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2 REVISÃO TEÓRICA: AGLOMERAÇÕES INDUSTRIAIS PRODUTIVAS DE

2.3 A IDÉIA DE CLUSTER EM PORTER E SCHMITZ

2.3.1. O diamante de Porter

Na busca de nova visão sobre a vantagem competitiva das nações, Porter (1990; 1999) realizou análise dinâmica e sistêmica dos distritos industriais - clusters, sintetizando diversas correntes teóricas e idéias sobre a matéria. Então, ao estudar a competição no mundo global percebeu que a competitividade em âmbito local não deixou der ser importante, contrapondo-se à idéia de que as forças globais se sobrepujam à influência dos governos em relação à competição. Na verdade, com o acirramento da competição e do processo de mundialização, o papel das concentrações regionais industriais adquire maior destaque, tornando-se o cerne da análise de vários estudos.

O destaque dado às aglomerações industriais, no que concerne à competitividade, apresenta relação com o ganho de vantagem competitiva, já que determinada empresa, ao se instalar em local que concentra várias empresas do mesmo setor e setores correlatos, desfrutará de vantagens locacionais, sendo mais fácil sobreviver no aglomerado do que isoladamente. Portanto, frente ao processo de abertura de mercados e conseqüente aprofundamento da competição, as empresas, em especial, as menores, podem competir mais igualitariamente se estiverem inseridas no aglomerado.

Assim, faz-se importante abordar a economia sob a ótica dos aglomerados e não sob a ótica dos setores, já que as conexões e os elos derivados da interação entre as empresas do aglomerado são imprescindíveis para a competitividade, influenciando a produtividade; a formação de novas empresas e a velocidade com que aparecem as inovações. Portanto,

[...] os aglomerados se alinham melhor com a natureza da competição e com as fontes da vantagem competitiva. Mais amplo do que os setores, eles captam importantes elos, complementaridades e “extravasamentos” ou efeitos colaterais, em termos de tecnologia, qualificações, informação, marketing e necessidades dos clientes que transpõem as empresas e setores. [...]. A maioria dos participantes de aglomerados não compete de forma direta, mas serve a diferentes segmentos setoriais. No entanto, compartilha muitas necessidades e oportunidades comuns e enfrenta muitas limitações e obstáculos coletivos a produtividade. (PORTER, 1999, p. 217).

Desse modo, apesar dos aglomerados assumirem diferentes formas, para Porter (1999) eles representam concentrações geográficas de empresas que interagem entre si e contam com o apoio de fornecedores de insumos especializados, componentes, equipamentos e serviços, fornecedores de infra-estrutura especializada, prestadores de serviços, empresas em setores correlatos, instituições de fomento, ensino e pesquisa, empresas em setores a jusante (distribuidores ou clientes), fabricantes de produtos complementares, órgãos governamentais (têm importante papel) e, às vezes, associações privadas, os quais estabelecem relação competição-cooperação. Nesse contexto, os aglomerados mais desenvolvidos são os que apresentam bases mais profundas e especializadas de fornecedores, um maior aparato de setores correlatos e instituições de apoio mais abrangentes.

A estrutura do modelo de cluster porteriano se baseia no Diamante, em que as aglomerações são melhor interpretadas como conseqüências das interações entre as quatro facetas. Assim, a Figura 1 apresenta de forma resumida o modelo de Porter, onde a localização deve possuir quatro atributos para proporcionar vantagens competitivas às empresas aglomeradas.

A primeira vantagem se refere às Condições dos Fatores, em que os recursos são divididos em tangíveis (mão-de-obra, território, etc.) e intangíveis (habilidades, tecnologias, dentre outros), e são avaliados segundo a qualidade e os custos. A segunda vantagem corresponde aos Setores Correlatos e de Apoio, os quais mantêm relacionamentos com a indústria local, a ponto de fortalecê-la. Nesse contexto de correlação e bom relacionamento na cadeia produtiva ocorre intensa troca de informações, habilidades e tecnologias. Outra vantagem está ligada a Estratégia e Rivalidade da Empresa, onde “a rivalidade interna pode ser destacada como um estímulo na busca incessante de inovação das empresas locais, [...] e estimulando a especialização de fatores condicionantes e dos fornecedores, o que ajuda no progresso da demanda interna”. (FROTA, 2005, p. 31, 32).

