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2.3 DIREITOS E ENCARGOS DOS CONDÓMINOS

2.3.2 Encargos dos condóminos

2.3.2.2 Dever de contribuir para as despesas relativas às inovações

Os artigos 1425.º e 1426.º do Código Civil português apresentam regras relacionadas às obras inovadoras no edifício, uma vez que poderão os condóminos, em comum acordo, construir novas partes de uso comum, como quadras, piscina, academia de ginásio, salão de festa. No que se refere às inovações, Pires de Lima e Antunes Varela239 dissertam acerca da sua

abrangência: “poderão beneficiar tanto coisas comuns já existentes no edifício, como introduzir novas coisas comuns ou, ainda, demolir antigas coisas comuns”.

O artigo 1425.º, do Código Civil português, após importantes alterações realizadas pelo artigo 5.º da Lei n.º 32/2012, apresenta no item n. 1 que as obras inovadoras dependem da aprovação de duas maiorias: a aprovação da maioria simples dos condóminos, em função do seu número; além disso, essa maioria simples deverá contabilizar a representação de dois terços do valor total do prédio.

Já o item n.º 2 do referido artigo refere-se às duas hipóteses de inovações específicas, estabelecendo que, para inovações relacionadas à colocação de ascensores e instalação de gás canalizado, havendo pelo menos oito frações autónomas, exige-se a aprovação pela maioria dos condóminos, que representam a maioria do valor total do prédio.

Em relação aos itens n.º 3, 4 e 5 do mesmo dispositivo, percebe-se o avanço da alteração legislativa de 2012, visto que trouxe o assunto da acessibilidade para o convívio condominial, ao estabelecer, principalmente, a dispensa de aprovação dos demais condóminos para instalação de rampas de acesso e plataformas elevatórias, mas tão somente a comunicação ao administrador. Além disso, a alteração apresentou soluções acerca das instalações, do levantamento, bem como a restituição dos valores no caso da impossibilidade de levantamento dos equipamentos de acessibilidade. Diante da sua importância social e até mesmo histórica, faz-se a transcrição do referido dispositivo legal:

238 DIÁRIO DA REPÚBLICA –Decreto-Lei n.º 268/94. 239 LIMA, Pires de. VARELA, Antunes. Op. cit., p. 434.

59 Artigo 1425.º, Código Civil português (Inovações) (...)

3 - No caso de um dos membros do respetivo agregado familiar ser uma pessoa com mobilidade condicionada, qualquer condómino pode, mediante prévia comunicação nesse sentido ao administrador e observando as normas técnicas de acessibilidade previstas em legislação específica, efetuar as seguintes inovações:

a) Colocação de rampas de acesso;

b) Colocação de plataformas elevatórias, quando não exista ascensor com porta e cabina de dimensões que permitam a sua utilização por uma pessoa em cadeira de rodas.

4 - As inovações previstas nas alíneas a) e b) do número anterior podem ser levantadas pelos condóminos que as tenham efetuado ou que tenham pago a parte que lhes compete nas despesas de execução e manutenção da obra, desde que:

a) O possam fazer sem detrimento do edifício; e b) Exista acordo entre eles.

5 - Quando as inovações previstas nas alíneas a) e b) do n.º 3 não possam ser levantadas, o condómino terá direito a receber o respetivo valor, calculado segundo as regras do enriquecimento sem causa.

6 - A intenção de efetuar as inovações previstas no n.º 3 ou o seu levantamento deve ser comunicada ao administrador com 15 dias de antecedência.

A referida norma é de suma importância no mundo atual e demonstra grande avanço legislativo no regime da propriedade horizontal, uma vez que é capaz de garantir a dignidade humana em prol das pessoas com mobilidade condicionada. Afinal, o direito à habitação não alcançaria a dignidade humana sem as condições mínimas de acessibilidade para todos os condóminos de um edifício.

Por fim, o artigo 1425.º do Código Civil português apresenta no item n.º 7 o mesmo texto legal que era estabelecido no item n.º 2 antes das alterações de 2012. O referido dispositivo estabelece que as obras inovadoras, mesmo que representando a vontade da maioria, não são totalmente livres de aprovação. Assim, inovações capazes de prejudicar a utilização por parte de algum dos condóminos, tanto das coisas próprias como das comuns, depende da aprovação do respectivo condómino prejudicado. Sobre o assunto, observa Carvalho Fernandes ao dispor sobre o item n.º 2 do artigo 1425.º, atualmente item n.º 7:

Para além disso, as maiorias assim formadas não são livres de aprovar e impor quaisquer obras novas. As inovações em partes comuns que possam prejudicar o uso, por qualquer dos condóminos, da sua fracção ou de coisas comuns só podem ser aprovadas com o voto conforme dos condóminos afectados, sem prejuízo das maiorias acima referidas. Neste sentido tem de se entender a limitação imposta no n.º 2 do art. 1425.º240.

A visão do referido autor é a mais acertada, apesar de o dispositivo legal não abranger todo o conteúdo por ele apresentado. Afinal, deve-se ter em mente que não se podem aceitar

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intervenções inovadoras no edifício que prejudiquem de forma significativa condóminos cujo voto foi vencido, sendo a anuência deste indispensável à concretização da obra.

A forma de divisão das despesas relacionadas às inovações está determinada no artigo 1426.º do Código Civil português, ao preceituar no item n.º 1 que, em regra, serão repartidas entre os condóminos nos mesmos moldes do artigo 1424.º do referido diploma, isto é, salvo disposição em contrário do título constitutivo, aplica-se a divisão na proporção das frações. Porém, estabelece algumas ressalvas nos itens seguintes, como na hipótese da obrigatoriedade da contribuição nas despesas relativas às inovações pelos condóminos que não as tenham aprovado, exceto se a recusa tenha sido judicialmente fundada (item n.º 2).

Ademais, embora o item n.º 3 considere como sempre fundada a recusa dos condóminos quando se trata de obras cuja natureza seja voluptuária ou que sejam desproporcionais ao edifício, ele permite que os opositores, a qualquer tempo, arquem com as despesas de construção e manutenção a fim de participarem das vantagens da inovação (item n.º 4).

Por fim, o item n.º 5 do artigo 1426.º faz remissão ao item n.º 3 do artigo 1425.º, sendo esta mais uma alteração realizada pelo artigo 5.º da Lei n.º 32/2012, merecedora de destaque. Assim, prevendo o legislador a hipótese de novos condóminos que necessitem da utilização de plataformas elevatórias, permitiu que estes participem das respectivas vantagens mediante o pagamento da parte relacionada à execução da obra e manutenção.

2.3.2.3 Dever de contribuir para despesas relativas às reparações indispensáveis e urgentes