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O difícil processo de estruturação nacional da Política de Assistência Social e a sua

CAPÍTULO 3 – O RECONHECIMENTO DO DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL

3.1 O difícil processo de estruturação nacional da Política de Assistência Social e a sua

Após a definição da Seguridade Social na Constituição de 1988, deu-se a regulamentação das três políticas que a constituem. Na sequência de sucessivos vetos, em setembro de 1990, a Lei nº 8.080 institui o Sistema Único de Saúde; em julho de 1991 a previdência foi regulamentada pelas Leis nº 8.212/91 e 8.213/91, durante o Governo Collor. Nesse processo, a primeira dificuldade enfrentada pela assistência social foi a própria regulamentaç ão, sendo a última entre as demais, em dezembro de 1993, pela Lei nº 8.742/93, já no Governo Itamar Franco. Como forma seletiva e discriminada de atenção à parcela mais pauperizada da população, não foram poucas as resistências (sociais e econômicas, de parlamentares e de governo)124 para que fosse finalmente regulamentada e passasse a ser concebida como direito obrigatório, no campo da reprodução social, devida pelo Estado a quem dela necessitar.

As dificuldades para a sua regulamentação se relacionam, dentr e outras, com o contexto de contrarreformas neoliberais; com o histórico cultural (governamental e da sociedade) de não reconhecimento dessa política como direito social. Donde ainda prevalece a ideia da benevolência pelas práticas filantrópicas e caritativas na esfera privada. As dificuldades tem relação, ainda, com as forças contrárias à institucionalização dessa política como direito e, portanto, reclamável. A condição de direito impõe superar a lógica do

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Uma grande contribuição para a compreensão da história da regulamentação da Assistência Social está no livro de Boschetti (2006), Seguridade Social e Trabalho: Paradoxos das Políticas de Previdência e Assistência Social no Brasil. Um capítulo do livro, intitulado “As forças de apoio e de oposição à primeira proposta de regulamentação da assistência social no Brasil”, foi publicado nos cadernos do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares – CEAM, da Universidade de Brasília (2002, Nº 11).

de recursos públicos por apadrinhamento às instituições privados e religiosas, sem compromisso com a qualidade dos serviços prestados, com ações sistemáticas e regulares.

Essa mudança colide e exige romper com a ideia de ajuda, benemerência e filantropia, além de exigir materialidade no cotidiano da gestão e garantia do direito, ressignificando seu sentido e conteúdo, para que resulte em força aliada às vicissitudes democráticas.

Diante de tão grande desafio, pode-se (re)afirmar que, como política de seguridade social, a partir da Constituição, sem dúvida, ao se constituir direito a assistência social tem um salto político histórico, porém, “continua limitada do ponto de vista conceitual. [...] A sua função ainda é suplementar. A ela cabe, nas entrelinhas da Lei, tangenciar as demais políticas sociais no sentido de compensar suas limitações ou seus efeitos perversos” (PEREIRA, 1996,p.67/68).

A relação com as demais políticas da seguridade social, desde a origem desse conceito ao processo de regulamentação, se dá de forma desarticulada. De acordo com Boschetti (2002, p.16) devido a essa desarticulação, o processo de regulamentação das políticas da seguridade

enfrentou diversos obstáculos: divergências e conflitos entre os espaços institucionais responsáveis pelas políticas de assistência, saúde e previdência; interesses e pressões corporativas dos grupos internos a cada política; disputas de poder das instituições governamentais; posicionamento liberal dos dois governos que assumiram o poder após a promulgação da Constituição e resistiram à sua regulamentação (José Sarney e Fernando Collor).

Por diversas razões, a distinção entre elas é bem demarcada. A assistência, não contributiva, dever do Estado, é direito daqueles que a demandarem, conforme situação de pobreza e privação relativa às suas necessidades mínimas (ou básicas), ao limite da sobrevivência.

A saúde é para todos e também dever do Estado, gratuita, de acesso igualitário, se volta para a doença e os riscos em torno dela, articulando-se teoricamente às políticas sociais e econômicas na perspectiva da promoção, proteção e recuperação.

A previdência, se organizando como regime geral tem suas regras válidas para todos, desde que filiado e contribuinte regular. Assim, a

políticas que deveriam constituir a seguridade social, como proteção social universal, é limitada tanto pela particularidade da composição do sistema, quanto pelas formas de produção e reprodução das relações sociais capitalistas brasileiras.

Esse limite se estabelece por lógicas diferentes de acesso, gestão, financiamento e de concepção relativos a cada uma delas, dificultando a articulação e integração conceitual e de gestão enquanto proteção social pública e universalista. Especificamente em relação à Assistência e à Previdência, a mediação se dá pela situação de trabalho, “de modo que a seguridade social permanece entre o seguro e a assistência” (BOSCHETTI, 2003, p.71)125.

