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2 REVISÃO TEÓRICA: AGLOMERAÇÕES INDUSTRIAIS PRODUTIVAS DE

3.3 ANÁLISE ESTRUTURAL

3.3.2 Caracterização do setor têxtil-vestuário catarinense

3.3.2.1 Origem e desenvolvimento: aspectos históricos centrais

A economia do estado de Santa Catarina teve formação bastante peculiar, no qual predominou a tradição européia de viver em comunidade, com o cooperativismo presente na execução das tarefas diárias nas colônias do estado.

Além disso, a exploração econômica sob a forma de pequena propriedade, também se iniciou com os primeiros imigrantes já na segunda metade do século XVIII. Segundo Hering (1987), os imigrantes que vieram nesta época eram açorianos e madeirenses (em geral, eram agricultores e pescadores), que se instalaram na costa catarinense, sendo que para cada casal eram dados apenas 1.650 metros de lado de terras. Desse modo, nas circunstâncias descritas, inaugurou-se a forma de produção baseada na pequena propriedade, fato importante para o entendimento da atual formação da estrutura da economia catarinense e, em especial, a do Vale do Itajaí, onde predomina a existência de empresas de menor porte.

A colonização no Vale do Itajaí, mais especificamente na região do Médio Vale, foi em grande parte realizada por imigrantes alemães, os quais se concentraram nas colônias de Blumenau e Brusque, onde se visualizou o nascimento de uma economia de subsistência que utilizava mão-de-obra familiar, baseada na produção agrícola diversificada e em pequena escala. Portanto, formou-se um tipo de economia diferente do modelo predominante no país - plantation (grandes fazendas monocultoras com produtos voltados à exportação).

Nesse contexto de colonização, Cunha (1992) apresenta a formação da economia catarinense dividida em quatro fases, que são: Economia de subsistência (1748 – 1850); Agricultura Diversificada e Desenvolvimento Artesanal (1850 – 1880); Fase do Desenvolvimento Industrial (1880 – 1914) e Desenvolvimento da Pequena e Média Empresa (1914-1945).

A partir da fase do Desenvolvimento Industrial passou a ocorrer a evolução da indústria artesanal para a indústria fabril de pequeno porte, até mesmo porque nesta fase aconteceram diversas transformações, dentre as quais: a introdução da energia elétrica em Blumenau (1909), Brusque (1913) e Joinville; o surgimento de organismos como uma agência bancária que em 1891 passou a atuar em Joinville; a constituição de núcleos urbanos; o aprimoramento do sistema de transporte (possibilitou a articulação com o capital nacional através da instalação dos portos de Itajaí e São Francisco; da instalação da ferrovia ligando o Alto Vale ao Litoral; e a abertura de rodovias), permitindo melhor comercialização dos excedentes; e a existência de recursos florestais em abundância.

Desse modo, surgiram as primeiras unidades fabris têxteis catarinenses, que se localizaram na microrregião de Blumenau. Então, no ano de 1880 foi fundada a Hering18, em 1882, a empresa Karsten S.A., a Renaux em 1892 e a Buettner em 1898. Sendo assim, foi possível a implantação de um sistema de crédito formal, puderam surgir caixas econômicas de iniciativa privada em Blumenau e em 1907, foram fundados o Volksverein (Sociedade Popular) e o Sindicato do Município de Blumenau.

Na quarta fase, a partir de 1914, grandes trasnformações aconteceram na economia do Vale do Itajaí. Quanto à indústria têxtil, esta cresceu, pois pode contar com a vinda de imigrantes alemães (os quais tinham experiência técnica, organizacional, eram operários ou, ainda, pequenos empreendedores) e também com a importação de equipamentos alemães para

fiação. Isso contribuiu para a indústria têxtil do estado se firmar no mercado nacional como o maior aglomerado industrial têxtil do Sul do país e como o terceiro maior pólo produtor nacional.

