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Transtagano como Referência no Ensino do Português como Língua Estrangeira

3. CAPÍTULO 3 – ANTONIO VIEYRA TRANSTAGANO: CONTRIBUTOS PARA

3.4 Transtagano como Referência no Ensino do Português como Língua Estrangeira

A gramática de Antônio Vieyra Transtagano teve na 9ª edição a sua penúltima reprodução em 1813, e, possivelmente, em 1827, a décima e última edição, tendo passado por alguns poucos ajustes e correções por parte de seus editores. Apesar disto, a sua New Portuguese Grammar continuou servindo aos propósitos inicialmente pensados pelo autor, sendo inclusive, modelo para a compilação de outras gramáticas de língua portuguesa, escritas em inglês e francês125, por exemplo.

As principais alterações aplicadas à gramática de Transtagano referem-se a questões fonéticas, uma dificuldade observada já nas primeiras edições, e só corrigidas após a morte do autor. Os aspectos de ordem prosódica da língua portuguesa, até então negligenciadas, foram devidamente reparadas, como se lê no texto “Advertência a esta Nova Edição”, escrita pelos editores:

Esta nova Edição da Grammatica do Sr. Vieyra foi, não só corretamente marcada com os acentos apropriados para facilitar a Pronuncia e a Inteligencia da Lingua, mas também materialmente alterada no corpo deste trabalho. A acentuação é uma questão de tamanha importancia na Lingua Portuguesa, que um acento utilizado no lugar de outro frequentemente muda o significado de uma palavra completamente, como por exemplo, as palavras

Avô e Avó; a primeira, quando marcada com um circunflexo, significa grand- mother, a segunda, quando marcada com um acento agudo, significa o seu

masculino, grand-father. Este aspecto interessante, o qual fora tão deficientemente tratado em todas as edições anteriores (tendo sido usado apenas o acento agudo), foi cuidadosamente corrigido na presente Edição (TRANSTAGANO, 1813, p. vi-vii). 126

O problema recorrente do som do ch, apresentado como pronunciado igual ao inglês /ʧ/, ao invés de /ʃ/, também foi tratado pelos editores da edição de 1813. Além disso, houve um acréscimo considerável no que tange ao vocabulário, com a substituição das passagens antigas por trechos modernos (à época), cujo intuito era manter a obra atualizada no respeitante à evolução do idioma:

125

Encontramos a obra Portuguese and English Grammar (1820), do padre francês Peter Babad, e a

Nouvelle Grammaire Portugaise (1810), de A. M. Sané.

126

Tradução nossa de: “This New Edition of Mr. Vieyra‟s Grammar, has been not only accurately marked with the proper accents to facilitate the Pronunciation and the Intelligence of the Language, but even materially altered in the body of the Work. The accentuation is a matter of so much consequence in the Portuguese Language, that one accent used in the room of another, often changes entirely the signification of the word, as for instance in the words Avó and Avô; the former, when marked with an acute, meaning grand-mother, the latter with a circumflex, meaning grand-father. This interesting part, in which all the former Editions have been so deficient, (using only the acute) has been scrupulously corrected in the present one”.

A pronúncia do ch, erradamente explicada em outras edições, está aqui nesta colocada em seu som verdadeiro. Novas Passagens de melhores Escritores Modernos substituem algumas dos Antigos, de forma a permitir que os aprendizes possam formar uma ideia das variações e dos progressos da Língua, até ao presente. Um novo Vocabulário de palavras Militares de Comando e uma tradução recente de Cartas Comerciais foi também inserida nesta Nova edição (TRANSTAGANO, 1813, p. vii). 127

Com as alterações sofridas, a 9ª edição passou a ter cerca de 35 páginas a mais do que aquela de 1768. Nota-se claramente, nas palavras dos editores, a preocupação com a língua, no que se refere à sua dinâmica interna, proporcionando ao consulente e ao estudioso a oportunidade de acompanhar a evolução da mesma128. As reedições anteriores praticamente não sofreram qualquer tipo de modificação, fato que, no entanto, não impediu a sua longevidade.

