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CONCEITOS

Neste capítulo, serão abordados e analisados alguns conceitos importantes para a compreensão do fenômeno da resiliência, do enfrentamento e da qualidade de vida dos pacientes e seus cuidadores.

5.1 RESILIÊNCIA

Araújo (2011) explica que o conceito é relativamente recente; mas a sua ideia é tão antiga quanto a humanidade, ela se remete à invulnerabilidade de heróis superpoderosos. A tenta entender por que certas pessoas expostas a situações extremamente difíceis conseguem superá-las e até saírem fortalecidas, seguindo a vida dentro dos padrões normais de adaptação (CHEQUINI, 2009, BARBOSA,2009 PESCE et al, 2005).

Cyrulnik (2007) enfatiza que não se pode falar em resiliência sem que o indivíduo tenha vivenciado o fato “de ter sido ferido, traumatizado”.

A resiliência seria para a Física relativa à capacidade de um material voltar à sua forma original após cessar a pressão exercida sobre ele. O conceito traz em sua essência a ideia de superação (RUTTER, 1983; ARAUJO, 1999, 2010, 2011; SAUAIA, 2003; ; YUNES, 2003; MELILLO et.al., 2005; PESCE et at, 2005; BARBOSA, 2009, 2011; CHEQUINI, 2009, 2011).

Chequini e Rios (2011) esclarecem que a resiliência vai além da adaptação Nossa maior glória não está em nunca cair; mas

em levantar a cada queda.

do indivíduo ao meio. Rios (2011), assim como Greco et.al. (2006) ressaltam que essa adaptação é dependente de um diálogo entre as necessidades externas, do ambiente em que está inserido (familiar e social), além das necessidades internas ou subjetivas (tanto psicológicas quanto biológicas) e é uma tarefa para toda a vida com início já no nascimento. A resiliência é definida como um processo dinâmico, constituído por fatores internos e externos que, em interação com o risco, tornam possível lidar com situações adversas.

Araújo postula que a resiliência é uma potencialidade humana, podendo ser promovida desde o nascimento (ARAÚJO, 2011). Já Luthar et.al. (2000, p.543) definem resiliência como “um processo dinâmico que tem como resultado a adaptação positiva em contextos de grande adversidade”. Essa definição distingue dois componentes essenciais:

1) a noção de adversidade, trauma ou risco ao desenvolvimento humano; 2) a obtenção de adaptação positiva ou superação da adversidade.

Muitos pesquisadores fazem uso da definição proposta por Grotberg (2005): que refere como a capacidade humana para enfrentar, vencer e ser fortalecido ou transformado por experiências de adversidade (ARAÚJO, 2011; BARBOSA, 2009). A resiliência como característica de personalidade que modera os efeitos negativos do estresse e promove a adaptação é referida por Wagnild e Young (1993), que ainda acrescentam que essa qualidade é geralmente atribuída a indivíduos que em face de adversidades, se mostram capazes de se adaptar, conseguindo restaurar a homeostase e evitar os efeitos nocivos do estresse.

Luthar et al. (2000) reiteram que a expressão “criança resiliente”, empregada por muitos autores, não se refere a atributos pessoais, mas ao pressuposto de condições de resiliência, tais como a presença de fatores de risco ao bem-estar da criança; e a adaptação positiva da criança apesar das adversidades.

Para Wagnild e Young (2010), mesmo havendo divergência entre os pesquisadores sobre o conceito de resiliência, existem algumas similaridades fundamentais entre eles: adaptação, equilíbrio, competência, determinação, otimismo e aceitação. As autoras ainda apontam que mais recentemente houve a

inclusão da resposta ao estresse psicossocial e alostase psicobiológica5.

No desenvolvimento infantil, a autoestima é considerada como fator fundamental para a resiliência (ARAÚJO, 2011). Para a sua promoção alguns fatores são essenciais e diferem dependendo da fase de desenvolvimento em que a pessoa se encontra.

