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Em 1949, a Standard Oil, por meio de anúncios publicados nos principais jornais do país, dirigiu-se diretamente ao público brasileiro para defender seu ponto de vista. OESP comentou a participação da companhia na questão do petróleo da seguinte forma:

A maior companhia petrolífera do mundo...dirigiu-se diretamente ao público brasileiro através das seções ineditoriais da imprensa, publicando declarações que despertaram a atenção do país.

Assinalemos de início que, com essa atitude, a grande empresa norte- americana interveio nos debates em torno de um dos problemas de maior interesse para o Brasil neste momento. O Brasil discute, com efeito, com as autoridades de Washingtom, as bases de um acordo comercial que, segundo informações provenientes dos Estados Unidos, conterá estipulações tendentes a tornar possível à aplicação de capitais privados ianques na economia brasileira.79

Na continuação, o texto ressaltava a importância de relacionar os dois temas, pois o Brasil passou a apresentar déficits na balança comercial, especialmente com os Estados Unidos. A solução proposta pelo jornal era garantir a liberdade das importações, para não prejudicar o processo de industrialização, e compensar o déficit com medidas que criassem condições favoráveis para o afluxo de capitais privados norte-americanos. Ainda segundo o matutino, as principais áreas de interesse desses investimentos eram os setores petrolíferos e de mineração; que possuíam uma legislação restritiva. OESP sugeriu a imediata substituição dessa legislação e um casamento de conveniências com o capital estrangeiro, a fim de

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DN.24/01/1940, p. 04; 07/10/1948, p. 04; 06/05/1948, p. 04; 05/04/1949, p. 04; 02/10/1949, p. 04.

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desenvolver as fontes de energia que potencialmente possuíamos. Concluiu defendendo a participação da Standard Oil no setor petrolífero brasileiro, no entanto, não deixou claro, neste editorial, em que termos isso se daria. No dia 25 de dezembro de 1949, voltou a apoiar a assinatura de acordos comerciais facilitadores do afluxo de capitais privados norte-americanos para o Brasil.80

Segundo a Standard Oil, a questão do petróleo tornou-se um assunto importante para os brasileiros e a busca de uma solução adequada ao problema exigia que o público estivesse bem informado. Foi esta a justificativa utilizada pela companhia para publicar um conjunto de anúncios nos quais manifestava sua posição sobre o tema.81 A multinacional procurou definir

bem seu ponto de vista sobre a polêmica e responder as críticas e acusações de que foi alvo. Assim, criticou o Decreto Nº 395, publicado em 29 de abril de 1938, que proibia a participação do capital estrangeiro na indústria do refino, e também desmentiu as acusações de que tentava impedir o desenvolvimento da indústria petrolífera no Brasil. Afirmou que tais declarações eram resultado da falta de informação, pois a política e ação da empresa se orientavam na direção oposta. Como exemplo, afirmou que se ofereceu para suprir de petróleo bruto os diversos projetos de instalação de refinarias e declarou seu interesse em participar deles. A companhia negou que estivesse encorajando a aprovação do Estatuto do Petróleo e declarou que se manifestava contrária à nova lei por acreditar que ela não permitiria às empresas privadas desenvolverem com êxito suas atividades. Para a ESSO, o setor petrolífero brasileiro deveria basear-se no sistema da livre iniciativa e franca concorrência entre diversas empresas. Alegou que mais de 90% de todos os recursos petrolíferos conhecidos no mundo foram descobertos e industrializados nesse sistema.82

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OESP. 25/12/1949, p. 03.

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Entre 1949 e 1950 a ESSO publicou quinze anúncios no DN e seis no OESP.

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A Standard Oil lembrava que atuava no Brasil há 37 anos e que se orgulhava do grande progresso do país e da sua participação no fornecimento de derivados de petróleo a população. Afirmou que combustíveis e desenvolvimento caminhavam juntos e quanto melhor a qualidade de vida de um povo mais consumidos eles seriam. No entanto, considerou que o Brasil precisava explorar os seus próprios recursos petrolíferos, mas o principal problema era descobrir a melhor maneira de fazer isso. Este trabalho exigiria grande aplicação de capitais e ofereceria riscos aos investidores, além de requerer elevada habilitação e conhecimentos técnicos. Por estas razões, a companhia defendeu que o melhor meio de industrializar o petróleo brasileiro seria permitir a atuação de empresas privadas no setor. Alegou que foi dessa maneira que essa indústria se desenvolveu na Europa, Oriente Médio, Estados Unidos, Canadá, Venezuela, Colômbia e outros países.83

