demonstrando desinteresse. Enquanto eu tirava a fotografia, a

menina disse: J. “Sanda, o arroz”, aproximei-me dela, repeti a ação que a criança fez. Eu: “o arroz está na minha mão”, a menina riu-se. Enquanto isso, as outras crianças começaram a imitar esta ação, o que me fez repensar a minha prática; as crianças sentem-se apoiadas, aquando das suas descobertas, e este momento possibilitou-me a criação de interações positivas com esta menina, pois sentiu-se apoiada.

Ilustração 10 – Exploração do arroz Ilustração 9 – Exploração da massa colorida

26 Em suma, os dilemas desta atividade foram bastantes, pode-se considerar um desperdício alimentar, contudo, foi um potenciador de aprendizagens e de criação de um clima de descobertas. Este tipo de atividades com ingredientes conhecidos, porém pouco explorados pelas crianças, proporciona oportunidades ao nível das sensações, segundo Carvalho (2005, p. 151) “para que a criança (…) possa conhecer e aprender as propriedades dos elementos que a rodeiam, descobrimos que os produtos alimentares podem constituir estímulos materiais adequados às características, necessidades, interesses e potencialidades das crianças nesse período sensório-motor”. Todavia, os domínios desenvolvidos não ficaram limitados no domínio sensorial, as crianças desenvolveram experiências-chave ao nível do sentido de si próprio; relações sociais; representação criativa; comunicação e linguagem e explorar objetos.

3.3.2. Atividade papel celofane intitulada “Vamos ver o mundo às cores”

No início da atividade, ainda na sala e após o momento do acolhimento, perguntei às crianças se queriam ir ao exterior. Estas mostraram-se entusiasmadas com a ideia e disseram-me “Oh Sanda os chapéus”, alertando-me para uma regra que tinha sido combinada por todos. Enquanto outra criança disse: “vamos ao parque?” Eu: “Hoje vamos ver o que há lá fora.” And: “Passainhos, oh sanda há passainhos e o avião” Du:”Oh, há tantas coisas”, Fr: “E depois vamos brincar?” Eu: ”Sim, depois vamos brincar”. Enquanto saíamos da sala, as crianças viram o cesto com uma manta e com os papéis e dialogavam entre si, Du: “A Sanda tem um cobertor”; Fr: “Olha é vermelho e tem um verde” e Ga: “Eu queo o vemelho”. Mesmo sem saberem o que ia acontecer com os papéis, as crianças sabiam claramente que era para elas, demonstrando iniciativa autonomamente na escolha do material que queriam usar.

No exterior, no início da atividade, estiquei a manta com o auxílio da educadora, enquanto a auxiliar brincava com as crianças. Para dar início à atividade optei por questionar o que havia no jardim, onde obtive várias respostas “passainhos”, “as flores”, “oh, é uma mosca”, “muitas árvores” “o chão”, entre outras. Após estas respostas, questionei a cor dos elementos que as crianças iam referindo, uma vez que a educadora estava a abordar as cores com algumas crianças e alertou-me para esse objetivo. Após este diálogo, o Ga questionou “O que está no cesto?” Eu: ”Querem ver o que eu tenho no cesto?”. Neste momento todas as crianças estavam curiosas, motivadas, as expressões faciais mostravam que nada era mais interessante do que o que estava dentro do cesto,

demonstrando que o fator surpresa é uma estratégia que resultou com o grupo.

Du: “Eu quero”, Ga: “Posso ver?”, Fr: “Eu também”, Eu: “Vou tirar de dentro do cesto…”. As crianças estavam bastante curiosas, Fr: “Eu quero o vermelho”, Ga: “Eu também”, eu: “Há para todos e de mais cores e quem quiser pode vir buscar”. Em

Ilustração 11 – Distribuição do material por todas as crianças

27 geral, o grupo foi bastante participativo, excepto uma criança que ficou a observar, as crianças foram buscar os papéis que queriam, explorando os mesmos. Optei por não dar nenhum exemplo do que poderiam fazer com ele no sentido de dar liberdade às crianças na exploração e perceber as potencialidades que cada criança retirou deste material. Esta escolha teve por base o pensamento das autoras Hohmann & Post (2011, p. 85), que referenciam que numa aprendizagem ativa os “bebés e crianças pequenas fazem escolhas sobre o quê e como devem explorar”.

