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3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CONCEITO E CONTEXTUALIZAÇÃO

3.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Ao longo das últimas décadas, diversas mudanças vêm ocorrendo na sociedade e transformando valores culturais, sociais e econômicos. Os desenvolvimentos globais abrangem rupturas tecnológicas e crescimento da classe média, que, por sua vez, está aumentando seu padrão de consumo e, consequentemente, intensificando o uso de recursos naturais e agravando a degradação ambiental (DIAS, 2011; WORKING GROUP FINANCE; 2016).

Ao utilizar recursos renováveis a uma taxa superior à taxa de recuperação da natureza, o ser humano está sobrecarregando os sistemas naturais e colocando em risco o futuro do planeta. A preocupação com essa questão tem levado muitos grupos a discutirem sobre os padrões de uma economia linear que se baseia em ciclos de vida curtos de produtos que são destruídos ao final da vida. Em 1962, Rachel Carson gerou enorme repercussão pública ao divulgar seu livro Silent Spring, que expunha os perigos dos pesticidas, dando início às discussões relacionadas à questão ambiental. Dez anos mais tarde, foi lançado o relatório “Limites do crescimento”, o qual, por meio de fórmulas matemáticas, alertava sobre a escassez dos recursos naturais, sobre os níveis perigosos de contaminação e sobre a redução da população em cem anos (DIAS, 2011).

Em 1972, aconteceu a primeira Conferência sobre o Meio Ambiente em Estocolmo, na Suécia, a fim de discutir o crescimento econômico e do meio ambiente e criar ministérios, agências e organizações governamentais relacionadas a essa questão (DIAS, 2011). E em 1982, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, com objetivo de

analisar a relação entre esses dois aspectos. Além desses eventos, na década de 1990, foi fundada a Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável e no Brasil ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, RIO92, seguido pelo Rio+10 e pelo Rio+20.

Nesse contexto, a sustentabilidade tem se tornado um tema recorrente ao apresentar uma promessa de uma sociedade igualitária, em que o meio ambiente e as realizações culturais seriam preservados para as gerações futuras (DYLLICK; HOCKERTS, 2002). Segundo o relatório de Brundtland de 1987, desenvolvimento sustentável é aquele que “atende às necessidades do presente sem comprometer a habilidade das futuras gerações de satisfazer às suas” (WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT, 1987, p.8). Com base nessa definição, o conceito é composto por três dimensões: ambiental, social e econômica.

A dimensão ambiental visa o bem-estar do ecossistema, sendo este capaz de manter a diversidade e qualidade e de suportar todas as formas de vida (DELAI; TAKAHASHI, 2016). Já a dimensão social diz respeito às pessoas e à qualidade e equidade de vida, buscando atender às necessidades humanas e aumentar as oportunidades de desenvolvimento igualitário para todos (COMMISSION ON SUSTAINABLE DEVELOPMENT, 2002). Ela também engloba questões como fome, educação, acesso aos recursos e proteção da cultura local (DELAI; TAKAHASHI, 2008). Enquanto que a dimensão econômica foca na criação de valor (DELAI, 2016) e está relacionada ao provimento dos meios necessários para um crescimento estável e eficiente (DELAI; TAKAHASHI, 2008).

O conceito de sustentabilidade também segue três princípios básicos para sobrevivência da natureza, são eles: depender mais de energias renováveis; proteger a biodiversidade, evitando a degradação das espécies, ecossistemas e dos processos naturais da Terra; e ajudar a manter os ciclos químicos naturais da Terra, reduzindo a produção de resíduos, poluição, descarte de produtos químicos tóxicos e remoção de recursos naturais (MILLER; SPOOLMAN, 2012). Ainda de acordo com o relatório de Brundtland (WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT, 1987), o conceito pode ser desdobrado em dois conceitos chave: necessidades e limitações. O primeiro relaciona-se particularmente com as necessidades essenciais dos pobres do mundo, e o segundo com as imposições das atuais organizações

tecnológicas e sociais à capacidade de o meio ambiente atender às exigências atuais e futuras (WCED, 1987). Pode-se resumir esses conceitos em justiça social e natureza sistêmica, segundo Holliday, Schmidheiny e Watts (2002) e WCED (1987), e em dinamismo, conforme WCED (1987) e Bossel (1999).

A justiça social visa a distribuição de riquezas e oportunidades igualmente entre países e gerações (DELAI, 2014). Enquanto que a natureza sistêmica é devido ao fato da necessidade de as ações serem tomadas em conjunto, já que as três dimensões estão ligadas e são dependentes entre si. Para atingir o desenvolvimento sustentável, os esforços não devem ser isolados de um país ou estar apenas em uma esfera ou dimensão, é preciso uma cooperação internacional para um objetivo comum (DELAI, 2014). Essa indivisibilidade entre desenvolvimento e meio ambiente pode ser justificada por alguns fatores (WCED, 1987). Segundo Delai (2014), os problemas ambientais estão correlacionados entre si e relacionados a padrões de desenvolvimento econômico e a fatores sociais e políticos, além dessas características operarem entre nações, uma vez que os ecossistemas não respeitam fronteiras.

