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No contexto de crise do capital, redução das responsabilidades do Estado e de precarização dos serviços públicos, com crescente avanço da esfera privada sobre a pública em todas as dimensões, a família (re)emerge como lugar idealizado para o desenvolvimento social e humano, bem como o mais importante espaço de proteção dos seus membros.

Na política social brasileira contemporânea, especialmente a assistência social e a saúde, a família vem sendo a tônica, notadamente as mais pobres, como destinatária prioritária da atenção do Estado. O que ocorre sobrepujando mais sua função e responsabilidade e menos a estratégia de abordagem coletiva em matéria de respostas aos direitos básicos e comuns.

Os serviços denominados de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) e Proteção e Atendimento Especial à Família (PAEFI), ambos do SUAS, bem como o Programa de Saúde da Família (PSF) e Estratégia de Saúde da Família, do SUS162 são exemplos de estruturação de serviços públicos que tomam a família como principais referências.

Preocupação central da PNAS e NOB/SUAS (2005, p.90) a família é entendida como “núcleo social básico de acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social”. A defesa do direito à convivência familiar como estratégia de proteção social no âmbito da política de assistência,

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O Programa de Saúde da Família (PSF), desde 1999 é considerado na política de saúde do Brasil, a estratégia estruturante do Sistema Único de Saúde (SUS) nos municípios. A porta de entrada desse sistema. Como Estratégia de Saúde da Família (ESF), o PSF incorpora os princípios de integralidade, universalidade, equidade e participação social, bem como os pressupostos da atenção primária.

supera o conceito de família como unidade econômica, mera referência de cálculo de rendimento per capita e a entende como núcleo afetivo, vinculado por laços consanguíneos, de aliança ou afinidade, que circunscrevem obrigações recíprocas e mútuas, organizadas em torno de relações de geração e de gênero; a família deve ser apoiada e ter acesso a condições para responder ao seu papel no sustento, na guarda e na educação de suas crianças e adolescentes, bem como na proteção de seus idosos e portadores de deficiência.

Com base nesta definição, pode-se inferir que à importância da família subjaz a expectativa de que ela possa prover a proteção social de seus membros, respondendo ao seu papel designado. Para tanto, poderá contar com o apoio do Estado, subsidiariamente, pois sobre ela recai um conjunto de atribuições como responsável primeira, sob pena de vir a ser responsabilizada e penalizada se fracassar nesse papel.

Na definição da Norma, a família é tomada como norteadora dos serviços, ao tempo que o Estado assume a retaguarda, o papel de “apoio” e posição secundária. De maneira que, nas orientações nacionais, ficam sinalizadas as possibilidades reais de reforço ao “familismo”, já disseminado e arraigado na realidade nacional, desde o Brasil Colonial, quando a família passa a exercer funções políticas, econômicas e de reprodução social. O que leva a entender a família “como um fato cultural, historicamente condicionado, que não se constitui, a priori, com um lugar de felicidade” (MIOTO, 1997, p.115).

Por essa razão, a análise da centralidade da família na política municipal requer, antes de tudo, problematizar a direção teórica e política nacional desse eixo do SUAS. Para o norte desta análise, indaga-se: em que medida essa perspectiva tem contribuído para romper com ações fragmentadas, pontuais, assistencialistas, despolitizadas e por segmentos, historicamente predominantes nessa área? Busca-se elucidar as tendências que prevalecem no desenvolvimento de trabalho social com famílias, nos municípios pesquisados, tomando como referência as orientações nacionais. A perspectiva informada por estas orientações tem contribuído para reforçar o familismo ou ganha força a ideia de proteção social como direito da população e dever do Estado?

pelos novos referentes legais como principal estratégia de organização da atenção pública nas ações de enfrentamento da pobreza, cujo trabalho social tem a perspectiva de fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.

Essa centralidade na família no campo de intervenção da política social parece ser, à primeira vista, uma inovação, isto é, uma guinada recente de concepção, sobretudo na assistência social, historicamente marcada pelo atendimento individual aos “necessitados” e aos segmentos mais “vulneráveis” da população. Porém, é necessário resgatar que desde a sua institucionalização, pelo Estado brasileiro, essa política se volta exatamente para o atendimento às famílias.

