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2 REVISÃO TEÓRICA: AGLOMERAÇÕES INDUSTRIAIS PRODUTIVAS DE

2.5 SÍNTESE CONCLUSIVA

Existe uma conscientização crescente de que a competição na chamada era da informação e do conhecimento torna a construção de competências e a inovação pontos centrais para todos os players dos mercados globais, em que altera ao mesmo tempo velhas

formas de intervenção estatal e dogmas neoliberais. As transformações ocorridas, tais como a globalização financeira e produtiva e a difusão das tecnologias de informação e comunicação, levaram à busca de novas teorias do desenvolvimento, em que a flexibilização da produção e a agilidade são exemplos de vantagens competitivas perseguidas pelas empresas. Além disso, a chamada era da sociedade em rede12, embora assumindo uma dimensão global, depara-se com uma tendência contraditória que é a regionalização, expressando:

(a) a diferenciação entre realidades culturais e projetos de sociedade, ou seja, entre comunidades territoriais e segmentos sociais diversos; (b) a desigualdade entre sociedades com distintas condições de desenvolvimento, bem como entre segmentos de diferentes níveis socioeconômicos no interior de uma mesma sociedade. (ALBAGLI, MACIEL, 2004, p. 14).

Nesse cenário, e visando compreendê-lo melhor, faz-se necessário analisar a informação, o conhecimento e a inovação como resultados de processos históricos e sócio- culturais e como constituintes e expressões da dinâmica político-institucional, sendo, portanto, moldados pelo tempo, história, culturas/costumes, e espaço/território.

Nesse sentido, noções como as de capital social e de territorialidade ganham espaço na reflexão sobre esses temas nas várias áreas do conhecimento, em que as formas de aglomeração industrial ganham destaque por permitir fortes interações entre os atores, o que leva à aprendizagem coletiva e às possibilidades de inovar.

Desse modo, a abordagem das literaturas sobre clusters, distritos industriais e arranjos produtivos locais traz à luz as noções de vantagens externas geradas e compartilhadas entre as firmas aglomeradas. E, apesar desses conceitos terem sido desenvolvidos em épocas distintas; serem marcados por realidades socioeconômicas diferentes; possuírem diferentes nomenclaturas; diferentes tipos de organização da produção e diferentes tipos de governança, esses conceitos se aproximam quando reforçam o papel da cooperação como elemento determinante para o alcance de maior competitividade e para a superação da escassez de recursos internos necessários ao desenvolvimento de capacidades e competências.

Portanto, as formas territorializadas de industrialização criam sinergias, que levam ao aprendizado interativo, onde as informações e conhecimentos tácitos são mais facilmente inter-cambiados. Assim, a aprendizagem constitui elemento central para a consolidação da inovação, a qual significa maior competitividade para as empresas do aglomerado e maior

possibilidade de desenvolvimento local. Então, o estudo sobre os sistemas regionais de inovação se torna útil tanto como ferramenta analítica sobre a capacidade inovativa decorrente do learning by interacting, quanto como guia para políticas de desenvolvimento, em especial para as empresas de menor porte.

Nesse contexto, as micro e pequenas empresas também adquirem importância no novo cenário político-econômico, pois atendem aos critérios de flexibilidade, agilidade, além de empregarem grande parte da mão-de-obra nos países. Ressalta-se assim, que o desenvolvimento de sistemas locais de inovação é particularmente benéfico para as MPEs, já, que atuando em conjunto conseguem superar as barreiras inerentes ao próprio porte da firma.

Por isso, pela fragilidade das menores empresas; pela existência de diferentes atores; pela complexidade das atividades desenvolvidas; e pelas diferentes dinâmicas específicas de cada arranjo/sistema, as estruturas de governança constituem instrumentos essenciais de coordenação e promoção dos aglomerados. Nesse contexto, as políticas públicas devem ser implementadas, aliando-se às iniciativas privadas para difundir o uso do conhecimento e da inovação tecnológica, mas sempre considerando as características específicas relacionadas à articulação entre a estrutura produtiva e a estrutura de conhecimento de cada aglomeração industrial.

Sob esse ponto de vista, a compreensão da dinâmica dos arranjos/sistemas sob o foco da inovação local deve se concentrar na análise dos processos de geração, difusão e uso de conhecimentos tácitos e codificados; no conhecimento e no aprendizado resultantes das interações locais; nas formas de cooperação; no caráter sistêmico do aprendizado e da inovação, reconhecendo o papel de cada ator local para a geração do conhecimento coletivo e de uma inteligência local; na existência de instituições de apoio e de canais de comunicação entre os agentes; no desenvolvimento empresarial e também do local; na capacidade de interação e cooperação das organizações, gerando conhecimento e promovendo o aprendizado e a inovação.

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DIAGNÓSTICO DO SETOR TÊXTIL-VESTUÁRIO: PRINCIPAIS

CARACTERÍSTICAS DE COMPETITIVIDADE

A relação entre espaço, sociedade e economia leva à importância da abordagem sobre aglomerações regionais produtivas, que requer delimitação geográfica para a realização de estudo mais detalhado.

Para tanto, delimita-se a pesquisa escolhendo o setor têxtil-vestuário13 localizado no município de Brusque – Santa Catarina, o qual representa um dos expoentes do arranjo produtivo da região do Médio Vale do Itajaí.

O setor têxtil-vestuário brusquense apresenta nítida propensão à aglomeração, devido a importante presença de inúmeros fatores relacionados à dotação de vantagens locacionais, tais como: a tradição secular de produção setorial; a existência de grande número de micro, pequenas e médias empresas (foco do estudo); a existência de instituições de ensino e pesquisa; além de outros fatores também relevantes para a formação da base competitiva empresarial.

Nesse sentido, o objetivo deste capítulo é desenhar o perfil do setor têxtil-vestuário do município selecionado. Assim, na seção 3.1, mostra-se a estruturação da cadeia têxtil- confecções de um modo geral. Por seu turno, na seção 3.2, revela-se o atual comportamento dessa indústria, discutindo os impactos causados pela abertura econômica nos anos 1990 e o atual padrão de concorrência. Em seguida, na seção 3.3, apresenta-se a caracterização do setor têxtil-vestuário, segmentando-o em nível nacional, estadual, regional e municipal. No tocante ao estado de Santa Catarina, mostra-se a origem e desenvolvimento desse setor, além dos impactos causados durante a década de 90. E em relação ao âmbito municipal, aborda-se a cidade de Brusque e suas respectivas características quanto ao setor têxtil-vestuário. Tal caracterização é apoiada em dados socioeconômicos setoriais. Na seção 3.4, faz-se as considerações finais.

13 Embora a pesquisa de campo realizada para este estudo se concentre nas empresas produtoras de artigos do

vestuário, englobar as empresas têxteis na caracterização do cluster em questão se faz imprescindível, uma vez que, de acordo com Lins (2000), os setores têxtil e vestuário pertencem a um mesmo complexo industrial, o que implica falar em extensa gama de atividades que se entrelaçam, e que também interagem com outros setores pertencentes a outros complexos industriais.

3.1 A CADEIA PRODUTIVA TÊXTIL-CONFECÇÕES: CARACTERÍSTICAS