Apesar de sua inegável riqueza temática, apresentando uma grande e abrangente variedade lexical, bem como inovações no que se refere a questões propriamente gramaticais – e quando falamos de inovações, referimo-nos às obras de J. Castro e ao

Compleat Account – a New Portuguese Grammar in four parts, de Transtagano, assim

como as outras duas anteriormente citadas, não era exatamente vocacionada ao ensino escolar. É sabido, ao se ler os prefácios de sua gramática e de seu dicionário, que o autor ministrava aulas de língua portuguesa em caráter particular, lançando mão do que tinha disponível em sua biblioteca pessoal129. A necessidade de ter algo mais específico para as suas necessidades – e de seus alunos, tudo indica – fez com que o ilustre professor- poliglota desenvolvesse sua gramática de língua portuguesa. O próprio título denuncia essa carência ao chamá-la “New Portuguese Grammar”.

Em 1820, surge a obra Portuguese and English Grammar, compiled from

LOBATO, DURHAM, SANÉ and VIEYRA and simplified for the use of STUDENTS. By a Professor of the Spanish and Portuguese Languages, in St. Mary’s College. O autor

127

Tradução nossa de: “The Pronunciation of the ch, wrongly explained in the other Editions, is here in this, brought to its real sound. New Passages from the best Modern Writers, have been substituted for some of the Ancient ones, to enable the learners to form a proper idea of the variations and progress of the Language, down to the present time. A new vocabulary of the Military Words of Command and a fresh translation of the Commercial Letters have also been inserted in this Edition”.

128

Vale a pena salientar que neste mesmo período a segunda edição (1813) do Diccionario da Lingua

Portugueza, de Antonio de Moraes Silva (1755-1824), estava sendo publicado no Brasil, através da

Imprensa Régia, fundada por D. João VI, em 13 de maio de 1808. Isto mostra que a língua portuguesa encontra-se, já no início do século XIX, em pé de igualdade com as outras grandes línguas europeias, sendo o seu dicionário totalmente monolíngue produzido e consumido nos dois lados do Atlântico aumentando ainda mais seu status de língua internacional. A obra de Antonio Vieyra Transtagano, em sua reedição de 1813, veio contribuir grandemente para a consolidação desse status.

129

Na verdade, Antonio Vieyra Transtagano fora professor de espanhol, italiano, inglês, árabe e persa, na Holy Trinity College, não encontramos vestígios de que tenha ministrado aulas de língua portuguesa em ambiente escolar.

da obra em questão chamava-se Peter Babad (1763- 1846), um clérigo francês que, após várias viagens pela América Central e do Norte, finalmente se estabeleceu nos Estados Unidos por cerca de vinte anos. Durante este período, começou a escrever sua gramática de língua portuguesa, tomando inicialmente como base a gramática de Reis Lobato. Utilizou-se de outros autores para o desenvolvimento de sua obra, mas foi o trabalho de Antonio Vieyra Transtagano que realmente lhe serviu como fonte principal de sua gramática:

A obra inteira é compilada a partir dos melhores gramáticos da língua portuguesa que chegaram às mãos do editor. Tais são eles: Lobato, Durham, Sané e Vieyra. Na verdade, a maior parte foi copiada da última edição (1813) da gramática de Vieyra, a qual, mui fortuitamente, caiu-me em minhas mãos, quando este trabalho já estava no meio do caminho [...] (BABAD, 1820, p. vi). 130

Como o próprio título da obra de Babad nos indica, sua gramática deveria ser destinada ao ensino de língua portuguesa para alunos regulares do Colégio Saint Mary, em Baltimore, nos Estados Unidos. A justificativa que o autor francês dá para a produção de tal obra é bastante parecida com aquela apresentada por Transtagano, pouco mais de cinquenta anos antes: a expansão comercial [americana] e a tradição nesta área que Portugal ainda detinha, principalmente após a elevação do Brasil à posição de Reino Unido a Portugal e Algarve. Assim dizia o padre francês em seu Prefácio:

Como é um fato muito conhecido que nas Índias Orientais, desde o Cabo da Boa Esperança até Macao, assim como no Brasil e no continente português a língua portuguesa é geralmente usada pelas pessoas e pelos mercadores nas transações de negócio, como o Castelhano é no continente espanhol e nas colonias espanholas, e o italiano ao longo da costa do Mediterrâneo [...]. Ocorre que os Estados Unidos, cujos negócios se estendem com cada país do mundo comercial, um conhecimento da língua portuguesa não pode deixar de ser importante e útil como as outras línguas utilizadas para o fim comercial. Além disso, a grande quantidade de obras que têm servido para enriquecer e ilustrar a literatura portuguesa por vários séculos, pelo menos desde a época do celebrado Camões, mostrará aos nossos letrados da América a importância de tal conhecimento (BABAD, 1820, p. v). 131

130

Tradução nossa de: “The whole is faithfully compiled from the best Portuguese grammars, that have reached the hands of the editor; such as those of Lobato, Durham, Sané and Vieyra. Indeed most of it has been copied from the last Edition of Vieyra‟s grammar, which very fortunately fell into the hands of the editor, when his work was half done […]”.Como dissemos anteriormente, a edição de 1813 era a “última” quando Babad escrevia a sua obra.

131

Tradução nossa de: “As it is a well-known fact, that in the East Indies from the Cape of Good Hope, down to Macao, as well as in the Brazils [sic] and Continental Portugal, the Portuguese is as generally used in the transaction of business as the Castilian in the Continental Spain and in the Spanish colonies, and the Italian along the coast of the Mediterranean […]. It follows that in the United States, whose trade extends to every country in the commercial world, a knowledge of the Portuguese tongue cannot fail to be as important as useful as that of other languages used for the purpose of the trade; besides the many and

Como se pode perceber através das palavras do autor, o reconhecimento do valor da língua portuguesa não se atribuía somente por conta de sua pujança comercial, historicamente construída e consolidada, ao longo dos séculos, como resultado das conquistas ultramarinas do reino português, mas também pela sua tradição literária, perpetuada com as obras de Camões e de outros grandes escritores e que foram traduzidas em diversas línguas. É interessante que se observe, também, uma grande semelhança do texto do autor com o discurso pombalino em busca de um mito fundador da tradição e cultura portuguesas, justificadas pelos grandes feitos de Portugal, tanto por meio das armas quanto pelas letras. Fica evidente, como podemos notar no Prefácio da obra de Babad, que tal tradição de fato não se limitara aos domínios portugueses, não ficara registrada apenas nas obras dos grande escritores “castiços e de bom tempo”, como diria Moraes Silva (apud SOUZA, 2011, p. 164), e destinadas apenas ao público lusitano: elas transcenderam os limites geográficos portugueses e encontraram grande acolhida nas bibliotecas e academias de diversas nações, tornando a língua portuguesa objeto de interesse e estudo.

A Portuguese English Grammar, de Peter Babad, teve como “inovação” a retirada de tudo aquilo que o autor considerava “excessivamente gramatical e abstrato”. Para se ter uma ideia de tal “depuração”, a obra de Antonio Vieyra Transtagano, em sua primeira edição de 1768, tinha pouco mais de 380 páginas; a de Babad não chegava a 235. Logo de início, ao compararmos as duas obras, observamos que Babad elimina completamente a IV parte da gramática de Transtagano, aquela que apresenta “As Varias Passagens dos mais aprovados escritores, modernos e antigos, com vista a facilitar a leitura dos mais antigos e valiosos livros da lingua Portuguesa” (TRANSTAGANO, 1768, p. i). Babad justifica tais reduções ao dizer que:

Esta gramática, excluindo as definições sistemáticas e científicas, comumente encontradas em obras deste gênero, está simplesmente destinada à tarefa de arrumar os artigos, os substantivos, os pronomes, verbos, advérbios etc da língua portuguesa correspondendo àqueles do idioma inglês, tendo sido acrescentado ao final de cada ítem algumas poucas regras, determinadas pelo uso comum, além de exemplos que ajudam elucidar tais regras (BABAD, 1820, p. v-vi). 132

excellent works which have enriched and illustrated the Portuguese literature for many centuries, at least from the age of the celebrated Camoens, will prove a great acquisition to our American literati”.