A partir dos anos 1930 a intervenção junto à questão social, até então policial e religiosa e com caráter repressivo, passa a ser preocupação política e legal do Estado com a criação, em 1942, da Legião Brasileira de Assistência Social (LBA). Essa institucionalização da assistência social f oi uma estratégia de enfrentamento das tensões sociais decorrentes do processo de intensificação do pauperismo da classe trabalhadora. Essa intervenção estatal, ao tempo em que interdita o trato privado e repressivo da questão social, também interpõe o descontentamento com a desigualdade e a possibilidade de exigência de mudança na direção mais estrutural desse sistema.

A primeira instituição pública de assistência social do Brasil veio no momento em que o país adere à Segunda Guerra Mundial. Seu objetivo declarado era apoiar o governo no sentido de assistir as famílias dos convocados para a guerra. “Da assistência às famílias dos convocados, progressiva e rapidamente a LBA começa a atuar em praticamente todas as áreas163 da assistência social [...]” (IAMAMOTO, 1991, p.258). Ela estende sua ação às famílias da grande massa não previdenciária (SPOSATI, 2004). Passa a atender essas famílias quando da ocorrência de calamidades, trazendo o vínculo emergencial à assistência social. O que demarca, de acordo com Sposati (2004), a presença do caráter da urgência e do circunstancial ao campo genético dessa política.

A LBA significou, dentre outros, um explícito investimento público na

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“Assistência à maternidade e infância, à velhice, aos doentes, aos necessitados, aos desvalidos [...]”, e outros (Relatório LBA, 1943. In: IAMAMOTO, 1991, p.258).

espaço privado (esfera doméstica), reforçado como tarefa feminina. Obviamente, seus programas não se restringiam a esse papel. Com atribuições mais amplas, seu caráter clientelista reforçava, dentre outros, o patrimonialismo e o primeiro-damismo. Nesse período, junto com os sindicatos corporativos e pelegos, a LBA contribuiu para dar sustentação e legitimidade ao Governo e ao Estado Varguista.

A partir dos anos de 1990, o redirecionamento das políticas sociais (saúde, assistência social164 e outras), confirma a família com uma importância central e estratégica na atenção do Estado.

No contexto da década de 1980, continuado nos subsequentes, são potencializadas as diversas expressões da questão social, decorrente do modelo econômico brasileiro que desencadeou uma intensa aceleração no processo de empobrecimento da classe trabalhadora e suas famílias. Elas saíram maciçamente do campo para as cidades em busca de meios de sobrevivência, resultando, entre outros, numa entrada crescente de mulheres e crianças no mercado de trabalho.

Essas mudanças exerceram grande influencia na configuração da família brasileira. O processo de modernização da sociedade na segunda metade do século XX gerou um novo padrão demográfico na realidade do país. De modo que, a partir da década de 1990, as famílias passaram a ser cada vez menos numerosas, mais monoparentais, com predomínio de chefia e provisão das mulheres, há crescimento de famílias recompostas, dentre outras características que ampliam os arranjos familiares.

Entretanto, ainda vigora a hegemonia da família tipo nuclear, monogâmica e patrilinear. Na literatura pesquisada é grande a problematização acerca da consideração que as políticas sociais devem dar aos novos arranjos familiares, aos diferentes desenhos e formatos que apresentam. Essas mudanças vêm sendo verificadas desde a revolução industrial, com significativo incremento a partir dos anos de 1970.

Assim, são novas e crescentes as demandas ao Estado, ainda que este

164 Iniciado pela Lei Orgânica da Assistência Social e corroborado pelas novas: Política Nacional de

Assistência Social e Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), de 2004 e 2005 respectivamente.

fazendo frente à precarização de trabalho e de vida da população.

