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A Dictionary of the Portuguese and English Languages, in two parts; Portuguese

3. CAPÍTULO 3 – ANTONIO VIEYRA TRANSTAGANO: CONTRIBUTOS PARA

3.3 A Dictionary of the Portuguese and English Languages, in two parts; Portuguese

A partir de meados do século XVIII assiste-se ao momento de grande efervescência na produção lexicográfica monolíngue e bilíngue – em parceria com a língua portuguesa – quando os trabalhos de autores como Carlos Folqman (1704-?), Antonio Moraes Silva (1755-1824) e Antonio Vieyra Transtagano (1712-1797), marcaram a expansão de compêndios metalinguísticos “coligindo glossários de termos técnicos, vocabulários didácticos, prontuários de informação histórica e literária”, e suscitando “pesquisas lexicais sobre alguns dos mais importantes escritores que preenchem o cânone clássico do patrimônio textual português” (VERDELHO, 2011, p. 32). Alguns elementos deram o impulso que possibilitou a fundação e consolidação da dicionarística lusa. Ao transmudar a “Língua do Príncipe” para o Brasil, alargou-se o espaço linguístico de maneira que não mais pode ser revertido. Observa-se também o início do processo de escolarização quando os materiais didáticos começam a ser repensados para aprimorar a efetividade do aprendizado, pela praticidade, brevidade e funcionalidade.

A importância que as obras dicionarísticas tiveram estende-se até a criação do próprio corpus lexical, quando algumas palavras surgem a partir do convívio com outras línguas europeias. A lexicografia do século XVIII enriquecerá a própria língua a partir dos jargões das diversas áreas da ciência – a qual avança consideravelmente nesse momento. Percebe-se, portanto, que nos dicionários do século XVI a formação de palavras pelo sufixo –ismo é pouquíssimo vista, enquanto que nos dicionários do final do século XVIII, os vocábulos “ultrapassam a meia centena”. A partir de então, a produção lexicográfica ganha impulso até chegar à modalidade de dicionários portáteis, “de formato reduzido, abreviados, disponíveis para o trânsito escolar e para a sua utilização em viagens” (VERDELHO, 2011, p. 33).

Quando a New Portuguese Grammar in four Parts saiu do prelo anunciava-se a iminência de um dicionário bilíngue, o qual teria sido pensado para compor as ferramentas didáticas do ensino e aprendizagem do português, requisitadas pelo público falante da língua inglesa. Referimo-nos ao A Dictionary of the Portuguese and English

Languages, in two Parts, Portuguese and English: and English and Portuguese (1773),

elaborado também por Transtagano105.

Segundo o próprio autor, no primeiro volume, os objetivos da obra eram “torná- la abundante” do ponto de vista vocabular com definições em suas diversas acepções, de maneira “acurada e clara” (accuracy and clearness), salientar a etimologia das palavras portuguesas, sem omissão das origens árabes e persas, garantir a inserção de vários termos técnicos, o que mostra a preocupação do autor com as questões do comércio entre as duas nações, bem como a indicação das palavras tidas como “obsoletas” ou que são somente “poéticas” nas duas línguas.

Na secção que chama de To the Reader, comenta a dificuldade que teve de encontrar um dicionário português-inglês de que pudesse fazer bom uso para a compilação do seu, como o fazem todos que se engajam em um trabalho de tal categoria. Alude a um Vocabulário que, embora voltado para abordar as duas línguas, não serviu de mínimo referencial para ele. Chega a ser irônico ao se referir a tal

Vocabulário, chamando-o de “a thing” (uma coisa):

Houve, de fato, uma coisa chamada Vocabulário Português-Inglês publicada há muitos anos, da qual mal sei falar, [...]. Posso apenas dizer que, todos que a compararão com o presente trabalho, poderão estar convencidos de, digo- lhes a verdade, que não tem para mim utilidade alguma106.

