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O DIA-A-DIA DA USF ILHA DAS CAIEIRAS – IMPROVISANDO, O TRABALHO DÁ CERTO

3 A CONSTRUÇÃO DE UM CAMINHO NA PRODUÇÃO DA PESQUISA

5 O TRABALHO “VIVO 27 E EM ATIVIDADE” DAS ACS DA USF ILHA DAS CAIEIRAS

5.2 O DIA-A-DIA DA USF ILHA DAS CAIEIRAS – IMPROVISANDO, O TRABALHO DÁ CERTO

Conforme relatamos anteriormente, a USF Ilha das Caieiras estava, quando da realização desta pesquisa, imersa num lindo ambiente externo mas com a funcionalidade interna dos procedimentos improvisada numa casa alugada, onde alguns espaços se mostravam inadequados para a disposição de objetos e guarda de materiais e documentos, além da insuficiência de espaço para reuniões, grupos de estudos e realizações de palestras e outros encontros com profissionais e com usuários do sistema de saúde.

Nas visitas que fizemos à USF pela manhã percebemos que a maioria das atividades se concentram neste horário. O horário de funcionamento da USF é de sete horas da manhã às dezoito horas com intervalo de uma hora de almoço para todos os profissionais. Os profissionais que trabalham internamente à USF trabalhavam em turnos de forma a atender ao público durante todo o horário de funcionamento. As ACS iniciavam o trabalho diariamente às oito horas e saíam às dezessete horas. Todos os profissionais assinavam o livro de ponto quatro vezes ao dia: ao chegar pela manhã, ao sair para o almoço, ao retornar do almoço e ao sair ao final do expediente, exceto as ACS, que conquistaram o direito de fazê-lo apenas duas vezes ao dia – início e final do expediente em função da quantidade de visitas que precisavam fazer diariamente para atingir a meta colocada pelo MS, que é de visitar pelo menos uma vez ao mês vez cada família que reside na microárea de sua responsabilidade.

Os serviços oferecidos pela USF Ilha das Caieiras são: consulta médica e de enfermagem; atendimento psicológico, social e odontológico; verificação de pressão arterial; curativo; coleta de exames; nebulização; injeção; vacinas; dispensação de medicamentos; grupos temáticos em atendimentos a diversos programas; e encaminhamentos para os Centros de Referência (SEMUS/PMV, 2008).

Havia nesta época uma proposta em discussão sobre a ampliação do horário de funcionamento da USF Ilha das Caieiras para encerramento do expediente às vinte e duas horas. Atualmente algumas USFs já funcionam em horário diferenciado tais como as vizinhas na direção sul - USF Santo Antônio que funciona de sete às dezenove horas - e na direção norte - USF Santo André que funciona das sete às vinte e duas horas, como um „semi‟ pronto-atendimento (PA). Essa discussão teve início em função do aumento da demanda nos PAs em funcionamento atualmente em Vitória, quais sejam a Policlínica de São Pedro, localizada na Rodovia Serafim Derenzi e o Pronto Atendimento Municipal da Praia do Suá, os quais funcionam vinte e quatro horas por dia, inclusive sábados, domingos e feriados e fornecem serviços de atendimento clínico, pediátrico, odontológico, pequenas cirurgias (anestesia local), leitos de observação para clínica médica e pediatria, sala de emergência, laboratório, dispensação de medicamentos e Raio X (Jornal A Tribuna, 21 de janeiro de 2009).

A distribuição das senhas na USF Ilha das Caieiras para marcação de consultas médicas e odontológicas tinha início às seis da manhã e era feita pelo vigilante. A coleta de material para exames laboratoriais se iniciava às oito horas, horário que coincidia com a chegada das ACS, do início das atividades da Farmácia, da secretaria, das consultas; enfim, era um “mar de gente” tentando se acomodar numa pequena recepção ou adentrar um pequeno portão completamente ocupado pelas filas que se formavam.

Conforme abordado no item que descreve a Estratégia de Saúde da Família e sua concepção de gestão, um dos pilares principais apontados nos documentos é a organização trabalho em equipe composta por profissionais de diversas áreas de conhecimento e atuação, trabalhando em rede – o que o MS denomina equipes multiprofissionais (ES/SESA, 2007).

microáreas, de forma que cada área corresponde ao território de atuação de uma equipe e cada microárea corresponde ao território de atuação de uma ACS. Portanto, tem-se a seguinte configuração: três Equipes de Saúde da Família (EqSF), cada uma delas composta por um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem, um dentista e um auxiliar de consultório dentário, além dos Agentes Comunitários de Saúde. Duas equipes estavam com quatro ACS e uma possuía três ACS, e, duas microáreas estavam “descobertas” no decorrer da pesquisa, ou seja, sem atendimento por ACS por falta de profissionais contratados para essa função. Como veremos a frente, de fato essas áreas não estão “descobertas” pois outras ACS atendem as principais demandas dessas duas microáreas.

Além dos profissionais das EqSF faziam parte da USF outros profissionais como auxiliares de enfermagem, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, vigilantes, auxiliares de limpeza e recepção que compunham o quadro de trabalhadores da USF oferecendo serviços de saúde para a população que se desloca até lá, mas não diretamente ligados a uma EqSF. Havia apenas um profissional assistente social e um psicólogo para atender à USF – usuários dos serviços de saúde da comunidade e profissionais da USF.

As visitas domiciliares aconteciam todos os dias pela manhã e pela tarde, cada ACS em sua microárea com profissionais da sua EqSF. Eram aproximadamente 200 famílias que cada ACS atendia sob sua responsabilidade, e o Ministério da Saúde preconiza que todas sejam visitadas pelo menos uma vez por mês, de forma que as ACS precisavam fazer escolhas para quais famílias priorizar as visitas em função da necessidade dos usuários. As ACS relatavam que nem sempre era possível visitar todas as famílias, segundo uma delas “porque não dá tempo, porque a família nunca

está em casa em nosso horário de trabalho ou porque não querem nos receber mesmo”. Em contrapartida havia famílias que eram visitadas mais de uma vez por

mês “porque precisam de cuidados especiais, como idosos acamados, diabéticos,

hipertensos, gestantes, ou outros que precisam de mais cuidado naquele momento”.

Algumas visitas eram feitas acompanhadas pelos auxiliares de enfermagem, quando é necessário aferir pressão, fazer curativos, dar injeções. Outras eram acompanhadas pelo enfermeiro e/ou pelo médico da equipe quando necessário atender a um paciente idoso e/ou acamado que não consegue se locomover até a USF ou quando da visita a recém nascido. A agenda de visitas era planejada a cada

início de mês entre o enfermeiro (chefe da equipe), o médico, as ACS e os auxiliares de cada equipe, mas, não raro eram necessários “desvios” ou renormalizações (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007) por necessidades emergenciais de outros usuários ou de outras equipes que precisavam de apoio de mais um profissional.

Seguiremos à descrição da regulamentação que traz as normas antecedentes ao trabalho dos ACS, ou seja, aquilo que se espera que seja executado por quem atua nessa função, conforme prescrito pelos profissionais que conceberam o modelo de gestão da Estratégia da Saúde da Família, na qual os ACS representam a interface do sistema de saúde pública com o usuário do mesmo.

5.3 AS NORMAS ANTECEDENTES AO TRABALHO DOS AGENTES