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1 A EXPANSÃO DA UNIVERSIDADE

1.2 A Expansão do Ensino Superior no Brasil

1.2.1 As Políticas para a Expansão do Ensino Superior no Governo Lula

1.2.1.1 Diagnóstico, Análise e Diretrizes

a) Análise do GTI – Bases para o enfrentamento da crise emergencial das universidades federais e roteiro para a Reforma Universitária Brasileira

Da análise do GTI, resultou documento intitulado Bases para o enfrentamento da crise emergencial das universidades federais e roteiro para a Reforma Universitária Brasileira, que, além de diagnosticar a então crise que a educação superior brasileira estava atravessando – a crise fiscal, que se implantou por meio de um Estado mínimo, em que o Organismo Estatal deixava de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social e passava a atuar como promotor e regulador desse desenvolvimento – apresentou, em sua composição, um plano de ação dividido em quatro partes, conforme se define no documento:

A primeira apresenta o elenco de ações emergenciais para o enfrentamento imediato da crítica situação das universidades federais. A segunda ressalta a necessidade da efetiva implantação de autonomia à universidade federal. A terceira parte aponta para linhas de ação imediata, que possam complementar recursos e ao mesmo tempo propiciar um redesenho do quadro atual. A quarta indica as etapas necessárias para a formulação e implantação da reforma universitária brasileira. (BRASIL, 2003b).

Dentre o rol de ações emergenciais, formuladas para o enfrentamento imediato da crítica situação das universidades federais, o documento aponta para as seguintes ações:

− formular e implementar as diretrizes de um plano emergencial para equacionar e superar o endividamento progressivo junto aos fornecedores, combinado com a elevação dos recursos para os custos operacionais;

− abrir concursos para preencher as vagas de professores e servidores, originadas por demissões, aposentadorias e exonerações, não preenchidas ao longo dos últimos dez anos, e para substituir os professores contratados em caráter temporário por docentes efetivos; assegurar, ainda, recursos para cobrir os deficits em manutenção e investimento;

− outorgar autonomia para garantir às universidades federais o uso mais racional de recursos, maior eficiência no seu gerenciamento e liberdade para captar e aplicar recursos extraorçamentários além da autonomia didático-pedagógica; e − assegurar vagas novas - (i) concedendo bolsas de aproveitamento e

regionalização para a contratação de doutores que querem se dedicar ao magistério, especialmente nas licenciaturas em Física, Matemática, Biologia, Química, nos locais carentes de pessoal com formação superior, (ii) adotando

critérios de regionalização e interiorização na política de abertura de vagas para concurso, juntamente com um auxílio para implantação de linhas de pesquisa para esses novos contratados, e (iii) reintegrando aposentados às atividades das universidades federais, mediante a implementação de um programa especial de bolsas de excelência (BRASIL, 2003b).

A segunda parte do documento ressalta a necessidade da implantação da efetiva autonomia universitária nas universidades federais, que envolve todos os aspectos, sejam, autonomia didático-pedagógica-científica, autonomia administrativa (prevê a capacidade de administrar os seus serviços e pessoal), autonomia da gestão financeira e patrimonial (prevê o direito de administrar, aplicar e captar seus bens e recursos, em função dos objetivos didáticos, científicos e culturais) e a autonomia participativa e transparente (aponta para a necessidade da participação de sociedade e da comunidade universitária nas decisões relativas a fontes de uso e recursos).

A terceira parte refere-se ao rol de medidas para o Redesenho do Quadro Atual da Educação Superior. Duas medidas emergenciais foram apontadas para o primeiro momento, a primeira das quais a Educação à Distância e a segunda o Pacto da Educação Superior para o Desenvolvimento Inclusivo. Esta última foi uma medida criada com a finalidade de formar profissionais de nível superior em áreas identificadas como carentes de capacitação pelo Governo. Cada instituição poderia efetuar a sua adesão de forma voluntária ao programa, mediante edital com especificações de metas e objetivos das ações.

Entre as ações estavam a ampliação do número de vagas em horário noturno e o estabelecimento dos cursos em regiões e localidades estrategicamente determinadas. As vagas abertas pelo pacto contemplavam, prioritariamente, as universidades federais, no entanto, quando o setor público não fosse capaz de atender a toda a demanda, poderiam ser incluídas instituições comunitárias ou particulares. Às instituições seria assegurado, por meio do MEC, um fluxo regular adicional de recursos e um valor mensal por aluno ao longo do período correspondente à sua formação, assim como um valor adicional no momento da conclusão do curso. Para todo o alunado, os cursos oferecidos pelo pacto seriam gratuitos.

Na quarta e última parte, foram apresentadas as etapas necessárias para a formulação e implantação da proposta da reforma universitária brasileira, quais sejam:

− ampliação da oferta de vagas no ensino superior público, sem o sacrifício da qualidade em detrimento da escassez de recursos financeiros;

− envio de meios para possibilitar o custeio a jovens sem condições de acesso a vagas nas universidades públicas e sem recursos pessoais para pagar seus estudos, nas instituições particulares;

− inserção de aspectos como cotas para minorias e portadores de necessidades especiais, Avaliação progressiva do desempenho pré-universitário etc.; e

− inserção de novos métodos de ensino e convivência universitária, incluindo o ensino a distância, os reconhecimentos internacionais de saber, afastamento dos riscos da mercantilização do ensino superior, a formação permanente e a validade dos diplomas. (BRASIL, 2003b)

Este plano de ação foi direcionado levando-se principalmente em consideração a meta determinada pelo Plano Nacional de Educação (PNE) de atingir 40% de universitários matriculados no setor público, haja vista o avanço da demanda social por educação superior pública, em razão da perda de poder aquisitivo da população. Em 2003, havia 600 mil alunos matriculados no ensino superior e, para atingir esta meta, seria preciso chegar a 2,4 milhões de vagas no sistema público.

b) Análise ONG Orus

Na análise elaborada pela ONG Orus, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Superior (SESU) e Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas (DAPES), criada com a finalidade de contribuir para a Reforma da Educação Superior Brasileira, apresentou-se diagnóstico com ideias semelhantes ao realizado pelo GTI. Verificou-se no diagnóstico que as propostas oferecidas para a reforma do ensino superior são diversificadas. Cada grupo de interesse consultado defendeu aquilo que representa as suas necessidades, suas ideias e, na maioria das vezes, acabavam oferecendo defesa que não comporta o todo.

