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Ao longo do período estudado constata-se que os editoriais do jornal OESP foram utilizados para representar os interesses das Associações e Confederações do Comércio e Indústria de São Paulo. Essas entidades participaram ativamente dos debates sobre a melhor forma de explorar o petróleo brasileiro. Em 1945, os seus representantes reuniram-se na Conferência das Classes Produtoras do Brasil, com o intuito de se posicionarem diante da

política econômica do Estado, na época o grande impulsionador do crescimento industrial. O resultado dessa reunião foi a publicação da “Carta Econômica de Teresópolis”, que reconhecia a importância do governo no fomento a industrialização, mas reivindicava maior liberdade de ação aos industriais. Assim, com respeito aos recursos naturais, propugnavam melhores condições para o capital privado poder investir na exploração de jazidas minerais.1

No matutino paulista, as atividades agrícolas, industriais e comerciais, denominadas de “forças produtoras”, figuravam como esteio da economia brasileira, por a elas serem conferidas grande importância. Além disso, o jornal apresentava as posições políticas e econômicas sustentadas por essas classes como se fossem de interesse nacional e beneficiassem toda a sociedade. Assim, as reivindicações de empresários e fazendeiros recebiam tratamento privilegiado e prioritário em suas páginas e se distinguiam das recebidas pelos demais grupos sociais. Nessa perspectiva elitista, considera-se que o principal problema da política econômica residia na relação entre os “poderes públicos” e as “forças produtoras”, cabendo ao Executivo e ao Legislativo orientar suas ações em função das necessidades da burguesia. Para OESP, acontecia o inverso no Brasil, já que o governo tomava decisões que contrariavam a opinião unânime do empresariado. Como exemplo, o matutino apontava a indiferença do Executivo e do Legislativo estaduais diante das manifestações contrárias ao aumento de impostos, levadas a efeito pela Federação das Industrias do Estado de São Paulo (FIESP), pela Associação Comercial de São Paulo e pela Sociedade Rural Brasileira. Argumentava-se que as reivindicações de tais entidades deveriam receber maior atenção do poder público, por representarem importantes setores da economia.2

OESP demonstrou seu incondicional apoio aos representantes da agricultura, comércio e indústria no editorial O Problema dos Capitais Estrangeiros, que tratou da reunião preparatória dos representantes desses setores para o 5º Conselho Interamericano do

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COHN, Gabriel. Op. Cit., pp. 73-75.

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Comércio e Produção, que se realizaria em Santos. Na pauta, estava a postura a ser adotada diante do capital estrangeiro. Ao final, reafirmou-se a importância dos capitais externos para o desenvolvimento econômico do país e os representantes paulistas decidiram defender, no 5º Conselho Interamericano, o estabelecimento de garantias para este tipo de investimento, o estímulo à criação de empresas de capitais mistos, a oposição aos movimentos nacionalistas e a implementação de medidas que facilitassem a remessa de lucros; posições essas idênticas àquelas defendidas pelo jornal.3

Ao abordar o problema do abastecimento de combustíveis e outros produtos necessários à indústria, no final de 1950, o jornal referiu-se a declarações do presidente da Associação Comercial de São Paulo, segundo as quais o CNP não havia adotado nenhuma providência prática para resolver deficiências no abastecimento e armazenamento de petróleo, preocupação justificada pela Guerra Fria. Em seguida afirmava-se que o presidente do Conselho, João Carlos Barreto, assegurara exatamente o contrário e, ao confrontar tais declarações, o jornal reivindicava que “os líderes das forças produtoras”, ou seja, os representantes do comércio e indústria, participassem da elaboração do plano de racionamento, em preparação pelo Governo Federal, sob a alegação de que tais setores seriam os mais prejudicados em caso de eventual desabastecimento.4 Em relação a outras matérias-

primas para a indústria (alumínio, chumbo, estanho, cobre, zinco, aço e celulose) OESP endossava a idéia dos industriais paulistas de pressionar as autoridades federais a fim de estocar os produtos indispensáveis.5

Durante as discussões sobre a criação da Petrobras, os empresários manifestaram-se publicamente com telegramas e cartas ao Congresso Nacional e aos membros do Executivo para expressar seu ponto de vista. A leitura do telegrama enviado ao Senado e a Getúlio 3 O ESP. 20/04/1950, p. 05. 4 O ESP. 07/12/1950, p. 03. 5 O ESP. 08/12/1950, p. 03.

Vargas, em 13 de novembro de 1952, pela Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, permitiu constatar a coincidência de pontos de vista do jornal OESP e das entidades citadas. Os industriais manifestavam-se contrários ao monopólio estatal, pois consideravam a exclusão da iniciativa privada prejudicial aos interesses econômicos do país. Reafirmaram a centralidade do petróleo para a economia e também apelavam aos senadores e demais políticos no sentido de não se deixarem influenciar pelas paixões políticas despertadas pela campanha nacionalista.6

OESP apoiou esse tipo de manifestação ao comentar memorial que a Associação Comercial de São Paulo enviou ao Senado, expressando opinião acerca do problema do petróleo. O editorial mostra com clareza, a semelhança de opiniões entre o jornal e os comerciantes paulistas, como se percebe no trecho abaixo:

Pela nossa parte, coincidindo o pensamento da Associação Comercial de São Paulo com o manifestado por nós, nestas colunas desde o momento em que se abriram os debates a respeito do problema do petróleo, só temos palavras de aplauso e de apoio ao que autorizada representante das classes produtoras de São Paulo escreveu no seu memorial.

Será profundamente lamentável que o Senado não preste a devida atenção a esse memorial e que, depois de lançar a cesta dos papéis inúteis, aprove o projeto da Petrobras tal como saiu desfigurado da Câmara dos Deputados pelo pincel dos jacobinos manobrados pelos comunistas.7

Entre os pontos em comum, podemos destacar as duras críticas ao monopólio estatal, o argumento de que o Brasil não possuía capital suficiente para explorar o petróleo e a defesa da participação da iniciativa privada, nacional e estrangeira, no setor. A oposição à Campanha do Petróleo também foi outro ponto em comum entre a Associação Comercial e o jornal, para ambos “O Petróleo é Nosso” era um movimento comunista destinado a desestabilizar o país.

Os industriais também contaram com o apoio do jornal quando se manifestaram sobre o petróleo, em 23 de novembro de 1952, oportunidade em que sugeriram ao governo

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CRUZ, Adelina Maria Alvez. et.al. Impasse na Democracia brasileira (1951-1955): Coletânea de Documentos. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1983, pp. 145-146.

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que adotasse as medidas propostas pelo Relatório da Comissão de Matérias-Primas e Exportação, da Federação e Centro de Industrias do Estado de São Paulo. Tais propostas defendiam a liberdade para a iniciativa privada atuar em todas as fases do setor petrolífero, sob a orientação de um órgão controlador do Estado e a oportunidade para a iniciativa privada nacional desenvolver atividades de pesquisa e extração de petróleo sob a forma de contratos de prestação de serviço nas áreas exploradas pela União. E em 31 de maio do ano seguinte, a 1ª Reunião Plenária da Indústria manifestou apoio aos senadores contrários ao monopólio estatal.8