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2 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

2.4 Diferenças entre cooperativas e sociedades de capital

Tais características conferem-lhe o caráter de ‘empresa associada' pois inclui: a associação voluntária de pessoas que constituem uma sociedade e um empreendimento comum pelo qual esta sociedade alcança seus objetivos. Da natureza dessa organização decorrem dois aspectos: o primeiro é que os indivíduos se associam com o propósito de organizar uma empresa comum; o segundo é que ela atenda aos interesses e às necessidades de suas economias individuais.

2.4 Diferenças entre cooperativas e sociedades de capital

A cooperativa é um empreendimento diferente das sociedades de capital encontradas na economia e que visa lucros. Esta forma organizacional está baseada em princípios doutrinários oriundos dos socialistas utópicos e tem como ideário a igualdade, a solidariedade e a liberdade.

Esta origem doutrinária faz com que estas organizações tenham uma arquitetura organizacional diferenciada. Neste empreendimento não se encontra uma propriedade privada, mas sim uma co-propriedade, privada e comum, não com o objetivo de alcançar lucros, porque tem o intuito de oferecer condições, para que cada um dos seus associados possa estabelecer-se com maiores vantagens diante de um mercado oligopolizado (Bialoskorski Neto, 1994) e Zylbersztajn (1994, 1999).

Pinho (1966) distingue cooperativas de empresas de capital por dois pontos básicos: enquanto as empresas cooperativadas colocam em primeiro lugar as pessoas, objetivando, portanto, a prestação de serviços, as empresas de capital priorizam a maximização do capital pela geração de lucros.

Irion (1997) afirma que as cooperativas são uma opção de organização econômica que convive e até mantém negócios com a opção empresarial, já que as empresas de capital ora são clientes; ora são fornecedoras das próprias

cooperativas.

A empresa cooperativa difere da empresa de capital por ter uma relação diferente com os fatores de produção, capital e trabalho. O voto em uma cooperativa é proporcional ao trabalho – a cada homem um único voto – enquanto que, em uma empresa de capital, a decisão é proporcional ao número de ações, isto é, proporcional ao capital de cada investidor.

Enquanto que, na cooperativa, a distribuição do resultado é proporcional à atividade de cada sócio, em uma empresa de capital, esse resultado é dividido proporcionalmente ao capital investido por cada proprietário.

Do ponto de vista do fator de produção remunerado, por exemplo, sociedades de capital e sociedades cooperativas são diferentes. Ao contrário das primeiras que remuneram um capital, as segundas remuneram uma matéria-prima, um trabalho, um bem ou um serviço final.

Ao inverso das demais empresas, a cooperativa não se estrutura visando à acumulação de capital. O capital é necessário à cooperativa assim como nas demais empresas, entretanto a finalidade primeira da cooperativa não é o capital, ou seja, o poder do produtor associado a uma cooperativa não emana do montante de capital que este produtor possui.

No que diz respeito ainda ao capital, sociedades cooperativas e sociedades de capital apresentam diferenças. Para a cooperativa, o complemento financeiro consiste em empréstimos bancários, e os associados podem ser chamados a caucionar estes empréstimos. Nas sociedades comerciais, o capital é fornecido pelos acionistas/investidores.

Enquanto que os direitos dos associados são reduzidos numa cooperativa, nas sociedades comerciais, os acionistas têm direitos absolutos ao capital. Numa

cooperativa, o capital do associado não pode ser transferido ou vendido.

Em se tratando do autofinanciamento, constata-se a existência de uma diferença entre as sociedades cooperativas e as firmas de capital. As sociedades de capital podem tanto distribuir dividendos como reter o lucro, o que, para o acionista constitui, em quaisquer casos, um ganho.

Nas cooperativas, a retenção das sobras não significa necessariamente um ganho de capital para o associado. Conforme colocou Joseph Ballé, quando da realização do Symposium de Lígia (1988), a retenção das sobras é como uma dedução sobre a riqueza criada pelos associados, pode-se compará-la a um imposto sobre o trabalho do produtor e à coletividade cooperativa, para seu próprio desenvolvimento (Rocha, 1999).

Outro ponto fundamental nestes debates é o de que a cooperativa é uma empresa de trabalho com o objetivo de gerar serviços aos seus associados. Isto só será possível de forma consistente, se ela crescer sob alguns preceitos de mercado, de acordo com premissas usuais de maximização de resultados, distribuindo seus frutos após o exercício, de modo a possibilitar os investimentos com capital próprio e exigir dos cooperados associados que mantenham também o nível de eficiência econômica de mercado sem transferir para a empresa cooperativa as suas ineficiências econômicas.

Assim, a empresa cooperativista tem de agir de acordo com a lógica econômica de mercado, tanto para “fora” da organização, como é nítido, mas também para “dentro” da organização, na relação com os seus associados, estas são direções que podem garantir a sua eficiência empresarial e portanto, a sua eficácia social (Bialoskorski Neto, Marques e Neves, 1995).

A cooperativa apresentará uma nítida tendência em sobrepor muitas vezes as suas funções de prestação de serviços ao associado acima da própria eficiência de negócios de mercado, orientando-se muito mais pelos benefícios de curto prazo para os cooperados do que pelo ambiente externo do mercado consumidor. Tais situações não são sustentáveis no longo prazo (OCB, 1997).

Pinho (1986, p. 12) também justificando a relevância do equilíbrio entre o social e o econômico, relata o seguinte:

O fato da cooperativa combinar os caracteres de associação e de empresa acarreta muitas dificuldades aos seus administradores. Se estes priorizarem o aspecto associativo, correrão o risco de encontrar problemas na gestão financeira da empresa; se considerarem apenas o aspecto empresarial, poderão distanciar-se dos cooperados e esquecer as finalidades sociais da cooperativa. O ideal será, evidentemente, o equilíbrio entre ambos os enfoques. Esse equilíbrio poderá ser verificado através da mensuração da atividade social e da atividade econômico-financeira.

A cooperativa é uma associação de pessoas, mas ao mesmo tempo é uma empresa econômica. Durante muito tempo as leis se preocuparam muito em definir a cooperativa em função de seu caráter associativo, porém não levaram em conta suficientemente este outro conceito, este outro ingrediente, que integra a noção de cooperativa, que é sua condição de empresa econômica. Isto é um dos fatos que devem iluminar a reflexão acerca da legislação de cooperativas no futuro (Cracogna, 1997).