O único dicionário português de grande valia para ele foi o do padre Rafael Bluteau. Embora tenha sido a obra de Bluteau de grande serventia em seu laborioso projeto de confecção do dicionário bilíngue, achou esta obra muito densa e pouco eficiente, assim como já havia criticado Verney, afirmando que até mesmo Bluteau não conseguira dar as devidas definições em latim para seus equivalentes em português, assim como já havia criticado Verney em 1746:

O único dicionário do qual me tem sido de grande auxílio foi o do erudito e diligente Bluteau, que passou mais de 30 anos coligindo palavras, provérbios

105

O autor intitula-se como professor de “Latim, Árabe, &c.” nessa obra, cujo título completo é A

Dictionary of the Portuguese and English Languages, in two Parts, Portuguese and English: and English and Portuguese. Wherein I. The WORDS are explained in their different Meanings, by Examples from the best PORTUGUESE and ENGLISH WRITERS; II. The ETYMOLOGY of the PORTUGUESE generally indicated from LATIN, ARABIC, and other LANGUAGES. Throughout the whole are interspersed a Great Number of PHRASES and PROVERBS. Londres, 1773, impresso por J. Nourse. Foi

preparado em dois volumes e sua primeira edição data de 1773.

106

Tradução de: “There was, indeed, a thing called a Portuguese and English Vocabulary published many years ago, of which I scarcely know how to speak, left to those, who are unacquainted with it, I might appear unjust in my account. I shall only say, what every one, who will compare it with the following work, must be convinced of, I say, that is has not been to me of the smallest use” (TRANSTAGANO, 1773, s.n., vol. I, To the Reader).

e frases, de mais de dois mil volumes para o seu dicionário de Português e Latim. Todavia até mesmo neste trabalho, além de suas deficiências em muitos verbetes, minhas esperanças se frustraram. O próprio Bluteau confessou que não entendia o real significado de muitas palavras, ou que ele não conseguia encontrar a palavra em Latim que equivalesse a Portuguesa107.

As dificuldades confessadas pelo lexicógrafo português tanto tornaram sua tarefa árdua como tardou a publicação de sua obra. Sendo assim, nesta tarefa, de acordo com o que explica em seu “To the Reader”, empenhou-se em: fazê-la “o mais copiosa possível”, exemplificar “as diferentes significações da mesma palavra em ambas a línguas, com tal acuidade e clareza que se possa dar ao aprendiz conhecimento perfeito e distinto de seus idiomas”, além de autorizar as palavras da língua inglesa, na segunda parte, através da referência aos nomes dos principais autores do cânone inglês. Outras metas assinaladas pelo autor são: indicar a etimologia de muitas palavras portuguesas, inclusive se oriundas do árabe e persa; inserir um considerável número de palavras técnicas, e por fim, indicar palavras portuguesas e inglesas, consideradas obsoletas, porém ainda poéticas. Não surpreendentemente a obra lexicográfica de Transtagano tenha sido um

[...] empreendimento marcante na história da lexicografia portuguesa este dicionário que emparceira as duas línguas, nas sequências português-inglês e inglês-português. Teve um afortunado sucesso editorial, foi muitas vezes reeditado, revisto, aumentado, e também reduzido e abreviado. Preencheu, de modo quase exclusivo, durante mais de um século, o campo lexicográfico luso-britânico, e teve ainda repercussões epigonais até ao fim do século XX (VERDELHO, 2011, p. 26).

As obras de Antonio Vieyra Transtagano trazem em si muito do que se almejava para Portugal do século XVIII, aprimorar as relações de intercâmbio comercial entre as nações inglesa e portuguesa, passando principalmente pela educação como um dos principais instrumentos facilitadores. O Dictionary of the Portuguese and English

Languages teve dezenas reedições108, foi “corrigido, actualizado, e modificado, em

107

Tradução nossa do original: “The only Dictionary from which I have received great assistance has been that of the learned and laborious Bluteau, who spent above thirty years in collecting words, proverbs, and phrases, from upwards of two Thousand volumes, for his Portuguese and Latin Dictionary. But even in this work, besides its deficiency of many words, my hopes were often disappointed. Bluteau himself confesses that he does not understand the true meaning of many words, or that he cannot find the Latin word answering to the Portuguese […]” (TRANSTAGANO, 1773, s.n., vol. I, To the Reader).