Essa realidade se agrava na década de 1990, agora com o incremento da ofensiva neoliberal, em que se tem a diminuição da presença estatal na garantia de direitos, e, consequentemente, o crescimento do terceiro setor, ou seja, o incremento às estratégias privatistas de enfrentamento da questão social e da desigualdade, dentre as quais a família e o mercado. Nesse sentido, é no confronto e tensão existentes entre a oferta e a demanda por serviços públicos, universais e de qualidade, que a família é mobilizada, fortalecida como principal responsável pelo provimento das suas necessidades; e se nesse papel fracassar, entra complementarmente a atenção estatal.

Nesse sentido, a família é chamada, direta e constantemente, para complementar as ineficiências estatais na política social. Por isso, é tão forte a sua importância, pois ela tem de fazer o que o Estado não faz com universalidade e qualidade.

Desde que se propala a “derrocada” do Estado de Bem-Estar social no mundo sob o triunfo do (neo)liberalismo, comprova-se a redução dos gastos na política social e a adoção da focalização direcionada aos mais pobres. Realidade que sobrepuja a esfera privada (mercado, terceiro setor e família) como via de acesso ao atendimento de necessidades humanas. Esse incremento às estratégias privatistas sobrecarrega a família na tar efa da reprodução social, pois na medida em que o Estado se desresponsabiliza, passa a desempenhar um papel apenas subsidiário às “falhas” da família como principal responsável pela sobrevivência e educação de seus membros.

A ideia de “apoio” coloca o Estado na retaguarda e reforça o “familismo“ na proteção social. Explicita, de um lado, um papel indelegável da família para com o cuidado, proteção e educação de seus membros; e, de outro lado, reforça a ideia de que cabe ao Estado a “ajuda pública”, temporária, voltada para engrenar a família no curso normal, ou seja, habilitá-la para responder às suas esperadas obrigações.

Essa perspectiva subsidiária/complementar do Estado em relação à família incapaz, sozinha, de cumprir seu papel de cuidado e provisão é a que se configura na atenção estatal no Brasil. Assim, o risco de um viés moralizador na atenção às expressões de desigualdades, de situações

predominância do conservadorismo, em que a família, “é tomada com fortes traços positivistas e funcionaria como uma instituição capaz de construir a harmonia e a paz social por meio da educação e da socialização dos seus componentes” (RUSSO, CISNE e BRETAS, 2008, p.140). Para uma perspectiva inovadora e crítica de atenção à família no âmbito da assistência social, é necessário entender, antes de tudo, qual o fundamento dessa centralidade.

Não obstante significativos estudos sobre família a reafirmarem como espaço primeiro e privilegiado de socialização, sustentando a importância de tomá-la como estratégica na atenção das políticas sociais, com a finalidade de proporcionar condições para que ela melhor desempenhe seu papel, o fato é que a família se (re)põe no contexto privatista, de incremento aos apelos morais e religiosos que vão de encontro à estratégia adotada pelo Estado, no viés mais conservador. Nessa direção,

“o fato de a família fazer parte do mundo (real e/ou simbólico) de todas as pessoas e estar perpassada fortemente por valores morais, religiosos e ideológicos, tem feito com que muitas vezes se tenha a ilusão de que as discussões sobre a família estão assentadas em bases comuns” (MIOTO, 1997, p.115).

Por isso, ela significa, desse ponto de vista, uma espécie de investimento preventivo em problemas de maior monta no futuro, decorrentes de filhos criados em famílias ditas correntemente como “desestruturadas”. Aquelas que fogem ao padrão burguês instituído e hegemônico, cujo modelo começa a sofrer mudanças desde a revolução industrial, ampliando-se para vários e distintos formatos, de forma significativa e visível a partir dos anos 1970.

Na concepção patriarcal e dominante, instituída na sociedade burguesa moderna, cabe à família a tarefa de “criar” os filhos, o que inclui o atendimento às necessidades materiais básicas, bem como culturais e sociais da criança: alimentação, higiene, afetividade, sociabilidade, atenção etc. Cabe também educar no sentido de ensinar, transmitir valores, princípios, atitudes e os conhecimentos universais (MONTEIRO e CARDOSO, 2001). Essa noção está presente nas determinações da Constituição Federal de 1988 (cap. VII, artigos 227 e 229), e são corroboradas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei

membros, devendo assisti-los, criá-los e educá-los.

