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Diálogos sobre educação e religião

No documento Open Ensino Religioso: problemas e desafios (páginas 109-113)

3.1. Visão de Durkheim, Weber e Berger: religião e sociedade

3.1.1. Diálogos sobre educação e religião

Para Durkheim, enquanto a filosofia tenta descobrir esses ideais, isso não caminha, pois o método utilizado é abandonado e a tendência é permanecer nessa mesma busca. Este autor queria aprender a natureza da religião em geral, a partir de uma religião elementar. Em seu livro As Formas Elementares da Vida Religiosa, ele busca no universo religioso o elemento ideológico que solda os indivíduos e os diferentes grupos sociais, acredita que a sociedade deva passar por uma reforma intelectual e moral e vê na Educação a instituição fundamental que é capaz de promover a transformação das mentalidades, operando como veículo de mudanças na sociedade.

No estudo da parte introdutória do livro Educação e Sociologia, observamos que é por seu aspecto social que Durkheim abordou a educação, e, ainda, que a sua doutrina de educação é elemento essencial de sua sociologia, pois segundo as palavras do tradutor Lourenço Filho (1967, p. 5), Durkheim “foi um dos primeiros a bem distinguir o domínio de uma ciência dos fatos da educação, com base em investigações comparativas, daquele em que as concepções teórico-práticas da pedagogia devem ser analisadas”.

No ensaio de Paul Fauconnet sobre esta mesma obra de Durkheim, nessa parte que serve de introdução, intitulada A Obra Pedagógica de Durkheim, ele assegura (Ibidem, p. 9) que: “[...] será, sobretudo dentro da sociologia que vos falarei da educação. [...], não haverá perigo em mostrar a realidade educativa. [...] Ela é um fenômeno eminentemente social”. Esse autor define educação em um sentido mais amplo (Ibidem, p. 33), como “o conjunto de influências que, sobre a nossa inteligência ou sobre a nossa vontade, exercem os outros homens, ou, em seu conjunto, realiza a natureza”. Para ele, essa definição se dá porque existem as diferenças entre as pessoas (Ibidem, p. 34), pois “[...]. Nem todos somos feitos para refletir; e será preciso que haja sempre homens de sensibilidade e homens de ação”. Em sua definição, ainda sobre educação (Ibidem, p. 38), ele afirma:

Para definir educação, será preciso, pois, considerar os sistemas educativos que ora existem, ou tenham existido, compará-los e aprender deles os caracteres comuns. [...] Para que haja educação, faz-se mister que haja, em face de uma geração de adultos, uma geração de indivíduos jovens, crianças e adolescentes; e que uma ação seja exercida pela primeira, sobre a segunda.

Uma das propostas do ER é respeitar as diferenças. Por isso é importante que os educadores estejam atentos em sala de aula e partilhem esse aprendizado de respeito às diferenças com os educandos, que é uma questão de alteridade.

Já em sua obra As Regras do Método Sociológico, Durkheim faz uma exposição sobre a importância atribuída à educação, considerando-a como reguladora dos tipos de conduta ou de pensamentos que são tanto externos ao indivíduo como também “dotado dum poder coercitivo em virtude do qual se lhe impõe. [...] a maior parte das nossas idéias e tendências não são elaboradas por nós, mas antes nos vêm do exterior.” (2002, p.33). Todavia este mesmo autor assegura que um fato social pode nos ser apresentado através de “experiências características”, conforme com o que diz em relação à educação (Ibidem, p.35):

Quando reparamos nos fatos tais como são, e como sempre foram, salta aos olhos que toda a educação consiste num esforço contínuo para impor à criança maneiras de ver, de sentir e de agir às quais ela não teria chegado espontaneamente. Desde os primeiros tempos de sua vida que a obrigamos a comer, a dormir, a beber nas horas certas. Obrigamo-la à limpeza, à calma à obediência. Mais tarde obrigamo-la a ter em conta os outros, a respeitar os usos, as conveniências, a trabalhar, etc.

A visão de Weber sobre a educação retrata até aos dias atuais um olhar mercadológico, conforme a citação.

A própria educação passa a ser, na medida em que a sociedade se racionaliza, um fator de estratificação social, um meio de distinção, de obtenção de honras, de cargos, de poder e dinheiro. É uma exigência que se ajusta ao mercado. É o modo pelo qual os homens são preparados para exercer as funções que a transformação causada pela racionalização da vida lhes colocou à disposição. (Revista Jurídica)www.alumac.com.br (s.d) Weber afirma ainda que é através de uma educação religiosa, inspirada na ética protestante, que incentiva no ser humano uma responsabilidade para uma conduta moral, como uma obrigação, tendo como modelo a doutrina calvinista da predestinação. Este é um valor para uma nova ordem social. Quando se fala em valores, nos reportamos ao ethos, outro eixo temático que direciona os conteúdos de Ensino Religioso a serem estudados pelos educadores e educandos.

Berger (2007, p. 114) afirma sobre a relação sociedade e identidade:

As identidades são atribuídas pela sociedade. É preciso ainda que a sociedade as sustente, e com bastante regularidade. Uma pessoa não pode ser humana sozinha e, aparentemente, não pode apegar-se a qualquer identidade sem o amparo da sociedade.

No processo educativo, Durkheim (1967, p. 82) aponta que “[...], a educação é, acima de tudo o meio pelo qual a sociedade renova perpetuamente as condições de sua própria existência”. Com isto percebemos que uma ação educativa começa dentro de uma pequena sociedade, que é a estrutura familiar, chegando até as escolas como forma de provocar mudanças, e assim vai passando de geração a geração, tudo o que aprendemos. Ele ainda afirma (Ibidem, p. 85): [...] “a educação satisfaz, antes de tudo, às necessidades sociais”.

