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O DESVELAMENTO E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS CONHECIMENTOS A RESPEITO DO PROBLEMA DA PESQUISA: COLETA DE DADOS, PESQUISA

1 OS CAMINHOS DA PESQUISA, A PESQUISA DOS CAMINHOS

1.3 O DESVELAMENTO E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS CONHECIMENTOS A RESPEITO DO PROBLEMA DA PESQUISA: COLETA DE DADOS, PESQUISA

1.3 O DESVELAMENTO E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS CONHECIMENTOS A

Sabe-se que o perfil dos professores da Educação Básica da RPE-DF - SEEDF ainda não foi objeto de estudo aprofundado, muito menos os de Geografia. Sendo assim, esse trabalho se justifica pelo seu ineditismo e pela sua utilidade, não só para minha própria pesquisa, mas para as demais enquanto material de base. A meta é conhecer e analisar o perfil profissional dos professores efetivos de Geografia que estão atuando em sala de aula, direção ou coordenação, nas escolas públicas da RPE-DF. O nosso principal questionamento para essa etapa de pesquisa é: qual(is) é(são) o(s) perfil(s) dos professores de Geografia que atuam nas escolas públicas do Distrito Federal?

A constituição do perfil do professor de Geografia da RPE-DF se constituiu tanto em uma pesquisa de base, como também em uma pesquisa aplicada. Pesquisa de base, pois subsidia informações de referência não apenas para esta pesquisa, mas para outras que busquem desvendar e explorar os meandros do ensino, da formação e do desenvolvimento profissional dos professores de Geografia do DF. A princípio a identificação do perfil dos professores assume o papel de uma pesquisa descritiva, pois sua meta é delimitar e conhecer as características gerais do público-alvo da pesquisa, nos permitindo uma visão aproximada do todo. Posteriormente, essas informações foram aplicadas para qualificar a interpretação e a compreensão das informações obtidas por meio dos formulários eletrônicos. Essa visão telescópica é necessária para uma aproximação e compreensão mais qualificada das esferas de vida do professor e dos seus sistemas de valores. Desse modo, essa etapa subsidia a construção de uma pesquisa explicativa, na qual as informações coletadas serão confrontadas e estratificadas conforme os objetivos e propósitos de nossa pesquisa científica com vistas a desvelar os contornos sociais e as demandas profissionais que cercam a questão da pesquisa na RPE-DF - SEEDF.

Nesse sentido, essa etapa da pesquisa foi de caráter quali-quantitativo com base em coleta de dados realizada no Sistema Integrado de Gestão de Pessoas – SIGEP da SEEDF. Os dados obtidos estão em conformidade com a Lei Nº 4.990, de 12 de dezembro de 2012, que regula, especialmente, o acesso a informações no Distrito Federal. Tal arcabouço legal, em seu artigo 33, difere que "o tratamento das informações pessoais deve ser feito de forma transparente e com respeito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas, bem como às liberdades e às garantias individuais" e isenta de consentimento expresso da pessoa a que elas se refiram desde que utilizadas para "II – à realização de estatísticas e pesquisas científicas de evidente interesse público ou geral, previstos em lei, sendo vedada a identificação da pessoa a que as informações se referem" (DISTRITO FEDERAL, 2012). Obteve-se,

igualmente, a autorização da Diretoria de Organização do Trabalho Pedagógico e Pesquisa da Subsecretaria de Formação Continuada dos Profissionais da Educação – EAPE, responsável pelos aceites de pesquisa, e da Subsecretaria de Gestão de Pessoas – SUGEP, setor responsável pelo sistema de coleta de dados indicado pela pesquisa (SIGEP) (ANEXO A).

