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CAPÍTULO I – HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO NO ESTADO DE

1.4 O SURGIMENTO DO COMÉRCIO EM SANTA CATARINA

1.4.1 Desterro

Na região de Desterro houve uma grande expansão de casas comerciais. As áreas que apresentavam maior desenvolvimento no comércio eram Nossa Senhora do Desterro (hoje Florianópolis), Laguna, Brusque, Blumenau e Joinville.

No Desterro, desenvolveram-se grandes casas comerciais, onde a imigração era, em sua grande maioria, alemã, o que facilitava muito os contatos e a confiança para comercialização dos produtos, entre os

negociantes que residiam nessa região e os empresários de Brusque e de Blumenau. Dessa forma, inúmeros comerciantes auxiliaram no desenvolvimento econômico da região, como, por exemplo, a empresa Bade & Wellmann. Seus proprietários, donos de empresas de importação/exportação em Hamburgo e Desterro, vieram a desentender- se, o que ocasionou a criação da casa comercial “Carlos Hoepcke”.

W e l l ma n n , a o d e s me mb r a r - s e d a s o c i e d a d e , p r e s t o u a u x í l i o fi n a n c e i r o e t é c n i c o a o v a r e j i s t a F e r n a n d o H a c k r a d t , q u e p r o s p e r o u e c h a mo u , p a r a g u a r d a - l i v r o s , o s o b r i n h o , p r o fe s s o r n a P o me r â n i a ( A l e ma n h a ) e , n a é p o c a , s e r r a d o r d e ma d e i r a e m B l u me n a u , C a r l H o e p c k e . H a c k r a d t a o s p o u c o s s e a fa s t o u d o n e g ó c i o , t o r n a n d o - s e c ô n s u l d a P r ú s s i a n o D e s t e r r o . S e u fi l h o , F e r n a n d o H a c k r a d t J r . , q u e e n t r o u e m 1 8 7 1 n a fi r ma , s a i u e m 1 8 9 8 , fi c a n d o , c o mo a s s o c i a d o s , o s i r mã o s C a r l e P a u l H o e p c k e , a t é 1 8 9 4 . C a r l H o e p c k e t r a n s fo r mo u a a n t i g a s o c i e d a d e n a ma i o r e mp r e s a c o me r c i a l c a t a r i n e n s e , t e n d o c o mo h e r d e i r o s o s fi l h o s C a r o l u s e M a x . A t r a v é s d o c a s a me n t o d a s fi l h a s , n o v o s a c i o n i s t a s fo r a m a t r a í d o s , e n t r e o s q u a i s Z i p s e r - M o l e n d a , W e i n e c k A l p e r s t e d t , e a mp l i o u - s e o n e g ó c i o . O s p a r e n t e s d a e s p o s a d e C a r o l u s H o e p c k e , D i e t r i c h e H a n s v o n W a n g e n h e i m, t o r n a r a m- s e g r a n d e s a c i o n i s t a s e p r i n c i p a i s d i r e t o r e s d a e mp r e s a ( H E R I N G , 1 9 8 7 , p . 6 1 ) .

Mais tarde, com a segunda guerra mundial e com a perseguição contra os alemães, o controle acionário da firma passa para o Sr. Aderbal Ramos da Silva, casado com Ruth Hoepcke, filha de Carl Hoepcke.

Segundo HERING, muitos ligados à família Hoepcke tinham algum grau de parentesco com os Hering e os Renaux, de forma que eles impulsionaram o comércio na região de Desterro, o qual permanece até

os dias atuais.2

2

E n t r e v i s t a r e a l i z a d a c o m M a r i a L u i z a R e n a u x H e r i n g n a F U R B ( F u n d a ç ã o U n i v e r s i d a d e d e B l u me n a u e m 1 9 9 6 )

O s s e n h o r e s E r n e s t V a h l ( c ô n s u l a u s t r í a c o ) e F r a n z S a l l e n t h i e n , i mp o r t a n t e c o l o n i z a d o r d e I t a j a í , d o n o d e s e r r a r i a e m B r u s q u e [ . . . ] c o n t r a t a r a m, n o fi m d o s é c u l o X I X , d o i s e s p e c i a l i s t a s d a A l e ma n h a : E r n e s t o S t o d i e c k , c o me r c i a n t e fe r r a g i s t a d i p l o ma d o e m S o l i n g e n , e H e r ma n n B e c k , t é c n i c o t ê x t i l d a B a v i e r a , q u e l o g o s e t o r n a r a m p r o c u r a d o r e s e p r o p r i e t á r i o s d a fi r ma – a p a r t i r d e e n t ã o , E r n e s t o , B e c k & C i a . ( H E R I N G , 1 9 8 7 , p . 6 2 ) .