Fonte: Porter, 1999, p. 224

Figura 1 – Fontes da vantagem competitiva da localização

Por fim, as Condições de Demanda podem representar ferramenta fundamental na condução das estratégias a serem empregadas. A exigência interna faz com que “[...] as empresas melhorem e proporciona insights sobre as necessidades existentes e futuras que dificilmente emanariam das simples observação dos mercados externos. A demanda local também é capaz de revelar segmentos do mercado que possibilitam a diferenciação”. (PORTER, 1999, p. 225).

Assim, todas essas vantagens apresentam um componente de relacionamento, onde, de acordo com Porter (1999), a identificação da empresas com o senso de comunidade, decorrente da participação no aglomerado se transforma em valor econômico, pois traz benefícios como confiança e permeabilidade organizacional, sustentados pelo senso de dependência mútua, que, por sua vez, aumenta a produtividade, estimula as inovações e cria novas empresas.

Nesse sentido, coloca-se que os aglomerados influenciam a competição de três maneiras. A primeira maneira é pelo aumento da produtividade das empresas ou setores

componentes – o qual decorre de alguns fatores: a) acesso a insumos e a pessoal

especializado – existem fornecedores locais e um pool de pessoal especializado e experiente. b) acesso à informação – informações e conhecimentos se acumulam dentro do aglomerado, e

o acesso a eles é de melhor qualidade e de custos inferiores. c) complementaridades – a coordenação e as pressões internas pelo aprimoramento do aglomerado são capazes de gerar melhorias significativas nos níveis de qualidade e eficiência. d) acesso a instituições e a bens públicos – vários insumos, no interior dos aglomerados, são transformados em bens públicos ou quase públicos, tornando-os acessíveis. e) incentivos à mensuração do desempenho – dado a proximidade geográfica de várias empresas rivais, pode-se facilmente comparar o desempenho de uma firma com o de outra.

A segunda maneira se dá pelo fortalecimento da capacidade de inovação – através das constantes interações, a troca de informações e conhecimentos facilita às empresas no sentido de realizarem experiências a custos reduzidos, estimulando as inovações. Nesse cenário, as empresas aglomeradas conseguem discernir com maior facilidade e velocidade, os novos gostos dos consumidores; as novas possibilidades tecnológicas, operacionais ou de distribuição; a disponibilidade de máquinas e componentes; e os novos conceitos de serviços e de marketing.

A terceira é pelo estimulo à formação de novas empresas – a maioria das novas empresas se instala nos aglomerados porque a percepção dos riscos se reduz, devido aos maiores incentivos à entrada (maiores informações sobre oportunidades existentes); à existência de ativos (habilidades, insumos e pessoal à pronta entrega); à existência de mercado local; investidores e instituições que exigem menores prêmios de risco sobre o capital; e à própria existência de empresas locais que deram certo.

Sendo assim, como as economias externas são resultados da interação entre as empresas, instituições e demais organismos, essas são essenciais ao desenvolvimento do aglomerado, atuando sobre a produtividade e a inovação. Além disso, a teoria dos aglomerados constitui um elo entre a teoria das redes e a competição, que serve para explicar as causas da estrutura da rede, a substância das atividades em rede e a ligação entre as características e os resultados das redes. Então, os aglomerados, em sua maioria, vão além das redes hierárquicas, formando conexões que evoluem e se expandem para setores correlatos. Posto isso, os aglomerados se fortalecem na medida em que se fortalece o envolvimento cívico e o capital social.

Nesse contexto, depende-se da interferência do governo (mesmo que seu papel seja secundário) para fundir todas as características e para coordenar todos os agentes, uma vez que

o governo tem a função básica de assegurar a estabilidade econômica e política; de encorajar mudanças na indústria; de promover a rivalidade interna; e de estimular a inovação. Sendo assim, a influência dos governos nos aglomerados aparece em toda a estrutura do Diamante.