O diagnóstico percebeu diversas críticas direcionadas ao setor privado de educação superior colhidas nas entrevistas. A este respeito o grupo de trabalho enfatizou que não é possível simplesmente querer acabar com o setor, que desde o início do estabelecimento do ensino superior no País foi inserido, induzido e estimulado pelo Estado, e, no momento, este não poderia ser ignorado pelo Governo, tampouco considerado sem importância. Referida ênfase justificou-se pela afirmação do grupo de que o ensino privado ocupava naquele momento 2⁄3 das matrículas no Brasil. Na concepção mencionada no documento, caso se planeje acabar com este sistema, certamente isto terá que ser feito aos poucos, iniciando-se pela criação de meios para expandir o ensino superior público e torná-lo mais eficiente, competitivo e acessível a todos.

Outra direção tomada é a de que não se poderia permitir que universidades e instituições privadas escapassem do controle do Estado. Identificou-se o fato de que, na pauta da reforma, existem dois objetivos distintos: um é a reforma da Universidade federal e o outro é das relações do sistema de educação superior – o público e o privado – e o papel do Ministério relativo a universidades e a faculdades isoladas. Nesse sentido, o documento aponta preocupação no que concerne o estabelecimento de um acompanhamento e fiscalização das IES privadas pelo MEC, a fim de garantir que suas finalidades e objetivos sejam públicos e também que ficassem definidas as relações do MEC com as mantenedoras do ensino superior privado, a fim de definir os seus graus de autonomia, e os cuidados que devem ser tomados para que estas sejam públicas em sua vocação.

Em relação às universidades federais, aponta-se que estas sejam a parte do conjunto das instituições de ensino superior de maior importância, onde estão as bases do capital científico-tecnológico e de recursos humanos voltados à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico do País. Ressaltou-se, também, que existe a necessidade de quem ingressa na Universidade incluir-se no campo do saber e quem sai envolver-se no mundo do trabalho, portanto, a Universidade pública não poderia mais fugir dessa realidade. Não se poderia continuar a formar, sem se preocupar se haveria mercados de trabalho, destacando-se que “à universidade cabe formar, não treinar para o mercado". (STROH; PENA-VEGA; NASCIMENTO, 2003, p. 24).

No diagnóstico, indica-se que a reforma da educação superior proposta pelo Governo Lula tem como prioridade o acesso, a permanência e a conclusão dos estudos, cujo maior desafio encontra-se na ampliação das possibilidades de ingresso no ensino superior público aos marginalizados. No debate, entre as ações que criariam possibilidades para o acesso, estaria a preocupação com a reforma da escola pública (ensinos médio e fundamental públicos), concomitante à criação de condições que pudessem garantir a permanência e conclusão da graduação desses alunos, em que o sistema de cotas poderia ser uma das opções a fim de proporcionar o acesso, mas não a única. O ideal seria buscar saídas múltiplas e combinadas que resultassem numa seleção justa. Do contrário, não adiantaria reformar, porque a Universidade pública continuaria sendo excludente.

Outro ponto de grande destaque explicitado pelo grupo de trabalho acerca da reforma é a busca por um grau maior de autonomia para as universidades federais, que é visto como essencial, a fim de reduzir a dependência das universidades ao Ministério de Educação, ao Estado, e à interveniência governamental sobre a Universidade, o que poderia favorecer a captação de recursos fora do orçamento federal, haja vista a consciência das limitações e

carências das universidades; possibilitando a superação de limitações burocráticas e da previsão orçamentária, que “podem ser eliminadas, desde que surja uma legislação ágil que flexibilize receber e gerir recursos”. (STROH; PENA-VEGA; NASCIMENTO, 2003, p. 44).

Outras necessidades foram indicadas pelo diagnóstico, tais como:

− a diversificação do ensino superior, a fim de atender a diferentes interesses e necessidades que proporcionarão uma maior eficiência e eficácia do ensino superior;

− a revisão de currículos, que deverá conduzir à atualização de conhecimentos e à promoção da inovação de profissões;

− a importância de a Universidade centrar-se na pesquisa, porquanto essa instituição produz conhecimento, especialmente a necessidade da priorização de pesquisas em função das carências e demandas sociais em diferentes regiões;

− a reformulação dos critérios de avaliação das pós-graduações, das pesquisas, dos pesquisadores, dos professores, dos cursos etc;

− a abolição de procedimentos de punir professores que não cumprem suas obrigações, atribuindo-lhes tempo parcial;

− a proposição de programas de mobilidade geográfica para estudantes de graduação;

− a responsabilidade social; e

− a implementação de programas de cooperação nacional e internacional desburocratizados e com regras simplificadas. (STROH; PENA-VEGA; NASCIMENTO, 2003).

O Grupo Orus, em conjunto com MEC, Sesu e Dapes, em 2003, concluíu que deveria haver um mínimo de apoio do MEC para começar a recobrar a motivação do professorado e a credibilidade da missão social da Universidade na sociedade, haja vista que, na Universidade, a mudança não poderia ser abrupta, seria necessário dar um passo de cada vez, com coerência e persistência.