Dessa forma, as informações foram coletadas e tabeladas conforme interesse estatístico, ou seja, sem identificação pessoal ou qualquer outra informação que pudesse revelar a identidade pessoal desses profissionais. Essa tabulação envolveu o trabalho em software específico de tabelas (Excel). O recorte temporal dessa análise de dados se deu como base na modulação de professores do 1º semestre de 2021. Nesse caminho, foram tabeladas as seguintes informações: sexo; idade; ano de admissão; referência salarial; região administrativa de residência; Estado de origem (naturalidade); cor/raça; área de formação na pós-graduação:

especialização, mestrado e doutorado; carga horária e o quantitativo desses professores que estão ocupando o cargo de direção (diretor, vice-diretor e supervisor). Realizamos a seguinte observação a respeito do marcador sexo: consideramos que a categoria Gênero pode melhor evidenciar as questões sociais que afetam aos corpos (LOURO, 1997), como dos professores e professoras de Geografia da RPE - SEEDF. No entanto, seguimos aqui usando a categoria sexo para manter a fieldade aos dados gerados pelo SIGEP e outros documentos que utilizam esse marcador binário.

Essas informações foram categorizadas e transformadas em estatísticas com a finalidade de compreender a quantidade, porcentagem, distribuição, padrões e qualidades. Elas subsidiaram igualmente a produção de mapas, principalmente, em relação ao estado de origem (naturalidade), à Região Administrativa de residência e à Região Administrativa de trabalho dos professores.

Outra etapa percorrida é a da pesquisa documental. A ideia de documento em que fazemos referência neste estudo é a de material escrito, registro histórico e legal, testemunha de um arcabouço teórico e jurídico, constituindo-se em uma fonte confiável que serve de meio de comunicação, consulta, estudo ou prova. Nessa ordem, a pesquisa documental possibilita comparar conhecimentos e criar formas de se compreender os fenômenos (KRISKA;

SCHELLER; BONOTTO, 2015; FLICK, 2009). O primeiro exercício para a delimitação dos documentos se baseou em respostas de informações solicitadas por meio do Sistema Eletrônico de Informações ao Cidadão (e-SIC) à Administração Pública do Distrito Federal. A primeira solicitação se deu em 18/12/2018 e a última em 08/03/2022, totalizando vinte e dois pedidos (ANEXO E). As respostas dessas solicitações pela administração pública geraram documentos

oficiais com quantitativos, informações qualitativas e indicações de arcabouços teóricos e legais que serviram de base para a seleção dos documentos que foram aprofundados nessa pesquisa.

Com a leitura minuciosa das informações solicitadas e o amadurecimento da pesquisa pudemos descartar algumas informações e selecionar os documentos de nosso interesse. Por isso, pode-se dizer que, sob o crivo de nossa questão de pesquisa, os documentos dessa pesquisa se caracterizam por serem dados estatísticos e instrumentos legais que regulam a Rede Pública de Ensino do Distrito Federal e retratam o espaço geográfico desse meio, questões de ensino e gestão de pessoas; são eles: memorandos, despachos, leis, decretos, portarias, avaliações institucionais, editais de concurso e documentos de referência.

Após a exploração da diversidade de documentos que poderiam ser úteis para os propósitos de pesquisa e a seleção do material, buscou-se realizar nova leitura do material com objetivo de captar as ideias centrais, a lógica e o contexto do texto. Nota-se que o adequado processo de extração de informações e interpretação dos documentos, somente foi possível, devido à estrutura teórica desenvolvida por essa tese e o conjunto de saberes e valores que são reflexo da vida e busca desse pesquisador que vos fala. Como processo, consideramos a pesquisa documental como uma etapa percorrida com a finalidade de subsidiar um processo mais complexo, o de análise de conteúdo. Na análise documental, muitas vezes, os fins são as ideias centrais do texto, a sua síntese e a sua contextualização. Em análise do conteúdo, por meio da pesquisa em documentos, os fins estão para além, pois abarcam as perguntas que se fazem ao texto e aquilo que o autor quer subtrair de acordo com seus interesses de pesquisa (MENDES; MISKILIN, 2017; SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009).

Após tratar dessas fontes secundárias, nos reportamos a respeito de nossa principal fonte primária de pesquisa, o formulário eletrônico. Essa fonte captou informações diretamente dos professores de Geografia, a respeito deles próprios e da dimensão da pesquisa no espaço da RPE-DF, os nossos objetos de pesquisa. A sua construção foi uma das últimas etapas realizadas no processo de construção do projeto de qualificação. Isso se deu com o objetivo que esse instrumento refletisse a estrutura de ideias e conceitos desenvolvidos pela pesquisa. Portanto, trata-se de um dos produtos mais elaborados e próprios do trabalho de tese. Ele reflete as principais preocupações e ambições da investigação do pesquisador.