108

Segundo Verdelho (2011, p. 29), as reedições datam de 1773, 1782, 1794, 1805, 1809, 1813, 1827, 1840, 1851, 1860. Até a edição de 1809, não se registram mudanças tão distanciadas do original. Em 1813, seu editor J. P. Aillaud disse ser esta uma edição revista e ampliada, com 12.000 novos artigos, e cuidadosamente atualizada quanto à acentuação. Ainda de acordo com Verdelho, nesta edição, encontram-se as entradas resultantes da derivação de palavras. Outra revisão destacável aconteceu em 1827, por Jacinto Dias do Canto (1797-1852), que procedeu com novos acréscimos e reduções de entradas que não mais despertavam interesse linguístico. No tocante às edições portáteis, ainda afirma

relação à sua configuração original até chegar à última edição em 1860” (VERDELHO, 2011, p. 29).

Parece-nos que a originalidade em A Dictionary of the Portuguese and English

Languages era também reconhecida pelo próprio autor quando da escolha por uma

epígrafe em que se diz: “O verdadeiro trabalho é feito por mim, aos outros lhes resta a sorte” 109

. De fato, quase setenta e dois anos após a publicação do Compleat Account, a lexicografia luso-inglesa é retomada com a obra de Antonio Vieira Transtagano, que, como afirmou Verdelho (2011, p. 26), foi “certamente um dos objectos mais implicados no relacionamento entre os espaços linguísticos do português e do inglês”. O lexicógrafo mostra-se consciente do papel que pode exercer a língua para a aproximação das relações entre as duas nações e deixa claro o que o consulente poderá encontrar em seu dicionário. Conclui em seu To the Reader explicando que o leitor irá encontrar todas as palavras que surgiram na língua portuguesa quando da aquisição de territórios, negociação em África, Ásia e América, em particular os termos “moedas, medidas, ofícios, títulos, etc.”, usados em tais situações e encontrados nos livros portugueses sobre viagens a Etiópia, Arábia, Pérsia e outros lugares.

A obra é dedicada a Robert Clive (1725-1774), um nobre barão ligado aos negócios e às questões do império britânico110. A dedicatória foi escrita em duas partes, na sequência em português e inglês, cada uma está ilustrada por uma imagem que contém o emblema da Ordem de Bath, com o lema “Tria Juncta in Uno”111. Não foram encontrados registros de que Transtagano já fizesse parte da Trinity College, portanto a colaboração de um mecenas foi uma questão essencial tanto para a publicação da New

Portuguese Grammar, quanto do Dictionary. Não obstante, conforme os costumes da

época, o autor tece um texto bastante polido sobre a razão da dedicatória em gratidão ao

Verdelho (2011, p. 41) que, os dicionários portáteis eram “versões abreviadas” da obra de Transtagano, recebem o título de A new pocket Dictionary of the Portuguese and English languages: Abridged from the

dictionary of Mr. Vieyra..., nos quais o primeiro data de 1809 e foi reeditado em 1820. Tanto Jacinto Dias

quanto J. P. Aillaud fizeram suas versões portáteis, respectivamente em 1826 e 1837. A reimpressão da obra de Transtagano é vista ao longo dos anos. Encontramos uma edição de seu Dictionary, cujo título

consta em português, datado de 1878. Disponível em: http://catalog.hathitrust.org/Record/001721855. Acessado em 14/02/2012.

109

Traduçao de “verum ex me difce laborem, fortunam ex aliis", a qual Transtagano atribui à autoria de “Virg”, supomos que referiu-se a Virgílio.

110

Lorde Clive, Robert Clive (1725-1774), barão de Plassey (título recebido em 1760 e em 1764 recebeu o de cavaleiro), foi o fundador do Império Inglês na Índia (VON MISES, 1966, p. 741). Disponível em:

http://www.mises.org.br/files/literature/A%C3%A7%C3%A3o%20Humana%20-%20WEB.pdf, acessado em 12/02/2012

111 Significa “três em um”. Acredita-se que esse lema refira-se à união da Inglaterra, Escócia e França, ou à Santa

Trindade. O emblema ainda traz outra frase: “Audacter et Sincere” (Boldy and Frankly). Sobre “Tria Juncta in Uno”,

consultar o sitio oficial da Monarquia Britânica, disponível em:

Lorde Clive, uma vez que foi seu patrocinador na empreitada de publicar um dicionário desta utilidade112.

