• Nenhum resultado encontrado

população podem influenciar o comportamento para reciclagem de resíduos. Renda, escolaridade, idade e sexo têm sido os principais determinantes para o

54 comportamento ambiental e para a participação em PCS. Entretanto, como a maioria dos estudos é realizada de forma isolada, o poder preditivo de variáveis sociodemográficos é questionável em razão da inconsistência dos resultados.

Alguns estudos indicam uma maior participação de mulheres em questões ambientais relacionadas à gestão de resíduos sólidos (BABAYEMI; DAUDA, 2009). Segundo Rezende (2005), mulheres são mais preocupadas que homens com questões relativas à qualidade de vida, que incluem questões sanitárias, o que poderia justificar sua maior participação no PCS em Ouro Preto (Tabela 3). No Paraná, por exemplo, a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos afirmou que a participação das mulheres foi determinante para a implantação de PCS, pois 90% das cem mil pessoas que foram capacitadas eram mulheres, que atuaram como agentes multiplicadoras, independente de partido político ou mudanças no governo (GATTI, 2007).

No entanto, o gênero parece não ter influenciado o comportamento para reciclagem dos moradores dos demais municípios estudados, uma vez que a participação foi bastante similar entre homens e mulheres nos municípios de Mariana e Itabirito; em Ouro Preto, houve um distanciamento maior entre os gêneros para participação no PCS de 34% e 53% (Tabela 3), corroborando os resultados encontrados por Afroz et al. (2009) e Omran et al. (2009), que não encontraram correlação entre o gênero e o comportamento para reciclagem.

Tabela 3 - Frequência relativa (%) dos entrevistados que participavam do Programa de Coleta Seletiva, segundo gênero.

Gênero Ouro Preto Mariana Itabirito

Masculino 33,8 67,0 70,8

Feminino 54,2 65,0 72,6

Fonte: Dados da pesquisa.

A idade é apontada como outro fator importante para a decisão dos indivíduos em separar os seus RSD visando à coleta diferenciada e a reciclagem, embora sua influência não tenha sido demonstrada em diversos estudos (SCHULTZ et al.,1995; OMRAN et al., 2009). Quando a idade é um fator determinante do comportamento nesse quesito, a maioria dos estudos relata que a disposição em separar os RSD com destino à reciclagem é maior em indivíduos mais velhos do que

55 em jovens. A maior disponibilidade de tempo de indivíduos mais velhos para separar os resíduos domiciliares tem sido apontada por diversos autores como justificativa para a influência da idade no comportamento para reciclagem (BLAINE et al., 2001; FENECH, 2002; MARTIN et al., 2006; BRUVOLL et al., 2002). No entanto, segundo

Jackson (2005), estudos transversais19 não levam em consideração o

comportamento dos jovens de um passado recente, que hoje são mais velhos, e

estudos longitudinais20 são necessários para uma avaliação conclusiva a respeito do

efeito da idade. Segundo Eagles e Demare (1999), a idade influencia diretamente na maturidade do indivíduo e no nível de consciência em se tratando de questões ambientais e sanitárias, o que poderia explicar o maior envolvimento dos moradores de Mariana e Ouro Preto com idade superior a 41 anos (Tabela 4).

Por outro lado, resultados contrários também são encontrados na literatura, evidenciando a maior participação de jovens do que cidadãos mais velhos na reciclagem de resíduos (AFROZ et al., 2009). Os estudos mostram que indivíduos jovens são ligeiramente mais responsáveis com o meio ambiente do que os mais velhos (CORRAL-VERDUGO; PINHEIRO, 1999) e percebem mais facilmente a necessidade e os benefícios da reciclagem que os indivíduos mais velhos (AFROZ et al., 2009), Tais estudos sugerem, porém, que determinantes internos como atitudes ambientais poderiam exercer maior influência no comportamento para reciclagem que as determinantes sociodemográficos como a idade, renda, escolaridade, etc..

Em Itabirito, a idade parece não ter influenciado a participação dos residentes no PCS, já que o comportamento foi similar entre as diferentes faixas etárias (Tabela 4), corroborando os resultados encontrados por Schultz et al. (1995) e Valle et al. (2005), que não encontraram correlação entre a idade e o comportamento para reciclagem.

A escolaridade é uma variável sociodemográfica que pode interferir no comportamento para reciclagem, pois correlação positiva entre educação formal e

19A pesquisa descritiva pode ser classificada, sob o aspecto temporal, em transversal e longitudinal.

Segundo Malhotra (2002), uma pesquisa transversal estuda o fenômeno em um determinado tempo, envolvendo a coleta de dados de uma amostra de uma população somente uma vez.

20 A pesquisa longitudinal avalia o fenômeno por um período de tempo substancial. O estudo utiliza

uma amostra fixa de elementos da população, a qual é medida repetidamente. A amostra permanece a mesma ao longo do tempo, de forma que as mudanças provocadas pelo tempo sejam identificadas na população.