O momento da exploração foi livre, contudo, mantive uma postura participativa nas brincadeiras das crianças, ajudando algumas crianças a alcançarem os seus objetivos. Por exemplo, enquanto um menino tentava imitar o colega e não conseguia encontrar a sombra

do seu papel, peguei noutro papel, e afastei-o do meu corpo, fazendo com que a sombra aparecesse, o menino, apercebendo-se do que eu estava a fazer, imitou-me, conseguindo atingir o seu objetivo e demonstrando aos colegas como fazia. Durante a realização da atividade, apercebi-me que a observação das crianças nas suas brincadeiras livres é uma componente essencial para o conhecimento individual de cada criança, das suas dificuldades, interesses e necessidades, pois nestes momentos as crianças mostravam-me o que já sabiam, o que queriam descobrir, o que conseguiam fazer e o que queriam conseguir fazer. Penso que este momento foi de grande riqueza para todos, uma vez que todas as crianças estavam verdadeiramente entusiasmadas com a oportunidade que tinham. (A aprendizagem acontece com a experiência, “A estimulação é algo que se faz a outra pessoa. É da

experiência que a criança precisa”) Ainsworth, citado por Hohmann & Post (2011, p. 85). Muitas foram as competências que as crianças demonstraram desenvolver com esta atividade. A seguir, refiro e reflito sobre alguns acontecimentos decorrentes da mesma atividade.

No início da atividade, algumas crianças exploraram os materiais individualmente e em pequeno grupo dialogavam sobre o que acontecia, comunicando verbalmente as suas descobertas. M. “É azul, e agora não”, após ter repetido esta ação, e constatar que acontecia sempre o mesmo, informou a outra colega da alteração da cor no vestido, pois este ficava azul com o papel e sem o papel ficava branco. Enquanto outra menina dizia: “Oa, faz baulho” - Marc. As crianças demonstraram que não foi necessário o adulto dizer o que era para

Ilustração 13 – Exploração individual

Ilustração 14 – Exploração auditiva Ilustração 12 – Alteração da cor do vestido

28 fazer, elas próprias descobriram as potencialidades do material que estava ali. Neste momento, transcrito acima, as crianças demonstraram o conhecimento e as competências que emergiram da sua ação, como: fazer coisas por si próprio, criar relações com os pares, comunicar verbalmente, explorar objetos repetindo uma ação para fazer com que algo volte a acontecer, experimentando a sua causa efeito.

Num outro momento observado, enquanto um menino explorava um material e uma menina se apercebia que o papel voava, constatei que as crianças, nesta fase, desenvolvem competências, não só por iniciativa própria, mas também por imitação, como aconteceu no momento que passo a descrever: Uma das crianças pegou num papel azul e olhou para a relva, olhou para o céu e continuou a explorar, até que a um momento chamou uma menina que estava ao lado a atirar o papel ao ar e repetia vezes sem conta dizendo: “é amarela, olha Ma. vê” o menino deu o seu papel à colega e esta ficou bastante surpreendida com a alteração da cor, pois para ela a função do papel era voar, apercebendo-se desta alteração disse: “oh Joana (educadora). Olha, a saia é amarela, é magia”

Continuando numa exploração visual, outras duas crianças ficaram bastante intrigadas quando me disseram “o céu é roxo”, aproximando-me desta menina, um outro menino disse-me: “e a tua bata é azul” ao que questionei, “o céu é roxo?” A menina deu me o seu papel e disse “oa” a menina não explicou por palavras o que estava a acontecer, mas conseguiu desenvolver uma forma de me mostrar que o que ela tinha dito era válido. Enquanto o menino colocou a folha em cima das minhas pernas, puxava a minha bata e dizia-me “olha, olha, Sanda, olha, é azul”. Este momento foi uma demonstração de que aquela atividade estava a ser prazerosa para as crianças, pois além de estarem em constante descoberta, tinham necessidade de mostrar,

