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A mente se desenvolve a partir de relacionamentos interpessoais ao longo da vida. Para maiores esclarecimentos sobre a questão do desenvolvimento infantil, o presente estudo fará uso de estudiosos: Cozolino (2014), Siegel (2003, 2012), Stern (1998, 2000, 2004), Wilkinson (2007; 2006), Schore (1994, 2003) entre outros.

A antiga imagem da criança como um receptáculo passivo de estímulos vem sendo substituída por sua visão como um participante competente no ambiente social (COZOLINO, 2014). Siegel (2012 p.31) aponta para o fato de o cérebro ser “dependente da experiência”, pois são essas experiências que irão ativar e fortalecer as ligações já existentes e criar outras novas e ressalta que a falta de experiência

pode causar a morte celular por meio de um processo conhecido como prunning, também conhecido como princípio “usar ou perder” do desenvolvimento cerebral.

O autor mostra ainda que, apesar de as experiências moldarem a atividade do cérebro e a força das conexões neuronais por toda a vida, as vivências nas primeiras fases da vida podem ser especialmente importantes na organização da maneira como as estruturas regulatórias básicas do cérebro se desenvolvem. (SIEGEL, 2012).

Fordham (2001) relata que “o bebê é, antes de tudo, uma unidade ou self desde o início” (p. 88), ou seja, uma unidade psicossomática. Para ele o self possui um sistema de defesa para manter a identidade individual e estabelecer e manter a diferença entre eu e não-eu. Ele esclarece ainda que o self primário ou original do bebê é perturbado no momento do nascimento e ele é invadido por estímulos internos e externos. Essa perturbação dará início à ansiedade prototípica. Logo depois, volta ao estado anterior, terminando o primeiro ciclo: perturbação seguida de estados estáveis ou de repouso. Essa sequência ocorrerá durante todo o amadurecimento, e Fordham cita que as forças motoras, por trás são chamadas de “integrativas e integrativas” (p.89). A partir desse processo, o bebê começa a desenvolver o senso de self. Inicialmente tais sequências ocorrem rapidamente e à medida que a organização psíquica progride, elas se tornam mais longas até que uma relativa estabilidade seja atingida na maior parte do tempo. O autor enfatiza que, quando o self do bebê é ameaçado por uma sobrecarga de experiências ruins que ele não consegue processar, ocorre a ameaça da desintegração, o self da criança; então ela se protege, retirando-se do mundo em um estado autista. Vale destacar que em um processo natural e saudável de desenvolvimento é natural que o bebê se frustre. Fordham explica que

Algumas frustrações são toleráveis enquanto outras, não; o valor das frustrações toleráveis está no fato de compelirem o bebê a administrar seus objetos bons e maus, especialmente pela projeção e pela introjeção, que agem no sentido de produzir uma predominância de boas reservas nutrizes dentro do self (FORDHAM, 2001. p-106).

Sobre o momento do nascimento, Fordham diz que ocorre uma deintegração com a finalidade de adaptação a mudanças que acontecem como a estimulação da pele e da pressão sobre o crânio, gerando formas de ansiedade que atacam o ambiente. O autor cita que o

ataque contribui para a formação de experiências tais como o terror indescritível, o caos catastrófico... especialmente quando não reintegrado...Para facilitar a reintegração, é importante que o bebê encontre algo tangível e confiável após o nascimento, especialmente por meio do contato epidérmico com a mãe. (FORDHAM, 2001, p.100).

O processo do desenvolvimento é dinâmico e progride pela aquisição de novas capacidades motoras, sociais, afetivas e cognitivas que levam a mudanças qualitativas e à reorganização na interação do bebê com os pais, mais claramente estabelecida por volta dos 2 aos 3 meses de idade, dos 5 aos 6 meses e, aproximadamente, aos 18 meses. As novas aquisições e formas de interação proporcionam ao bebê outras possibilidades de comportamento e estratégias para lidar com as situações vivenciadas. Deve-se ter claro que a maneira de interagir vai se tornar matriz de novas formas de interação (STERN, 1998).

Do nascimento aos dois meses e meio de vida, as grandes tarefas interativas referem-se à regulação dos ciclos de alimentação, sono-vigília e atividade. É fundamental observar a maneira como acontecem os intercâmbios sociais em torno dessas atividades - os sorrisos parentais, o jeito de o cuidador falar com o bebê, o colo e o aninhar-se do bebê. Os bebês internados são submetidos à rotina hospitalar, aos cuidados profissionais. Essa regulação se torna impedida pela rotina. Do ponto de vista junguiano, percebe-se que os bebês cardiopatas sofrem a sobrecarga de estímulos nocivos e provavelmente terão um acúmulo de reservas negativas no self.

O manejo do choro é importante nesse início de vida, quando há maior fragilidade do bebê; qualquer situação pode romper ou desorganizar o processo de regulação, levando-o a chorar com frequência e tornando inevitável a interferência do adulto cuidador. A mãe precisa ser responsiva e sensível às demandas da

criança. Cabe à mãe compreender seus sinais de fome, saciedade, sono e higiene e responder de forma adequada. Como Fordham (2001) enfatiza, o bebê promove ativamente o apego de sua mãe a ele, formando o que o autor chama de “par afetuoso”.