56 comportamento favorável da população em relação ao meio ambiente e à disposição em separar os RSD vem sendo demonstrada por diversos autores (AFROZ et al., 2009; DAHLEN; LAGERKVIST, 2010; OWENS et al., 2000; CORRAL-VERDUGO; PINHEIRO, 1999; CALDEIRA, et al., 2009), embora conclusões similares não foram encontradas por outros autores (VALLE et al., 2004; OMRAN et al., 2009). No Brasil, segundo Pesquisa Nacional de Opinião (CRESPO et al., 2012), foi observado um aumento da percepção acerca do reconhecimento de problemas ambientais no país, da importância de seu enfrentamento e de ações favoráveis ao meio ambiente nos últimos 20 anos, sendo esta tendência predominante entre brasileiros com maior nível de escolaridade e residentes em áreas urbanas, independente do sexo e renda (CRESPO et al., 2012). Portanto, os resultados da Pesquisa Nacional de Opinião (CRESPO et al., 2012) evidenciam que o nível de escolaridade dos cidadãos está diretamente relacionado com uma maior consciência ambiental e maior sentimento de responsabilidade individual pelas consequências da ação humana no meio ambiente, atitudes que poderiam estimular o comportamento para reciclagem. Segundo Zikmund (2006), o conhecimento influencia na percepção e atitudes ambientais do cidadão e, desta forma, determina seu comportamento e tomada de decisão.

Tabela 4 - Frequência relativa (%) dos entrevistados que participavam do Programa de Coleta Seletiva, segundo faixa etária.

Faixa etária Ouro Preto Mariana Itabirito

Até vinte anos 50,5 57,6 75,0

21 a 30 anos 40,5 51,0 78,8

31 a 40 anos 28,1 64,7 70,4

41 a 50 anos 59,8 83,5 66,4

Acima de 51 anos 60,2 67,8 72,2

Fonte: Dados da pesquisa.

No presente estudo, a influência da escolaridade na participação no PCS foi diferente entre os municípios estudados. Em Ouro Preto, a participação no PCS foi maior entre indivíduos com ensino fundamental incompleto, enquanto em Itabirito, o maior comportamento para reciclagem foi verificado entre indivíduos com maior escolaridade (Ensino Superior Completo) (Tabela 5). Por outro lado, em Mariana, houve grande similaridade no comportamento para reciclagem para diferentes níveis

57 de escolaridade (Tabela 5), sugerindo que a educação formal não deve ser considerada como fator determinante do comportamento dos cidadãos em Mariana, sendo que outros fatores devem ser levados em consideração e investigados.

Tabela 5 - Frequência relativa (%) dos entrevistados que participavam do Programa de Coleta Seletiva, segundo escolaridade.

Escolaridade Ouro Preto Mariana Itabirito

Fundamental incompleto 73,1 53,2 63,2

Fundamental completo 33,6 70,0 67,6

Médio completo 45,8 76,6 71,7

Superior completo 40,8 67,3 100,0

Fonte: Dados da pesquisa.

Em geral, cidadãos com maior renda familiar tem mostrado um comportamento mais favorável ao meio ambiente e maior participação em PCS que indivíduos com baixa remuneração (CORRAL-VERDUGO; PINHEIRO, 1999; AFROZ et al., 2009). Há situações em que o efeito da renda está associado ao nível de escolaridade da população, pois indivíduos com maior nível de escolaridade tendem a ser melhor remunerados, indicando, portanto, um efeito conjunto destes determinantes sociodemográficos no comportamento para reciclagem (AFROZ et al., 2009). Por outro lado, quando avaliado isoladamente, o maior poder aquisitivo contribui para eliminar vários fatores que poderiam desmotivar a participação da residência na coleta seletiva. Para famílias com salários mais elevados, a separação dos RSD geralmente não é uma tarefa extra para nenhum de seus membros, já que normalmente um (a) funcionário (a) é contratado para realizar as tarefas rotineiras domésticas, que também incluem a separação dos RSD e sua disposição para fins de coleta (AFROZ et al., 2009; ADEBO; AJEWOLE, 2012). Desta forma, a conveniência do cidadão em se tratando da distância entre sua residência aos pontos de coleta, do desconforto relacionado às tarefas de separação,

acondicionamento e remoção dos RSD, considerada um trabalho “sujo”, bem como

o tempo dispensado para a disposição dos resíduos não seriam fatores limitantes à participação do domicílio no PCS (AJAYAN, 2003).

Por outro lado, para populações de baixa renda, que se deparam frequentemente com inúmeros outros problemas, a melhoria na gestão de RSU não é vista por elas como uma prioridade ou necessidade, o que compromete o sucesso

58 na implementação de PCS decorrente da falta de participação dos moradores. Nesta situação, mudanças de comportamento em comunidades de baixa renda podem ocorrer através da educação ambiental e consultas à comunidade sobre seus problemas e prioridades relacionadas à gestão de RSU, para que soluções sejam encontradas conjuntamente (PROCHNOW; ROSSETTI, 2010).

Em Mariana, a participação no PCS predominou entre indivíduos com menor renda familiar mensal (abaixo de um salário mínimo), enquanto em Ouro Preto e Itabirito a participação foi similar entre as diferentes faixas de renda familiar mensal (Tabela 6).

Tabela 6 - Frequência relativa (%) dos entrevistados que participavam do Programa de Coleta Seletiva, conforme renda familiar mensal.

Renda familiar

mensal Ouro Preto Mariana Itabirito

Até 1 S.M. 42,9 100,0 77,8

1-2 S.M. 49,8 43,8 67,4

Acima de 2 S.M. 46,4 79,0 74,2

Fonte: Dados da pesquisa.

De maneira geral, a inconsistência dos resultados obtidos para os municípios estudados dificulta a interpretação do efeito das variáveis sociodemográficas no comportamento para reciclagem dos moradores da microrregião de Ouro Preto, o que confirma a conclusão de Warlop et al. (2001), que considera as características demográficas fracas preditoras do comportamento para reciclagem dos indivíduos das populações.

6.4. Conhecimento sobre questões relacionadas aos RSU e à coleta seletiva

Documentos relacionados