Desse modo, já nasce enfraquecida a ideia de uma seguridade social articulada e capaz de impulsionar cobertura no bem-estar social, tal como inscreve suas inspirações de origem. Assim,

as políticas de Seguridade Social distanciam-se cada vez mais do ‘modelo’ keynesiano de bem-estar social vislumbrado na constituição de 1988 e se aproxima de uma configuração liberal que associa bem-estar à incapacidade individual de exercício do trabalho (BOSCHETTI, 2003, p. 276).

A passagem dos anos 80 para os 90126, em que ocorrem as regulamentações das políticas se dá no contexto de adesão do Estado burguês brasileiro aos apelos do neoliberalismo do capital mundializado. Ao mesmo tempo em que mudam os paradigmas em favor de uma seguridade social ampla, a luta se coloca em marcha para enfrentar os ataques às possíveis mudanças de caráter reducionista. As reformas são sinalizadas já sob o mando das contrarreformas.

Em consequência, a regulamentação das políticas da Seguridade Social se deu ampliando-se a desarticulação, a autonomização e antinomismo dessas políticas. Situação que explicita, ainda mais, a histórica situação de política marginal da assistência social, pois, especialmente ela, recém

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De acordo com a autora (idem, ibidem), a introdução do princípio de Seguridade Social ainda que integre as três políticas, reforça a dupla categorização que marca o complexo da proteção social, sendo ao mesmo tempo condicionado a uma contribuição direta e a uma focalização em categorias limitadas, principalmente as que são incapazes de trabalhar.

126 Período em que foi posto como necessidade de primeira ordem a retomada do crescimento

econômico, com controle da inflação, tendo sido lançados vários planos econômicos com esse fim: Cruzado (I e II), Bresser, Verão, Collor (I e II) e Plano Real.

integrada ao rol de obrigação do Estado. Não obstante, na década de 1980:

Ao reconhecer a assistência como direito, a Constituição de 1988 faz nascer um dever legal do Estado nesta área. Está colocada a oportunidade, pelo menos legalmente, para a assistência superar o status de ajuda filantrópica para se tornar uma política pública de proteção social. A partir de agora o governo é obrigado a dar forma e sentido a este setor, devendo estabelecer o lugar e os limites da relação público-privado e das relações entre o governo federal e os governos estaduais e municipais (BOSCHETTI, 2002, p.14).

Depois de muitas interdições, desde o Governo Collor, a entrada do Governo Lula (2003) significou o fôlego para a afirmação da assistência social como direito. O primeiro sinal desse feito foi a criação do Ministério da Assistência Social (MAS), no início do governo. Esse Ministério, dada a sua curta duração, pode ser considerado um natimorto. As hipóteses para esse resultado são pelo menos duas: o desgaste político da então ministr a Benedita da Silva, em função de atitudes patrimonialistas no seu tempo de ministério, pivô de escândalos públicos; e a necessidade de gerar resultados rápidos para o principal mote eleitoral de campanha do então presidente, o “Fome Zero”, tendo levado o governo a reunir elementos para uma reforma ministerial.

Assim, houve a composição do atual modelo, ministerial, que reúne a Política de Segurança Alimentar, a Segurança de Renda e a Assistência Social. As duas últimas foram separadas em estruturas distintas, lógicas diferentes, enfraquecendo a arrancada inicial da assistência social.

Contudo, a entrada, desde o princípio, de uma equipe, composta em parte por profissionais militantes, comprometidos e dispostos a articular a luta para fazer valer o direito a essa política pública no Brasil, contribuiu para a resistência e o enfrentamento do que estava posto nas discussões da política, sua direção e efetiva implantação.

Assim, a crítica coletiva que vinha sendo acumulada em relação à reedição do primeiro-damismo e do boicote às conquistas constitucionais no campo do direito à assistência social no governo anterior (era FHC), cuja principal expressão foi o denominado Programa Comunidade Solidária127, foi

127 Esse programa foi instituído por Medida Provisória (nº 813, de 1º/jan/1995), no primeiro dia do

primeiro mandato do Presidente Cardoso, e significou uma total desconsideração ao processo de implantação dos preceitos legais (LOAS), constituindo-se na principal estratégia de combate à pobreza

assistência social ganha força e expressão no interior do governo. Houve participação e pressão de vários gestores municipais do chamado campo de esquerda, assim como do então Setorial Nacional de Assistência Social do Partido dos Trabalhadores e de docentes, pesquisadores de várias partes do país. As discussões culminaram na articulação para aprovar a proposta de instituir o SUAS, durante a IV Conferência Nacional de Assistência Social (Brasília, dezembro de 2003).