Temos, ainda: os Busch e os Schmithausen, que se dedicaram ao negócio de artefatos de couro. Desterro exportava café, fécula, tapioca, couro cru, óleo de peixe, óleo de nogueira e linhaça para pintura. A capital tinha — e tem — como indústria a Fábrica de Rendas e Bordados Hoepcke. Outra firma “de destaque [foi] fundada por André Wendhausen, que se especializou no comércio importador/exportador e, como suas congêneres, deveu sua importância ao fato de ser correspondente de vários bancos, nacionais e do exterior” (HERING, 1987, p. 62).

Estas foram algumas das importantes iniciativas comerciais que ocorreram na localidade de Desterro, que mais tarde se chamaria de Florianópolis.

1.4.2 Itajaí

Em Itajaí também surgiram muitas casas comerciais. Entre elas, convém citar a de maior porte, que pertencia às famílias Malburg e Konder. Foi fundada em 1860, por Nicolau Malburg, imigrante da região do Mosela e professor em Pocinho, às margens do Itajaí. “Da mesma forma, Marcos Konder, professor rural, emigrado da Mosela com a finalidade de educar os filhos de Nicolau Malburg, tornou-se procurador

deste e quatro anos após formou sua própria firma comercial, enriquecendo com a exportação da madeira” (HERING, 1987, p. 63).

O comércio de Itajaí, à época, voltava-se principalmente para a exportação de madeira, tendo sido criados setores para importação e exportação, nos quais havia representação de companhia de navegação e de bancos. A firma Konder era importadora e responsável pela exportação de muitos gêneros coloniais. Mais tarde montou escritório de comissões e despachos e tornou-se agente do Banco Nacional do Comércio e do Banco Alemão Transatlântico.

Os produtos de Blumenau e de Brusque eram exportados por uma companhia de navegação de Itajaí.

E m 1 8 7 7 , G u i l h e r me A s s e b u r g , c ô n s u l a l e mã o e m I t a j a í e p r o p r i e t á r i o d a fi r ma A s s e b u r g , à q u a l ma i s t a r d e a s s o c i o u - s e W i l l e r d i n g , t a mb é m d e I t a j a í , c r i o u a p r i me i r a e mp r e s a d e t r a n s p o r t e s fl u v i a i s . L a n c h a s a v a p o r p a s s a r a m a l i g a r d u a s v e z e s p o r s e ma n a o p o r t o ma r í t i mo a B l u me n a u , e m s u b s t i t u i ç ã o à s b a l s a s , b a r c a ç a s e c a n o a s ” ( H E R I N G , 1 9 8 7 , p . 6 6 ) .

Essa facilidade em criar empresas para exportar produtos de Blumenau e de Brusque se devia à localização geográfica estratégica de Itajaí, que possuía um dos melhores portos do Estado.

1.4.3 Brusque

A Colônia de Brusque foi fundada em 1860. “Os primeiros imigrantes da Colônia de Brusque foram 54 agricultores alemães, e por mais quatorze anos a grande maioria de seus colonizadores continuou a ser formada por camponeses alemães”.(DIAS, 1987, p. 99).

Como registra HERING (1987), em 1860 os relatórios da diretoria da colônia já indicavam a existência de cinco casas de negócios, subindo este número para quatorze em 1876.

Havia nessa colônia, como “apontava a estatística: dois ferreiros, um padeiro, três sapateiros, dois alfaiates, seis marceneiros, seis carpinteiros, três pedreiros e um fabricante de embarcações” (PIAZZA, 1981, p.117)

Brusque, como as outras colônias, tinha produção diversificada, que também era exportada. A produção do ano anterior [1862]: 524 arrobas de fumo, 497 arrobas de açúcar, 51 barris de aguardente, 529 alqueires de farinha de mandioca, 4.378 de milho, 737 de feijão, 3.259 de tubérculos diversos, e 1.031 de arroz. Vários foram os comerciantes em Brusque. O primeiro foi o itajaiense Joaquim Pereira Liberato; em seguida vieram os alemães e merece menção a cervejaria de Friedrich Wilhelm Thies. “... O comércio brusquense, contudo, culminaria em grandes vendas: Krieger, Buettner, Bauer e Renaux, as três primeiras fundadas por alemães imigrados pouco depois da fundação da colônia”. (HERING, 1987).