Wilkinson (2006, 2010) atesta que o apego seguro é estabelecido quando há condições suficientemente boas, no primeiro ano de vida, por meio do holding, do sorriso e da trocas vocais dos primeiros meses de vida, entre a díade mãe-bêbe. Segundo Schore (2003), este tipo de apego dará origem à instituição do processo regulatório dos afetos, que por sua vez regulará a homeostase no organismo do bebê. Esta regulação dos afetos, inicialmente é orquestrada pela mãe; com o tempo e por ter se imprimindo aos poucos no cérebro do bebê, passa a ser um processo de autorregulação. Essa autorregulação terá influência nas formas de representação mental do meio e do enfrentamento das situações adversas, de dor, de frustração, pois ela determina as características das relações consigo mesmo e com o meio.

Todas as vivências da criança durante o processo do desenvolvimento (físico, motor, cognitivo, emocional, afetivo e da comunicação) são fundamentais para a formação de sua própria identidade. O bebê forma representações que servirão de modelo para o que ele espera, para a sua maneira de agir, perceber sentir e ainda interpretar sua relação com seus pais. (STERN, 1998,)

Erik Erikson, ao estudar o processo de desenvolvimento humano identificou oito estágios, cada estágio apresentaria um momento crítico, que chamou de crise. Crise para ele seria um momento de conflito entre um fator positivo e outro negativo. A maneira como a criança elabora cada crise é determinante para um desenvolvimento da identidade harmônico e também para a forma como enfrentará os problemas futuros. Até um ano de idade, a criança está na fase Confiança versus Desconfiança. Para o autor, esta é a fase mais importante do desenvolvimento; nela, por ser extremamente dependente, a criança precisa sentir que tem segurança e afeto, adquirindo confiança nas pessoas e no mundo. A incapacidade de desenvolver a confiança irá resultar em medo e crença de que o mundo é inconsistente e imprevisível (ERIKSON, 1998). As outras fases serão explicadas no período específico.

A presença da cardiopatia e todo o processo a ela relacionado (tratamento, hospitalização e limitações) são experiências estressantes, e os traumas sofridos precocemente poderão, segundo Cozolino (2014) e Stern (1998 ,2000, 2004), afetar o cérebro, quando áreas específicas estão em rápido período de desenvolvimento e de organização. O trauma vivido durante os primeiros anos de vida podem ter efeitos duradouros nas estruturas cerebrais profundas responsáveis por processos como os de resposta ao estresse, integração da informação e codificação de memória.

Para Louis Cozolino (2014), o trauma não resolvido pode resultar em sintomas do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) que refletem a desregulação e a dissociação fisiológica das redes neurais múltiplas. Ora, quando o trauma for severo ou crônico, a vítima pode desenvolver o TEPT, causado pela perda da regulação dos processos neurobiológicos responsáveis por avaliar e reagir à ameaça. Quando este sistema se tornar desregulado, o corpo reage como se o trauma passado continuasse a ocorrer. Os três sintomas principais do TEPT refletem a perda de integração entre as redes neurais que controlam a cognição, sensação, afeto e comportamento.

Weinrib (1993) explica que, qualquer ruptura na unidade mãe-bebê, irá alterar a separação normal do self da criança do de sua mãe. Essa alteração acarretará no desenvolvimento de um ego dependente entre as idades de um e quatro anos e assim vai permanecer durante a adolescência e permanecerá dessa forma por toda a vida.

Para Erik Erickson (1998), no período da infância, as crises enfrentadas pela criança seriam Autonomia versus Vergonha e Dúvida, entre o segundo e terceiro ano. Tal fase a criança adquire o controle de suas necessidades fisiológicas, o que lhe dá a autonomia, confiança e liberdade novos desafios. A criança, não encontrando um ambiente que a auxilie nestas suas novas descobertas onde é criticada ou ridicularizada, desenvolverá o sentimento de vergonha e dúvida quanto a sua capacidade de autonomia, o que provocará um retrocesso ao estágio anterior, ou seja, a dependência.

Durante o quarto e quinto anos de vida a criança enfrenta a crise da Iniciativa

versus Culpa. Nessa etapa, ela passa a perceber as diferenças sexuais e os papéis

castigada, ela poderá desenvolver sentimento de culpa e diminuir sua iniciativa de explorar novas situações ou de buscar novos conhecimentos. Já no período que vai dos seis aos 11 anos de idade, a crise enfrentada será a da Construtividade versus Inferioridade. Nesse período, a criança estará ampliando a sua rede social. Ela precisará de maior sociabilização, de trabalho em conjunto, de cooperação e de outras habilidades necessárias. Caso ela tenha dificuldades, o próprio grupo irá criticá-la, e ela passará a viver a inferioridade em vez da construtividade.

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