Inicialmente, propus um formulário eletrônico de sessenta questões a serem aplicados para um grupo menor de professores, dez, em três etapas. Após orientações da banca de qualificação e aplicação do formulário de teste, reduzi o quantitativo de questões para 27 (vinte e sete) e ampliei a expectativa do quantitativo de participantes (todos os professores efetivos, que estivessem em contexto de escola no primeiro semestre de 2021). Para redução das questões

optamos pela categorização do formulário em seções a fim de obter questões centrais sem perder as essências desenhadas inicialmente. Buscou-se refletir sobre todo o processo de construção da tese: iniciamos com as questões afetivas que envolviam o professor, posteriormente partimos para questões mais técnicas e objetivas e, por fim, buscamos entender o posicionamento do professor a respeito da pesquisa e qual proposições ele faria para melhorar o espaço da escola, o ensino e o seu desenvolvimento profissional.

O formulário-teste foi aplicado aos integrantes do GEAF, grupo composto sobretudo por estudantes e ex-estudantes da Pós-graduação em Geografia da UnB. Trata-se de coletivo composto por professores do Distrito Federal e dos estados da Bahia, Minas Gerais, Paraíba e Piauí, das esferas pública e privada, ativos e aposentados. Preencheram o formulário, entre os dias de 12/07/2021 aos de 26/07/2021, um total de 13 (treze) pessoas. A intenção foi analisar a formulação das perguntas, se as respostas recebidas eram as esperadas e que pontos poderiam ser subtraídos ou melhorados, levando em consideração as questões pontuadas pelos participantes. Na parte final do formulário, disponibilizou-se uma avaliação para os participantes. É importante salientar aqui que, para a execução dessa tapa de pesquisa, obtivemos a autorização da Diretoria de Organização do Trabalho Pedagógico e Pesquisa da EAPE (ANEXO B), o aceite Institucional da SEEDF (ANEXO C) e a autorização do Comitê de Ética em Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais CEP/CHS da Universidade de Brasília – UnB (ANEXO D). Dessa forma, propomos um formulário eletrônico (APÊNDICE A) que se estruturou da seguinte forma (QUADRO 1).

Quadro 1 – Elementos que estruturaram a construção do formulário de pesquisa.

Seção Modos Metas

TERMO DE CONSENTIMENTO

LIVRE E ESCLARECIDO (1)

- Pergunta de resposta curta; - Informar sobre a pesquisa e registrar o aceite ou não do professor em participar da pesquisa

Qualidades, sentimentos e motivação dos professores (2)

- Pergunta de resposta longa;

- Grade de múltipla escolha;

-Pergunta objetiva com opção de comentário;

- Escala linear;

- Reconhecer as qualidades humanas e profissionais, os sentimentos com a escola e a motivação profissional

O espaço da pesquisa na formação e na atuação profissional

do professor (3)

-Grade de múltipla escolha;

- Identificar o espaço e a importância da pesquisa na formação, no desenvolvimento profissional e no ensino;

Condições de trabalho para a

educação pesquisadora pelo

professor pesquisador (4)

- Pergunta de resposta longa;

- Grade de múltipla escolha;

- Conhecer as condições de trabalho para o desenvolvimento de processos mais elaborados de ensino;

Perspectivas, domínio técnico, autonomia e autoria

do professor de Geografia (5)

- Pergunta de resposta longa;

- Grade de múltipla escolha;

- Conhecer o entendimento do professor em relação ao ensino de Geografia e, por meio da autoavaliação, o grau de sua autonomia e autoria em suas unidades escolares;

Elaboração e complexidade do

professor de Geografia (6)

- Grade de múltipla escolha;

- Reconhecer o nível de elaboração e complexidade de processos de ensino e pesquisa desenvolvido pelo professor;

Tempo, nível de pesquisa e espaço do

professor pesquisador (7)

- Caixas de seleção;

- Pergunta de múltipla escolha;

- Pergunta objetiva;

- Pergunta de resposta curta e longa.