Guilherme Krieger, padeiro de Oldemburg (Alemanha), que chegou a Brusque em 1861, tinha seus negócios de exploração de madeira, criação de gado e cultivo de cana-de-açúcar em vários locais: Cedro, Águas Negras, Porto Franco, Riberão do Ouro e Morro do Baú (Blumenau).

K r i e g e r fe z e n c o me n d a à A l e ma n h a d e ma q u i n a r i a p a r a a r a s p a g e m, p r e n s a g e m e s e c a g e m d a ma n d i o c a , a fi m d e p r o d u z i r a fé c u l a , q u e s e t o r n a r i a i mp o r t a n t e a r t i g o d e e x p o r t a ç ã o . A i n t e r r u p ç ã o d a s r e l a ç õ e s c o m a E u r o p a , n a P r i me i r a G u e r r a , i mp e d i u o r e c e b i me n t o d a s má q u i n a s , s i g n i fi c a n d o p r e j u í z o n ã o s ó p e l a s p a r c e l a s p a g a s e m a d i a n t a me n t o , ma s p e l a c o mp r a d o s b ô n u s d e g u e r r a ( K r i e g s a n l e i h e n ) e m q u e s e e n v o l v e r a m a l g u n s i mi g r a n t e s a l e mã e s , e q u e n u n c a fo r a m r e s g a t a d o s ” ( H E R I N G , 1 9 8 7 , p . 7 1 ) .

Muitas foram as dificuldades encontradas pelos imigrantes para fortalecer o comércio da cidade. Outro imigrante que possuía comércio em Brusque era Eduardo Von Buettner, vindo da Silésia, que emigrou para o Brasil em 1851. Ele e sua família trouxeram o instrumental necessário para a fabricação de charutos, pois havia na colônia uma grande produção de fumo.

E m 1 8 7 5 , fi x o u - s e e m B r u s q u e , a d q u i r i n d o t e r r a s e m Á g u a s N e g r a s ( r u mo à s e r r a d e V i d a l R a mo s ) , n o d i s t r i t o d o C e d r o , n o B r i l h a n t e ( a c a mi n h o d e I t a j a í ) e n o B a ú ( e m B l u me n a u ) . E x p l o r o u i n i c i a l me n t e a ma d e i r a , p l a n t o u c a fé e c a n a - d e - a ç ú c a r , c o n s t r u i n d o u ma t o r r e fa ç ã o p a r a o s g r ã o s e u ma d e s t i l a r i a p a r a a p r o d u ç ã o d e á l c o o l , q u e d e v e r i a s e r v i r a o p r o j e t o d e i l u mi n a ç ã o d a V i l a d e I t a j a í . T r a n s fe r i n d o - s e d e Á g u a s N e g r a s p a r a o c e n t r o d e B r u s q u e , a b r i u u ma l o j a d e fa z e n d a s , s e c o s , mo l h a d o s e a r ma r i n h o s , g i r a n d o s u a a t i v i d a d e e m t o r n o d a p r o d u ç ã o a g r í c o l a d a r e g i ã o . ( H E R I N G , 1 9 8 7 , p . 7 1 ) .

Eduardo von Buettner faleceu em Brusque em 1902. Outro comerciante influente à época foi João Bauer, que nasceu em 13 de novembro de 1849, na Baviera, vindo para o Brasil com 11 anos de idade, em companhia de seu pai viúvo Balthazar Bauer. “João Bauer, assim, iniciou-se no Brasil e logo após teve de dedicar-se ao trabalho num engenho de serra, localizado na Guabiruba, a 12 km de Brusque, onde trabalhava, muitas vezes, até 24 horas por dia. Tal tipo de trabalho era,

na verdade, uma dura escola, que deixava pouca margem de lucro, o que desanimava o pai” (PIAZZA, 1974, p.28).

