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Entre os jornais de grande circulação o DN foi um dos poucos a abrir suas páginas para a Campanha do Petróleo e revelar, nos editoriais, o apoio emprestado aos grupos nacionalistas, especialmente o Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e Economia Nacional (CEDPEN). No início da mobilização, o matutino referiu-se ao movimento nos seguintes termos:

O povo gostaria que essa política, despida de veleidades jacobinas, entrasse realmente num terreno de realizações práticas, de modo que o aproveitamento do nosso ouro negro logo estivesse concorrendo para o progresso nacional. É que nossa política do petróleo esta vencendo muito tímida e lerdamente as sucessivas etapas do seu caminho. Depois de encontrado o combustível, com dispositivos constitucionais, que lhe permitem apelar para a colaboração técnica e financeira estrangeira, essa política não anda e da impressão de sentir-se embaraçada, de que um poder mais alto e contrario se levante a sua frente. É claro que nossa política nacional do petróleo precisa de apoio popular. Se não fosse esse apoio, não se teria achado petróleo. Sem esse apoio, o petróleo não será industrializado. Eis por que convém saudar como bem vindo o auspicioso e novo movimento de opinião que, em torno do nosso petróleo, esta apontando um horizonte político da atualidade.38

Além das declarações de apoio à campanha, o bom relacionamento do jornal com o Centro do Petróleo pode ser evidenciado comparando-se a posição que aquele assumiu nos debates. Durante as discussões o DN e o CEDPEN, na maioria das vezes, defenderam os mesmos pontos, como podemos constatar no Manifesto de Fundação do Centro de Estudos e Defesa do Petróleo, lançado no dia 14 de abril de 1948 e que explicitava os objetivos e reivindicações da entidade. No manifesto, afirmava-se que a decisão sobre a política do 37 OESP. 12/05/1953, p.7; 13/05/1953, p.5; 14/05/1953, p.5; 16/05/53, p.5; 17/05/1953, p.15; 19/05/1953, p.5; 20/05/1953, p.4; 21/05/1953, p.5; 22/05/1953, p.5; 24/05/1953, p.5. 38 DN. 05/06/1947, p. 04.

petróleo dizia respeito à nossa soberania nacional e à emancipação econômica. Assim, o capital estrangeiro deveria ser impedido de atuar no setor petrolífero, pois era visto como ameaça aos interesses nacionais. Além disso, a necessidade de ampla participação popular nos debates era destacada.39 Ou seja, os mesmos pontos defendidos pelo jornal em diversos editoriais.40

Durante a Campanha do Petróleo, o CEDPEN organizou Convenções Nacionais no Rio de Janeiro, com a finalidade de realizar um balanço das atividades já desenvolvidas, traçar os rumos do movimento e definir as teses a serem defendidas. Em muitos casos, as Resoluções Finais coincidiam com as posições do DN. Assim, na 1ª Convenção Nacional de Defesa do Petróleo41, de outubro de 1948, ficou deliberado, entre outras coisas, que o Centro do Petróleo era favorável ao monopólio estatal e contrário ao Estatuto do Petróleo e definido que um dos objetivos seria lutar contra sua aprovação. O Centro opôs-se tanto à Missão Abbink, pois esta estimularia a entrada de capitais externos em áreas estratégicas da economia quanto ao projeto de instalação de uma refinaria estatal de 45.000 bpd em Belém do Pará – preferiam que ela fosse construída no eixo Rio - São Paulo – e, além disso, foi contra as concessões a grupos privados nacionais para a montagem de refinarias. A 2ª (julho de 1951) 42 e a 3ª (julho de 1952) 43 Convenções reafirmaram as posições da primeira, as quais eram exatamente as mesmas daquelas defendidas pelo jornal.

O DN também foi porta-voz de outros grupos que participaram da campanha pelo monopólio estatal, como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Clube Militar. O matutino endossava as posições dessas entidades, que se manifestavam através dos panfletos,

39

MIRANDA, Maria Augusta Tibiriçá. Op. Cit., pp. 39-40.