- Reconhecer o uso do tempo profissional, o nível de pesquisa desenvolvido pelo professor, bem como sua concepção e percepções a respeito do termo professor pesquisador;

Fonte e elaboração: Rodrigo Capelle Suess, 2022.

A coleta de dados, a pesquisa documental e o formulário de pesquisa foram instrumentos de pesquisas que forneceram as tessituras textuais e numéricas que foram interpretadas e analisadas pelo mecanismo da análise de conteúdo. O arcabouço teórico e metodológico para a operacionalização desse feito foi aprendido, especialmente, a partir de obras de Bardin (1977) e Franco (2005). De acordo com a definição clássica de Bardin (1977, p. 38), a análise de conteúdo é um “[...] conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Como mecanismo, a entendemos enquanto instrumentos metodológicos combinados e organizados que se aplicam com o objetivo de produzir inferências acerca de discursos, dados verbais e/ou simbólicos, extraídos a partir de questionamentos e observações de interesse da pesquisa e do pesquisador.

Com isso, busca-se tanto elementos objetivos e concretos do texto como o desvelamento de seus meandros, o que se encontra escondido, oculto, de difícil acesso, o não dito, no qual a objetividade e subjetividade, a quantidade e a qualidade se encontram e se entrelaçam. Essa busca exige do pesquisador uma constante vigilância, leitura, verificação e interpretação críticas, atentas, prudentes e producentes. O investigador maneja desde informações simples a informações complexas e combinadas por meio de técnicas de análises. Como uma lupa, e com as operações adequadas, é possível observar, descrever, analisar, inferir e interpretar os fenômenos e contextos, suas causas e efeitos. Trata-se de uma importante ferramenta de seleção, organização, classificação, codificação, categorização, inferência, interpretação e respaldos para a busca de sonhos possíveis, territórios desconhecidos.

O ponto de partida da análise de conteúdo é a mensagem e o caminho é o desvelamento de significados e sentidos, seus padrões, tendências e singularidades, além de explorar as suas condições contextuais de produção. Enquanto o significado capta os contornos essenciais de determinado objeto ou fenômeno, os sentidos estão em uma posição particular de visão desses contornos, refere-se à atribuição de um significado pessoal e toda sua amálgama de subjetividade. Sendo assim, a graduação e gradiente de técnicas estão para a descoberta da diversidade de graduação e gradiente de sentidos. Para isso, recorre-se às combinações de possibilidades em uma busca descritiva, analítica e interpretativa (FRANCO, 2007). Ciente das possibilidades de análise de conteúdo de Bardin (1977) e de Franco (2007) e de acordo com o meu percurso e a minha identidade de pesquisa, proponho a seguinte versão para a investigação (FIGURA 4).

O primeiro passo, a Identificação, Descrição e Percepção, se reverteu em identificar o que escolhemos trabalhar, tratando-se de uma visão geral e exploratória do objeto ou fenômeno por meio da descrição dos seus principais aspectos. A descrição, nessa lógica, se mostra em uma arte de grafar o que foi abstraído, sentido e pensado pela pessoa que descreve. Quanto mais rica será quando maior for o universo de palavras e de experiências do descritor; quanto maior for o seu estágio de consciência, sua riqueza de conceitos e entendimentos. A descrição precede a necessidade da explicação, pois ela compõe tudo aquilo que precisa ser caracterizado e identificado para a formulação de uma compreensão. A descrição sempre é seleção e exclusão e pode referir-se desde a apresentação daquilo que se percebe ou que se sente até a o relato de uma realidade seguindo uma régua de critérios e filtros. Por essa razão, a descrição é uma leitura dos elementos visíveis dos objetos e fenômenos pesquisados e “[...] são úteis instrumentos para pensar quando criam quadros no quais os elementos observados são organizados de forma sistemática” (GOMES, P., 2017, p. 126). Em diversas questões debatidas por esse trabalho, trazemos também a percepção dos professores a respeito do(s) elemento(s) avaliados.

