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2.2 Audiência Preliminar

2.2.4 Despacho saneador

O despacho saneador, a ter lugar na audiência preliminar caso esta tenha sido convocada, é logo ditado para a ata87, à exceção das causas em que o debate se processe sobre questões de elevado grau de complexidade, situação em que a audiência deve ser suspensa para que no prazo de 20 dias o juiz profira o saneador, marcando-se logo data para a sua continuação sendo caso disso, ou seja, quando houver atos a praticar na audiência depois do despacho saneador.

Se o juiz decidir pela dispensa da audiência preliminar o despacho saneador será um ato autónomo do juiz a realizar em 20 dias depois de findos os articulados (art. 510º nº 1).

86 António Montalvão Machado, Paulo Pimenta, O Novo Processo Civil, 2010, p. 220.

87 António Montalvão Machado, Paulo Pimenta, O Novo Processo Civil, 2010, p. 222; António Santos Abrantes Geraldes, Temas da Reforma do Processo Civil, 2010, p. 122; José Lebre de Freitas, A Acção

Declarativa Comum À Luz do Código Revisto, 2010, p. 155; J. P. Remédio Marques, Acção Declarativa à Luz do Código Revisto, 2007, p. 344;

São duas as funções do despacho saneador de acordo com o prescrito no art. 510º: verificação da regularidade da instância e apreciação de nulidades; e conhecimento imediato do mérito da causa88.

2.2.4.1 Conhecimento das exceções dilatórias e nulidades processuais

A ser atingido o objetivo da revisão de 1995/1996 do CPC, nesta fase do processo estaria bastante facilitada a tarefa de cumprimento desta primeira função do despacho saneador. Isto porque perante o poder de direção do processo (art. 265º nº 2 CPC) o juiz está vinculado a providenciar o suprimento da falta de pressupostos sanáveis, mesmo oficiosamente, determinando a realização dos atos para tanto adequados. E ainda nos termos do mesmo preceito, sendo necessária uma modificação subjetiva da instância, na disponibilidade das partes, o juiz deve convidá-las a fazê-lo. Na mesma direção, decorre do teor do art. 288º nº 3 que as exceções só subsistem enquanto não forem sanadas nos termos do anterior art. 265º nº 2 e que ainda que subsistam, não terá lugar a absolvição da instância quando não existam outros obstáculos à apreciação do mérito e a decisão deva ser integralmente favorável à parte cujo interesse a exceção visa tutelar89. Posto isto só pode entender-se que há um dever de decidir de mérito90-91 e que toda a atividade tendente à regularização da instância deve ser promovida pelo juiz antes do despacho saneador, como temos vindo a verificar, no despacho pré-saneador ou na própria audiência preliminar.

Nestas circunstâncias, apenas quando a irregularidade não possa ou não tenha sido sanada há lugar à absolvição do réu da instância92, para além do caso em que o processo deva ser remetido para diverso tribunal e da possibilidade já referida de imediato conhecimento do mérito, quando a decisão deva ser favorável à parte cujo interesse estava protegido pela exceção.

O mesmo se diga quanto às nulidades. Só as que não foram corrigidas por indicação do despacho pré-saneador devem agora ser declaradas. As nulidades de conhecimento oficioso, atento o regime dos arts. 202º e 206º nºs. 1 e 2 CPC, podem ser suscitadas em qualquer estado do processo e logo que o juiz delas se aperceba, pelo que só serão apreciadas no despacho saneador se antes não o tiverem sido. Ainda nos termos do art. 206º nº 3 as

88 António Montalvão Machado, Paulo Pimenta, O Novo Processo Civil, 2010, p. 222-227; José Lebre de Freitas, A Acção Declarativa Comum À Luz do Código Revisto, 2010, p. 155; J. P. Remédio Marques,

Acção Declarativa à Luz do Código Revisto, 2007, p. 344.

89 No entanto, não se afigura que tal hipótese ocorra com frequência no comum dos litígios apresentados em tribunal.

90 Miguel Teixeira de Sousa, Estudos sobre o Novo Processo Civil, 1997, p. 83; Paulo Pimenta, A Fase de

Saneamento do Processo Antes e Após a Vigência do Novo Código de Processo Civil, 2003, p. 270.