Desde então, a assistência social vem avançando na sua institucionalização, definição, afirmação e visibilidade no Brasil, ainda que permaneça numa condição marginal em relação às outras, sendo a única política da Seguridade Social sem um ministério específico.

O fato de os Governos Lula e Dilma historicamente se situarem no chamado campo da esquerda, não significou, nem significará avanç o automático nas políticas social e econômica. O compromisso radical com a democracia é uma disputa em aberto e constante, que depende de muita organização e crítica. Pois só a população organizada poderá exigir a garantia de seus direitos e ser intolerante com as práticas privatistas, com a lógica do favor e da moralização da questão social. Assim como deverá ser com a política de geração de superávit primário e da extorsão do fundo público para manutenção do grande capital, em detrimento de todos os direitos existentes e a serem garantidos e/ou estendidos.

De fato, ter se tornado legalmente política pública e componente da seguridade social não garantiu, ainda, que a assistência social se torne direito, efetivamente assegurado conforme os referentes legais no campo de obrigações do Estado. Há um grande caminho a percorrer.

Nesse sentido, nem o direito à política ou a política como direito, está consolidado, a despeito de uma significativa regulamentação construída ao longo desses anos de Governo Lula e Dilma.

A implantação da Assistência Social como direito pressupõe investimento público para a garantia efetiva de sua estruturação. Entretanto, no

desse governo, sob o comando da então primeira dama do país. O Programa “caracterizou-se por grande apelo simbólico, com ênfase em ações pontuais, focalizadas em ‘bolsões de pobreza’, direcionadas apenas aos indigentes, aos mais pobres entre os pobres” (COUTO, YAZBEK e RAICHELIS, 2010, p.36).

redução dos orçamentos próprios à medida que ampliam os recursos federais. A esse aspecto somam-se o pouco ou nenhum investimento na constituição de um quadro de trabalhadores efetivos, estruturas inadequadas, improvisadas e insuficientes para a realização do trabalho proposto. Relacionada a estes, vem a histórica incompreensão de muitos gestores, trabalhadores, conselheiros e, consequentemente, de usuários sobre a lógica do direito no âmbito dessa política.

Desse modo, os documentos municipais pesquisados, ao tempo que apontam avanços, registram muitas dificuldades e retrocessos. Um deles, identificado a partir de informações do setor de prestação de contas do Tribunal de Contas dos Municípios (2012), comprova que cresce o repasse de recursos federais aos municípios, mas encolhem os recursos próprios destes nos FMAS, comparativamente, em intervalo de cinco anos.

Os Fundos de Assistência Social de Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis apresentam um decréscimo no seu investimento próprio para a área da assistência social entre 2007 e 2011. De modo que Goiânia tinha em 2007 uma execução orçamentária de mais de R$ 18 milhões com recursos próprios e passou em 2010 para cerca de R$ 3.300 milhões. No mesmo período, os recursos recebidos do Governo Federal cresceram de um pouco mais de R$ 14 milhões para quase R$ 30 milhões em 2010. E alcançou quase R$ 50 milhões em 2009, contra menos de dez milhões do cofre municipal. Dado que pode ser conferido no gráfico 1:128

128

Para a finalidade desta pesquisa, o setor de auditoria da Superintendência de Gestão Técnica do Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás (TCM) disponibilizou dados relativos aos três municípios. Cabe esclarecer que as tabelas não são uniformes, pois a prestação de contas de cada um não ocorre simultaneamente. De Goiânia não havia dados de 2011 no TCM até início de 2012. Aparecida só começa sua prestação de contas a partir de 2009 e Anápolis não faz uma distinção precisa dos programas específicos da assistência social de maneira a facilitar o filtro e a disponibilidade dos dados nos anos de 2007 a 2011.

