O dia-a-dia no estágio - A ESCOLHA PELO ESTÁGIO NÃO-OBRIGATÓRIO

5.1 A ESCOLHA PELO ESTÁGIO NÃO-OBRIGATÓRIO

5.2.1 O dia-a-dia no estágio

As atividades a serem desenvolvidas no dia-a-dia do estágio são uma parte que integra o processo de identificação com a futura profissão. No momento em que, os estudantes não se percebem como profissionais, ao realizarem atividades inerentes a futura profissão, a sua identidade profissional pode não se estabelecer concretamente, já que o

estágio tem como objetivo desenvolver os estudantes profissionalmente. Mas, o contrário também acontece, quando os estudantes conseguem se perceber por meio das atividades que realizam no estágio, o processo de construção da identidade profissional pode se dar de forma mais concreta. Então, pode-se dizer que por meio das atividades realizadas no estágio o sujeito também se identifica ou não com a futura profissão.

Sobre este assunto, Santos (2006, p. 64) aponta o seguinte:

[...] o estágio [...] preparação básica para o trabalho, na perspectiva do desenvolvimento de competências profissionais, caracterizado pela capacidade de enfrentar desafios imprevistos, não planejados e imprevisíveis, expresso pela capacidade de julgamento, decisão e intervenção diante do novo e do inusitado.

Alguns dos estagiários descreveram que o papel do estagiário é de “aprendizado” em primeira instância, e um dos motivos pelos quais os estagiários buscam pelos estágios é justamente pelo fato de poder aprender com outros profissionais a ser um profissional competente, adquirir competências e desenvolver habilidades importantes para atuação profissional. Contudo, o fato dos estagiários terem o interesse em buscar serviço, crescer profissionalmente, ou seja, de o estagiário demonstrar interesse pelas atividades a serem realizadas, por algumas vezes, estes acabam executando atividades iguais aos funcionários. Sobre isso, pode-se relacionar essa situação com a precarização do trabalho do estagiário.

Dependendo do local onde o estudante vai realizar as suas atividades, ou da falta de supervisão, o estudante pode ser submetido a realizar qualquer atividade, independente do curso que está freqüentando, o que vai de encontro ao que prega a lei do estágio como promoção do aprendizado e desenvolvimento do estudante.

No que se refere a este aspecto Santos (2006) comenta que o fato das empresas não possuírem encargos trabalhistas para contratar estagiários, estas acabam por contratar o estagiário com o intuito de fornecer a ele um papel de „empregado‟, descaracterizando assim, o verdadeiro sentido atribuído ao estágio, que é de aprendizado.

A atividade que os estagiários vêm a desenvolver nos seus estágios pode contribuir muito, pouco ou quase nada para a identificação dos alunos com a sua futura profissão, pois será também por meio dela que os estagiários vivenciam a atuação profissional. As atividades reforçam a imagem profissional que o sujeito pode construir de si mesmo em relação à imagem que ele faz da profissão de almeja seguir.

Os estagiários demonstram interesse em realizar nos seus estágios atividades que se aproximem do curso ao qual freqüentam, isto pode ser justificado diante da possível insatisfação de não realizar atividades que realmente gostariam de realizar, mas neste sentido pergunta-se: por que não procurar por um estágio que permita ao estudante encontrar atividades que venham ao encontro da área de atuação profissional de interesse? Esse fato demonstra à necessidade de se questionar, como está se dando esse aprendizado, buscando pela tentativa de integrar o estudante de forma a aproveitar as capacidades do mesmo.

As atividades que os estagiários fazem diariamente podem também contribuir com o interesse por alguma área de atuação, ou despertar nos estudantes outros interesses que vão além daqueles que já possuíam antes. Por isso, a importância das atividades serem interligadas ao curso freqüentado pelo estudante. É possível entender que se a organização proporciona um ambiente propício de aprendizagem aos estudantes, onde as atividades que realizam se relacionam com o curso universitário freqüentado, mais os estudantes se satisfazem com a organização, se comprometem com a mesma. Percebe-se que os estagiários querem identificar na prática se os conhecimentos adquiridos na graduação realmente se relacionam com o estágio.

O papel desempenhado pelos estagiários nem sempre é fácil, porque as pessoas ainda atribuem a este como um mero „aprendiz‟, como o sujeito 2 comenta: “Como estagiário, assim como universitário temos como sombra o fato de estarmos aprendendo [...]”.