Ilustração 15 - Exploração Visual do papel amarelo Ilustração 16 - Exploração Visual do papel amarelo

Ilustração 18 - Exploração do papel vermelho

29 quer aos seus pares, quer aos adultos, as suas novas descobertas, mostrando que, naquele momento, sentiam “confiança na sua própria capacidade de dar contributos positivos a outras pessoas”.Brickman & Taylor (1991, p. 17).

Durante a atividade, as crianças mostraram bastante interesse pelos papéis coloridos, contudo, existiam papéis transparentes, os quais as crianças não

escolheram. No sentido de promover um maior tipo de experiências, escondi alguns papéis e deixei só os transparentes. Um menino, apercebendo-se que eu estava a mexer nos papéis, foi ter comigo, pegou no papel transparente e explorou-o com as mãos, pôs na boca, amassou, rasgou, esticou, e colocou à frente da cara. Após todas estas experiências, demonstrou claramente que não queria explorar aquele material, não foi necessário um diálogo complexo, mas a

criança conseguiu comunicar comigo e demonstrar que não queria brincar com aquele material. Deu-me o papel e disse: “Não”, ao que afirmei: “- Estou a ver que não gostas desse papel”, o menino respondeu: “Não”, ao que perguntei: “Porque é que não queres este papel?”. O menino respondeu-me “Não tem magia”. Este menino mostrou a sua preferência por papéis coloridos, demonstrando que explorou ambos os materiais, percebeu a diferença e demonstrou ao adulto que aquele não era do seu interesse. São nestes momentos que a criança entra “para a vida social da comunidade”, comunicando as suas descobertas com adultos e com os seus pares. Hohmann &

Post (2011, p. 31)

A escolha deste material foi planeada pelo facto de se tornar um material versátil, que, consoante os interesses e descobertas das crianças, poderia desenvolver inúmeras aprendizagens. Num momento ao acaso, surgiu uma descoberta “a sombra”. Enquanto um menino passeava com a sua folha na mão no exterior para ver as árvores e outros elementos com o seu papel, uma menina que estava atenta apercebeu-se da “sombra”. Ela correu e tentou calcar a folha, enquanto chamava a atenção para o menino que mexia a folha, e a sombra também mexia. “O teu papel no chão”. A menina tentava calcar a sombra do papel, enquanto o menino mexia sempre mais e mais a folha, repetindo a ação para perceber a causa efeito do que acontecia, experimentando sempre mais.

Ilustração 19 - Descoberta da sombra ao acaso

Ilustração 21 - Descoberta da sombra intencional

Ilustração 20 - Exploração do papel transparente

30 Outras crianças foram-se juntando à brincadeira e todos tentavam imitá-lo, tentando também eles ‘fazer’ a sombra, demonstrando que aquela experiência tornara-se do interesse de todos e que era realmente importante para eles compreenderem o que acontecia. Foram várias as tentativas: desde colocar a folha no chão, encostar a folha à cabeça, colocar a folha nas pernas, entre outras. Apercebendo-me que algumas crianças conseguiam fazer a “sombra” contudo não se apercebiam, peguei num papel e questionei “alguém vê a minha sombra?” Dois meninos disseram: “Ali, ao fina, nos pés” (chamando uma colega à atenção, pois a sombra estava nos pés de uma criança); uma das crianças mais velhas pegou na folha e levantou-a, encontrando uma solução para também ele fazer a sombra. Após isto, as crianças juntaram-se a este menino e todas decidiram imitá-lo a tentar calcar as sombras, mostrando que o objetivo era descobrir a sombra para

poderem brincar com a mesma.

Enquanto algumas crianças brincavam com os papéis, outras brincavam com materiais que encontraram neste espaço tão rico que é o espaço exterior. O momento que descrevo a seguir, foi um momento em que uma criança mostrou-me que a

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