Segundo o autor, Lorde Clive parecia ter um bom entendimento sobre o conteúdo de sua obra. Afirma ser o lorde “perfeytamente versado na matéria que ella contem” e, sendo assim, o autor não teria dúvidas de que ele ficaria muito orgulhoso “que huma obra taõ procurada, e de tanta utilidade saya finalmente do prelo”113

. Prossegue o autor, dizendo que ninguém melhor conhecia “quanto seja preciso o estudo de ambas estas linguas em materias de guerra e commercio pellas Costas Orientaes e de todas as quatro partes do globo”. Por tal afirmação, observamos também a maneira como a finalidade do estudo das duas línguas era visto. Não só destaca a necessidade que se tinha de encontrar um material que eficientemente pudesse servir ao conhecimento metalinguístico, pela sua “utilidade”, como dá os indícios de que tal obra, naquele momento, era requisitada, “procurada”. Além disso, mais uma vez Transtagano estava certo de que sua obra era única, merecedora de todas as recompensas.114

Seu discurso indica o direcionamento de sua obra em relação ao público. O conjunto de obras pensado por Transtagano (gramática e dicionário) destina-se ao ensino de português, no caráter de língua estrangeira, aos ingleses. Todavia, diferentemente de sua gramática, que descreve o português pelo intermédio da língua inglesa e não possibilita o estudo das línguas em vias duplas, seu dicionário foi composto por dois volumes, um para exposição dos verbetes em português e o outro para os do inglês. A maneira como esses verbetes estão dispostos permite não só o estudo do português pelos ingleses, mas do inglês pelos portugueses. O autor reconhecia a necessidade dos portugueses em aprender o inglês para os fins da manutenção das relações econômicas entre os povos das duas nações. De acordo com a crítica que recebeu em 1774,

Não obstante a relação comercial que há muito existe entre a Grã-Bretanha e Portugal, a presente obra é o primeiro Dicionário do Português e Inglês que até o momento se tem visto publicado neste país: um pequeno trabalho, sob o título de Portuguese and English Vocabulary, apareceu muitos anos atrás,

112

Diz o autor a seu mecenas: “[...] V. S. se sérvio de fazerme no dignar-se que a prezente obra saísse a luz debaxo do seu patrocinio; não porém descuidado tem estado o meu pensamento na ponderação de meyos para encorrer, ainda mais leve sospeyta de ingrato” (TRANSTAGANO, 1773, vol. I).

113

No texto escrito em ingles, diz ao seu mecena: “it will be no small plesure to you, I doubt not, that a work of such utility and demand is given to the world”. Percebe-se a mudança da palavra “world” (mundo), para “prelo”, escrita na parte portuguesa.

114

Diz o autor: “I would not have aspired to offer it to your protection, were I not conscious that it is justly entitled to all the recompense from its readers which the unhappy nature of it will admit” (TRANSTAGANO, 1773, s.n.).

entretanto foi de uma performance tão pífia que não traria vantagem nenhuma ao objetivo desejado. Este dicionário, portanto, sendo o primeiro, sua execução se deu com extraordinária dificuldade, e fomos informados de que foi um trabalho de muitos anos. Veio à luz pelo patrocínio do Lorde Clive, que é ele mesmo familiarizado com a língua portuguesa, a qual é tão necessária aos propósitos de guerra e comércio em muitas das regiões remotas, especialmente nas Índias Orientais115.

O foco utilitário de sua obra acompanha a demanda de conhecimento da época não só em relação à Inglaterra, mas estava alerta para o que poderia ser útil também à sua pátria, em consonância com a legislação pombalina referente ao ensino de línguas. Enquanto em Portugal o Marquês de Pombal propunha as reformas no ensino, para melhor servir aos propósitos de elevar a nação portuguesa a partir da reformulação do ensino do latim e da inclusão do estudo da língua nacional, criação das Aulas de Comércio e do estudo das línguas estrangeiras (Alvará de 1772), fora de Portugal havia um representante, mesmo que não oficial, do reino lusitano. Ao pensar na compilação de obras voltadas ao ensino-aprendizagem de língua portuguesa como língua estrangeira, Transtagano se afina enormemente com os propósitos defendidos por Pombal, principalmente quanto à necessidade do estudo das línguas “em materias de

guerra e commercio pellas Costas Orientaes e de todas as quatro partes do globo”.

