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3. Engenharia de Reabilitação em Portugal

3.5. Desenvolvimento da Engenharia de Reabilitação

3.5.2. Perspectivas de futuro

O futuro da Engenharia de Reabilitação em Portugal não deve ser dissociado do que pode ser esperado a nível internacional, e em particular dos países desenvolvidos com uma crescente população idosa. Acreditamos que a evolução assentará em diversas variáveis que passamos a mencionar.

O contínuo desenvolvimento tecnológico trará consigo novos desafios, maior complexidade e sofisticação dos meios que passarão a estar disponíveis para melhorar a qualidade de vida das pessoas com necessidades especiais. Previsivelmente, os sectores

ligados às tecnologias de informação e comunicação, indústria automóvel e de transportes, energia, instrumentação e sensores, prototipagem rápida, tecnologia biomédica ou de reabilitação, ente outras, serão factores impulsionadores do progresso da Engenharia de Reabilitação.

Nos EUA, segundo Cooper (2007), a indústria das Tecnologias de Apoio registou um crescimento de 5% por ano, durante 20 anos, e não há sinais de que essa evolução não continue num futuro próximo. Nesta era da globalização, acredita-se ser possível que um país como Portugal também se possa afirmar neste sector a nível internacional, se apostar no conhecimento e na inovação.

Os progressos das tecnologias de saúde têm permitido aumentar a esperança de vida de pessoas com deficiência, com doenças crónicas ou com problemas de saúde de outra natureza. Em consonância com este progresso, assistimos a uma evolução demográfica marcada por um crescimento muito acentuado da percentagem de pessoas idosas e com incapacidade. A sustentabilidade de sociedades com estas características passa por estratégias que proporcionem a estas pessoas a maior independência possível e condições para um envelhecimento activo.

A qualidade das respostas sociais e do sector da saúde continuará a aumentar, suportado por uma gestão mais profissionalizada, maior competência tecnológica, recursos humanos mais qualificados e especializados, influência dos padrões de exigência dos países mais desenvolvidos, entre outros factores.

Os avanços na legislação sobre Acessibilidade, Tecnologias de Apoio, anti- discriminação e de defesa dos direitos de pessoas com necessidades especiais nos últimos 20 anos têm combatido a exclusão social. Porém, o caminho neste campo legislativo está longe de estar concluído. Por um lado, a eficácia e a eficiência da execução do preconizado pela actual legislação ainda são limitadas, por outro, é necessário alargar a legislação a outros sectores de forma a evitar novas formas de discriminação no acesso a produtos e serviços. A implementação progressiva da legislação mencionada tornará mais visíveis e importantes os conhecimentos nas áreas da Engenharia de Reabilitação e da Acessibilidade.

Espera-se que o desenvolvimento cultural dos portugueses tenha um reflexo muito positivo nas atitudes individuais de respeito e valorização das pessoas com necessidades

especiais, bem como nas políticas públicas e privadas de inclusão social. A acompanhar esta evolução, é previsível que a população com necessidades especiais se torne mais qualificada, mais consciente dos seus direitos e com maior capacidade de intervenção social. Todavia, o peso ainda muito significativo de analfabetismo e de baixo nível de escolaridade entre pessoas com deficiência e idosos13 no nosso país continuará a condicionar nos próximos anos, de alguma forma, os referidos efeitos de natureza sociológica.

Apesar da actual conjuntura económica em Portugal não ser boa, o nosso país faz parte da União Europeia, beneficiando por isso de políticas sociais e de mercado comuns potencialmente capazes de elevar as condições económicas e de bem-estar da sua população. Associado ao bem-estar está a consumo da tecnologia e a inclusão social. O futuro da Engenharia de Reabilitação em Portugal não passa apenas pelo diagnóstico das necessidades. Passa também pelo tipo de respostas concretas que surgirem. Entre outras, consideramos que o desenvolvimento da formação no ensino superior e a afirmação da profissão ao nível da prestação de serviços são factores essenciais. O número de profissionais qualificados para esta área deve atingir níveis adequados à população que pode servir (superior a 20% da população residente). Nesta matéria, Portugal está apenas no início de um caminho que não pode deixar de percorrer.

3.6. Conclusão

Verificamos que o início da actividade em Engenharia de Reabilitação em Portugal é contemporâneo do marco histórico que representou o reconhecimento desta área na Lei da Reabilitação dos EUA no início dos anos 70 do século passado, mas com um impacto incomparavelmente menor.

Tal como aconteceu nos EUA e na Europa, também em Portugal a área relacionada com a Engenharia de Reabilitação tem vindo a suscitar um interesse crescente em ambientes

13 Através dos dados do Inquérito ao Emprego de 2001 determinaram-se os níveis de instrução da população idosa com base nas

categorias da International Standard Classification of Education (ISCED ) utilizada pelas Nações Unidas. Pode verificar-se que mais de metade da população com 65 e mais anos (55,1%) não tinha qualquer nível de instrução, enquadrando-se no nível 0 do ISCED. O nível 0 corresponde à educação pré-escolar (a não frequência escolar também se enquadra neste nível) [ALEA].

académicos, reforçado actualmente com a visibilidade e a importância que se está a dar às questões da Acessibilidade.

Infelizmente, no mercado do trabalho, o papel da Engenharia de Reabilitação na prestação de serviços de apoio a pessoas com deficiência ou idosos continua a ser muito pouco contemplada.

Os avanços da formação ao nível de programas académicos de Engenharia de Reabilitação com maior profundidade são muito recentes, parecendo-nos de certa forma equivalentes aos passos dados nos EUA e em alguns países europeus no início dos anos 90.

Apesar dos atrasos estruturais do nosso país, que também se reflectiram no modesto desenvolvimento da Engenharia de Reabilitação, não podemos esquecer que estamos actualmente em pleno século XXI, integrados na União Europeia, com acesso facilitado à tecnologia e ao conhecimento, a registar um franco progresso ao nível da qualificação académica dos nossos jovens, e a valorizar cada vez mais a inclusão social e a diversidade humana. Em paralelo temos pela frente um dos principais desafios das sociedades economicamente avançadas: o seu envelhecimento. Um contributo importante para enfrentar este desafio passa por um desenvolvimento mais acelerado e ambicioso da Engenharia de Reabilitação.

CAP 4

4. Licenciatura em Engenharia de Reabilitação e