Segundo Santos (2006, p. 58):

A ocupação “estagiário” não é considerada, juridicamente, uma modalidade de emprego e sim espécie de trabalho, teoricamente com predominância do caráter educativo e orientador, [...] pois se trata de um preparo para o exercício da cidadania, pleno desenvolvimento da pessoa humana e a qualificação para o trabalho.

Há situações em que os estagiários são submetidos à força de trabalho desqualificada, justamente pelo fato de algumas situações colaborarem para que isso aconteça, por exemplo, quando os funcionários da organização ou ainda as pessoas que frequentam o local onde o estagiário se encontra não relacionam o estagiário ao fato de ser um „aprendiz‟.

De acordo com o S7 o tratamento diferenciado ocorre da seguinte forma:

Às vezes, não da parte da empresa, mas dos clientes da empresa. Não só aqui como em outros lugares onde já trabalhei, as pessoas (de modo geral) não gostam de ser atendidos por estagiários (acho que dá á elas a sensação de trabalho amador). Mas não as culpo disso, como muitos estagiários fazem um trabalho ruim a tendência é que a má fama seja generalizada mesmo.

Conforme a situação acima, por algumas vezes, a própria postura do estagiário influencia para que a visão da sociedade tenha a sua veracidade. Quando o estagiário não relaciona aquele papel ao de um „aprendiz‟, onde deve desenvolver uma postura profissional, o outro pode não estabelecer essa relação. A imagem que o outro fará do estagiário será desqualificada, quando o próprio estagiário não percebe que a imagem que ele está passando será a imagem que o outro passará a reconhecê-lo. A partir do momento que o estagiário adota uma postura adequada no trabalho, perante os colegas de trabalho e seus clientes, os demais o reconhecerão como um estudante em fase de aprendizado.

Conforme Coutinho (1999), a construção da identidade do sujeito também se dá por meio das relações que este estabelece no meio social onde vive. Por isso, as influências do meio social também podem interferir no modo como a pessoa vai agir. Sendo assim, o ambiente de estágio é uma dessas relações que os estudantes estabelecem como relação de trabalho. Quando o estagiário vai em busca de oportunidade de estágio não-obrigatório o estudante vai em busca de um novo papel, neste caso, de estagiário, porque se aproxima de uma identidade profissional desejada.

Se o estágio está direcionado a aprendizagem do estudante, as pessoas devem perceber que o papel do estagiário tem as suas limitações, que não podem realizar todas as obrigações de um funcionário, então, o estagiário deve transparecer que não é o responsável por determinadas questões, mas independente disso o modo como este conduzirá a situação deve ser profissional, já que este busca por essa identidade profissional. Os estagiários vão construindo possibilidades de uma maior identificação ou distanciamento por uma determinada área de atuação e até mesmo com a própria profissão, por meio do estágio não- obrigatório.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como objetivo identificar as contribuições do estágio não- obrigatório, de estudantes de nível superior, para a construção das suas identidades profissionais. Diante dos questionários aplicados foi possível identificar os principais motivos, pelos quais os estagiários buscam pelo estágio não-obrigatório, bem como o que faz com que eles permaneçam nos seus estágios; se as atividades que eles realizam no estágio não-obrigatório estão relacionadas às atividades que irão exercer futuramente como profissionais; investigar se os estagiários percebem (ou não) contribuições do estágio não- obrigatório em relação à vida profissional.

Pode-se observar que o estágio não-obrigatório é uma possibilidade de o estudante se inserir no mercado de trabalho, com interesse de conhecer como funciona uma organização, as áreas de atuação e desenvolver uma postura profissional mais adequada ao que o mundo do trabalho exige. A experiência do estágio não-obrigatório também trouxe alguns questionamentos por parte de alguns estudantes em relação à área que desejam seguir e até mesmo a conhecer uma nova possibilidade de atuar profissionalmente na sociedade, antes não percebida por eles, ou seja, a experiência do estágio permitiu que os estudantes pudessem fazer questionamentos sobre as suas profissões. Acredita-se na importância desses questionamentos para que futuramente os estudantes sintam-se realizados com as atividades que irão exercer como profissionais.

