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3. Engenharia de Reabilitação em Portugal

3.5. Desenvolvimento da Engenharia de Reabilitação

3.5.1. Desenvolvimento e situação actual

Em Portugal, o início da era da Engenharia de Reabilitação tem como marco principal as iniciativas do Engenheiro Jaime Filipe em meados dos anos 70 do século passado. A visão que preconizou para o CIDEF – Centro de Inovação para Deficientes, criado em 1974, apostando na engenharia, na criatividade e na inovação tecnológica, mas também num contacto muito próximo com as pessoas com deficiência e as suas necessidades revelou que era um profissional de Engenharia de Reabilitação da linha da frente. O seu talento como inventor, reconhecido com vários prémios internacionais, a sua paixão pelo que fazia, a sua personalidade altruísta, a capacidade de partilhar os seus conhecimentos e o seu pioneirismo em Portugal, tornou-o numa personalidade de referência nacional neste contexto.

A particularidade de ser funcionário da RTP e de ter tido a oportunidade de criar em 1978 um programa de televisão de “Inovação para Deficientes” intitulado NOVOS HORIZONTES, fez dele um invulgar divulgador das Tecnologias de Apoio.

O reconhecimento do exemplo do Engenheiro Jaime Filipe é evocado anualmente, desde 2001, com um concurso e atribuição de um prémio com o seu nome, actualmente sob a responsabilidade do Instituto da Segurança Social.

No final dos anos 70, Jaime Filipe já fazia referência à Engenharia de Reabilitação, e praticava-a no CIDEF. Este Centro, que teve um longevidade de cerca 25 anos, manteve sempre uma linha de intervenção na área da Engenharia de Reabilitação.

Jaime Filipe faleceu em 1992, altura em que o CAPS – Centro de Análise e Processamento de Sinais do Instituto Superior Técnico, assumia um importante papel em projectos europeus de investigação relacionados com a formação em Tecnologias de Reabilitação. Integrado no Grupo de Acústica do CAPS, a linha de investigação em Tecnologias de Reabilitação esteve envolvida na maioria dos principais projectos europeus sobre formação em Tecnologias de Reabilitação: HEART (Linha E – Formação em Tecnologias de Reabilitação), EUSTAT e TELEMATE.

Em 1992, o CIDEF transformou-se em Centro de Reabilitação Profissional, resultante do acordo de cooperação entre o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e a Associação Portuguesa de Criatividade, mantendo a área de Engenharia de Reabilitação ligada ao sector das Ajudas Técnicas (produtos de apoio). Como foi referido anteriormente, no norte do país, nesse mesmo ano, surge o Centro de Reabilitação Profissional de Gaia (CRPG), tendo como entidades fundadoras os IEFP, a ADFA e a CERCIGAIA. O CRPG é uma “casa” que deste cedo compreendeu a importância de incluir a Engenharia de Reabilitação no seu alargado leque de competências.

Também no Norte, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), se tornava visível, a partir de 1993, a presença de interesses na área da Engenharia de Reabilitação, através a leccionação de uma unidade curricular optativa no mestrado de Engenharia Electrotécnica e de Computadores [Azevedo 1993].

Em meados dos anos 90, entre as Instituições de Ensino Superior mais activas em Ciência e Tecnologia para o apoio a pessoas com necessidades especiais, estavam o Instituto Superior Técnico e a Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, a Universidade de Aveiro e a FEUP. No sector com interesses mais

comerciais, destacavam-se a Portugal Telecom, através do CET – Centro de Estudos de Telecomunicações em Aveiro, algumas iniciativas empresariais no domínio da domótica e a emergência de algumas empresas de tecnologias de reabilitação.

No final dos anos 90, fruto de uma reestruturação do INESC, surge o INOV como organização privada, sem fins lucrativos, posicionado no sector de I&D nas áreas das Tecnologias de Informação, Electrónica e Comunicações. Esta organização tem desenvolvido projectos tecnológicos vocacionados para pessoas com necessidades especiais e acumulado experiência nesta área.

Este crescimento da actividade em áreas comuns à Engenharia de Reabilitação no início dos anos 90 deveu-se, no nosso entender, à generalização do uso do computador pessoal, ao desenvolvimento dos serviços de telecomunicações, à entrada em funcionamento do Sistema Supletivo de Atribuição de Ajudas Técnicas e à importância que passaram a ter as tecnologias de informação e comunicação para a empregabilidade e inclusão escolar de pessoas com deficiência.

