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III O PROCESSO CIVIL AMERICANO

3.2.1 Rejeição dos articulados

Como já fizemos referência no ponto 3.1., após a citação o réu pode desde logo invocar insuficiência do articulado inicial, por ser de tal maneira vago e incompleto que se torna incompreensível, por o tribunal ser incompetente ou por irregularidade da citação. Esta

217 Frank A. Schubert, Introduction to Law and the Legal System, 2004, p. 169; Oscar G. Chase, et al Civil

Litigation in Comparative Context, 2007, p. 214, 215; Peter Hay, Law of the United States. An Overview,

Munique, 2002, p. 75,76.

218 Jack H. Friedenthal, Mary Kay Kane, Arthur R. Miller, Civil Procedure, 1999, p. 436. 219 Frank A. Schubert, Introduction to Law and the Legal System, 2004, p. 170.

fundamentação deve ser apresentada por requerimento autónomo, designado por motion to

dismiss , sendo decidido pelo juiz220em audiência sumária [Rule 12. b) e d)]. Se o requerimento for aceite pelo tribunal, o autor terá ainda a oportunidade de alterar o articulado, corrigindo as deficiências e imprecisões 221. A invocação de insuficiências na contestação ou na réplica também pode dar lugar a uma motion to dismiss.

3.2.2 Julgamento sumário

Como resultado da atividade probatória para preparação da audiência, pode surgir a invocação, por qualquer uma ou ambas as partes, da desnecessidade da audiência em si por não existirem verdadeiras questões de facto a decidir, ou porque os factos constitutivos da versão da parte contrária não são prováveis ou não existem. Este requerimento é designado por motion for summary judgment 222 (Rule 56. FRCP).

O requerimento é acompanhado de prova dos respetivos fundamentos, mas a prática dos tribunais americanos indicia que o deferimento é dificilmente obtido em ações que envolvam questões de facto, com fundamento na possibilidade de ser posto em causa o direito das partes a um julgamento223. Considerando-se a escassez e pouca relevância das alegações face à importância dos factos revelados através da prova, cuja produção está condensada em julgamento, compreende-se a recusa de decisão sem audiência, uma vez que a ausência desta equivale à ausência de prova da existência ou inexistência dos factos.

3.2.3 Audiência

A fase da organização do processo, acompanhada de constante pesquisa de prova, é uma preparação da fase de julgamento. Em complemento desta preparação, o juiz pode convocar uma conferência com as partes para discussão informal acerca das várias questões emergentes da causa, pretrial conference.

De modo não exaustivo esta conferência tem os seguintes objetivos: delimitação das questões a decidir; alteração ou emenda de articulados; admissão de factos e documentos e eliminação de prova desnecessária; delimitação dos testemunhos com base nas regras federais de prova (Federal Rules of Evidence); ordenar e calendarizar eventual julgamento sumário ou diligências de prova; dar satisfação a requerimentos pendentes; adotar procedimentos especiais adequados a questões mais complexas, ordenar julgamento separado de alguma questão nos termos previstos sob a regra 42(b) das FRCP; ou outro assunto de relevo para a boa e rápida resolução da ação [Rule 16. (2) FRCP].

220 Frank A. Schubert, Introduction to Law and the Legal System, 2004, p. 168; Jack H. Friedenthal, et al “Civil Procedure”, 10th Ed., Ch. 1.B in Federal Rules of Civil Procedure, 2011-2012 Educational Edition, p. XVII.

221Jack H. Friedenthal, et al “Civil Procedure”, 10th Ed., Ch. 1.B in Federal Rules of Civil Procedure, 2011- 2012 Educational Edition, p. XVII

222 Frank A. Schubert, Introduction to Law and the Legal System, 2004, p. 168, 169; Jack H. Friedenthal, et al “Civil Procedure”, 10th Ed., Ch. 1.B in Federal Rules of Civil Procedure, 2011-2012 Educational Edition, p. XIX; Peter Hay, Law of the United States. An Overview, Munique, 2002, p. 79.