40

DN. 16/08/1947, p. 04; 01/08/1947, p. 04; 10/08/1947, p.04.

41

MIRANDA, Maria Augusta Tibiriçá. Op. Cit., pp. 157-165.

42

MIRANDA, Maria Augusta Tibiriçá. Op. Cit., pp.248-251.

43

jornais e revistas que editavam. No Manifesto da UNE pelo Monopólio Estatal,44 os

estudantes declararam que eram contrários ao Estatuto do Petróleo, ao Projeto da Petrobras e à participação do capital estrangeiro no setor, mas favoráveis ao monopólio estatal. Por outro lado, essas mesmas posições foram defendidas por militares nacionalistas em artigos na Revista do Clube Militar45 e em panfletos.

O matutino carioca conferia aos militares um papel de destaque no cenário político, sempre conclamando a participação de seus líderes em momentos de crise. Assim, oferecia cobertura diária, dirigida especificamente a esse público, nas seções Notícias do Exercito, Notícias da Marinha e Notícias da Aeronáutica, que traziam informações sobre ministérios militares, concursos, promoções, treinamentos etc, o que demonstrava a intenção de incluir esse grupo entre seus leitores e de cumprir papel de porta-voz das Forças Armadas junto à sociedade.46

Apesar do apoio à Campanha do Petróleo, o jornal não se transformou em órgão oficial do CEDPEN e manteve sua independência em vários momentos. Um deles foi quando a Standard Oil publicou anúncios de página inteira nos principais jornais do país. O Centro do Petróleo solicitou a Orlando Dantas que não aceitasse a publicidade, por considerar que a empresa norte-americana não deveria intervir nos debates sobre o petróleo brasileiro. O DN aceitou os anúncios, defendeu o direito da companhia de participar das discussões e também

44

MIRANDA, Maria Augusta Tibiriçá. Op. Cit., pp. 83-84.

45

RAMOS, Plínio de Abreu. Op. Cit., pp.77-89.

46

PEREIRA JUNIOR, Dimas Sales. Op. Cit., pp. 75-76. Panfleto dos militares criticando o Projeto da

Petrobras e defendendo o monopólio estatal.

considerou importante a visita de jornalistas brasileiros às instalações da Standard nos Estados Unidos, tanto que enviou um representante, numa viagem patrocinada pela multinacional, a qual foi duramente criticada pelos líderes do movimento “O Petróleo é Nosso”.47

Durante os debates sobre o projeto da Petrobras, o DN e os nacionalistas voltaram a divergir, embora concordassem sobre as falhas do Projeto 1.516, destacando como mais graves: a possibilidade do capital estrangeiro investir na companhia mista e até deter seu controle acionário e o não estabelecimento do monopólio estatal. Porém, soluções diferentes foram apresentadas – o CEDPEN defendeu a criação de uma autarquia ou estatal para explorar o petróleo em regime de monopólio do Estado, que incluísse todos os ramos da indústria petrolífera, inclusive comércio e distribuição, controlados pela iniciativa privada. As refinarias em mãos particulares seriam retomadas e o governo deveria aumentar a verba destinada à pesquisa, extração e refinação de petróleo.48 Já o DN defendeu o que julgava ser uma posição

intermediária entre as teses monopolistas e privatistas, pois previa a participação da iniciativa privada, nacional e estrangeira, no setor.49

47

MIRANDA, Maria Augusta Tibiriçá. Op. Cit., pp.206-216.

48

MIRANDA, Maria Augusta Tibiriçá. Op. Cit., pp. 271-282.

49

DN. 19/04/1953, p. 04.

Panfleto que divulgou a analise da Comissão de Estudos do CEDPEN sobre o Projeto da

Petrobras formulado por Vargas. (Fonte: Acervo Maria Augusta Tibiriçá Miranda)