Não podemos viver isolados! Como aprenderemos? Como nos educaremos? Tudo isso depende da nossa relação com o outro. Tanto a família quanto a escola têm uma grande contribuição nessa relação sociedade e identidade. Na visão desses autores, é através da educação que se tem o elo entre a identidade e a sociedade, o que apresenta um grande significado na vida das pessoas.

É nesta ótica que o educador Freire (2006 p. 41-42) assegura quanto: “A questão da identidade cultural, de que fazem parte a dimensão individual e a de classe dos educandos cujo respeito é absolutamente fundamental na prática educativa progressista, é problema que não pode ser desprezado”. Isto significa que os educadores precisam estar atentos, numa abertura dialógica de inclusão. Esse autor afirma ainda, (Ibidem, p. 65). “A prática docente especificamente humana é profundamente formadora, por isso ética”.

Esta reflexão nos remete à abordagem que faremos abaixo, sobre outros educadores e pesquisadores que não podemos deixar de fora. Estes são os do ER, que em seus grupos de estudos fazem as suas investigações, refletem e sugerem sobre o encaminhamento deste Componente Curricular nos estabelecimentos de Ensino do nosso País. Olenik e Daldegan (2004, p.10) afirmam que:

As mudanças sociais, culturais e educacionais, com o passar do tempo, provocaram inquietações em alguns educadores, professores de Ensino Religioso, que viam-se excluídos do direito de participar ativamente do projeto educacional de suas instituições, dos direitos legais de educadores e da valorização de sua área (disciplina) junto aos demais saberes.

Na reflexão sobre esta postura, percebemos que isto retrata para os professores que, apesar de sua legalidade, de muitas lutas pelo Território Nacional, sobretudo o incansável apoio do FONAPER, nos mostra que existem muitos desafios enfrentados no cotidiano desses educadores. No Estado Paraíba e João Pessoa, nos depoimentos de muitos deles, essa prática ainda repercute nas escolas. No imaginário popular, o ER é visto ainda como uma prática catequética,

que em nada contribui no processo educativo. É importante que esse educador perceba o seu novo papel, e as escolas procurem assegurar este espaço em seu âmbito escolar, por ser um lugar propício para refletir sobre a diversidade cultural religiosa. Oliveira et al. (2007, p. 110) assevera:

A presença de diversas culturas, com suas diferentes expressões de ordem lingüística, artística, religiosa, etc., num sistema educacional requer indubitavelmente uma tomada de consciência, uma reflexão sobre os encaminhamentos e a elaboração de suas propostas curriculares.

Como podemos ver, a escola não poderá ignorar esses valores. Isso acontecerá através da abertura para o respeito e o diálogo. Freire (2006, p. 64-65) assegura que: “Estas qualidades ou estas virtudes absolutamente indispensáveis à posta em prática deste outro saber fundamental à experiência educativa saber que devo respeito à autonomia, à dignidade e à identidade do educando”.

Na visão do educador Junqueira (2002, p. 107):

Não é somente o conteúdo nem apenas a didática que possibilitam a relação do Ensino Religioso com as demais áreas e o difere da Catequese; é a linguagem, enquanto expressão de determinado enfoque. A religiosidade, como linguagem, é uma construção do sujeito, mas que só é possível na interação social, pois envolve a experiência afetiva de abrir-se ao sentido do outro.

Olenik e Daldegan (2004, p.21) afirmam uma proposta de abertura:

As situações de aprendizagem precisam promover a abertura para conhecer e dialogar com as diferentes tradições religiosas. [...], é preciso que tenham como princípio o conhecimento, com uma abordagem informativo-formativa, e não a catequização ou doutrinação, que privilegia uma determinada religião.

Isso só poderá acontecer quando o docente propiciar esta abertura, criar atividades que envolvam o diálogo e o conhecimento das diversas culturas religiosas, promovam um espaço de respeito, de partilha e solidariedade, porém, é preciso desenvolver nos educandos o hábito de pesquisar, onde estes se envolvam com o processo de ensinar e aprender, em que conhecer o sagrado do outro se torne uma atividade prazerosa, de respeito às diferenças e consequentemente se transforme em um hábito de interagir com o outro.

Essa abordagem sobre aprendizagem nos transporta para a sala de aula quando Oliveira et al. (2007, p. 119) apontam que:

O exercício pedagógico-didático sempre tem presentes os conhecimentos anteriores dos estudantes, tendo em vista uma continuidade progressiva no

entendimento do fenômeno religioso e crendo que, no exercício da alteridade é possível desenvolver um processo de conscientização no reconhecimento, respeito e valorização das diferenças.

Junqueira (2002, p. 111), todavia, em seus estudos sobre o ER, afirma que: “O professor é visto, então, como facilitador no processo de busca de conhecimento que deve partir do aluno”. Esses pesquisadores têm pontos em comum sobre o processo de aprendizagem em relação ao ER, ou seja: O conhecimento anterior dos alunos, o diálogo, as diferentes tradições religiosas e o respeito pelas diferenças, tendo como foco a formação do ser humano ético.

O caminho trilhado até aqui nos possibilitou, através desse estudo metodológico bibliográfico, uma maior compreensão para o desenvolvimento da

nossa pesquisa de campo em processo, envolvendo educadores e educandos com

aplicação de instrumentos de coleta de dados, para todos os pesquisandos.

No documento Open Ensino Religioso: problemas e desafios (páginas 109-113)