Sendo assim,

A utilidade de sua publicação não se restringirá àqueles cuja sorte os levou à Índia por interesses comercias, mas se estenderá também ao trato com a literatura, ao nos tornar familiarizados com muitos trabalhos valiosos escritos em Língua Portuguesa, dos quais fomos informados. Qualquer que contribua para a ampliação do conhecimento e mediação das relações entre diferentes nações, deve certamente encontrar o encorajamento do público; e por estas considerações esperamos, que o Sr. Anthony Vieyera Transtagano nunca tenha razão para se arrepender de ter dedicado sua atenção em tantos anos de trabalho laborioso116.

O primeiro volume, ou Parte I, do Dictionary of the Portuguese and English

Languages oferece 25.000 entradas de palavras portuguesas, muitas vezes

demonstrando uma instabilidade ortográfica e prolongamentos desmesurados, muito

115

Crítica sobre o dicionário de Transtagano, traduzida e encontrada em The Critical Review: or, Annals

of Literature. By a Society of Gentlemen, vol. 37, Londres, 1774, p. 143-144. Item XV, na secção de

“Foreign Literary Inteligence”.

116

Tradução nossa de: “The utility of this publication will not be confined to those whose fortune leads them into India for the interests of commerce, but will also extend to the general concerns of literature, by making us acquainted with many valuable Works which we are informed are written in the Portuguese Language. Whatever contributes to the increase of learning and facilitates the intercourse between different nations, ought certainly to meet with the encouragement of the public; and from these considerations we hope, that Mr. Anthony Vieyera Transtagano will never have reason to repent his having bestowed the attention of so many years on such a laborious work”. Fonte: The Critical Review:

embora, ao nosso ver, alguns desses prolongamentos se faziam pertinentes quando se leva em conta que esta é uma obra voltada para o ensino de português aos ingleses. Com isso, destacamos a entrada “A”, na qual se encontram várias explicações e exemplos. Isso é característico de um cuidadoso dicionário servindo ao ensino de língua estrangeira. Para o inglês, que usa o “the” (o/a ou os/as), saber quais são os artigos definidos da língua portuguesa não é suficiente, é preciso conhecer também como aplicá-los, visto que no idioma inglês, algumas vezes podem ser omitidos, diferentemente do que acontece com os artigos em português. Outra entrada relevante é “na”, onde se encontram exemplos, correlacionados ao inglês: “Na is sometimes rendered into English by a; as, Duas vezes na semana, twice a week.”117. Essa explicação é válida, porque em tal construção não se usa a preposição in, mas o artigo a. Não parece ter escapado à mente do lexicógrafo português que sua obra dirigia-se aos falantes de língua inglesa, diante da relevância dos exemplos que oferece.

Em comparação ao Compleat Account, os verbetes do Dictionary estão mais bem distribuídos e organizados. Além das letras no topo da página, o que era comum nos dicionários para guiar os consulentes118, as entradas estão sinalizadas em caixa alta, divididas em três colunas. O que se segue das entradas, está organizado na sequência. O dicionário ainda traz uma Addenda, com algumas palavras portuguesas, provenientes do persa e árabe, em ordem alfabética.

Como o autor afirma ter abordado verbetes relacionados às “moeadas e medidas”, bem como “profissões e títulos” e “pescaria”, nossa pesquisa partiu dessas intenções para verificar a presença de palavras desse tipo, o que também motivou a elaboração de sua gramática – “COMMERCIO, GUERRA E NAVEGAÇÃO”. Além de verbetes sobre o Brasil, como “biariby”119, “Rio de Janeiro”120

, distribui palavras numa organização sequencial alfabética, expondo o máximo de variações e derivações

117

Transcrição integral do trecho. Cf. Antonio Transtagano, Op. Cit. 1773, p. 412.

118

Os verbetes podem ser consultados pela busca de suas letras iniciais. Era comum guiar o leitor, não pelo número na página, mas por letras iniciais. Os verbetes eram organizados pelas suas três letras iniciais, colocadas no topo da página. Desse modo, se quiséssemos encontrar a entrada “fronteira” teríamos que observar onde as palavras começadas por “FRO” são indicadas.

119

Parece-nos ser uma palavra de origem indígena, que foi integrada ao português e registrada por

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