Um aspecto que pode ser considerado relevante é que, de maneira geral, os estagiários compreendem o estágio como forma de adquirir aprendizado, indo ao encontro do que está previsto na Lei 11.788/08, que prevê o estágio como um ato educativo. Apesar de o estagiário não ser um empregado, porque não estabelece um vínculo empregatício com a unidade concedente de estágio, procura realizar as suas atividades com compromisso e responsabilidade, até pelo fato desses estagiários terem como principais objetivos adquirir a experiência e na maioria das vezes serem contratados por esta ONG/SC. Além disso, foi possível perceber que, o estagiário busca pelo estágio não-obrigatório porque recebe um retorno financeiro, sendo assim o estágio também passa a ser um trabalho.

A maioria dos estagiários identifica o estágio como uma oportunidade de trabalho, em que poderão ter retorno financeiro, ampliar os seus conhecimentos em relação à profissão, área que deseja seguir, de relacionar a vivência do estágio não-obrigatório à teoria que é repassada para eles no curso, mas principalmente de adquirir experiência.

Foi possível perceber que os estagiários fazem uma boa avaliação sobre os seus estágios não-obrigatórios, o que pode ser um fator indicador para que continuem nesta determinada organização. Entretanto, percebe-se que alguns estagiários sentem-se inferiorizados diante dos outros pelos lugares ocupados por eles dentro da organização, ou seja, como estagiários. Diante deste fato, os próprios estudantes alegam que o estagiário contribui para que esta imagem se fortaleça. Neste sentido, percebe-se que os estagiários, por algumas vezes, ainda são vinculados à desvalorização, isso se deve também ao fato de algumas organizações não compreenderem o objetivo de um estagiário dentro de uma organização.

Constatou-se que os estudantes ao se identificarem com o curso escolhido, é um fator positivo na hora de se perceberem como profissionais, no seu estágio não-obrigatório. O que sobressai é que, por meio da vivência do estágio não-obrigatório, os estudantes conseguem se aproximar do papel profissional desejado por eles. Mas, os fatores que colaboram com essa identificação são: as atividades que realizam no seu estágio, as mudanças comportamentais que fazem com que o estudante se perceba com uma postura mais profissional, os colegas que trabalham e as pessoas que freqüentam o local de estágio relacionarem o estudante a um profissional em fase de aprendizado.

Constata-se também, que os estagiários estão em processo de construção das suas identidades profissionais, e o estágio não-obrigatório está sendo uma „ponte‟ entre o estudante, que se encontra em processo de formação, e a profissão em si.

Na percepção dos estagiários esta ONG/SC oferece os subsídios necessários para o bom desenvolvimento dos seus futuros profissionais, ou seja, de certa forma atende as expectativas dos estagiários. Pode-se entender nesse sentido que, se os estagiários buscavam por aprendizagem, remuneração, e ampliação dos conhecimentos nesta ONG/SC, estão conseguindo alcançar os seus objetivos. Contudo, faz-se necessário investigar se isso ocorre nas demais organizações que fornecem o programa de estágio, se possuem a preocupação com o aprendizado dos futuros profissionais e ainda com maior número de estagiários para serem investigados.

No decorrer desta pesquisa foi possível identificar a pouca disponibilidade dos estagiários em colaborar com a pesquisa, e ainda conforme levantamento de revisão de literatura sobre o assunto foi constatado que há poucas referências sobre o assunto estágio não-obrigatório.

Conclui-se, diante do presente estudo que há a necessidade de se aprofundar as pesquisas sobre o tema proposto, sugerindo-se uma pesquisa onde seja possível, além de

pesquisar a opinião dos estagiários sobre o seu estágio, fazer o contraponto, investigando também com os supervisores dos estagiários como se dá a relação entre o estágio não- obrigatório e a formação profissional dos estudantes, ou ainda, a percepção dos supervisores sobre os fatores que contribuem para a formação profissional desses estudantes. Por fim, realizar um levantamento com um número maior de estudantes, levar em consideração o fator tempo em que os estudantes frequentam o estágio, pode-se levar em conta também a variável curso, ramo de atividade. Enfim, demais fatores podem ser levados em consideração para outras pesquisas em relação às contribuições que o estágio não-obrigatório traz para a construção da identidade profissional de estudantes de nível superior.

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APENDICE A - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Prezado(a) estagiário(a), com o objetivo de desenvolver o meu Trabalho de Conclusão do Curso, peço sua colaboração para responder o questionário abaixo com a máxima sinceridade. Saliento que sua identidade será mantida em sigilo.