Por encontrar dificuldades em viver em Brusque, João Bauer

resolveu residir em Itajaí, onde iniciou suas atividades em uma padaria, como ajudante de padeiro. Com o trabalho, juntou algumas economias, que lhe permitiram a compra de terras em Guabiruba, onde já possuía um engenho de serra. Posteriormente abre uma loja em Brusque.

Em 1871, casa-se com Dª Maria Olinger, de origem luxemburguesa. Desse matrimônio nasceram os filhos João, Leopoldo, Matilde, Jacob, Augusto e Maria Rosa, sucessores nos negócios do pai.

A s u a c a s a c o me r c i a l , ‘ g r a ç a s a o s e u e s p í r i t o j o v i a l , b e m d i s p o s t o , p r o n t o a s e r v i r ’ , p a s s o u a c r e s c e r e a s e r v i r ‘ a q u a l q u e r h o r a d o d i a o u d a n o i t e , e m fe r i a d o s e me s mo a o s d o mi n g o s , q u a n d o o s c o l o n o s d o i n t e r i o r l h e t r a z i a m, a p ó s a mi s s a , o s s e u s p r o d u t o s a g r í c o l a s , e m t r o c a d e me r c a d o r i a s d e s e u c o mé r c i o ’ ( P I A Z Z A , 1 9 7 4 , p . 2 9 ) .

Além de produtos agrícolas, comercializavam-se madeiras da região. E m 1 8 9 0 , p a r a l e l a me n t e à v e n d a q u e ma n t i n h a c o m s u a mu l h e r , J o ã o B a u e r d e s e n v o l v e u s e u p r i me i r o p l a n o p a r a o a p r o v e i t a me n t o d a ma d e i r a d e e x c e l e n t e q u a l i d a d e d a r e g i ã o ( c a n e l a , p e r o b a , c e d r o , i mb u i a , ó l e o [ ? ] , c a mb a r á ) , q u e e r a d e s p e r d i ç a d a n o p r ó p r i o p r e p a r o d a s t e r r a s p a r a a fo r ma ç ã o d e r o ç a s . S e u p r o j e t o c o n s i s t i u n a o fe r t a d e c r é d i t o a o s c o l o n o s p a r a a c o mp r a d e 2 0 s e r r a s T i s s o t ( g r a d e v e r t i c a l c o m u ma l â mi n a ) e n a p o s t e r i o r e x p o r t a ç ã o d a s t á b u a s s e r r a d a s p e l o p o r t o d e I t a j a í . ( H E R I N G , 1 9 8 7 , p . 7 3 ) .

O porto de Itajaí era um dos maiores de Santa Catarina, através dele se realizavam as exportações de madeira e demais produtos

agrícolas da região do Vale do Itajaí. Houve, entretanto, uma significativa contribuição de João Bauer para o município de Brusque: a instalação de uma usina hidrelétrica que aproveitava uma bonita queda d’água do salto da Planície Alta. “Com esse empreendimento ‘lançou os fundamentos de novos tempos, impulsionando definitivamente a indústria têxtil de Brusque, na época representada por Carlos Renaux, Gustavo Schlösser, Edgar Buettner e Rodolfo Tietzmann e suas próprias indústrias’” (PIAZZA, 1974, p. 29). A usina hidrelétrica foi inaugurada em 13 de novembro de 1913. “Mas João Bauer teve outros empreendimentos como a instalação da primeira fábrica de tecidos de seda natural com teares de ferro, e fábrica de gelo, fazendas e armarinhos” (PIAZZA, 1974, p. 30).

O comerciante Carlos Renaux nasceu em Loerrach, no antigo Grão-Ducado de Baden, a 11 de março de 1862, filho de Johann Ludwig Renaux e Dª Sofia Ludin. Emigrou para o Brasil em 1882, com apenas 22 anos. R e n a u x d i r i g i u - s e i n i c i a l me n t e a B l u me n a u , p a r a a l o c a l i d a d e d e S a l t o W e i s s b a c h , p r o v a v e l me n t e e n c a mi n h a d o p o r L u í s A l t e n b u r g , j á me n c i o n a d o a n t i g o c o me r c i a n t e n a r e g i ã o , o q u a l o e mp r e g o u c o mo c a i x e i r o n o n e g ó c i o d e s e u g e n r o , T h e o d o r L ü d e r s . P o s t e r i o r me n t e fo i a G a s p a r , o n d e o p r ó p r i o A l t e n b u r g t i n h a u ma c a s a d e n e g ó c i o , c o n h e c e n d o a í a c u n h a d a d e s t e , S e l ma W a g n e r , p r o fe s s o r a e m B l u me n a u e fi l h a d o ma i s p r ó s p e r o c o l o n o d a r e g i ã o , o p i o n e i r o P e d r o W a g n e r ( H E R I N G , 1 9 8 7 , p . 7 5 ) .