223 Frank A. Schubert, Introduction to Law and the Legal System, 2004, p. 169; Jack H. Friedenthal, et al “Civil Procedure”, 10th Ed., Ch. 1.B in Federal Rules of Civil Procedure, 2011-2012 Educational Edition, p. XIX; Peter Hay, Law of the United States. An Overview, Munique, 2002, p. 79.

3.3 Fase de julgamento

A fase de julgamento corresponde a um confronto oral entre as partes, perante um juiz (bench trial) ou perante um juiz e um júri, onde é produzida toda a prova selecionada na fase anterior.

A morosidade e onerosidade geradas pela seleção dos membros do júri, bem como a falibilidade da respetiva avaliação da prova, têm vindo a desincentivar a opção por julgamento de júri mas este é um direito fundamental consagrado pela Constituição dos EUA224. Em defesa do júri pode alegar-se a participação direta dos cidadãos na administração da justiça, bem como a aparência de ser um elemento corretor do juiz eleito com base política225.

Se as partes optarem por um julgamento com júri o primeiro momento desta segunda fase processual é o de seleção deste, (juri selection) com base numa lista de cidadãos e num limite mínimo de seis e máximo de 12 (Rule 38.,Rule 47., Rule 48. FRCP).

Ao juiz ficam reservados os poderes de verificação da correta seleção dos jurados, de estarem reunidos os requisitos do “due process” para um julgamento equitativo, de serem respeitados os limites da prova admissível226, de que as regras do processo são seguidas pelas partes e de que a decisão é tomada de acordo com a lei227.

Depois de o júri estar constituído o julgamento inicia-se com a intervenção do advogado do autor que fará uma síntese da sua posição e indicará desde logo o que pretende provar. O advogado do réu poderá tomar de seguida a palavra com o mesmo propósito de sumariar a sua versão e indicar a sua pretensão de prova (opening statements).

Segue-se a produção de prova cuja ordem mais vulgar apresenta em primeiro lugar o autor (plaintiff´s case) e em segundo o réu (defendant´s case), com depoimento das testemunhas, exibição de documentos e demais meios de prova obtidos pelas partes.

O autor pode replicar à intervenção do réu com mais prova (plaintiff´s rebuttal) e, se por via desta forem trazidas à colação novas questões, o réu pode ainda treplicar (defendant´s

rejoinder) limitando a sua resposta aos novos assuntos apresentados na réplica.

Só é admitida a prova relevante para a causa e cujo valor probatório não seja questionável. A relevância afere-se pela suscetibilidade de contribuir para a decisão228.

As testemunhas são ajuramentadas e inquiridas pelos respetivos advogados, bem como sujeitas a contra interrogatório pelo advogado da parte contrária, depois do que ainda podem ser novamente inquiridas pelo advogado que as apresentou.

A seguir à produção de prova do autor, se o réu entender que a posição do autor não está substancialmente fundada, pode apresentar um requerimento destinado à decisão

224 Oscar G. Chase, et al Civil Litigation in Comparative Context, 2007, p. 268, 269. 225 Jack H. Friedenthal, Mary Kay Kane, Arthur R. Miller, Civil Procedure, 1999, p. 491,492. 226 Cit. por Frank A. Schubert, Introduction to Law and the Legal System, 2004, p. 174. 227 Frank A. Schubert, Introduction to Law and the Legal System, 2004, p. 174.

imediata da causa pelo juiz (motion for nonsuit)229. O juiz só deve deferir o requerimento se perante o conjunto da prova mais favorável ao autor uma pessoa média não pudesse concluir a seu favor. Se o requerimento for deferido a ação é julgada improcedente pelo juiz e concluída230.

No fim da produção de toda a prova qualquer uma das partes pode apresentar um requerimento para que o juiz profira de imediato a decisão, com dispensa de pronúncia do júri (motion for a directed verdict)231 . O juiz pode decidir neste sentido se entender que o caso é claro e que nenhuma pessoa média pode discordar do resultado232.