• Primeiro ano de vida Sentir-se amado

• 1ª Infância Sentir-se amado

Eficiência da Função Motora

• 2ª Infância
 Sentir-se amado

Eficiência da Função Motora Êxito escolar

• Adolescência Sentir-se amado

Eficiência da Função Motora Êxito escolar

Êxito Social

Segundo Prince-Embury (2007), as fatores de resiliência estariam ligados a:

Para as autoras os fatores de resiliência estariam associados a: Noção de Controle

• Otimismo: definida pelo otimismo sobre a vida e sobre a própria

5

A alostase ou alostasia é o processo que mantém certas variáveis fisiológicas dentro de certos limites, ou seja, mantém a estabilidade através da mudança e promove a adaptação às circunstâncias ambientais, pelo menos no curto prazo.

competência. Araujo esclarece que otimismo consiste em atitudes positivas em relação ao mundo em geral e em relação especificamente a sua própria vida, no momento e no futuro.

• Autoeficácia: está associada com a capacidade de desenvolver atitudes e estratégias para a solução de problemas.

• Adaptabilidade: a capacidade para ser pessoalmente receptivo à crítica e para aprender com os próprios erros.

Noção da Capacidade para Relacionamento

• Noção de confiança: definida como o grau em que os outros são percebidos como confiáveis e receptivos e o grau em que o indivíduo pode ser autêntico nesses relacionamentos.

• Percepção de acesso ao suporte: definida como a crença do individuo de que existem outros que podem ajudar quando tiver que lidar com adversidade.

• Conforto com outros: definido como o grau no qual o individuo pode se colocar na presença dos outros sem desconforto ou ansiedade.

• Tolerância as diferenças é definida como a crença do individuo de que ele pode, com segurança, manifestar diferenças em um relacionamento (assertividade).

Reatividade Emocional

• Susceptibilidade é o limiar para reação e a intensidade da reação. “Quão fácil é para você ficar transtornado e quanto transtornado você fica?” Entendendo-se por transtorno o estado de alerta ou de desequilíbrio sem qualquer emoção específica.

• Recuperação é a capacidade para superar um alerta emocional ou uma perturbação do equilíbrio emocional. Existe diferença no período de tempo necessário para se recuperar quando transtornado ou raivoso.

• Prejuízo é o grau no qual o individuo é capaz de manter o equilíbrio emocional quando em alerta. 
Exemplos de prejuízo: perder o controle,

cometer erros, não pensar claramente e se colocar em problemas.

Índice de Recursos

Relativo à noção de domínio somado a noção de relacionamento.

• O desenvolvimento da noção de autonomia e da noção de capacidade está baseado na noção de confiança desenvolvida pela criança.

• O desenvolvimento de forças é o resultado da interação do comportamento da criança com seu ambiente social, cuja evolução influencia tanto a noção de domínio com a noção de relacionamento.

Fatores de Risco

O conceito de risco muitas vezes é confundido com vulnerabilidade nos estudos sobre resiliência, como apontam Yunes e Szymanski (2002), é usado para definir as suscetibilidades psicológicas de cada indivíduo frente às adversidades ou situações estressoras; seriam as predisposições individuais a respostas negativas que são definidas pela interação de um componente genético com fatores como o ambiente e a presença ou ausência de suporte social. Entre os fatores de Risco, pode-se citar:

• Vulnerabilidade – Para Prince-Embury, os fatores de Vulnerabilidade estão presentes em sua escala Resiliency Scales For Children and

Adolescents (Escala de Resiliência para Crianças e Adolescentes -

RSCA). A autora expõe que jovens com uma alta reatividade emcional. O manejo da vulnerabilidade pode começar, segundo a autora, identificando a reatividade emocional como potencial fonte da mesma. Aprofundando a reatividade emocional, pode-se dividi-la em: sensibilidade; recuperação; prejuízo. Quanto forte a reatividade emocional de um jovem, maior a dificuldade de autoregulação das emoções o que aponta para uma mais alta vulnerabilidade (PRINCE- EMBURY, 2007).

Barbosa mostra que a presença de rede de apoio tanto social, quanto afetiva, pode fazer com que crianças e adolescentes vivenciem os fatores de risco de forma saudável. A percepção que o jovem tem de seu universo social, o modo de se orientar nele e as suas estratégias e competências para estabelecer vínculos se estabelece a partir de sua rede de apoio social e afetiva (BARBOSA, 2009). Dessa maneira, pode-se então entender a doença e todo o processo do adoecer como importante fator de risco e vulnerabilidade a que a população estudada está exposta. Um bom relacionamento médico-paciente e, portanto, uma relação de confiança com a equipe de saúde e com a instituição como um todo viria a se tornar fator de proteção.

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