Figura 4 – Etapas realizadas para a análise de conteúdo da tese.

Fonte: Rodrigo Capelle Suess, 2022.

Novo Senso Comum

Inferência, interpretação e imaginação (proposição) Classificação, Análise e Síntese

Identifcação, Descrição e Percepção

No próximo passo, deslumbra-se o rompimento com o que é apenas aparente e evidente por meio da divisão, organização, decomposição e (re)composição do objeto ou fenômeno que se estuda. Nos referimos à classificação, análise e síntese. O exercício de realizar classificações revela-se como uma atividade de organização, no qual é possível dividir, separar, agrupar e (re)agrupar. Com isso, melhora-se o tratamento das informações disponíveis, cria-se um ordenamento, no qual outras informações podem se desvelar por meio do processo de indução, dedução e intuição. A classificação esteve presente em diversos momentos, como na constituição no perfil dos professores em que foram classificados os dados sobre as características biológicas (sexo e cor); históricas (data de nascimento e admissão na RPE-DF);

geográficas (onde nasceram, onde moram e onde trabalham), de formação e profissionais (área das formações, carga horária e funções). Para as questões subjetivas, utilizamos diversas classificações para análise e apresentação dos dados conforme o conteúdo inquerido.

A classificação possibilitou diversos processos de codificação por meio do tratamento do material e transformações de dados brutos em unidades. As unidades variaram conforme cada combinação e conteúdo explorado, mas podemos destacar as que se referem ao: tema, contexto, palavras-chave, valores, atitudes, crenças, tendências, direções, emoções e sentimentos, estados psicológicos, avaliações, frequência, intensidade, pensamentos, representações e construções mentais, acontecimentos e singularidades. Esse passo contou com o tratamento informático por meio de tabelas (Excel). Alguns mapas foram elaborados a fim de representar a espacialidade das informações coletadas e como produtos mais elaborados de representação e análise. Após o processo de decomposição do objeto, buscou-se por sua recomposição e (re)construção a partir do que foi revelado, e a partir do que se objetivou com a sua análise, para a construção da síntese.

A classificação preparou terreno para a análise. Essa se esforça para penetrar no objeto, se empreende violar o limite do observável e tangível. Busca-se a decomposição do objeto ou fenômeno, do todo em partes, ao quebrar, isolar, segmentar, peneirar, decantar, filtrar, reduzir, ampliar, desacelerar, acelerar... (LEFEBVRE, 1991; JAPIASSÚ; MARCONDES, 2001). Para facilitar a análise, decompor o conteúdo e extrair informações de interesse da pesquisa e do pesquisador, recorremos à formulação de categorias de análises. Por meio delas o conteúdo é enquadrado e filtrado em estruturas lógicas e interpretativas que ajudam direcionar o tratamento das informações para os propósitos da pesquisa.

Escolhemos como categorias de análise temática diversos questionamentos sob inspiração de Freire e Faundez (2017), que defenderam a pedagogia da pergunta. “[...] O início

do conhecimento, repito, é perguntar. E somente a partir de perguntas é que se deve sair em busca de respostas” (FREIRE e FAUNDEZ, 2017, p. 67). Dessa forma, as perguntas ajudam a inquirir o conteúdo a respeito das respostas que se quer obter em relação à realidade pesquisada.

A categoria de análise do espaço corroborou com a divisão, distribuição e análises específicas da Geografia (seu desenvolvimento teórico se deu no subcapítulo 4.1). E a categoria dimensional permitiu a exploração e o aprofundamento de feições do espaço e temas da pesquisa. Justapostas, ao lado dos mapas e gráficos, compõem o nosso quadro geográfico de pesquisa. (Figura 5).

