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Religião o elo com o sagrado

No documento Open Ensino Religioso: problemas e desafios (páginas 46-49)

1.2. O fenômeno religioso à luz da Ciência

1.2.1. Religião o elo com o sagrado

A religião é a ponte relevante que liga o ser humano ao sagrado em busca do transcendente para que este não se sinta sozinho. Pode-se afirmar que durante a maior parte da história da humanidade as certezas sobre o mundo foram dominantemente dadas pela fé, pela crença mágica ou religiosa que perdurou por muito tempo.

A fenomenologia religiosa nos mostra uma característica comum a todas as religiões. Em cada cultura há uma forma especial de cultuar o sagrado, não só as formas primitivas, como no culto às pedras ou outro elemento da natureza, mas em outras culturas referenciando o culto aos seus avatares, compreendendo e respeitando a origem do mundo e da espécie humana, com a valorização de todo um conjunto de mitos e ritos. Eliade (1993, p. 9)afirma:

O fato de uma hierofania ser sempre histórica (isto é, de se produzir sempre em situações determinadas) não destrói necessariamente a sua ecumenicidade. Algumas hierofanias têm um destino local; há outras que têm, ou adquirem valores universais. Os indianos, por exemplo, veneram certa árvore chamada Açvattha; simplesmente para eles a manifestação do sagrado nesta espécie vegetal é transparente, pois só para eles a Açvattha é uma hierofania e não apenas uma árvore.

Observamos conforme a afirmação acima, se deduz que cada tradição tem sua maneira de cultuar o seu sagrado. Isso só é transparente aos olhos dos

membros daquela cultura religiosa, uma vez que perpassa a história daquele povo. É de onde se conclui que toda essa simbologia, ou seja, rituais religiosos, cultos, divindades são comuns às mais diversas formas de religiosidade.

Na pós-modernidade, com o aparecimento das novas tecnologias, cedendo espaço a um sonho de consumo, em que a fome e a pobreza imperam nos quatros cantos do planeta, contribuindo para o aumento das desigualdades sociais, produzindo com força uma imensa população excluída.

Diante desse quadro é preciso objetivar um olhar diferenciado para a busca de sentido para a vida. Nessa busca, o ser humano procura sintonizar-se com o sagrado pela procura do transcendente, em meio à angústia, existe a esperança de que algo divino vai acontecer em sua vida, pela força da fé, uma força libertadora do sagrado que lhe inspira a realização como ser humano, que é de poder participar e se sentir como um responsável pela mudança na sociedade.

O ser humano não subsiste sozinho, pois precisa estar em constante relacionamento com seus semelhantes, bem como com outros seres do planeta numa interação de “um-sair-de-si, de um estar-e-agir-com e de um volver-a-si”, (Ruedell, 2007 p. 54). Para isso é necessário o diálogo, tão importante numa relação que transporta esse ser para uma convivência de enriquecimento, que possibilita um crescimento dos indivíduos numa construção coletiva.

Com essa edificação dialógica, o ser humano interioriza e passa a perceber o sentimento de sair de si para a busca da dimensão religiosa, uma necessidade que desperta para uma re-ligação consigo mesmo e com o Transcendente, “O Divino”. É nessa busca do sagrado e nessa re-ligação que consiste a religião.

Para um melhor entendimento é preciso, antes de tudo, compreender o que é cultura. Alguns teóricos apresentam definições diferentes sobre cultura. Enquanto uns exaltam certos aspectos, outros acentuam dimensões diferentes.

Na cultura está inserida uma série de normas, leis, valores, tradições, crenças, o modo de falar, vestir, de se alimentar, enfim, a forma de governo, como cada povo se distribui socialmente, envolvendo os costumes e a história de um povo. Na visão desse autor (Ibidem, p.73) descreve:

A religião, em cada ser humano, integra-se na polaridade de dinâmica e forma. Como dimensão do profundo existencial, a religiosidade se expressa e se torna realidade objetivamente perceptível por intermédio de elementos culturais. Vem a constituir-se em uma realidade histórica, comumente denominada fenômeno religioso. Pode-se afirmar que, com esta asserção, o

fenômeno religioso é a manifestação cultural da religião. Assim, todo homem, considerado em sua totalidade ou tomado em cada uma de suas dimensões, só se desenvolve quando se expressa e relaciona com outros entes.

Em cada cultura essa dimensão religiosa se apresenta e faz parte da história de um povo e, ao mesmo tempo, é entendida com um profundo significado que integra a essência do ser humano. Por isso Ruedell (Ibidem, p. 77) afirma que: “A cultura se constitui em patrimônio, enquanto conserva e transmite conquistas e valores de gerações passadas de determinado grupo humano. [...] É uma atividade pela qual o homem cultiva, cuida e transforma a realidade e também cria coisas novas”.

Consideramos a cultura um patrimônio da humanidade que transmite conhecimento, bem como preserva a memória e os valores de gerações a gerações. Por outro lado, é adquirida através da vida, em que se permite uma série de exposição de hábitos que se acumulam e consequentemente vão se evoluindo, dando possibilidades de maior comunicação e até mesmo trocas culturais e, com isso, pode até mesmo correr o risco de serem esquecidos, e serem substituídos por outros costumes pertencentes a outras culturas.

Santidrián (1996, p.411) afirma: “O homo religious está enraizado na história e deixou vestígios das suas inúmeras experiências desde o Paleolítico, passando pelas grandes religiões até chegar aos três grandes monoteísmos: judaísmo, cristianismo e islamismo”.

Conforme o pensamento desses autores, observamos que existe uma ligação muito forte entre cultura, religião e o sagrado. Portanto, existirá sempre um elo entre esses três pontos que facilitará a não separação desses fundamentos. Diante disso, é sem dúvida que se pode afirmar que a religião é algo de esperança que leva as pessoas a construírem o seu projeto de vida, por ser um elemento essencialmente humano, perpassando em todas as dimensões. Ela está presente em todas as culturas demarcando suas crenças, suas ideias, seus valores, suas leis, enfim, toda uma conduta que requer um código de normas, para se estabelecer como tal.

Aresi (1980, p. 73) conclui que: “[...], se o fator religioso é uma constante nos povos de todos os tempos e raças, é evidente que a religião é inerente e indispensável a todo homem”.

No documento Open Ensino Religioso: problemas e desafios (páginas 46-49)