Em 1884, passa a gerenciar a firma Asseburg & Wiilerding, tradicional no ramo do comércio de transporte de Blumenau e de Itajaí. No ano de 1888, vai para Brusque como gerente dessa firma,

estabelecendo-se por conta própria em 1890, colocando uma venda comercial. [ C a r l o s R e n a u x ] e mp r e g o u , c o n t u d o , p r i n c í p i o s c o me r c i a i s a t é e n t ã o d e s c o n h e c i d o s , o u me l h o r , n ã o u s a d o s n o l o c a l , a o s u b s t i t u i r a t r o c a e m e s p é c i e d a s me r c a d o r i a s p o r d i n h e i r o , e a o i mp r i mi r ma i o r e x a t i d ã o a e s s a s t r o c a s , p e s a n d o o s p r o d u t o s a g r á r i o s e e s c r e v e n d o a d i fe r e n ç a fa v o r á v e l a o s c o l o n o s , n o c r é d i t o d e s t e s . N a t u r a l me n t e e s s a s p r á t i c a s ma i s r a c i o n a i s t i v e r a m a c e i t a ç ã o g e r a l e s i g n i fi c a r a m o c r e s c i me n t o d e s u a v e n d a , a t a l p o n t o q u e , d e z a n o s a p ó s a v i n d a a o B r a s i l , e s t e v e p r o n t o a d a r o p a s s o d e c i s i v o n a h i s t ó r i a e c o n ô mi c a d e B r u s q u e , c r i a n d o s u a p r i me i r a i n d ú s t r i a . ( H E R I N G , 1 9 8 7 , p . 7 5 )

Também atuou na política local, sendo superintendente municipal (prefeito), presidente da câmara e deputado estadual em 1891. Assim, a indústria de Carlos Renaux teve início em 1892.

1.4.4 Blumenau

Nessa região havia, em 1861, cinco casas comerciais, passando para 27 em 1885. “A maior, fundada em 1855, além da venda semi- oficial de Victor Gaertner, sobrinho do doutor Blumenau, era Mayer e Spierling, que, segundo referências, foi liquidada em 1884, devido à oscilação de preços, causando grandes transtornos à população.” (HERING, 1987, p. 65). Nessa época, diversos eram os produtos exportados de Blumenau para a Alemanha.

N a e x p o r t a ç ã o , o s n o me s ma i s t r a d i c i o n a i s fo r a m o s d e V i c t o r G a e r t n e r , j á c i t a d o ( ma n t e i g a , o v o s , l i n g ü i ç a ) ; J e n s J e n s e n ( ma n t e i g a , b a n h a , o v o s , l i n g ü i ç a e a l g u n s p r o d u t o s c o l o n i a i s ) ; F r i d e n r e i c h ( c e r v e j a ) ; H o s a n g ( c e r v e j a ) ; R i s c h b i e t e r ( c e r v e j a ,

fu mo , c h a r u t o s , v i n a g r e , o v o s , ma n t e i g a , l i n g ü i ç a , b a n h a ) ; B a y e r ( i d e m) ; K r u e g e r ( g a l i n h a s , ma n t e i g a , o v o s , t o u c i n h o , p e l e s d e c a ç a , a r a r u t a , mi l h o , fa r i n h a d e mi l h o ) ; P r o b s t ( fu mo e t c . ) ; L a n g e ( g a l i n h a s , ma n t e i g a , b a n h a , a r r o z , l i n g ü i ç a , t o u c i n h o , c a r n e s a l g a d a e mi l h o ; P e t e r s e W i l l e ; H a r t w i g B a u mg a r t e n ( g a l i n h a , o v o s , l i n g ü i ç a , t o u c i n h o , ma n t e i g a , a r a r u t a ) ; S c h r a d e r ( a r r o z ) e H o l e t z ( H E R I N G , 1 9 8 7 , p . 6 5 )

Em algumas dessas casas comerciais realizaram importação de produtos como ferragens, combustíveis, cimento, porcelanas e vidros, tintas, drogas, tecidos, artigos de moda. Isso favoreceu o crescimento econômico da região. A firma, Paul & Cia foi a primeira casa comercial a promover a importação direta da Alemanha.

