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Fenômeno religioso: objeto de estudo do Ensino Religioso

No documento Open Ensino Religioso: problemas e desafios (páginas 52-56)

1.2. O fenômeno religioso à luz da Ciência

1.2.3. Fenômeno religioso: objeto de estudo do Ensino Religioso

Muitos cientistas estudiosos das religiões dedicaram boa parte de sua vida na busca de descobrir algo que liga o ser humano ao sagrado. Diante dessa complexidade de conhecimento é que surgem os mais variados questionamentos e indagações sobre a compreensão das religiões.

Como cada cultura absorve esse fenômeno religioso? Qual a sua manifestação religiosa, uma vez que é ela que registra profundamente a forma de vida de um povo?

As religiões históricas trazem ao seu modo a solução para os profundos enigmas da vida humana, procurando dar resposta aos questionamentos que durante milênios a humanidade dirige a si própria:

O que é o homem? Qual é o sentido de sua vida? O porquê do bem e do mal, da dor e do sofrimento. Existe vida após a morte? De onde viemos e para onde vamos?

Para Ruedell (2007, p. 44): “O profundo do ser humano é a dimensão religiosa, com a qual sintonizamos quando algo nos toca incondicionalmente”. Nessa afirmação ele quer dizer que a dimensão religiosa desse ser pode ser vista pelos pesquisadores numa ótica diversa, no entanto uma coisa tem em comum que é o ser humano religioso. Ele afirma (Ibidem, p.49) que:

Estudos feitos em diversas áreas da história humana comprovam que os homens deixaram sinais de relacionamentos com o Absoluto, ou seja, sinais de crença em realidades de um mundo que está situado fora e além de seu cotidiano.

Com este posicionamento, observamos que o ser humano nessa busca da verdade encontra o sagrado, seja em um objeto qualquer, ou numa obra de arte, ou até mesmo na própria natureza. É a partir daí que se dá esse encontro entre a cultura e a religião. Como foi já citado anteriormente, o sagrado de uma forma ou de outra está ligado ao profano. De acordo com esse autor (Ibidem, p. 52):

No profano e a partir dele, é possível realizar coisas de acordo com o seu sentido e ser, atingindo a dimensão profunda que dispõe para o toque do Incondicionado. Toda vez que nossa busca de sentido de vida, na linha da verdade, estética, justiça e amor, inspirar-nos procedimentos e posturas e, na intencionalidade e na prática respeitar a diretriz existencial dos entes com os quais nos relacionamos, visando o seu desenvolvimento, estaremos nos situando no nível profundo do ser, na esfera do sagrado. Estaremos vivenciando a religião em sua compreensão ampla e universal.

Dá para se entender que esse profano não está desvinculado do sagrado, pois o modo de agir das pessoas compenetrado no sentido religioso assegura ao profano algo de um sentido especial. Todas as culturas religiosas têm o seu modo especial de expressar o seu encontro com o sagrado. Por isso a religião para cada ser humano se expressa com uma dimensão existencial de grande profundidade, marcando assim os seus elementos culturais dentro de uma realidade histórica, onde a religiosidade torna-se efetiva para o ser humano, denominada em cada cultura como fenômeno religioso.

Tudo isso tem um significado para a Ciência da Educação, uma vez que as tradições religiosas também se preocupam com a educação do seu povo. Todavia, esse conhecimento na área do ER tem uma grande significação, pois o fenômeno religioso é o objeto de estudo deste componente curricular, daí a sua relevância no processo educativo, de acordo com as suas diretrizes. Podemos verificar na citação de Ruedell (2007 p. 74-75):

De um lado, cabe valorizar as potencialidades e valores religiosos no processo educativo. De outra parte, é imperioso direcionar os esforços de educadores e educandos para a superação de limites e empecilhos e para a correção da ambigüidade. Dito de outra forma, a educação, visando servir ao desenvolvimento humano, não pode prescindir de se referir à cultura e à religião. E o Ensino Religioso toma o fenômeno religioso, com suas riquezas e pobrezas humano-religiosas, como objeto próprio de sua tarefa educativa específica. (Grifo nosso).