132

Tradução nossa de: “This grammar, therefore, excluding the scientific and systematic definitions, commonly met with in works of this kind, is merely confined to the task of arranging the articles, the nouns, pronouns, verbs, adverbs, etc, of the Portuguese Language corresponding to those of the English idiom; to which are subjoined a few rules, which common use has determined, together with a few examples, which elucidate these rules”.

Assim como apontavam os editores da New Portuguese Grammar in four parts, na 9ª edição de 1813, no tocante às questões acentuais, Babad também atentará para esse aspecto da língua portuguesa, tratando-o com interesse, pelo menos no discurso, como fica claro em seu Prefácio:

Uma das maiores dificuldades sob as quais o editor tem trabalhado surgiu da necessidade de se marcar os acentos, os quais servem para denotar tanto a pronúncia quanto a quantidade de sílabas; em uma língua a beleza e a perfeição da qual depende tanto da harmonia e da melodia resultante de sua prosódia e quantidade. Mas como consequência dos acentos faltantes, não estando em uso nas obras impressas neste país (Estados Unidos), o editor tentou suprir a falta deles pelas regras estabelecidas neste Prefácio (BABAD, 1820, p. vi). 133

No entanto, ao compararmos as duas obras, percebemos que o autor francês também reduzira, e muito, as explicações atinentes à acentuação e à distribuição das sílabas das palavras portuguesas. As regras em Peter Babad resumem-se a oito itens, não tomando mais do que meia página; as explicações em Transtagano, ao contrário, são detalhadamente apresentadas, tendo seu início na página 213 e término na página 218. Nas páginas seguintes trazemos, a título de ilustração para o leitor – e mesmo para aqueles que não tem familiaridade com a língua inglesa, tal percepção é bastante clara – as Regras de Acentuação explicitadas, primeiramente por Babad e em seguida por Transtagano. Não será necessário, no entanto, a exposição das cinco páginas em Transtagano, bastando apenas uma para que se tenha uma ideia da diferença entre as duas gramáticas.

133

Tradução nossa de: “One of the greatest difficulties under which the editor has been laboring, arose from the necessity of marking the accents, which serve to denote both the pronunciation and quantity of syllables, in a language, the beauty and perfection of which depends so much on the harmony and melody resulting from its prosody and quantity; but in consequence of the accents wanted, not being used in works printed in this country, the editor has endeavored to supply the want of them by the rules laid down in this Preface”.

O “enxugamento” dos excessos em Transtagano não se atinha apenas às questões gramaticais, mas também ao que concerne à materialidade da obra. Em Transtagano, há uma “Table of Contents”, ou seja, um Sumário, no qual os assuntos a serem tratados são apresentados ao leitor. Na obra de Peter Babad, porém, esta limita-se ao Prefácio, Dedicatória, Regras de Acentuação, Observação, indo em seguida tratar do Alfabeto – Capítulo I –, como na maioria das outras gramáticas da época.

No que se refere ao Alfabeto, percebemos algumas diferenças sobre a explicação dos sons de cada letra entre as duas gramáticas em discussão. Por também ter sido professor de espanhol – na verdade, Babad começou a ensinar espanhol antes de português, tendo aprendido aquele idioma por aquisição, quando de suas passagens pela Espanha e por Cuba (SMITH, 1945) –, Peter Babad inclui “letras” e seus respectivos sons que não existem na língua portuguesa, mas sim na língua castelhana. Assim, os dígrafos “lh” e “nh” são incluídos no Alfabeto da língua portuguesa134

, tomando o autor, sem o devido cuidado, o espanhol como referência para certas questões gramaticais de nossa língua. Para o “lh” o autor explica que esta “letra” soa como o “ll” em espanhol, como o “gli” em italiano ou como nas palavras francesas ailleur, meilleur. Já o “NH”, também inserido em nosso Alfabeto, comparado com o “ñ” espanhol, soa como nos ditongos “nia”, “nie”, “nio”, “niu”, da língua inglesa, ou como na palavra francesa

seigneur (BABAD, 1820, p. 14).