Nesse contexto, ao longo do século XX ocorreu a proliferação de indústrias têxteis e vestuaristas na região do Vale, com a empresa Teka em 1926, Cremer em 1935, Artex em 1936, Sulfabril em 1947, Dudalina em 1957, Marisol em 1964, Malwe em 1968, dentre outras. Essa proliferação maciça foi resultado de ações tanto do empresariado local, que realizou investimentos na verticalização produtiva e passou a importar algodão de outros estados, como resultado dos fatores já mencionados anteriormente e, ainda, devido ao

desabastecimento provocado pela Primeira Guerra Mundial que consolidou as indústrias brasileiras no mercado interno de forma ampla. Ao lado de São Paulo, Santa Catarina começava a despontar no cenário nacional como centro de produção textil e de confecções. A produção que era direcionada apenas para suprir o mercado interno passou a buscar compradores em outros mercados a partir de 1910. (ROCCA, 2003, p. 82).

Nesse contexto, Santa Catarina começou a conquistar outros mercados, em Brusque e Blumenau passaram a exportar para o Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Nordeste entre 1880 e 1919.

Em relação aos anos 30, a indústria têxtil-vestuarista se beneficiou com a política cambial favorável às importações de máquinas, equipamentos e matérias-primas do exteriror, contribuindo para a produção nacional e, assim, induzindo a redução da importação de tecidos e produtos confeccionados. Com esse cenário, o número de empresas cresceu

[...] de 18 em 1920 para 40 em 1940. O número de empregados nas têxteis catarinenses passou de 1344 para 4972 neste período, representando no início da década de 40 um quarto dos operários industriais do Estado. A média de empregados nestes estabelecimentos era de 124, contra apenas oito do setor industrial em sua totalidade. SANTIAGO (2001 apud ROCCA, 2003, p. 83).

Durante os anos 50 e 60, a economia catarinense foi deixando de ser uma economia agrícola-extrativista e passou a ter, na indústria, a sua maior geração de riquezas e empregos. Nesse contexto, o setor têxtil-vestuário do estado continuou se fortalecendo, em que se passou a instalar unidades fabris próximas dos principais mercados consumidores e também próximas de locais que oferecessem vantagens e benefícios fiscais.

Assim, esse setor alcaçou a década de 1970 com um crescimento notável, passando a exportar para países europeus, para os Estados Unidos, África e outros países da América do

Sul. Ainda de acordo com Rocca (2003), as exportações catarinenses desse período quadruplicaram em 5 anos. Chegou a US$ 213 milhões em 1975 e em 1980 atingiu os US$ 858 milhões de dólares.

As décadas de 60, 70 e 80 foram importantes para o desenvolvimento do setor têxtil- vestuarista no sentido de que foram criados diversos organismos para auxiliar as exportações, para ajudar com financiamentos, além da mais forte presença do apoio governamental. Portanto, por volta de 1960, ocorreu a implantação do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e do Banco de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (Badesc). Além desse sistema bancário, foi criado um sistema de incentivos fiscais, como a criação do Fundo de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (Fundesc) e do Programa Especial de Apoio à Capitalização da Pequena Empresa (Procape). Em 1969, foi criado pela Federação das Indústrias Catarinenses - FIESC, o Consórcio Catarinense de Exportação (Concatex). Logo, as exportações catarinenses “quintuplicaram em valor entre 1970 e 1975, conseguindo um avanço de 1,1 ponto percentual no total nacional”.(Fiesc 50 anos: uma história voltada para a industrialização catarinense, 2000, p. 73).

No tocante ao apoio governamental, durante esse período foram estabelecidos alguns planos, como o Plano de Obras e Equipamentos (POE) de 1956-1960; Plano de Metas do Governo I (Plameg I) de 1961-1965; Plano de Metas do Governo II (Plameg II) de 1966-1970; Projeto Catarinense de Desenvolvimento (PCD) de 1971-1975; Governar é Encurtar Distância (1975-1979); Plano de Ação (1979-1983); Carta dos Catarinenses (1983-1987); Rumo à Nova Sociedade Catarinense (1987-1991); e outros. Durante o Plameg I, por exemplo, foram criadas duas instituições públicas para concessão de créditos: Banco de Desenvolvimento do Estado (BDE), o qual hoje é o Banco do Estado de Santa Catarina (BESC), e também o já mencionado BRDE e foram criadas a Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (UDESC) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).