Sendo indeferido o requerimento para veredicto direto do juiz ou não o havendo, os advogados das partes submetem as questões ao júri, resumindo as suas posições em alegações orais (closing arguments), após o que o juiz dá instruções ao júri sobre o direito aplicável (Rule 51. FRCP)

Proferido o veredicto do júri o mesmo pode ter na sua base situações que levem à sua desconsideração, tais como má conduta de jurados, uso de prova não autorizada ou violação de regras de sigilo233. Nestes casos a parte prejudicada com o veredicto pode apresentar um requerimento para que seja proferida decisão sem relevância do veredicto, judgment

notwithstanding the verdict, o que é possível de ser deferido pelo juiz quando este conclua que

uma pessoa média não teria proferido um veredicto nos termos em que o foi; pode requerer a realização de novo julgamento com novo júri, new trial, o que é adequado a várias situações como erro de produção de prova ou descoberta de novos elementos de prova; e pode ainda requerer uma reparação na decisão final, relief from judgment o que é suscetível de ser admitido, entre outros, em casos de erro de julgamento ou fraude234.

Outra situação que pode levar a um pedido de alteração da decisão é a deliberação de indemnização manifestamente excessiva. Neste caso o réu pode solicitar ao tribunal uma decisão que reduza aquele montante remittitur, o que pode ser decidido com o consentimento do autor235.

229 Frank A. Schubert, Introduction to Law and the Legal System, 2004, p. 184. 230 Frank A. Schubert, Introduction to Law and the Legal System, 2004, p. 184.

231 Frank A. Schubert, Introduction to Law and the Legal System, 2004, p. 184; Jack H. Friedenthal, et al “Civil Procedure”, 10th Ed., Ch. 1.B in Federal Rules of Civil Procedure, 2011-2012 Educational Edition, p. XXI; Peter Hay, Law of the United States. An Overview, Munique, 2002, p. 79

232 Frank A. Schubert, Introduction to Law and the Legal System, 2004, p. 184; Jack H. Friedenthal, et al “Civil Procedure”, 10th Ed., Ch. 1.B in Federal Rules of Civil Procedure, 2011-2012 Educational Edition, p. XXI; Peter Hay, Law of the United States. An Overview, Munique, 2002, p. 80.

233 Frank A. Schubert, Introduction to Law and the Legal System, 2004, p. 185; Jack H. Friedenthal, et al, “Civil Procedure”, 10th Ed., Ch. 1.B in Federal Rules of Civil Procedure, 2011-2012 Educational Edition, p. XXII.

234 Frank A. Schubert, Introduction to Law and the Legal System, 2004, p. 185; Jack H. Friedenthal, et al “Civil Procedure”, 10th Ed., Ch. 1.B in Federal Rules of Civil Procedure, 2011-2012 Educational Edition, p. XXII, XXIII.

Depois de analisados e decididos os requerimentos posteriores ao veredicto, posttrial

motions, o julgamento termina com uma decisão relativa aos direitos das partes litigantes, award of a judgment236.

O judgment é a decisão final da ação. Na hipótese de o processo ter percorrido todos os estádios até ao julgamento, esta decisão terá na sua base o veredicto do júri ou, em caso de julgamento realizado por juiz, a enunciação dos factos e as conclusões de direito (Rule 52. FRCP).

A decisão final do juiz pode ser proferida oralmente e prossegue três objetivos. Facilitar a compreensão do tribunal de recurso sobre as bases da decisão, clarificar o que foi decidido ou a respetiva amplitude e proceder à determinação dos factos237.

236Frank A. Schubert, Introduction to Law and the Legal System, 2004, p. 190; Jack H. Friedenthal, et al “Civil Procedure”, 10th Ed., Ch. 1.B in Federal Rules of Civil Procedure, 2011-2012 Educational Edition, p. XXII, XXIII.