Também outras iniciativas ocorreram nessa região para incrementar crescimento econômico. Podemos citar o sócio da firma Salinge & Cia.:

F e d d e r s e n d e s e n v o l v e u u ma s é r i e d e a t i v i d a d e s v o l t a d a s a o b e n e fi c i a me n t o d o s p r o d u t o s r e g i o n a i s , v i s a n d o u ma p r o d u ç ã o ma i s h o mo g ê n e a q u e a s s e g u r a s s e me l h o r e s c o n d i ç õ e s d e c o n s e r v a ç ã o e e x p o r t a ç ã o . I n s t a l o u mo i n h o s d e fa r i n h a , d e s c a s c a d o r e s d e a r r o z , s e r r a r i a s e me l h o r o u a c u l t u r a d o fu mo , s e l e c i o n a n d o s e t e d i fe r e n t e s q u a l i d a d e s , e x p o r t a d a s p a r a o me r c a d o a l e mã o . P a r a a e mb a l a g e m d o s p r o d u t o s d e s e n v o l v e u fá b r i c a s d e c a i x a s , d e a r a me fa r p a d o e l a t o a r i a . P a r a l e l a me n t e p r e s t o u a s s i s t ê n c i a a o s c o l o n o s , fo r n e c e n d o - l h e s t é c n i c a s ma i s a p r i mo r a d a s d e p r o d u ç ã o a o s u b s t i t u i r , p o r e x e mp l o , o s a n t i q u a d o s c i l i n d r o s d e ma d e i r a , n a mo a g e m d a c a n a , d e p o u c o r e n d i me n t o , p o r mo e n d a s d e fe r r o , e i n t r o d u z i u t a mb é m t a c h o s d e c o b r e , g r a n d e s e r a s o s , p a r a o c o z i me n t o d a g a r a p a , a s s i m c o mo a l a mb i q u e s p a r a o fa b r i c o d a c a c h a ç a . A fi r ma fo i a o me s mo t e mp o r e s p o n s á v e l p e l a i n t r o d u ç ã o d e c e n t r í fu g a s d e l e i t e e má q u i n a s d e c o r t a r fo r r a g e n s , a p r i mo r a me n t o s t é c n i c o s q u e s e e s p a l h a r a m p o r t o d a a r e g i ã o ( H E R I N G , 1 9 8 7 , p . 6 6 ) .

Em outros momentos, essas iniciativas provocariam o surgimento das primeiras indústrias da região. Através das casas comerciais de beneficiamento se originaram as indústrias de beneficiamento agropecuário, sobretudo do leite, passando logo em seguida para a exportação da manteiga. “Foi assim que se originou a Companhia Jensen, fundada em 1867 por Jens Jensen, marinheiro do Mar do Norte. Jensen instalou-se em Blumenau como colono e pequeno comerciante, expandindo sua firma na agricultura e na indústria e comércio de derivados de pecuária” (HERING, 1987, p. 67).

Outras firmas de beneficiamento surgiram no município, tais como Hermann Weege S.A. (1901) e Hardt (1905). Segundo HERING (1987), a indústria surgiu como alternativa e causa de desenvolvimento econômico no Vale do Itajaí a partir do momento em que o solo, após trinta anos de exploração contínua, manifestou sinais de esgotamento, sem que houvesse intenções ou projetos para a recuperação do sistema produtivo de pequena propriedade.

Assim, a agricultura deixa de ser a principal atividade econômica na região, surgindo o processo de industrialização.

CAPÍTULO II

2.1 INTRODUÇÃO: REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO SÉCULO XVIII

Durante a revolução industrial3 ocorrida na segunda metade do

século XVIII, foram introduzidas inovações tecnológicas em diversos países.

Tal revolução se materializou com a introdução da maquinaria e criação do sistema de fábrica, provocando diversas mudanças de ordem econômica, política e social em vários países. Uma delas foi a redução do número de trabalhadores, transformando drasticamente as suas qualificações, em diversas fábricas, dando origem à revolta contra esses efeitos, levando a intensos conflitos entre a classe trabalhadora e os proprietários das fábricas.