RECEITA / FMAS GOIÂNIA 18.325.960,07 17.561.964,24 9.579.921,23 4.310.401,94 - 14.737.077,07 34.496.205,25 49.662.649,77 29.892.494,09 - - 5.000.000,00 10.000.000,00 15.000.000,00 20.000.000,00 25.000.000,00 30.000.000,00 35.000.000,00 40.000.000,00 45.000.000,00 50.000.000,00

Tesouro Municipal Governo Federal

2007 2008 2009 2010 2011

FONTE: TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS (TCM), MARÇO DE 2012. ELABORAÇÃO PRÓPRIA. Em Aparecida de Goiânia, seguindo a mesma lógica, no ano de 2009 os recursos municipais alcançaram o investimento de mais de R$ 2 milhões para a assistência social, contra menos de R$ 700 mil do Governo Federal no mesmo período. Em 2010 a lógica se inverte, sendo verificado brusco decréscimo no montante dos recursos próprios investidos na política. O tesouro municipal nesse ano gastou menos de R$ 150 mil e o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) transferiu ao Fundo Municipal (FMAS) mais de R$ 1.500.000, conforme demonstra o gráfico 2:

RECEITA / FMAS APARECIDA DE GOIÂNIA - - 2.215.844,20 148.998,62 87.810,80 - - 694.151,59 1.530.104,52 1.026.778,94 - 500.000,00 1.000.000,00 1.500.000,00 2.000.000,00 2.500.000,00

Tesouro Municipal Governo Federal

2007 2008 2009 2010 2011

FONTE: TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS (TCM), MARÇO DE 2012. ELABORAÇAO PRÓPRIA.

Já no município de Anápolis, a situação constatada em 2009 e 2010 é bem distinta. Ainda que exista comprovada oscilação dos investimentos municipais, chegando a significar uma redução pela metade do ano de 2008 para 2009, os valores encontrados no Fundo Municipais de Assistência Social se mantêm maiores que os recebidos do Governo Federal. Entretanto, apesar dos recursos federais serem, nesse caso, menores que os municipais, eles apresentaram crescimento de cerca de 300% no intervalo de quatro anos, isto é, o mesmo crescimento aproximado e verificado nos outros municípios. Somente nesse município os recursos federais, nos anos de referência, sugere relação de complementaridade, nos demais os recursos são crescentemente substitutivos e vinculados a contrapartidas. As informações dos recursos em Anápolis podem ser visualizadas no gráfico 3:

RECEITA / FMAS ANÁPOLIS 7.058.363,28 8.076.531,90 4.205.276,69 6.833.886,44 6.901.590,18 1.174.939,40 1.086.594,80 655.378,80 3.195.249,46 985.739,68 - 1.000.000,00 2.000.000,00 3.000.000,00 4.000.000,00 5.000.000,00 6.000.000,00 7.000.000,00 8.000.000,00 9.000.000,00

Tesouro Municipal Governo Federal

2007 2008 2009 2010 2011

FONTE: TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS (TCM), MARÇO DE 2012. ELABORAÇAO PRÓPRIA. A diferença identificada nesse município tem relação com a junção de diversas funções na pasta denominada Desenvolvimento Social. Os recursos do Fundo Municipal de Assistência Social, nesse caso, de acordo com técnicos do TCM/GO (2012) não se apresentam de forma tão detalhada como nos outros dois. A considerar que a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SEMDS) é gestora de vários programas próprios e do governo federal, relativos a diversas políticas, dentre as quais a assistência social, a hipótese é que esse orçamento, não sendo tão especificado na discriminação, pode não ser tão real no que tange à assistência social, a despeito de ser comparativamente maior em relação aos outros dois. Isto é, os investimentos próprios vão para o desenvolvimento social, incluindo diversas áreas, parcerias com o governo federal, convênios com entidades e outros.

A hipótese se sustenta, ainda, nos dados apurados do primeiro semestre (janeiro a junho) de 2012, em que foi transferido do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) para o Fundo Municipal (FMAS) um valor de R$ 229.514,58, contra R$ 14.803,40129 de recursos próprios nesse intervalo, isto

129 Fonte: https://www.tcm.go.gov.br/portaldocidadao/index.jsf, consultado em 10 de agosto de 2012.

Em relação aos outros dois municípios, os dados de 2012 não estavam disponíveis até a data consultada, devido a não prestação de contas, mês a mês, junto ao TCM.

assistência social, segue a mesma tendência dos outros dois municípios.

De fato, o que se constata é que o investimento próprio dos municípios está cada vez mais se limitando às contrapartidas obrigatórias para receber os recursos da União. No geral, também foi identificada uma redução dos recursos originários dos dois entes (União e Municípios) e alocados nos FMAS. Do total de recursos acumulados na área da assistência social do município de Goiânia em 2011(R$ 8.086.456,90), mais de 90% veio do MDS (R$7.610.472,37).

Em Aparecida de Goiânia a realidade é semelhante, dos R$2.606.939,62, também mais de 90% são oriundos do Governo Federal, que repassou R$2.274.522,94.