91 No texto intitulado “Linhas Orientadoras da Nova Legislação Processual Civil” a que já fizemos referência, pode ler-se que o direito de acesso aos tribunais implica a remoção dos obstáculos à obtenção de uma decisão de mérito, dando-se primazia à decisão de fundo sobre a decisão de forma. Também nesta exposição é dada nota de que em prol da prevalência da decisão de fundo é consagrada a regra de que a falta de pressupostos processuais é sanável, só não o sendo quando a falta inviabilize totalmente a decisão de mérito. Cfr. Pereira Batista et al “Linhas Orientadoras da Nova Legislação Processual Civil” in Sub Judice – Justiça e Sociedade, 1992, n. 4, p. 37.

92 António Montalvão Machado, Paulo Pimenta, O Novo Processo Civil, 2010, p. 223; José Lebre de Freitas, A Acção Declarativa Comum à Luz do Código Revisto, 2010, p. 157; J. P. Remédio Marques,

nulidades invocadas pelas partes devem ser apreciadas logo que sejam reclamadas, pelo que mais uma vez o processo pode chegar ao despacho saneador já refeito das deficiências de que padecia.

O conhecimento de uma exceção dilatória ou de uma nulidade processual no despacho saneador faz caso julgado formal quanto às questões concretamente apreciadas (art. 510º nº 3 CPC), mas não quanto a uma indicação genérica de inexistência de quaisquer exceções dilatórias ou nulidades processuais93.

Assim concluímos pela essencialidade organizativa do processo facultada pelo despacho pré-saneador em conjunto com o despacho saneador.

Ao despacho saneador fica agora reservada a verificação da conformidade já antes solicitada, com ganho de tempo, produtividade e clarificação.

Na audiência final os sujeitos processuais podem centrar a sua atenção na apreciação da prova e do mérito da ação, com maior disponibilidade e dedicação.

2.2.4.2 Conhecimento de mérito

O conhecimento do mérito da ação resulta da audiência final na sequência da análise da prova produzida e traduz-se na sentença.

Num estádio precoce da causa, como o seja a audiência preliminar, só alguns processos reúnem todos os elementos necessários a uma resposta ao pedido ou pedidos que foram dirigidos ao tribunal. Só não havendo necessidade de mais elementos, de mais prova, o processo pode reunir condições de resposta para apreciação do pedido ou algum dos pedidos, da reconvenção, ou da procedência ou improcedência de exceções perentórias (art. 510º nº 3 CPC). Mas se assim for, mais uma vez se ganha em tempo com segurança, depois da triagem do despacho pré-saneador, no sentido de uma mais correta configuração da ação.

O despacho saneador que conheça do mérito fica a ter, nessa parte, o valor de sentença (art. 510º nº 3) e como tal pode ser objeto de recurso de apelação94 art. 691º nº 1 e nº 2 alínea h) CPC.

São várias as hipóteses de conhecimento do mérito nesta fase processual. Lebre de Freitas enumera as situações: inconcludência do pedido, quando do complexo dos factos alegados não se pode chegar ao efeito jurídico pretendido, pelo que o réu é absolvido do pedido; exceção perentória plenamente provada por confissão, admissão ou documento, o que determina a absolvição do réu do pedido; exceção perentória improcedente, continuando a ação apenas para apreciação da causa de pedir; inexistência de exceções perentórias ao mesmo tempo que estão provados os factos que integram a causa de pedir, o que determina a condenação do réu no pedido; considerar-se provado que não ocorreram todos os factos

93 José Lebre de Freitas, A Acção Declarativa Comum à Luz do Código Revisto, 2010, p. 164; J. P. Remédio Marques, Acção Declarativa à Luz do Código Revisto, 2007, p. 350; Miguel Teixeira de Sousa, Estudos

sobre o Novo Processo Civil, 1997, p. 318.

94 Armindo Ribeiro Mendes, Recursos em Processo Civil, Reforma de 2007, p. 125, 126; Miguel Teixeira de Sousa, Estudos sobre o Novo Processo Civil, 1997, p. 319.

constitutivos da causa de pedir e a restante matéria é insuficiente para procedência do pedido, sendo o réu absolvido do pedido; prova do complexo de factos integrantes da causa de pedir dependente de documento, bastando à decisão imediata a junção do documento em causa.95