A família é uma instituição social, “uma construção histórica e sociocultural cuja configuração como lócus de afeto e de convivência entre pais e filhos é uma invenção da modernidade” (GUEIROS e OLIVEIRA, 2005, p.118). E, nessa condição, se põe como instância mediadora das relações entre indivíduos e sociedade. Nesse sentido, destaca Mészáros (2002, p.272):

A família está entrelaçada às outras instituições a serviço da reprodução do sistema dominante de valores, ocupando uma posição essencial em relação a elas, entre as quais estão as igrejas e as instituições de educação formal da sociedade. [...] Os porta-vozes do capital na política e no mundo empresarial procuram lançar sobre a família o peso da responsabilidade pelas falhas e ‘disfunções’ cada vez mais frequentes, pregando de todos os púlpitos disponíveis a necessidade de retornar aos valores da família tradicional e aos valores básicos.

Foi com o fim do escravismo e com o advento do cristianismo, que a humanidade ingressou no estágio da chamada civilização (burguesa), caracterizado pelo modelo de família monogâmico (dominação do homem sobre a mulher) e com ela a instituição da unidade econômica individual; pelo Estado como força de coesão da sociedade; pela fixação da divisão entre cidade e campo, base da divisão social do trabalho e, por fim, pela introdução de testamento, onde o proprietário manda nos seus bens mesmo depois de morto.

Nesse período, de industrialização, o capital investe intensamente contra o elemento, denominado por Gramsci (2001, p.262), de “animalidade” humana, cujo propósito é sujeitar os instintos (naturais e animalescos)

a normas e hábitos de ordem, de exatidão, de precisão sempre novos, mais complexos e rígidos, que tornam possíveis as formas cada vez mais complexas de vida coletiva, que são a consequência necessária do desenvolvimento do industrialismo.

No período pós-guerra, seguido por uma forte crise dos costumes, dado o desaparecimento de muitos homens e, consequente, desequilíbrio entre a relação numérica de gênero e, ainda, devido à adoção de novos métodos de racionalização do trabalho (taylorismo), o que ocorreu foi a exigência de ”uma rígida disciplina dos instintos sexuais (do sistema nervoso), ou seja, um fortalecimento da ‘família’ em sentido amplo [...], da regulamentação e da estabilidade das relações sexuais” (GRAMSCI, 2001, p. 264).

coercitivos de disciplina para adequar os costumes às necessidades do capital. Era necessário um “adestramento”, isto é, um trabalhador reduzido a operador maquinal, sem sentimentos. Controlar moralmente a vida íntima e sexual desse novo trabalhador era necessário à nova racionalidade da produção. Daí a família ser estratégia adotada para adestrar os instintos sexuais, dentro do projeto de civilização burguesa.

Nos anos 1970, em meio à crise econômica mundial então desencadeada, com concomitante desmonte das conquistas sociais e trabalhistas asseguradas pelo Estado, a família é retomada, conforme já apontado, como instituição importante de proteção social de seus membros, o que ocorre em detrimento da responsabilidade pública. Desde então, as agendas governamentais vem pautando medidas de apoio familiar (PEREIRA, 2004). Assim, para o enfrentamento da questão social, é mobilizado um modelo plural de proteção social, com grande pes o para a esfera privada (mercado/família), onde o Estado, como já mencionado, assume papel subsidiário.

No Brasil, o desenho das políticas sociais

sempre foi profundamente influenciado por uma tradição de relacionamento do Estado com a sociedade que exige desta autoproteção. [...] os governos brasileiros sempre se beneficiaram da participação autonomizada e voluntarista da família na provisão do bem estar dos seus membros (PEREIRA, 2004, p.29).