Em Anápolis foi repassado pelo MDS durante o ano um total de R$2.805.960,05130, o que equivale a 40,7% dos recursos alocados na área. Em 2012, a cifra de investimento municipal, nos seis primeiros meses, cai de 59% (2011) para menos de 7% de participação de recursos próprios no montante acumulado de receita no FMAS desse município131. Ante a redução de recursos federais, não há por parte dos municípios, maior investimento do orçamento próprio na área. Com isso, a política entra em colapso na maioria dos lugares, com falta de tudo, desde o básico para o funcionamento, ao atendimento das necessidades e demandas da população.

Numa perspectiva focalista, o investimento médio anual (2011) per capita do Governo Federal em cada município, na área da assistência social, se dividido para a parcela populacional com renda mensal de até ½ salário mínimo por mês, é de R$ 32,38 em Anápolis; de R$ R$18,42 em Aparecida e R$ 35,86 em Goiânia. Aprofundando mais a focalização, os investimentos realizados se divididos entre os que recebem até ¼ do salário mínimo per capita por mês, apresentam os valores (por pessoa/ano) de R$ 137,47 em Anápolis; R$ 75,63 em Aparecida e R$ 167,00 em Goiânia.

Já os investimentos dos municípios relativos aos seus próprios recursos (2011), se voltados à parcela da população que recebe até ½ salário mínimo

130

Fonte: Tribunal de Contas dos Municípios – TCM - Goiás, 2011, consultado em

https://www.tcm.go.gov.br/portaldocidadao/index.jsf, dia 07/02/2012.

131 É comum verificar queda de investimento ainda maior na assistencial social em ano de eleições, visto

que a prioridade dos governos de plantão é concluir obras que serão apresentadas na corrida por votos. Nos três municípios, seus atuais prefeitos são candidatos à reeleição em 2012.

2,69 em Aparecida e R$ 2,24 em Goiânia. E se os recursos próprios forem divididos entre os que recebem até ¼ do SM per capita/mês, os valores correspondem, por ano, a R$ 338,13 em Anápolis; R$ 11,54 em Aparecida e R$ 10,45 em Goiânia.

Somando esses investimentos dos municípios com as transferências do Governo Federal em cada um deles, os valores relativos ao primeiro grupo (até 1/2 salário mínimo per capita mês) sobem para R$ 112,02 em Anápolis; R$ 21,11 em Aparecida e R$ 35,86 em Goiânia, por ano. E se divididas as somas só para o segundo grupo, a parcela mais pobre, os valores anuais são de R$ 475,60; R$ 87,17 e R$ 177,45 respectivamente.

Esse aspecto é o primeiro, dentre outros, que denuncia a distância em que se encontra a assistência social da lógica conceitual da seguridade social nos municípios. A queda de investimento municipal alia-se ao baixíssimo ou nulo investimento de outro ente da federação, o Estado. Situação que o censo SUAS (2010) confirma em outros lugares do país, não só em Goiás132.

Enquanto diminui o investimento oriundo de recursos próprios em alguns municípios, documentos divulgados pelo MDS (2011) a partir de dados do Sistema Integrado da Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI), demonstram que os recursos do Governo Federal para a assistência social vem se ampliando a cada ano. Em 2002 (último ano do Governo FHC) os recursos para a área correspondiam a 0,97% do orçamento total da União e a 4,2% do total da seguridade social. Com crescimento progressivo desde então, passou esse percentual em 2011 para 2,17% do orçamento total e 9,16% do montante da Seguridade Social. E em 2012 alcançou os valores de 2,55% e 10,29% respectivamente. Um aumento em mais de 100% no período133. O aumento se relaciona, sobretudo, ao crescimento dos PTRs.

132 De acordo com o Censo Suas (2010), dos 27 estados da federação, 11 não cofinanciam as políticas

municipais de assistência social. Em relação aos municípios, de acordo com informação divulgada pelo MDS, a participação geral desses entes federados (média) no cofinanciamento da assistência social variou pouco e não diminuiu, ficando na casa dos 75,5% em 2004 e 78,4% em 2010 (Caderno Suas nº5, dezembro de 2011, p. 33).

133

Nesse total estão incluídos os valores investidos nos benefícios. Em 2010 foram gastos o Benefício de Prestação Continuada (BPC) o montante de R$11,49 bilhões no atendimento de 1,78 milhões de Pessoas com Deficiência, o que significou um aumento de 187,9% no volume de recursos aplicados e um aumento de 82,16% no número de pessoas atendidas comparando com o ano de 2002. E com os idosos, foram gastos mais R$10,68 bilhões no atendimento de 1,62 milhões de idosos, representando um

montante dos recursos destinado aos serviços, programas e projetos da assistência social, isto é, subtraindo valores relativos às transferências de renda (BPC, PJA, PETI e PBF), a política teve um incremento de 0,14% em