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3. O ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA OUVINTES E SURDOS

3.3. Materiais Didáticos e Estratégias de Ensino de Inglês como LE

3.3.1. O Livro Didático no Ensino de Inglês

O LD é um dentre os inúmeros tipos de MD, aparecendo na forma impressa e criado unicamente para fins pedagógicos. É uma das grandes influências na vida do professor (HOLDEN e RODGERS, 1997), podendo até ditar as práticas pedagógicas do

mesmo e acabar por se tornar um vilão, para além de somente um recurso facilitador (TÍLIO, 2008).

Segundo as reflexões de Tílio (2008), o LD está presente em quase todas as situações de ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira, servindo de andaime nesse processo, uma vez que resume todo o conhecimento que deverá ser construído e facilita o trabalho do professor. Apesar disso, o autor indica haver a existência de algumas desvantagens em relação a sua utilização, como o risco de se trabalhar com informações ultrapassadas ou a forma autoritária com que a maioria dos LD propõe o saber, não levando a aprendiz a refletir, mas apenas interiorizar esse conhecimento absoluto. Outro problema apontado é a dificuldade de haver um LD direcionado às necessidades e expectativas daquele grupo específico de aprendizes, sobretudo porque há inúmeros outros fatores priorizados pela escola e pelo professor quando se adota um LD, como “[...] abrangência do conteúdo do curso, recursos didáticos que facilitem o trabalho do professor, convênios com autor/editora, etc.” (TÍLIO, 2008, p. 121).

Deste modo, concorda-se com Tílio (2008) quando ele ressalta que não existe um livro didático ideal, de modo que o professor precisa sempre complementá-lo com materiais extras. Em suas palavras:

O que não pode ser esquecido é que não existe o livro didático ideal. Mesmo que sua escolha envolva atenção às necessidades do aprendiz, seu contexto sociocultural, informação cultural diversa e não etnocêntrica, balanceamento entre teoria e prática, e linguagem apropriada, um livro didático nunca será auto-suficiente [...] (TÍLIO, 2008, p. 121)

No Brasil, a oferta de livros didáticos nas escolas públicas é regulada por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), instituído em 1985, com o Decreto nº 91.542, que dispõe:

Art. 1º. Fica instituído o Programa Nacional do Livro Didático, com a

finalidade de distribuir livros escolares aos estudantes matriculados nas escolas públicas de 1º Grau.

Art. 2º. O Programa Nacional do Livro Didático será desenvolvido com a

participação dos professores do ensino de 1º Grau, mediante análise e indicação dos títulos dos livros a serem adotados. § 1º A seleção far-se-á escola, série e componente curricular, devendo atender às peculiaridades regionais do País.

§ 2º Os professores procederão a permanentes avaliações dos livros adotados, de modo a aprimorar o processo de seleção.

Foi somente em 2009, entretanto, que os livros didáticos de língua estrangeira moderna (LEM - inglês e espanhol) foram integrados a essa distribuição (Resolução CD FNDE nº 60), destinada a alunos de 6º ao 9º ano (anos finais do Ensino Fundamental) e, também, do Ensino Médio. Eles, em especial, devem ser consumíveis e vir acompanhados de CD de áudio ou DVD.

A coleta dos dados desta pesquisa foi realizada em 2016, assim, à época, o programa vigente do PNLD era o de 201432. Segundo o edital para a convocação de obras didáticas para esse ciclo (BRASIL, 2011), os livros devem se orientar pela questão de que o ensino de LE na escola deve oportunizar ao aluno o conhecimento e a reflexão sobre outros povos, visões de mundo e culturas, assim como sobre a sua própria. Ademais, destaca o papel do professor nesse contexto, classificando o LD como complemento de sua prática.

Em relação à acessibilidade de surdos, aprendizes foco desta pesquisa, o mesmo edital indica apenas que:

Os editores ficam autorizados a realizar a produção e a distribuição das suas coleções aprovadas, no formato digital bilíngue língua portuguesa/LIBRAS, diretamente ou mediante contratação de instituição parceira, com aquisição assegurada pelo FNDE no âmbito do PNLD 2014, sujeita a regulação e contratação específicas. (BRASIL, 2011).

Assim, caso a obra seja aprovada, os editores têm autorização de produzir e distribuir suas obras também em formato bilíngue (Língua Portuguesa – Libras), o que denota uma não obrigatoriedade dessa questão e uma preocupação muito rasa sobre ela. No Guia de Livros Didáticos PNLD - 2014, em que constam as resenhas dos livros aprovados conforme o edital, os quais poderão ser adotados pelo professor e pela instituição, não há qualquer menção ao aprendizado de alunos surdos ou a apontamentos presentes nos livros que considerem suas necessidades educacionais especiais de forma proposital, o que, entende-se aqui, acaba causando uma exclusão educacional desse público.

Com essas e outras lacunas deixadas pelos livros didáticos, Santos (2015) menciona que, em situações em que o LD não são totalmente adequados ao grupo de alunos pelo qual ele será utilizado, o professor se depara com 3 alternativas:

(a) simplesmente ignorá-las (até mesmo por falta de tempo), seguindo o material fielmente, o que provavelmente trará riscos ao processo de aprendizagem; (b) procurar, ainda que de forma solitária, descobrir a melhor forma de superar as inconsistências de acordo com seu tempo disponível; (c) banir o uso do LD em sala de aula. (SANTOS, 2015, p. 207)

Não é sensato ignorar o distanciamento entre o LD e a realidade dos alunos e usá-lo por completo, sob o risco de causar danos no aprendizado e marcas profundas no desenvolvimento linguístico em LE dos alunos, nem o banir totalmente da sala de aula, pois ele oferece um apoio bastante desejável ao professor, sobretudo porque, como aponta Selvatici (2015), há uma falta de material nesse ambiente. Então, parece-nos interessante a alternativa (b), alternativa também defendida por Santos (2015), que se relaciona à adaptação do LD ou a maneiras de melhor utilizá-lo, com o intuito de, ao menos, aproximá-lo das necessidades, expectativas e desejos dos alunos.

Sem dúvida, o LD é considerado um material didático muito importante no processo de ensino e aprendizagem de uma LE, principalmente porque ele é fonte de recursos, pedagógicos e linguísticos, que, por ser de fácil acesso, faz-se fortemente presente em sala de aula, como comenta Silva (2015):

O livro didático é representado como fonte provedora de textos, conteúdos, atividades e recursos. [...] Ele é repositório de “tudo” o que se julga necessário, importante e interessante para o ensino e a aprendizagem da língua. Tanto autores e editores por um lado, quanto professores e alunos por outro, percebem que essa é uma função essencial do livro didático (prover e conter as coisas a serem usadas no ensino), e assim ele se torna um elemento de primeira necessidade para quem o usa (OLIVEIRA et al., 1984). É preciso tê-lo com sua variedade e riqueza de coisas para se ensinar e aprender, ou, em outros termos, quanto mais ele prover, melhor! (SILVA, 2015, p. 43)

Nessa direção, parece-nos coerente que o LD, apesar de não ser perfeito, ainda continue presente nas escolas, servindo como uma referência e como um suporte. Todavia, como já refletido, a Era Pós-Método, em oposição à Era dos Métodos, assegurou maior liberdade de ensino ao professor, então pode ser pertinente que ele reformule as atividades a partir do LD, objetivando sempre adequá-las ao seu contexto, e busque, cada vez mais, o sucesso do processo de ensino-aprendizagem de acordo com o que está ao seu alcance (RICHARDS e RODGERS, 2001).