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5. Conclusões e trabalho futuro

5.1. Síntese das conclusões

Uma das componentes mais visíveis que resultam da actividade da Engenharia de Reabilitação é o desenvolvimento de produtos de apoio específicos para pessoas com deficiência. Contudo, actualmente, compreendemos melhor que, potencialmente, qualquer tecnologia geralmente disponível poderá atenuar a Incapacidade e proporcionar melhoria de qualidade de vida, sendo por isso também objecto de intervenção da Engenharia de Reabilitação, tanto no campo da Acessibilidade das mesmas, como das suas aplicações. Assim, a Engenharia de Reabilitação inclui projecto e aplicação de tecnologias concebidas para a sociedade em geral, para diversos grupos de pessoas com necessidades especiais e para casos individuais.

As condições de Funcionalidade e Incapacidade humana e os factores ambientais que a influenciam, identificados pela OMS, estão no centro da actividade da Engenharia de Reabilitação.

Os conceitos modernos de Engenharia de Reabilitação e de Acessibilidade, bem como o seu desenvolvimento, entrelaçaram-se no tempo e nos objectivos. Podemos dizer que áreas afins, que tiveram a sua origem em meados do século XX e a sua expansão nos anos 70 do século passado.

O termo “Engenharia de Reabilitação” começou a ser usado nos finais dos anos 60 e início dos anos 70 do século XX nos EUA. Mas, são inúmeros os exemplos de actividades de engenharia no campo da reabilitação anteriores e posteriores a este período sem a adopção desta terminologia. Actualmente, encontramos muitos profissionais de engenharia a realizar actividades relacionadas com a Acessibilidade, sem a relacionarem explicitamente com a Engenharia de Reabilitação.

A actividade de Engenharia de Reabilitação tem como protagonistas profissionais com algum interesse na área, nomeadamente em ambientes académicos, e engenheiros com formações tradicionais. Destes, poucos são os que se consideram ou são considerados Engenheiros de Reabilitação.

O impacto positivo ou nefasto que pode ter a actividade de Engenharia de Reabilitação em indivíduos com necessidades especiais exige um maior rigor do que existe actualmente na qualificação e certificação dos profissionais envolvidos.

Constatamos que em Portugal a presença da função profissional de Engenharia de Reabilitação na prestação de serviços de apoio a pessoas com deficiência ou idosos continua a ser pouco contemplada e que o número de Engenheiros a exercerem esta profissão é reduzido. Essencialmente por essa razão, a profissão de Engenharia de Reabilitação continua a ser pouco conhecida.

Considerando o capital histórico da Engenharia de Reabilitação e o seu auspicioso futuro devido ao envelhecimento das sociedades, ao desenvolvimento cultural e ao acelerado progresso tecnológico, torna-se necessário ultrapassar as fragilidades existentes ao nível da formação académica e da profissão, potenciando a influência mútua inerente a estes dois campos de acção.

De uma forma geral a Engenharia de Reabilitação é encarada como um tópico ou área natural da Engenharia Biomédica, sendo um tema estudado em vários cursos superiores desta natureza. Paralelamente, nos últimos 6 anos, a temática da Acessibilidade tem registado um interesse crescente em cursos superiores de Engenharia ou áreas afins, ao nível da investigação e ensino. Esta tendência apresenta sinais de continuidade e expansão. Também por esta via se promove o estudo de produtos e serviços de acesso para populações com necessidades especiais e de tecnologias com maior acessibilidade. Embora nos casos citados não esteja presente uma formação abrangente e aprofundada da Engenharia de Reabilitação, devido ao diversificado leque de áreas que integram nos seus planos de estudo, são factores importantes ao nível de formação académica.

Apesar da pertinência da inclusão de matérias de Engenharia de Reabilitação e de Acessibilidade em vários cursos superiores de Engenharia consideramos que actualmente esta área reúne condições para se constituir como um projecto educativo diferenciado orientado para o exercício da respectiva profissão. Com este tipo de oferta formativa, especializada mas ao mesmo tempo abrangente no seu domínio, observamos a presença de uma maior sintonia do perfil e dos objectivos profissionais dos estudantes. Admitimos igualmente que a existência de cursos superiores de Engenharia de Reabilitação facilitará o processo de certificação e reconhecimento das qualificações e competências de um profissional desta área. Nesta diversidade e complementaridade de formação, a Engenharia de Reabilitação sairá mais forte.

Os programas de formação em Engenharia de Reabilitação que surgiram nos EUA, Reino Unido e Suécia no início dos anos 90 do século passado reflectiram um horizonte que o futuro próximo das sociedades mais modernas poderá sustentar melhor. Avançámos no tempo, 20 anos, pelo que seria desajustado ter presentemente uma visão mais limitada do que a existente no passado.

Analisámos os pontos fortes e menos favoráveis das opções de formação ao nível Licenciatura e de Mestrado em Engenharia de Reabilitação e identificámos como factor favorável a co-existência de ambas devido às diferenças dos seus pontos fortes e à sua complementaridade. A adequação do grau de Licenciatura à maioria das necessidades do mercado é um dos pontos fortes desta opção formativa. Por outro lado, o mestrado

proporciona uma melhor preparação para o trabalho de investigação e para cargos de maior responsabilidade científica.

Num período de inexistência de cursos superiores de Engenharia de Reabilitação em Portugal decidimos conceber, propor e dar o nosso contributo para a implementação de um projecto de uma Licenciatura. Segundo o nosso conhecimento, no ano em que abriram as primeiras vagas na UTAD para a Licenciatura em Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas esta era a única Licenciatura deste tipo em funcionamento na Europa. Da mesma forma não encontramos nesse período, nem actualmente, registo de qualquer curso superior equivalente nos EUA.

Após três anos de funcionamento da Licenciatura em Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas, a UTAD continua a ser a única instituição de ensino superior em Portugal com esta oferta formativa. Neste período saiu reforçada a convicção de a Universidade ter traçado um caminho com direcção correcta e a responsabilidade de ir mais além.

Em Julho de 2010, Portugal teve os seus primeiros licenciados em Engenharia de Reabilitação, formados na UTAD. O seu percurso profissional e o dos que seguem este caminho, irá ajudar-nos a compreender melhor, a curto e médio prazo, o contributo que foi dado com este projecto de formação para o desenvolvimento da Engenharia de Reabilitação no país.