A c l a s s e mé d i a v i t o r i o s a e o s q u e a s p i r a v a m a e s s a c o n d i ç ã o e s t a v a m c o n t e n t e s . O me s mo n ã o a c o n t e c i a a o s p o b r e s , a o s t r a b a l h a d o r e s ( q u e , p e l a p r ó p r i a e s s ê n c i a , c o n s t i t u í r a m a ma i o r i a ) , c u j o mu n d o e c u j o e s t i l o d e v i d a t r a d i c i o n a l t i n h a m s i d o d e s t r u í d o s p e l a R e v o l u ç ã o I n d u s t r i a l , s e m q u e fo s s e m s u b s t i t u í d o s a u t o ma t i c a me n t e p o r q u a l q u e r o u t r a c o i s a . ′ É e s s a d e s a g r e g a ç ã o q u e fo r ma o c e r n e d a q u e s t ã o d o s e fe i t o s s o c i a i s d a i n d u s t r i a l i z a ç ã o ( H O B S B A W M , 1 9 8 6 , p . 7 9 ) .

Como se viu, a industrialização também propiciou desajustes sociais de tal ordem que a classe dos menos favorecidos, a dos trabalhadores, apresentava problemas de moradia e saúde, devidos às condições insalubres no trabalho e aos salários baixos que percebiam, mal permitindo a sua sobrevivência.

3 As palavras ‘revolução industrial’- com letras minúsculas - costumam referir-se ao complexo de inovações tecnológicas que, substituindo a habilidade humana pelas máquinas e a força humana e animal pela energia da fonte inanimada, introduzem uma mudança que transforma o trabalho artesanal em fabricação em série e, ao fazê-lo, dão origem a uma economia moderna (LANDES, 1994, p.05).

A l u d i r e mo s d e p a s s a g e m à s c o n d i ç õ e s ma t e r i a i s e m q u e s e r e a l i z a o t r a b a l h o n a fá b r i c a . O s ó r g ã o s d o s s e n t i d o s s ã o t o d o s e l e s i g u a l me n t e p r e j u d i c a d o s p e l a t e mp e r a t u r a a r t i fi c i a l me n t e e l e v a d a , p e l a a t mo s fe r a p o l u í d a c o m o s r e s í d u o s d a s ma t é r i a s - p r i ma s , p e l o b a r u l h o e n s u r d e c e d o r e t c . , p a r a n ã o fa l a r mo s d o p e r i g o d e v i d a q u e a d v é m d a s má q u i n a s mu i t o p r ó x i ma s u ma d a s o u t r a s , a s q u a i s p r o d u z e m s u a l i s t a d e a c i d e n t e s [ . . . ] A d i r e t r i z d e e c o n o mi z a r o s me i o s s o c i a i s d e p r o d u ç ã o , d i r e t r i z q u e s e c o n c r e t i z a d e ma n e i r a c a b a l e fo r ç a d a n o s i s t e ma d e fá b r i c a , l e v a o c a p i t a l a o r o u b o s i s t e má t i c o d a s c o n d i ç õ e s d e v i d a d o t r a b a l h a d o r d u r a n t e o t r a b a l h o . O c a p i t a l u s u r p a - l h e o e s p a ç o , o a r , a l u z e o s me i o s d e p r o t e ç ã o c o n t r a a s c o n d i ç õ e s p e r i g o s a s o u i n s a l u b r e s d o p r o c e s s o d e t r a b a l h o , p a r a n ã o fa l a r mo s n a s me d i d a s n e c e s s á r i a s p a r a a s s e g u r a r a c o mo d i d a d e d o t r a b a l h a d o r ( M A R X , 1 9 8 9 , p . 4 8 8 ) .

A industrialização não só provocou mudanças significativas na vida do trabalhador, como alterou todo o processo de trabalho nas fábricas. Surge então nas indústrias uma disciplina que é imposta ao trabalhador pelas máquinas e pelos supervisores, reconhecendo que todos os minutos da jornada de trabalho são importantes para aumentar a produção. A mão-de-obra era constituída de homens, mulheres e crianças; não havendo no início da industrialização jornada de trabalho definida. Ocorre, então, minuciosa divisão do trabalho, facilitando a produção em larga escala, aumentando assim o lucro do capitalista.