Em relação ao dinamismo, esse ocorre devido ao fato de que a sociedade e o ambiente estão em contínua mudança, provocada pelas transformações tecnológicas, econômicas e culturais (DELAI, 2014). O Relatório de Brundtland afirma que “o desenvolvimento sustentável não é um estado fixo de harmonia, mas um processo de mudança no qual a utilização de recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional são feitos de forma consistente com as necessidades presentes e futuras” (WCED, 1987, p.9). Além disso, Bossel (1999) defende que a sociedade está inclusa no meio ambiente, sendo ambos sistemas complexos e que co-evoluem em interação mútua, com constante mudança e evolução. Esse mesmo autor acrescenta ainda que a sustentabilidade se torna urgente com a aproximação entre as taxas de mudanças e a velocidade de recuperação do sistema como um todo. Assim, o desenvolvimento sustentável não é um estado fixo, mas um processo dinâmico de evolução.

No que diz respeito aos estudos identificados na revisão sistemática de literatura, apesar de não existir uma única definição de sustentabilidade, todos os autores que levantam esse conceito convergem para uma descrição semelhante entre

si e entre os conceitos apresentados anteriormente. Ou seja, mencionam o equilíbrio entre os pilares ambiental, social e econômico. Além disso, em relação à quantidade de artigos analisada, poucos autores ainda citam o conceito de sustentabilidade em seus trabalhos. Já para o conceito de desenvolvimento sustentável, a maioria dos autores utilizam a definição do relatório de Brundtland (WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT, 1987). O Quadro 4 a seguir apresenta essa análise.

Quadro 4 – Conceitos de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável

SUSTENTABILIDADE Artigo

“Refere-se a um equilíbrio dinâmico entre produção e venda que não pode significar recursos esgotáveis (BRUNDTLAND, 19871)”

Post (1991, p. 23) “O conceito está inscrito dentro de um triângulo de três interesses

concorrentes - os da economia, ecologia e equidade, ou a visão de mundo dos três Es (CAMPBELL, 19962)”

Moore e Brand (2003, p. 4)

“Caracterizada por uma equidade intrageracional entre o norte e o sul (BARKEMEYER et al., 20113) e tendo em conta questões ambientais,

sociais (VIFELL; SONERYD, 20124) e econômicas (ELKINGTON,

19985)”

Weber, Diaz e Schwegler (2012, p. 322)

“Refere-se à capacidade de suportar. Três pilares da sustentabilidade foram identificados: ambientais, sociais e econômicos (ATKINSON, 20096; HEAL, 20097; ENDRESS, 20058; FEENSTRA, 20029)”

Michael e Oluseye (2014, p. 2536-2537)

“Não é simplesmente uma questão de minimizar os danos ambientais. Consiste em três objetivos interligados: ambiental, econômico e social. A sustentabilidade visa elevar o padrão de vida das pessoas e, ao mesmo tempo, reduzir as consequências ambientais negativas da atividade econômica (MARY, 200810)”

Continua...

1 WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT (WCED). Our common future. Oxford: Oxford University Press, 1987.

2CAMPBELL, S. Green Cities, Growing Cities, Just Cities? Urban Planning and the Contradictions of Sustainable Development. Journal of the American Planning Association,1996. p. 306.

3BARKEMEYER et al. What happened to the ‘development’ in sustainable development? Business guidelines two decades after Brundtland. Sustainable Development. 2011.

4VIFELL, A; SONERYD, L. 2012. Organizing matters: how ‘the social dimension’ gets lost in sustainability projects. Sustainable Development. 2012.

5ELKINGTON, J. Cannibals with Forks: The Triple Bottom Line of 21st Century Business. New

Society: Gabriola Island, BC. 1998.

6ATKINSON, G Handbook of Sustainable Development. Edward Elgar Publishing. 2009.

7HEAL, G. Climate Economics: A Meta-Review and Some Suggestions for Future Research. Review of Environmental Economics and Policy.2009.

8ENDRESS, L. Sustainable Growth with Environmental Spillovers. Journal of Economic Behaviour and Organization. 2005.

9FEENSTRA, G. Creating Space for Sustainable Food Systems: Lessons from the Field. Agriculture and Human Values. 2002.

...Continuação

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Artigo

“Significa a mudança da situação social, mental e econômica” Haque (2000, p. 232)

“Aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades (BRUNDTLAND, 19871)” Aras et al. (2017, p. 393); Bidabad e Sherafati (2017, p. 943); Dossa e Kaeufer (2013, p.543); Kunhibava, Ling e Ruslan (2018, p. 134); Michael e Oluseye (2014, p. 2536); Nor e Hashim (2015, p. 5); Scholtens (2008, p. 159); Stubbs e Cocklin, (2008, p. 104); Sulaiman et al. (2011, p. 182); Weber, Diaz e Schwegler (2012, p. 322) Fonte: Elaborado pela autora.

3.2 SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA E RESPONSABILIDADE SOCIAL