Apesar do “deslize” na questão do Alfabeto da língua portuguesa, a obra de Peter Babad teve o mérito de ser uma gramática concisa e objetiva, sem correr o risco de se tornar incipiente, trazendo aquilo que era necessário para o ensino da língua portuguesa como língua estrangeira para o nível acadêmico ao qual se destinava. Não nos esqueçamos de que a obra de Antonio Vieyra Transtagano foi pensada para atingir as necessidades dos nobres ingleses e não para alunos regulares.

Com raras exceções, os itens gramaticais são distribuídos na gramática de Babad seguindo a mesma ordem da de Antonio Vieyra Transtagano, bem como os exemplos, que são quase todos copiados do gramático e lexicógrafo lusitano. O autor francês, no entanto, não deixa de citar sua fonte principal quando se depara com questões complexas da língua e que são por ele pouco dominadas. Na conjugação do verbo “PROVER” e seus distintos significados, o padre francês recorre aos autores de

134

As letras “k” e “w” são excluídas do Alfabeto na gramática de Peter Babad, assim como em Transtagano. A diferença reside, porém, no fato de que o gramático português trata dos encontros “lh” e “nh” como dígrafos, separados do Alfabeto e não como “letras” que o integram. O Alfabeto de Transtagano tem 24 letras, enquanto o de Babad tem 26.

gramática portuguesa que produziram obras anteriores à sua, mas toma Transtagano como referência para dirimir as dúvidas sobre a questão:

O Sr. Vieyra, em sua gramática, observa uma diferença entre prover quando este significar suprir as necessidades de, ou cuidar, e quando significar fazer

provisões, estocar. F. C. Durand não parece ter observado tal diferença, e só

distingue prover, suprir as necessidades, de prever, advinhar, profetizar. O Dicionário de José Joaquim da Costa e Sá concorda com Durand. Nós nos sentimos juízes muito incompetentes para decidir entre autores tão renomados. Nós damos a conjugação de Vieyra como a encontramos. Ele conjuga prover quando significar, suprir as necessidades, cuidar, como um verbo composto derivado de vir, provenho, provens, provem, provimos,

provindes, provem. E quando significar fazer provisões, estocar, deve ser

conjugado como um verbo composto, derivado do verbo ver, provejo, proves,

prové, provemos, provéis, proves (BABAD, 1820, p. 75-76). 135

Fica evidente como Antônio Vieyra Transtagano influenciou, decididamente, o Padre Peter Babad no processo de compilação de sua gramática escolar. Apesar de ter recorrido a diversas outras fontes, entre gramáticos, lexicógrafos e outros eruditos, bastante versados no uso da língua portuguesa (SMITH, 1945), foram as obras de Transtagano – dicionário e gramática – que serviram de inspiração para a confecção de seu livro. Não podemos, no entanto, deixar de mencionar o fato de que Peter Babad também trouxe informações não constantes na gramática de Transtagano. Fruto de seus próprios estudos da língua portuguesa ou de recolha em outras gramáticas, o que se vê é que o autor francês evita, ou tenta evitar, uma cópia literal da New Portuguese

Grammar. Para ilustrarmos o que afirmamos, observamos que, na definição do uso de

algumas letras, Transtagano e Babad são diferentes.

Ao tratar da letra “y”, por exemplo, Transtagano limita-se a dizer que esta soa como a letra “i”, em português. Babad, por sua vez, recorre ao padre D. Rafael Bluteau (1638-1734), trazendo uma explicação etimológica para o uso daquela letra ao dizer que, segundo o padre teatino, “nós devemos fazer uso do y em palavras de origem grega, tais como em syllaba, chrysopéia, pyramide, polygono, physica, hyperbole,

hypocrita, apócrypho, etc” (BABAD, 1820, p. 18). O mesmo ocorrerá com relação a

letra “c” dobrada e o encontro “ph”, etimologicamente explicados por Babad, porém

135

Tradução nossa de: “Mr. Vieyra, in his grammar, observes a difference between prover, when it signifies to provide for, to take care of, and when it signifies to make provisions. F.C Durand, in his

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