Em outro anúncio, a companhia procurou enumerar as vantagens da livre iniciativa e da concorrência entre as empresas no setor petrolífero, argumentando que a alta produtividade de países como os Estados Unidos e Venezuela só poderia ser explicada pela eficiência da iniciativa privada. Apontou ainda, que 94% das reservas de petróleo conhecidas em todo o mundo foram descobertas e industrializadas por companhias privadas e informou que, neste sistema, as multinacionais atuavam de acordo com as leis dos países onde se instalavam e afirmou que não desejava controlar o setor petrolífero brasileiro, o que existia era uma má compreensão deste ponto. Tudo que solicitava erao direito de realizar negócios no Brasil em condições razoáveis e de controlar e administrar seus investimentos no país. A empresa dizia- secontrária a qualquer tipo de monopólio, seja privado ou estatal e procurou fornecer dados que evidenciassem que não se constituía em monopólio privado, com o argumento de que produzia 15% do petróleo mundial, refinava 17% e comercializava 18%.84

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DN. 31/07/1949, p. 05.

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Alguns fatores podem explicar a publicidade em prol da abertura do setor petrolífero brasileiro, não sendo o menos importante, o desejo de evitar o desgaste da imagem da Standard Oil no Brasil, devido à Campanha do Petróleo, que elegeu as companhias estrangeiras inimigas número um da soberania nacional. Além dos nacionalistas, outros setores da sociedade viam com desconfiança a atuação do capital estrangeiro nas áreas estratégicas da economia e, por conta disso, solicitavam uma regulamentação e fiscalização do Estado para coibir abusos. Foi esse o caso de determinados setores do empresariado nacional.85 Além de tentar melhorar a imagem da empresa, os anúncios tentavam convencer os

leitores a adotarem seu ponto de vista sobre a questão.

A Standard Oil procurou construir a imagem de empresa comprometida com a modernização do país, assim, em diversos anúncios, destacava que os meios de transportes, equipamentos industriais, tratores e máquinas agrícolas utilizavam derivados de petróleo. Portanto, considerava que seu papel no desenvolvimento do Brasil era importante, pois fornecia o combustível necessário para esse progresso. O slogan ESSO a serviço do progresso sintetizava essa idéia. A companhia também declarou que continuava ampliando suas instalações e substituindo seus equipamentos para atender o constante crescimento no consumo de combustíveis. Alegava que, dessa forma, contribuía com o crescimento econômico do país e que uma das formas de financiar esses investimentos era inverter seus lucros aqui.86

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Sobre disputas de interesses entre o empresariado nacional e investidores estrangeiros Ver: DINIZ, Eli. Empresário, Estado e Capitalismo no Brasil: 1930-1945. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

Anúncio da Standard oil, publicado em página inteira, no qual se posicionou sobre a questão do petróleo. DN. 17/07/1949, p 05.

Anúncio da Standard Oil, publicado em página inteira, no qual tentava mostrar que tinha experiência para atuar no setor petrolífero brasileiro e que a melhor solução para o problema do petróleo era permitir a atuação de companhias estrangeiras. DN. 31/07/1949, p 05.

Anúncio da Standard Oil, publicado em página inteira, no qual apontou os investimentos realizados no Brasil. A companhia tentou construir a imagem de que estava comprometida com o desenvolvimento do país. DN. 10/05/1949, p 05.

Anúncio da Standard Oil, publicado em página inteira, no qual transmitia aos leitores dados e informações sobre o setor petrolífero por meio de um questionário. DN. 28/08/1949, p 05.

Os anúncios causaram polêmica entre o DN e o CEDPEN, que enviou uma carta à redação solicitando a Orlando Dantas que não aceitasse a publicidade da Standard Oil sobre a questão do petróleo. Em editorial, o matutino carioca reafirmou suas posições pró-monopólio estatal e respondeu a carta, transcrita na mesma página. Afirmou que não solicitou tal publicidade e que a ESSO tem o direito de participar dos debates sobre o petróleo, não podendo ter essa prerrogativa desrespeitada de forma ditatorial. Declarou ainda que nunca deixaria de contestá-la e contrariá-la, se necessário fosse, independente do valor destinado a publicidade do periódico.87

Além dos anúncios, a Standard Oil patrocinou uma viagem a doze jornalistas brasileiros para visitar as instalações da companhia nos Estados Unidos. Ao comentar esta iniciativa, o DN afirmou que os representantes nacionais poderiam adquirir valiosos conhecimentos sobre o setor petrolífero, os quais seriam difundidos pela imprensa e forneceriam subsídios para o debate em torno da política do petróleo. O convite foi feito à direção dos principais jornais do Rio de Janeiro e São Paulo, que deveriam indicar um representante cada para compor a comitiva.88 A maioria das empresas jornalísticas convidadas

enviou representantes, entre elas o DN, que indicou Osório Nunes. Em outro editorial, o matutino respondeu às criticas da jornalista Sarah Marques, do jornal O Mundo, por ter aceito o convite.89 87 DN. 02/08/1949, p. 05. 88 DN. 04/09/1949, p. 03. 89 DN. 06/09/1949, p. 03.