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2 REVISÃO TEÓRICA: AGLOMERAÇÕES INDUSTRIAIS PRODUTIVAS DE

2.3 A IDÉIA DE CLUSTER EM PORTER E SCHMITZ

2.3.2. O framework de Hubert Schmitz

Para Hubert Schmiz, cluster significa uma concentração geográfica e setorial, onde há amplas oportunidades para a divisão do trabalho entre as empresas e, portanto, para a especialização e a inovação, essenciais para competir fora dos mercados locais. Além disso, há, também, oportunidades substancialmente maiores para a ação conjunta.

Este modelo segue a mesma linha dos estudos sobre os distritos industriais italianos. Por esse pensamento, as economias externas de Marshall não são suficientes para explicar o desenvolvimento dos clusters. Então, realizou estudo sobre a eficiência coletiva, em que a formação do cluster é um fator de extrema importância para que as pequenas firmas obtenham ganhos de eficiência, o que raramente conseguiriam ter se estivessem isoladas. No entanto, embora o cluster traga benefícios para as empresas aglomeradas, não necessariamente, os ganhos de eficiência decorrem da formação do mesmo.

Portanto, a noção de eficiência se torna mais real na medida em que um número maior de elementos (divisão do trabalho; especialização entre pequenos produtores; surgimento de fornecedores de matérias-primas ou componentes de máquinas e equipamentos; trabalhadores setorialmente qualificados; surgimento de agentes que vendem nos mercados nacional e internacional – agentes exportadores -; aparecimento de serviços técnicos especializados e serviços financeiros; associações provedoras de serviços e informações) estejam presentes. Além desses elementos, o que caracteriza os distritos industriais em Schmitz é: a) a concentração geográfica setorial em torno de cadeia produtiva principal, em que a proximidade favorece a difusão de idéias, inovação e colaborações; b) predominância de PMEs concentradas em determinado espaço com organização eficaz; c) produção do sistema produtivo local com importante participação na produção do país; d) existência de identidade sócio-cultural que facilita a cooperação; e) apoio governamental; f) existência de sistema de

informação que permite rápida circulação de informações sobre mercado, tecnologias, formas de organização, etc.; g) produção flexível.

Todos os elementos que levam aos ganhos de eficiência coletiva na aglomeração se baseiam nas relações sociais existentes, as quais “são sedimentadas pelas inter-relações históricas, sociais e culturais existentes nessas localidades que são representadas por atitudes culturais, familiares e até mesmo religiosas”. (SABATINI, 1998, p. 33). Assim, as relações sociais são importantes no sentido em que estimulam a cooperação e, a partir da conjugação de forças por meio das ações conjuntas, chega-se ao maior desenvolvimento dos clusters, os quais, desse modo, conseguem sobreviver a pressões e instabilidades mais facilmente. Além disso, a cooperação leva a formação de alianças e ações conjuntas que elevam o grau de competitividade das empresas aglomeradas.

Para Schmitz (1997), a eficiência coletiva é produto de um processo interno, em que algumas empresas declinam e outras crescem. Essa diferença quanto ao desenvolvimento das firmas se relaciona com as interações que ocorrem, sendo que estas podem ser verticais (empresas compram produtos e serviços através do mercado, através de parcerias com compradores – verticalização para frente - ou por acordos de subcontratação – verticalização para trás) ou horizontais (os produtores podem desenvolver atividades de forma conjunta, mas há também um caráter de concorrência, onde, freqüentemente competem por encomendas). Sendo assim, o nível de competição dentro do cluster varia de acordo com o tipo de relação que se estabelece, mas, mesmo havendo competição, há cooperação e, é isto que a noção de eficiência coletiva engloba, pois “[...] a formação de clusters torna o mercado mais transparente e induz à rivalidade local. Igualmente importante, a formação de clusters facilita a ação coletiva no combate a problemas comuns, seja diretamente, através de instituições de auto-ajuda, seja indiretamente, através dos governos locais”. (SCHMITZ, 1997, p. 170).

Desse modo, a eficiência coletiva se refere à vantagem competitiva derivada de economias externas locais (eficiência coletiva não-planejada) e da ação conjunta (eficiência coletiva planejada). A eficiência coletiva não-planejada é a forma passiva ou incidental, da qual as empresas aglomeradas se beneficiam primeiramente, devido a proximidade entre os

estágios da cadeia produtiva, economizando nos custos de transação. Já a eficiência coletiva planejada é a forma ativa, requerendo esforços por ações conjuntas5.

Essas idéias sobre eficiência coletiva se derivaram de análises empíricas realizadas por Schmitz (1997), que observou distritos industriais tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento. Nesse contexto, argumentou que podem existir diversos estágios de desenvolvimento dos clusters, o que o levou a elaborar os conceitos de: i) estrada alta – high road: inovação, alta qualidade, flexibilidade funcional e boas condições de trabalho; ii) estrada baixa – low road: competição com base em preços baixos, materiais baratos, flexibilidade numérica da mão-de-obra e remuneração baixa.

Na figura 2, tem-se a decomposição das economias de Aglomeração e da Eficiência Coletiva, em que se percebe a relação entre eficiência coletiva e cluster.

Economias de Aglomeração

Concentração Industrial (setorial, geográfica e em torno

da cadeia produtiva principal)

Concentração Industrial

(setorial e geográfica) Concentração Industrial (“heterogênea”)

Distrito Industrial Parcialmente Integrado (“Baixa Competitividade”) “Pólos Industriais”

Distrito Industrial Integrado (“Alta Competitividade”)

“Distritos Industriais” ou “Clusters” Eficiência Coletiva

Fonte: SABATINI, 1998, p. 34

Figura 2: Decomposição final das economias de aglomeração e da eficiência coletiva

5 “Essas ações são originadas das formações sócio-culturais locais, associadas à instituições públicas e privadas,

as chamadas “instituições self-help”, que representam a forma organizada de se promover e intensificar medidas coletivas que promovam o aumento da produtividade dos distritos”. (SABATINI, 1998, p. 32)

Economias de Escala (Economias Internas) Economias de Localização (Economias Externas) Economias Urbanização (Economias Externas da

Percebe-se também que não há relação linear entre as nomenclaturas, pois as relações se dão bidirecionalmente. Assim, as economias de aglomeração apresentam características formadas pelas economias de escala internas, externas e de urbanização. Também estão presentes em três áreas de concentração industrial, cuja área de interesse para o presente trabalho é a da Indústria setorialmente concentrada em determinada área geográfica e em torno de cadeia produtiva principal, uma vez que se liga às eficiências coletivas e forma, assim, os Distritos ou Clusters, os quais são representações do modelo comunitário com identidade sócio-cultural e apresentam forte sinergia entre as empresas.

Desse modo, a eficiência coletiva é formada por elementos da concentração industrial e geográfica ofertando produtos da mesma cadeia produtiva, e por elementos coletivos locais gerados espontaneamente nas regiões.

2.4 AGLOMERAÇÃO INDUSTRIAL SOB A ÓTICA DOS ARRANJOS E SISTEMAS