A s u b o r d i n a ç ã o t é c n i c a d o t r a b a l h a d o r a o r i t mo u n i fo r me d o i n s t r u me n t a l e a c o mp o s i ç ã o p e c u l i a r d o o r g a n i s mo d e t r a b a l h o fo r ma d a d e i n d i v í d u o s d e a mb o s o s s e x o s e d a s ma i s d i v e r s a s i d a d e s , c r i a m u ma d i s c i p l i n a d e c a s e r n a , q u e v a i d o e x t r e mo r e g i me i n t e g r a l d a fá b r i c a . P o r i s s o , d e s e n v o l v e - s e p l e n a me n t e o t r a b a l h o d e s u p e r v i s ã o [ . . . ] d i v i d i n d o - s e o s t r a b a l h a d o r e s e m t r a b a l h a d o r e s ma n u a i s e s u p e r v i s o r e s d e t r a b a l h o , e m s o l d a d o s r a s o s e e m s u b o fi c i a i s d o e x é r c i t o d a i n d ú s t r i a ( M A R X , 1 9 8 9 , p . 4 8 5 ) .

A divisão do trabalho passa a existir nas fábricas e surge também a divisão de classes em capitalistas e trabalhadores, estes classificados em diversos cargos, dependendo do papel que executavam no processo produtivo. A fá b r i c a p a s s o u a s e r ma i s d o q u e u ma u n i d a d e d e t r a b a l h o d e ma i o r e s d i me n s õ e s . T o r n o u - s e u m s i s t e ma d e p r o d u ç ã o b a s e a d o n u ma d e fi n i ç ã o c a r a c t e r í s t i c a d e fu n ç õ e s e r e s p o n s a b i l i d a d e s d o s d i fe r e n t e s p a r t i c i p a n t e s d o p r o c e s s o p r o d u t i v o . D e u m l a d o , h a v i a o e mp r e g a d o r , q u e n ã o a p e n a s c o n t r a t a v a a mã o - d e - o b r a e c o me r c i a l i z a v a o p r o d u t o a c a b a d o , ma s t a mb é m fo r n e c i a o e q u i p a me n t o fu n d a me n t a l e s u p e r v i s i o n a v a s e u u s o . ( L A N D E S , 1 9 9 4 , p . 6 ) .

É a exploração do trabalhador pelo capitalista: o trabalhador detentor da força de trabalho e o capitalista detentor do dinheiro. O trabalhador necessita vender sua força de trabalho aos capitalistas; estes lhes pagam determinado salário, obtendo grandes lucros.

“O trabalhador, não mais capaz de possuir e fornecer meios de produção e reduzido a condição de operário (palavra que é significativa e simboliza bem essa transformação de produtor em simples trabalhador)” (LANDES, 1994, p.6).

A classe trabalhadora, ao produzir acumulação do capital, produz, em proporções crescentes, os meios que fazem dela, uma população excedente, que constitui um exército industrial de reserva de trabalhadores disponíveis no mercado de trabalho para responder às necessidades de mão-de-obra que os capitalistas possam vir a ter. Tais modificações ocorreram durante a revolução industrial, mais especificamente na Grã-Bretanha, afetando todos os países do mundo, entre eles a Alemanha.

drenagem, irrigação, mistura de solo arenoso com argila e calcário, terraceamento dos morros e o uso mais racional de fertilizantes com o estudo da química do solo, importação de guano e emprego de fosfatos e nitratos. Ocorre nesse período a utilização de máquinas agrícolas como: arado metálico, ceifadeira, debulhadeira etc. Na pecuária também há modificações para melhorar a qualidade da carne. Quando se tornou evidente que podiam ser alcançados altos lucros na agricultura, os senhores proprietários da terra exigiram mais dos camponeses e estes, que pagavam pelo uso da terra, reivindicavam a abolição das obrigações servis. Aparecem conflitos entre os proprietários da terra e os camponeses. Os proprietários de terras transformam-se em capitalistas querendo cada vez mais lucros para aplicar em novos investimentos, enquanto o camponês, cada vez mais explorado, transforma-se em trabalhador assalariado. Essas transformações tecnológicas ampliaram a produção que, a partir de certo momento, excedeu os meios de subsistência disponíveis, desencadeando o processo imigratório de alemães para os Estados Unidos, para o Brasil e para a Austrália em busca de um novo mundo.

2.2 DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL NO VALE DO ITAJAÍ