Fazer parte do quadro significa estar exposto ao mesmo ambiente, encontrar conexões múltiplas pelo jogo de posições, partir da localização para pensar relações, julgar proximidades ou distâncias. [...] O quadro coloca variáveis no mesmo plano e demonstra a multiplicidade de possibilidades de análise com diferentes considerações sobre os outros aspectos que aí figuram (GOMES, P., 2017, p. 36)

Dessa maneira, os quadros geográficos são instrumentos de raciocínio e refletem uma forma geográfica de pensar, pois organizam o pensamento a partir da localização das coisas, pessoas e fenômenos. Montamos esse quadro na seguinte perspectiva: em linha vertical, realizamos seis (6) perguntas operacionais (categorias temáticas), sendo elas: 1. O que existe de favorável nessa dimensão para uma educação pesquisadora pelo professor pesquisador de Geografia? 2. Existe alguma característica que é desfavorável para a educação pesquisadora pelo professor pesquisador? 3. Qual é o espaço da pesquisa? Pode-se fazer inferência ou existe menção direta a ela? 4. Quais são os significados e sentimentos que envolvem o espaço geográfico da RPE-DF - SEEDF? 5. quais são os principais pontos e a contribuição do espaço geográfico da RPE-DF – SEEDF e do professor de Geografia para uma educação pública de melhor qualidade e, consequentemente, para o desenvolvimento de uma educação pesquisadora pelo professor pesquisador? 6. O que propomos para o desenvolvimento de uma educação pesquisadora pelo professor na RPE-DF - SEEDF?

Figura 5 – Quadro geográfico de pesquisa (análise de conteúdo).

Fonte: Rodrigo Capelle Suess, 2022.

Elas se cruzaram com dimensões pertencentes ao sistema de objetos (Infraestrutura e condições de trabalho, professores e estudantes); ao sistema de ações e gestão de pessoas (Requisitos básicos para o ingresso na carreira, Concurso público, Tabela salarial, Carga horária, Formação continuada, Incentivo aos estudos e à cultura) e o sistema de significados (Qualidades, sentimentos e motivação dos professores; Percepções, experiências e concepções de pesquisa na educação; Autoavaliação do professor a respeito de si mesmo e de suas unidades escolares; Concepção de pesquisa e de professor pesquisador e Posicionamento e proposições dos professores) conforme podemos ver na prática no final de nosso trabalho. Enquanto as quatro primeiras perguntas foram respondidas em quadros (QUADROS 18, 19, 20, 21, 22 e 23), a primeira pergunta foi utilizada como síntese dos resultados encontrados, e as duas últimas foram utilizadas como recursos de fechamento deste trabalho (CAPÍTULO 5).

No último passo instrumental, realiza-se a inferência, interpretação e imaginação (proposição). Quando falamos em inferência, nos referimos à capacidade de realizar a indução a partir dos fatos, ao observar regularidades, tendências, registrar e captar retratos e movimentos. Por se tratar de objetos e fenômenos sociais, o que tentamos desvelar não são leis exatas, mas aquilo que reflete o mundo vivido, o cotidiano, o movimento e as singularidades.

A interpretação se encontra na ordem de realizar leituras e conexões com outros contextos

possíveis. Nos referimos a um esforço de decifração, de compreensão, leitura e releitura do texto e do contexto (DARDEL, 2011; FREIRE, 2011)

A interpretação abre espaço para a imaginação, tratada especificamente nessa pesquisa como proposição. Como diria Bachelard (1978, p. 235), “é preciso que todos os valores tremam” e a imaginação faz com que isso aconteça, pois amplifica os nossos sentidos, conecta o real com a utopia, desenha espaços ainda não construídos ou pensados. “Nunca a imaginação chega a dizer: é só aquilo. Há sempre mais que aquilo” (BACHELARD, 1978, p. 253). Por ela antecipamos a projeção da experiência de nós mesmos em uma nova situação, em um novo mundo a ser trabalhado (SOKOLOWSKI, 2012). Nessa perspectiva, acreditamos que é a imaginação que nos move, que nos projeta e eleva a nossa alma para um novo amanhã, pois

“enquanto há sonhos, há vida” (GRATÃO, 2018, p. 5). Em continuidade, síntese, inferência, interpretação e imaginação, em busca de um novo senso comum, são etapas finais da análise de conteúdo dessa etapa, porém são também elementos fundadores da nossa última etapa de pesquisa.

1.4 SÍNTESE DOS RESULTADOS DA PESQUISA POR MEIO DE PERGUNTAS,