Nesse sentido, a historicidade dessa discussão, comprova que a proteção social, com centralidade na família, hoje e sempre estabeleceu relação com a perspectiva moralizadora, voltada para o controle social sobre o comportamento da classe165 trabalhadora, e, ainda, para a responsabilização da família pelo seu “fracasso” aparente, independentemente das relações econômicas de produção e suas consequências na estrutura e condições de classe. O que retoma o viés familista, particularista e privatista do bem estar social, em que o Estado entra com papel minimalista, oferecendo uma espécie de “ajuda” pública.

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A classe é uma categoria histórica e “se delineia segundo o modo como os homens e mulheres vivem suas relações de produção e segundo a experiência de suas situações determinadas, no interior do ‘conjunto de suas relações sociais’, com a cultura e as expectativas a eles transmitidas e com base no modo pelo qual se valeram dessas experiências em nível cultural.” (TOMPSON, 2001, p.270/277). Cultura como relação entre passado-presente e suas formas de se reproduzir e continuar.

sendo tensionada por outra, a que compreende a família (independentemente do formato que apresenta) como um espaço (mais público do que privado), imersa na (re)produção da questão social, cuja garantia de condições de “bem estar” lhe é devida por direito e se viabiliza, a priori, por meio do acesso a bens, serviços e riqueza. Nessa direção deverá se situar a política social.

Tomar a família como “base de tudo”, inclusive da proteção social no âmbito da sociedade capitalista, exige compreender que está em disputa diferentes projetos de sociedade e neles distintas concepções de família com seus respectivos papéis. A família como coletivo é permeada por contrad ições e pode exercer o papel de protetora, mas também de reprodutora da dominação e ideologia burguesa, típicas de uma sociedade dividida em classes. Enquanto parte de uma totalidade histórica, a família se inscreve na lógica das relações sociais capitalistas.

A superação do conservadorismo desafia aprofundar a compreensão crítica sobre a matricialidade da família na atenção pública da política de assistência social. A ideia de família como referência tanto de sociabilidade, quanto de responsabilidade para com a proteção dos indivíduos, aparece claramente na Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), Estatuto do Idoso, Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), SUS, SUAS e nos programas, projetos, serviços e benefícios, notadamente os que exigem contrapartidas dos usuários, como o Bolsa Família (PBF).

A analise especifica da definição do usuário da assistência social na LOAS, na Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e na Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS), aponta uma primaz deferência à família e, em seu âmbito, a maternidade, a infância, a adolescência, a velhice, a deficiência e a situação de carência e/ou vulnerabilidade.

A política de assistência social, de acordo com essas normas e com base no princípio “matricialidade sociofamiliar”, volta a sua atenção de forma especial às famílias e seus membros, com a perspectiva de caráter preventivo, protetivo e proativo, objetivando o fortalecimento de laços e vínculos sociais de seus componentes. Com base nesses documentos, a família é o núcleo social

social.

A proteção social no âmbito da assistência social pressupõe, portanto, o direito à convivência familiar, norteado pela noção de família como núcleo afetivo, vinculado por laços consanguíneos, de aliança ou afinidade, que circunscrevem obrigações recíprocas e mútuas, organizadas em torno de relações de geração e de gênero. Ainda, esse conjunto de normativas prevê que a família deve ser apoiada e ter acesso a condições para responder ao seu papel no sustento, na guarda e na educação de suas crianças e adolescentes, bem como na proteção de seus idosos e pessoas com deficiência. A referida normativa adverte que, o fortalecimento do convívio familiar não restringe as responsabilidades públicas de proteção social para com os indivíduos e a sociedade.

Na PNAS a família é tomada como espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias, provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa também ser cuidada e protegida.

O crescente investimento estatal na família como instituição social que deverá ser capaz de assumir satisfatoriamente a responsabilidade para com os seus membros, principalmente crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência, ocorre no contexto de crescimento da informalidade, do desemprego, do encolhimento das garantias trabalhistas e da proteção social, assim como da desigualdade entre as classes sociais.

Nesse contexto, vêm sendo incrementadas as estratégias de familiarização do bem-estar social, que impõe à família mais responsabilidades, tirando-as do Estado, com incremento para o mercado. Do contrário, de acordo