Actualmente, poucas são as Universidades e Institutos Politécnicos Públicos que não registam actividade científica no domínio da Engenharia de Reabilitação ou da Acessibilidade. Contudo, continua a ser raro haver grupos de investigação ou estudo que adoptem a designação de Engenharia de Reabilitação. Eventualmente, uma das razões poderá dever-se ao facto de ainda serem poucos os profissionais em cada instituição a terem como interesse central esta área.

A UTAD criou em 2001 o CERTIC, actualmente designado de Centro de Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade, na perspectiva de desenvolver o conhecimento desta área no seio da instituição e de prestar serviços à comunidade. Desde 2007, este Centro acumula uma nova função no apoio à Licenciatura em Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas.

Em 2002, fruto do plano de acção eEuropa 2002, da Comissão Europeia, surge a Rede Europeia de Desenho para Todos e Acessibilidade Electrónica (The European Design for All e-Accessibility Network), que inclui em cada país da União Europeia uma rede nacional de Centros e organizações com o objectivo de estimular as actividades na área do “Desenho para Todos”, com particular ênfase nas Tecnologias da Informação e Comunicação. Uma das principais missões de curto prazo desta Rede consistiu em

contribuir com recomendações para o desenvolvimento do Curriculum Europeu em Desenho para Todos para profissionais e estudantes de design e engenharia, conforme previsto no Plano de Acção eEuropa2002. Em Portugal, esta rede é coordenada pelo Instituto Nacional para a Reabilitação [PT-EdeAN].

A formação académica mais abrangente em Engenharia de Reabilitação e em Tecnologias de Apoio em Portugal será apresentada no capítulo seguinte. Tal como acontece noutros países, e em particular nos EUA e nos Estados membros da União Europeia, também existem no nosso país alguns cursos superiores de Engenharia, ou de áreas afins com unidades curriculares neste campo. Destes, destacaríamos as áreas da Engenharia Biomédica ou da Biomecânica, onde são abordadas essencialmente Tecnologias de Apoio e os cursos de Engenharia Informática ou áreas afins, onde se tem expandido nos últimos 5 anos o ensino da Acessibilidade num contexto de interacção pessoa-máquina.

Encontramos intenções políticas de promoção da Engenharia de Reabilitação expressas em dois planos de acção: em 2003 no Programa Nacional para a Participação dos Cidadãos com Necessidades Especiais na Sociedade da Informação (PNPCNESI) e em 2006 no I Plano de Acção para a Integração das Pessoas com Deficiências ou Incapacidade (PAIPDI).

No eixo relativo à Educação do PNPCNESI (RCM 110/2003), a acção 5.5 compromete o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior a apoiar a criação de uma formação de nível superior em Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade.

O PAIPDI (RCM 120/2006) possui uma linha de acção destinada a incrementar o desenvolvimento de estudos e projectos de investigação no âmbito da Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade, com a inclusão das seguintes medidas:

• Incentivo à I&D na área da Engenharia da Reabilitação e Acessibilidade; • Dinamização de uma Rede Nacional de Profissionais e Centros de

Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade;

• Articulação com a Rede European Design for All e-Accessibility Network EdeAN, criada na sequência do Plano de Acção e-Europa 2002 da Comissão Europeia;

A ideia de constituição de uma Associação para promover o desenvolvimento do conhecimento científico e técnico nas áreas da Engenharia de Reabilitação e da Acessibilidade em Portugal começou a ser discutida num fórum na Internet (actualmente, grupo de discussão da SUPERA) e no I Encontro de Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade que teve lugar na UTAD, em 28 de Novembro de 2005. Essa ideia teve seguimento no II encontro, realizado no Instituto Politécnico de Beja em 30 de Novembro de 2006, onde decorreu a Assembleia Geral de constituição da SUPERA – Sociedade Portuguesa de Engenharia de Reabilitação.

O processo de legalização desta associação, com sede provisória na UTAD, ficou concluído em Setembro de 2007. Actualmente, a SUPERA possui cerca de 50 sócios efectivos de várias áreas de formação e dinamiza um fórum de discussão com aproximadamente 200 membros (incluindo 80 alunos da Licenciatura em Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas da UTAD), na qual partilha informação e aproxima profissionais.

A actual composição dos membros efectivos da SUPERA espelha de alguma forma a análise efectuada e a percepção da actividade da Engenharia de Reabilitação em Portugal. Esta manifesta-se principalmente no sistema de ensino superior público e num reduzido número de empresas de produtos de apoio e/ou de acessibilidade. Cremos ser pouco representativa, no seu conjunto, em instituições exclusivamente de I&D, ONG, serviços de reabilitação profissional, sistema de educação (excluindo o ensino superior), segurança social e sistema de acção social, autarquias e no sector da saúde.