No processo educativo, é impossível tratar do ER sem falar das várias tradições religiosas, uma vez que cada cultura religiosa apresenta o fenômeno

religioso, e cada uma dessas culturas religiosas tem o seu culto diferenciado ao transcendente, e como tal se apresenta o fenômeno religioso.

É preciso, para isso, entendermos que cada tradição religiosa tem a sua função; uma delas é educar o ser humano para a vida, conduzindo para viver uma vida plena a partir do encontro consigo mesmo, com o outro e com o sagrado.

É onde o ER e a educação fundamentam a sua natureza: o homem para adquirir seu estado de realização integral necessita da perfeição religiosa, mas também pode vivenciar os valores contidos em cada verdade religiosa, os quais fazem parte do processo educativo.

O fenômeno religioso, em cada tradição religiosa, tem uma resposta para a vida além-morte, ou seja: Ressurreição; Reencarnação; o Ancestral e o Nada. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso, elas são norteadoras do sentido da vida, exprimem os ritos de passagem, tendo a morte como última passagem. Oliveira et al. (2007, p. 65) afirmam:

A complexidade do fenômeno religioso com suas faces e variantes exigem do professor de Ensino religioso grande capacidade de superação de incontáveis agentes integrantes de sua formação em sua condição de pessoa imersa num contexto e num cotidiano civilizado.

A sala de aula, enquanto espaço privilegiado de reflexão sobre os limites e superações, exige desse educador a vivência e atitudes. Isto implica a necessidade de se construir uma pedagogia que favoreça tal perspectiva, porque o que objetivamos é fruto de uma experiência pessoal, na incansável busca de respostas para as questões existenciais.

É preciso interpenetrar a teoria e a prática. Todavia, em cada cultura estudada em sala de aula, com todas as suas diferenças e a complexidade do tema, existem várias possibilidades de se compreender melhor sobre o fenômeno religioso e uma delas é o diálogo inter-religioso. Isto é de fundamental importância para o ER, porque só através dele é que se dá a compreensão sobre tal fenômeno, onde o respeito às diferenças leva ao entendimento e à boa convivência.

Sanchez (2005, p. 62) afirma que: “O diálogo inter-religioso leva a um patamar de convivência que vai além da tolerância: ela envolve discursos e práticas que levam ao reconhecimento da legitimidade das várias religiões, tendo como referência a vida humana”.

Diante do pluralismo religioso, onde cada tradição religiosa possui a sua forma adequada de chegar ao Transcendente, é importante tratar disso no processo

educativo como uma forma de apresentar aos educandos como se dá a busca pelo transcendente, vivenciada por cada cultura religiosa, através dos seus mitos, ritos, enfim, toda uma simbologia religiosa em que seus textos sagrados orais e escritos revelam a história dos povos estudados em sala de aula.

Por isso a relevância do entendimento sobre este fenômeno numa compreensão de que todas as tradições culturais religiosas revelam uma verdade divina, em uma união de práticas e crenças num relacionamento que educa o ser humano para uma vida plena, para olhar para dentro de si, onde se encontra consigo mesmo, e a partir daí aprender a conviver com o outro, respeitando as diferenças.

É nesta perspectiva que o ER, de acordo com a sua proposta de trabalho, garante se estabelecer nas Escolas Públicas do nosso País.

E como se estabelecer nas escolas, se muitos o veem como ensino da religião ou aula de religião?

Os documentos que direcionam este componente curricular nos estabelecimentos escolares dão todo suporte para que aconteça de forma legal. Entretanto, há muitos questionamentos para saber até que ponto este componente curricular poderá interferir positivamente no processo educativo.

Para isso é necessário, portanto, compreender a história do ER relatada no II Capítulo desta pesquisa que nos aponta os caminhos trilhados até a atualidade.

CAPÍTULO II

2. RESGATE HISTÓRICO E LEGAL DO ENSINO RELIGIOSO

Quando se fala sobre o Ensino Religioso, é importante destacar como aconteceu a sua trajetória no campo educacional brasileiro. Para isto, é muito importante começarmos a partir de um texto que mostra a chegada dos portugueses no Brasil, cujo relato fala da beleza de suas terras, e do povo estranho que ali habitava, segundo o relato da Carta.

No documento Open Ensino Religioso: problemas e desafios (páginas 52-56)