1) Idade:_______ anos

2) Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 3) Estado civil:

( ) solteiro(a) ( ) casado(a) ( ) divorciado(a) ( ) união estável ( ) viúvo(a)

4) Curso superior que freqüenta na Universidade:________________________________ 5) Nome da Instituição de Ensino:______________________ ( ) pública ( ) privada

6) Fase do curso que frequenta:__________________________________ 7) Qual a sua profissão?_____________________________________ 8) Qual a carga horária semanal do seu estágio não-obrigatório?

( ) 20 h semanais ( ) 30 h semanais ( ) outros ___________h semanais

9) Quanto tempo você faz estágio não-obrigatório nesta organização?

( ) 0 a 6 meses

( ) 7 meses a 11 meses ( ) 1 ano a 1 ano e 6 meses ( ) 1 ano e 7 meses a 2 anos

10) Mencione em ordem de importância os principais motivos que o(a) fizeram realizar o estágio não-obrigatório? (não é obrigatório preencher todos os campos)

1º_________________________________________________________________________________________ 2º_________________________________________________________________________________________ 3º_________________________________________________________________________________________ 4º_________________________________________________________________________________________ 5º_________________________________________________________________________________________

11) Você já fez estágio não-obrigatório em outra Organização?

( ) Sim ( ) Não

12) Qual o setor que você realiza o estágio não-obrigatório nesta Organização?

13) Você se identifica com o curso superior que você escolheu (sua futura profissão)? ( ) Sim ( ) Não Por que: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________

14) Quando você passou a se identificar com a sua profissão?

___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________

15) Atualmente você já se percebe como um profissional da área do seu curso superior?

16) Em quais situações você se sente mais próximo do profissional do curso que você frequenta?__________________________________________________________________

17) Descreva as principais mudanças comportamentais que ocorreram em você depois que iniciou o estágio não-obrigatório.

18) O estágio não-obrigatório contribui para o desenvolvimento das competências relacionadas a sua profissão?

( ) Sim ( ) Não Como?_____________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________

19) Você percebe um tratamento diferenciado em relação aos funcionários contratados pelo fato de você ser estagiário?

( ) Sim ( ) Não

Justifique:__________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________

20) As pessoas que frequentam o seu local de estágio relacionam o trabalho que você realiza a sua futura profissão?

( ) Sim ( ) Não Justifique:__________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________

21) Quais as suas expectativas profissionais após a experiência do estágio não- obrigatório?

22) Quais são os principais aspectos positivos em relação ao seu estágio não-obrigatório?

23) Quais são os principais aspectos negativos em relação ao seu estágio não- obrigatório?

24) Existe uma relação entre o estágio não-obrigatório e a sua futura profissão?

(independente da área de atuação do seu interesse)

25) O estágio não-obrigatório contribui com a sua identificação com a sua futura profissão? (independente da área de atuação do seu interesse)

Justifique:__________________________________________________________________

26) Descreva as principais atividades que você realiza no dia-a-dia do estágio não- obrigatório.

__________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________

27) As atividades que você desenvolve no estágio não-obrigatório estão relacionadas à sua futura profissão? (independente da área de atuação do seu interesse)

( ) Sim ( ) Não ( ) Em parte

Justifique:__________________________________________________________________

28) Como você avalia o seu estágio não-obrigatório:

( ) Excelente ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim ( ) Muito ruim

APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP UNISUL TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO

Eu, ____________________________________________, declaro que fui

Informada (o) sobre todos os objetivos e procedimentos da pesquisa “Estágio não- obrigatório e a identidade profissional: contribuições do estágio não-obrigatório para a construção da identidade profissional” realizada pela acadêmica Gilvana Effting, orientada pelo psicólogo Iúri

Novaes Luna. Como técnica de coleta de dados será aplicado um questionário semi-estruturado, onde responderei perguntas a respeito desse assunto. O tempo disponível responder este questionário será de aproximadamente duas semanas corridas. Assim:

( ) autorizo que o questionário seja utilizado para fins científicos. ( ) não autorizo que o questionário seja utilizado para fins científicos.

Tenho conhecimento de que o objetivo da pesquisa será de identificar as contribuições que o estágio não-obrigatório traz para a construção da identidade profissional, e justifica-se pelo fato de que o estudante que realiza o estágio não-obrigatório se aproxima da inserção no mercado de trabalho atuando como profissional formado.

Tenho clareza de que os dados pessoais que possam me identificar não serão

No documento Teoria, prática e profissão (páginas 58-74)